26 de outubro de 2012

NOVO CÓDIGO PENAL — uma nova moral, uma nova religião

À mesa da esquerda para a direita: Dr. Benno Hofschulte (representante das associações DVCK e. V/SOS Leben, que combatem o aborto na Alemanha), Dr. Adopho Lindenberg (presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira), Padre Paulo Ricardo (o conferencista) e o Dr. Mario de Oliveira (diretor de Juventude Pela Vida - Rio de Janeiro)

Daniel F. S. Martins 

O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira promoveu no dia 25 de outubro p.p. mais um importante evento no auditório do Club Homs, na Avenida Paulista. Desta vez o conferencista convidado foi o Pe. Paulo Ricardo, que proferiu a brilhante palestra “Reforma do Código Penal — Início da perseguição religiosa no Brasil”. [no final, veja a galeria de fotos - click para ampliá-las e use a setinha para mudar].

O Pe. Paulo Ricardo pertence ao clero da Arquidiocese de Cuiabá (MT). É licenciado em Filosofia pelas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso, de Campo Grande (1987), bacharel em Teologia (1991) e mestre em Direito Canônico (1993) pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma).  

O público superlotou o auditório, sendo necessária a utilização de um telão na sala anexa [foto acima], para que todos os presentes pudessem acompanhar o evento. O experiente palestrante fez um resumo do projeto de novo Código Penal, mostrando como ele impõe aos brasileiros uma nova “moral”, que constitui a negação radical de todos os princípios católicos, em particular os “princípios não-negociáveis” citados recentemente pelo Papa Bento XVI. Entre os princípios mais atacados estão especialmente a defesa da vida humana inocente, desde a fecundação até a morte natural, e a família monogâmica e indissolúvel entre um homem e uma mulher. 


O novo Código Penal legaliza o aborto até a 12ª semana de gestação, abre as portas para a eutanásia e o infanticídio, promove a prática homossexual e persegue por “discriminação” todos que, ainda que pacificamente, se oponham a tal pecado. Esse projeto legislativo dá mais um passo rumo a um estado socialista que dita leis iníquas e as impõe com mão de ferro. 

O conferencista sublinhou o caráter persecutório que terá a nova lei, se a mesma for aprovada. Ressalvou que não julgava as intenções, mas mostrou como os autores do projeto pareciam ter agido de má fé, colocando parágrafos e mais parágrafos aos quais o público dificilmente terá acesso. De uma hora para outra cairá sobre o País um conjunto de leis com caráter totalitário e anticristão, de onde a necessidade de estudarmos a fundo o mencionado projeto e denunciar seus objetivos. 

Ao final da palestra, o Pe. Paulo Ricardo respondeu a diversas perguntas, conclamou o auditório a unir esforços, fazer frente aos projetos iníquos que aparecem daqui e de lá, e preparar-se para a batalha, revestido da graça de Deus. 

O Dr. Adolpho Lindenberg [foto acima], presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, encerrou a sessão confirmando a necessidade de todos os católicos se unirem para combater o inimigo comum que quer jugular todos os bons.
No final do evento, o Pe. Paulo Ricardo dá a benção sacerdotal aos presentes


















23 de outubro de 2012

CONVITE — Conferência sobre o Projeto de Novo Código Penal

O Projeto de Novo Código Penal, que se pretende implantar na marra no Brasil, tramita no Senado Federal, sem antes haver uma discussão aberta a respeito. 

A esse propósito recebi convite — que estendo a todos leitores do Blog da Família — para uma palestra na capital paulista, promovida pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveirawww.ipco.org.br ), na qual se apontará que a reforma do Código Penal delineia o “início da perseguição religiosa no Brasil”, que “estamos sob ameaça” e mostrará “como podemos reagir”. 

O tema é de muita importância para todos nós, pois afeta particularmente a instituição familiar, como tradicionalmente compreendida. Se aprovado no Novo CP, certamente será um fator que debilitará ainda mais a família. 
  • DIA DO EVENTO: 25 de outubro (nesta 5ª. feira) 
  • HORÁRIO: Às 19:15 hs. 
  • LOCAL: Clube Homs (localizado na Av. Paulista, 735 [a 100 metros do metrô Brigadeiro]. Há estacionamento pago no local). 
  • PALESTRANTE: Pe. Paulo Ricardo (*). 


Faça aqui sua inscrição para esta Conferência

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(*) Pertence ao clero da Arquidiocese de Cuiabá (Mato Grosso). É licenciado em Filosofia pelas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso – FUCMAT, Campo Grande, MS (1987); bacharel em teologia (1991) e mestre em direito canônico (1993) pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma). Atualmente, é Vigário da Paróquia Cristo Rei, em Várzea Grande – MT e se dedica à evangelização através dos meios de comunicação, sendo famosas suas intervenções e programas através da Internet. É membro do Conselho Internacional de Catequese (Coincat) da Santa Sé (Congregação para o Clero), desde 2002. Leciona Teologia no Instituto Bento XVI, da Diocese de Lorena, SP, desde 2011. Autor de diversos livros e apresenta semanalmente o programa “Oitavo Dia”, pela Rede Canção Nova de Televisão.

22 de outubro de 2012

DE DEUS NÃO SE ZOMBA IMPUNEMENTE!

“A Coroação da Virgem”, obra de Fra Angélico (1434), que se encontra na Galeria Degli Uffizi, em Florença (Itália).

Enviei o e-mail abaixo [Anexo 1] com meu protesto contra o National Gallery de Londres, devido ao quadro blasfemo de Richard Hamilton lá exposto, que ofende gravemente a Imaculada Conceição e, na pessoa d´Ela, todos seus filhos. (Vide post Contra a Santíssima Virgem, ultraje que clama a Deus por vingança! ). 

Um dos responsáveis por tal museu londrino respondeu-me — assim como a vários de meus colegas — com uma mensagem padrão, talvez automática (segue mais abaixo — Anexo 2). 

Tal tentativa de réplica não responde absolutamente nada, mas revela a hipocrisia dos responsáveis. Seria bem o caso de perguntar se eles teriam o atrevimento — para citar um exemplo bem próximo deles — de expor um quadro da Rainha da Inglaterra inteiramente despida. Claro que JAMAIS fariam isso. Se atrevessem, seriam severamente punidos. Ora, por mais que a Rainha Elizabeth II seja uma pessoa admirabilíssima e de suma respeitabilidade, o que é ela em comparação com a Rainha do Céu e da Terra, dos anjos e dos homens, a Santa Mãe de Deus? — Uma simples gotinha d´água comparada ao Oceano. 

Como diz São João Crisóstomo: “Se o delito de ofensa ao chefe de Estado [no caso, aplicado à rainha dos ingleses] merece uma pena, com mais razão o delito de ofensa ao Soberano Senhor”. — Sim, a blasfema exposição é um “delito de ofensa ao Soberano Senhor”, pois trata-se de uma gravíssima ofensa à Sua Mãe. 

Assim como aconselho aos amigos, trepliquei ao National Galley, mas apenas enviando-lhes a seguinte sentença de São Paulo Apóstolo: “Não vos enganeis; de Deus não se zomba” (Epístola aos Gálatas, 6, 7).


Certamente, diante desta afirmação do grande Apóstolo, os responsáveis pela imoralíssima exposição não responderão mais nada. Também não vão atender nosso pedido para que se retire imediatamente aquela abominável e sacrílega “obra” — que de arte não tem nada e que só serve para manifestar o ódio demoníaco contra nossa Rainha Imaculada, Aquela que — segundo as Sagradas Escrituras — esmagará para sempre a cabeça da serpente infernal.

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[anexo 1]  
Prezados Senhores 
Em minha cidade, São Paulo, esta causando — e JUSTIFICADAMENTE — muita indignação e exposição no NATIONAL GALLERY de um quadro sacrílego de autoria de Richard Hamilton. Este autor blasfemo e pornográfico teve a ousadia de deturpar COMPLETAMENTE uma verdadeira obra de arte, admirada no mundo inteiro: ANUNCIAÇÃO. Obra espetacular do genial pintor Fra Angélico. Incomparavelmente pior que deturpar a obra (magnífica) de Fra Angélico é atentar contra a Santíssima Virgem Maria. Uma INFÂMIA imperdoável o que Richard Hamilton fez e o mesmo se pode dizer pelo fato de o museu londrino acolher em seu recinto tal quadro blasfemo. UMA VERDADEIRA PROFANAÇÃO que ultraja Maria Santíssima, afronta nossa Fé e agride violentamente a moral. 
Só uma mente doentia, pervertida e pornográfica (como a de Richard Hamilton) conceberia um tal sacrilégio contra a Santa Mãe de Deus e nossa também. Aquela que amamos de coração e em defesa de Sua honra estamos dispostos a dar nossa própria vida, se necessário. 
Senhores! Pelo amor de Deus, retirem imediatamente tal monstruosidade do “National Gallery” e serão abençoados por Deus. Se não o fizerem, é de se temer uma severa punição Divina para os responsáveis. 
Se atenderem nosso pedido serão recompensados e agradeceremos de todo coração. E o próprio museu também “agradeceria”, pois tão horripilante quadro não poderia ficar sujando as paredes de um tão prestigioso museu — um quadro que bem merece duas coisas: a lata de lixo e o fogo!  
Cordialmente, Paulo Roberto Campos
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[anexo 2] 
Caros senhores,  
Muito obrigado pelo seu e-mail. Sentimos muito em saber que os senhores acharam desrespeitosa a obra de Richard Hamilton The Passage of the angel to the virgin. No entanto, a Galeria não se coloca no papel de censor dos trabalhos exibidos na exposição. Richard Hamilton é um dos artistas que como Ana Maria Pacheco and Paula Rego exploram o diálogo entre contemporaneidade e a tradição iconográfica refletida em nossa coleção de maneira controversa e instigante. De todas as formas, agradecemos por entrar em contato conosco e dividir sua opinião sobre a exposição.  
Sinceramente, Chris Morton

20 de outubro de 2012

Contra a Santíssima Virgem, ultraje que clama a Deus por vingança!

Anunciação do arcanjo São Gabriel a Nossa Senhora, por Fra Angélico.
Obra que se encontra exposta no convento de São Marcos em Florença.
O belíssimo quadro acima é de Fra Angélico (1387-1455). Numa admirável atmosfera de muita pureza, ele pintou a cena da Anunciação, um dos fatos mais sublimes da História, quando o arcanjo São Gabriel anunciou a Maria Santíssima que Ela seria a Mãe de Deus. Sua resposta foi: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra". Neste augusto momento o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós.

Imagine, caro leitor, que um pervertido obcecado em pornografia deturpasse completamente esta cena. E que, preservando exatamente o fundo do quadro acima, substituísse a figura de Nossa Senhora pela de uma mulher inteiramente despida e o anjo por outra mulher com asas e igualmente nua. Perversidade maior é difícil imaginar!(*) 

Mas isso não é apenas uma horrível profanação imaginada e que faz mal só em pensar. A ignóbil e blasfema adulteração aconteceu! Uma reprodução sacrílega do quadro sacral e maravilhoso de Fra Angélico encontra-se exposta na famosa National Gallery de Londres (Inglaterra). Seu autor foi o “artista” Richard Hamilton, falecido no ano passado. 

Diante da tão brutal agressão à nossa Santíssima e Puríssima Mãe, seus filhos não farão nada para reparar sua honra ultrajada? Que amor tem um filho quando vê sua mãe assim aviltada? Cala-se? 

Recentemente, islamitas do mundo inteiro protestaram violentamente contra o filme Inocência dos Muçulmanos, porque satirizava Maomé. Em alguns desses protestos ocorreram incêndios e até mortes, como o assassinato do embaixador americano na Líbia. Por incrível que pareça, até personalidades do clero católico solidarizaram-se e defenderam os muçulmanos por tal sátira.

Protestos do mundo islâmico são comuns, sempre que alguém faz uma simples charge, considerada ofensiva à religião maometana. 

E os católicos o que fazem para reparar a honra de Nossa Senhora, tão gravemente ofendida? Do Brasil, até o momento — exceto do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (www.ipco.org.br), da Associação Devotos de Fátima (www.adf.org.br) e da revista Catolicismo (www.catolicismo.com.br) — não nos chegaram notícias de manifestações ou protestos, nem mesmo de pessoas do clero. Esperamos que muitas outras entidades e pessoas se manifestem ao tomarem conhecimento do grave sacrilégio. 

Para protestar, não precisamos praticar atos de violência. No entanto, devemos exigir a imediata retirada de tal quadro da referida exposição. É o que pedimos a todos os devotos e filhos da Santíssima Virgem. Vamos dar uma prova de que A amamos muito e muito. 

O que podemos fazer? 
Nossa Mãe e Mãe do Redentor da humanidade merece muitíssimo mais. Entretanto, para obter a cessação de tal blasfêmia, podemos fazer pelo menos o seguinte: 
• Organizar manifestações e protestos pacíficos. Os católicos são cidadãos ordeiros, respeitosos das leis e não fazem justiça pelas próprias mãos;  
• Envie uma mensagem à National Gallery, onde o quadro está sendo exposto, pelo e-mail: information@ng-london.org.uk . No seu texto, exija a imediata remoção do quadro sacrílego. Manifeste sua indignação, dizendo que a deturpação da pintura de Fra Angélico é um insulto que agride gravemente Nossa Senhora, sua fé e a moral; 
• Multiplique seu e-mail pela Internet, pedindo a todos que façam o mesmo e também mandem mensagens para o e-mail acima;  
• Envie esta notícia para todas as autoridades civis e eclesiásticas que conheça, pedindo-lhes que protestem também;  
• Publique esta notícia em blogs e sites e a comente em todas as redes sociais. 
*         *          * 

Os inimigos da Religião Católica contam com nossa omissão para promover perversidades como esta ignomínia exposta no National Gallery. Mas vamos desmentir o dito de que a força dos maus está na fraqueza dos bons. Para isso, não sejamos fracos! Vamos reparar essa infâmia! 

Se agirmos agora, à maneira de advogados, ainda que indignos, da honra de Nossa Senhora ultrajada, podemos ter esta certeza: no dia do Juízo Ela será nossa advogada diante do Tribunal de Deus. Haverá coisa melhor? 
______________ 
 (*) Não publicamos aqui a foto do quadro blasfemo, pois seria contrário à moral e ao pudor. Tal foto encontra-se em certos sites, mas desaconselhamos procurá-la, pelo respeito e veneração devidos a Nossa Senhora.


Envie uma mensagem de protesto ao National Gallery, onde o quadro sacrílego está exposto, para o e-mail information@ng-london.org.uk

12 de outubro de 2012

Marcha feminista e abortista agride católicos que defendiam a catedral de Posadas (Argentina)

Católicos, rezando o terço, defendem a Catedral de Posadas (Argentina) para evitar a invasão de  feministas/abortistas que desejavam depredar a Igreja e talvez até profaná-la 
Edson Carlos de Oliveira 

Na noite de domingo último (7/10/2012), realizou-se em Posadas (Argentina) a marcha de encerramento do XXVII Encontro Nacional de Mulheres que, como de costume, deixou por onde passou muita sujeira, depredações, pichações e violência, especialmente contra os católicos que se reuniram em um cordão humano para defender a fachada da catedral da cidade. 

Contra a vontade do pároco Pe. Alberto Barros, cerca de 100 católicos se posicionaram nas escadarias da catedral para rezar o terço e impedir a depredação da igreja. Pe. Barros tentou em vão evitar a presença dos católicos pedindo para que se retirassem porque, segundo sua visão, a presença deles “constituía uma provocação”(sic!).

Segundo Pe. Barros, a atitude das feministas e dos "católicos extremistas" que defendiam a catedral é similar (sic!). 
Na foto, participante do XXVII Encontro Nacional de Mulheres escarra na face de um jovem católico. Entretanto,  segundo o Padre Barros, a atitude das feministas e dos "católicos extremistas" que defendiam a catedral é similar (sic!) 
O sacerdote, fazendo papel do mau pastor que agrada o lobo e bate em suas ovelhas, disse à imprensa que aqueles heróis que defendiam a catedral eram “católicos extremistas” que “não são grupos católicos, são grupos ideologizados com um verniz católico, porque isto não é o evangelho” e que o grupo de mulheres que agrediram os fiéis “não eram representativas da multidão que participava do encontro”. 

Vejam abaixo no vídeo a agressividade das “feministas-abortistas” — emporcalhando a cidade, inclusive a fachada da catedral e pichando até mesmo as roupas e faces dos católicos defensores da Igreja — e julguem quem são realmente “extremistas fanáticos”

9 de outubro de 2012

Século XIX — saudades da época de bom gosto anterior à Revolução Francesa

Em continuação ao post abaixo (O refluxo da grosseria e o retorno da polidez) — a respeito do empenho revolucionário para a extinção da polidez e o esforço dos franceses, após a Revolução de 1789, para recuperar a antiga cortesia) —, transcrevo novos trechos da obra de Frédéric Rouvillois, “A HISTÓRIA DA POLIDEZ — de 1789 aos nossos dias”.
“Em seu Dicionário dos costumes do mundo, surgido durante a Restauração(*), a condessa de Genlis afirma que as boas maneiras ‘foram inteiramente abolidas em 1792 até 1800, quando algumas delas começaram a ser retomadas’.(1)

De fato, os manuais de polidez se multiplicam entre 1800 a 1814, como se fosse pretendida uma revanche contra a grosseria revolucionária e a corrupção do Diretório. No entanto, essa renovação se efetua segundo um espírito que a governanta do duque de Orleáns considera muito diferente daquele que regera os costumes antigos. [...] 

Sob o Antigo Regime, de fato, o savoir-vivre se forma e se modifica a partir de um lugar único: a corte, centro de gravidade da alta sociedade, da vida mundana e dos bons costumes, na época de Luis XIV(2); uma corte que se estende pelos ‘salões’, sob o reinado de seus dois sucessores, Luis XV e Luis XVI. [...] 

Mas para poder desempenhar o novo papel social que daí por diante lhe cabe, o savoir-vivre sofrerá uma mutação profunda. É certo que deverá ser codificado, a fim de poder ser conhecido, aplicado e difundido. Até a Revolução, as regras do savoir-vivre, transmitidas oralmente no seio das famílias, encontravam-se dispersas, nos escritos dos moralistas. Salvo raras exceções, não se fazia o esforço de reunir esses preceitos de forma ordenada e sistemática, a não ser para as crianças, às quais se destinavam a Civilidade dos costumes das crianças, de Erasmo (1526), e A civilidade pueril e honesta, de [São] Jean-Baptiste de La Salle (1713) [imagem ao lado], dois volumes tão sumários quanto frequentemente reeditados, com infinitas variantes. [...] 

Nostalgia da cortesia que dava o tom antes da Revolução Francesa 
No século XIX, ao contrário, é precisamente a mobilidade social, o surgimento e a rápida ascensão de uma classe média que vão tornar indispensável esse gênero literário. O mesmo fenômeno produz em outras partes, além da Mancha e do Atlântico, onde a criação de manuais de boas maneiras parecem ter sido, paradoxalmente, ainda mais prolífera, com uma média de cinco ou seis por ano, entre 1870 e 1914. Mas a França, a esse respeito, não está em repouso: no século XIX, publicam-se várias centenas de obras consagradas mais ou menos diretamente ao savoir-vivre, ‘códigos’, ‘manuais’, tratados completos ou abreviados, guias ou dicionários, obras inumeráveis, mas que são também muito lidas, mesmo nas camadas mais modestas da população, e reeditadas à exaustão. Uma das mais famosas, Costumes do mundo [ao lado, capa do livro], da baronesa de Stasse, publicada pela primeira vez em 1889, já estava na sua 131ª edição em 1899, dez anos após seu aparecimento, sem saturar o mercado. [...] 

A partir da década de 1860 esses manuais são geralmente redigidos por senhoras portadoras de títulos de nobreza, sendo destinado principalmente ao público feminino, pois se trata de mostrar à pequena e à média burguesia como se deve comportar em alta sociedade e o que é preciso para ‘fazer parte’ dela. [...] 

Os manuais de boas maneiras conferem ao decoro um caráter sistemático, minucioso, sofisticado, que contrasta com a flexibilidade e o tratamento da polidez pré-revolucionária. A crer nos observadores da época, essa rigidez remontaria à etiqueta constrangedora em uso na corte imperial, e ao tom ‘exagerado, enfático, empolado’(3) que, a partir daí, se disseminaria pelo conjunto da polidez francesa. Ou, contrariamente às esperanças dos nostálgicos do Antigo Regime, esta não reencontrará nem seu brilho nem sua simplicidade ingênua, aquilo que Balzac chamava de ‘a graciosa franqueza do século XVIII’. Pois a rigidez napoleônica será bem cedo substituída por um rigorismo de outro gênero, importado da Inglaterra, que marcará fundo os códigos de boas maneiras de 1830. [...] 

É sob o reinado do rei burguês, Luis Felipe, que a França vai saturar-se da polidez à inglesa, que corresponde perfeitamente às expectativas, às necessidades e às estratégias da nova classe dominante. E essa influência inglesa será tão determinante que a Revolução de Julho vai acompanhar por muitos anos ‘o exílio interior’ da alta aristocracia legitimista do bairro de Saint-Germain, que depois da Restauração dava o tom, desempenhando o papel de mantenedor oficioso da antiga cortesia francesa. [...] 

Funções sociais do decoro no vestuário 
‘Dentre todos os hábitos do savoir-vivre, ignorar os que dizem respeito ao toucador e à indumentária denota a máxima vulgaridade’,(4) A etiqueta íntima declara gravemente madame d´Alq, no início da Terceira República.(5) Essa ideia, expressa ao longo de todo o século, brota praticamente da evidência: ‘As funções sociais do decoro no vestuário’, explica a esse propósito o historiador Philippe Perrot, ‘revestem uma importância particular por sua natureza imediatamente visível. Essas leis permitem, antes mesmo de qualquer palavra ou gesto, identificar de imediato o contraventor mais ou menos ignorante e remetê-lo ao lugar que merece’(6) — ou constatar, ao contrário, que a pessoa com quem cruzamos conhece os costumes do savoir-vivre e os pratica corretamente. ‘Assim como uma só palavra basta para trair uma origem, para revelar um passado ou um presente equivoco’, observa Éliane de Sérieul, sob o Segundo Império, ‘da mesma forma não é preciso senão uma renda desajustada, um babado, uma pena, um bracelete e, sobretudo, um par de brincos ou qualquer outro ornamento ambicioso para determinar uma condição social ou propiciar uma classificação aos olhos do homem ou da mulher providos de tato. Certas afetações na maneira de se vestir são falhas de elegância, assim como certas locuções são incompatíveis com a distinção de linguagem’.(7) [...] 

‘Usar uma indumentária em harmonia não só consigo mesmo, com seu caráter, humor, idade, fisionomia, tez, cor de olhos e cabelos, mas também com suas posses e com o lugar que ocupa no mundo, com os eventos e as horas do dia, com as épocas do ano, com os espaços a percorrer, eis aí’, nota Philippe Perrot, ‘um dos primeiros arcanos do decoro no vestuário’.(8) [...] 

Função do chapéu — ao mesmo tempo ornamento e escudo 
Assim como as luvas, e pelas mesmas razões, claramente simbólicas, o chapéu é, no século XIX, um acessório essencial da indumentária feminina, e um dos mais reveladores. E ele de fato corresponde à imagem da mulher, tal como esta é representada pela burguesia dominante: um ser moralmente superior aos homens, mas fisicamente inferior, um bibelô precioso e frágil, que deve ser protegido contra as ameaças sem número que a cercam. 

Daí a função do chapéu, ao mesmo tempo ornamento e escudo. A mulher deve conservar essa proteção, enquanto existir uma ‘ameaça’, por mais virtual ou teórica que seja.

Por isso, estima a baronesa Staffe, é sinal de incivilidade aparecer sem chapéu onde se corre o risco de encontrar, a qualquer momento, algum desconhecido, de quem se ignora o próprio nome.(9) 
Luvas, bengala, gravata — no século XIX, epicentro do decoro masculino 
No século XIX, o vestuário masculino interessa bem menos aos manuais de boas maneiras, às revistas ou às crônicas da moda do que o das mulheres. Depois da Restauração(*), concebido sobre o modelo inglês, o traje do homem tende cada vez mais à uniformidade e à austeridade, contrastando nesse aspecto com a diversidade, a profusão e a suntuosidade dos vestuários femininos. Para o homem de sociedade e o burguês, o século XIX é o século do traje preto e do chapéu alto. 

No entanto, essa simplicidade não deixa de estar igualmente submetida a seus códigos — pois cada hora do dia se caracteriza por um vestuário particular, cada acessório é objeto de regulamentações minuciosas, quer se trate de luvas, bengala ou gravata — epicentro do decoro masculino no vestuário. [...] 

Gravata — influência política, física e moral, suas formas, cores e espécies 
A gravata, escreve Balzac, ‘esparge como que um perfume raro em toda a indumentária’, estando ‘para esta assim como a trufa está para o jantar’. Ela constitui o acessório decisivo, numa época em que estes adquirem uma importância inédita. 

De casaca ou de casaco longo, só um olho de fato bem treinado distingue, ao primeiro golpe, o duque de um funcionário de cartório. São, pois, outros signos que vão indicar as diferenças: as bengalas (particularmente perto do fim do século), as luvas, certamente, mas antes de mais nada e acima de tudo as gravatas, como declara, ainda, Balzac, em um artigo publicado em junho de 1830: ‘Da gravata, considerada em si mesma e em suas relações com a sociedade e os indivíduos’. ‘Sob o Antigo Regime, cada classe da sociedade tinha sua vestimenta; reconhecia-se pela roupa o senhor, o burguês, o artesão. Então, a gravata [...] era só um complemento necessário, de forro mais ou menos rico, mas não merecedor de consideração, assim como sem importância pessoal. Enfim os franceses se tornaram todos iguais em seus direitos, bem como em sua indumentária, e a diferença no forro ou no corte dos trajes não distinguia mais as condições. Como então ser reconhecido em meio a essa uniformidade? Por qual signo exterior distinguir o nível de cada indivíduo? A partir daí, destinava-se à gravata um novo destino: desde então, ela nasceu para a vida pública, adquiriu importância social, pois foi chamada a restabelecer as nuanças, inteiramente apagadas, na indumentária; ela se tornou o critério que permite reconhecer o homem como deve ser e o homem sem educação’(10) 

Acessório por excelência, a gravata, no entanto, esteve sujeita, da Revolução ao início do século XX, a variações muito rápidas.(11) 

Vergonha dos revolucionários, que descobrem o pescoço ou substituem esse símbolo aristocrático por um pano qualquer, amarrado como um lenço; reaparecendo depois do Terror, particularmente entre os jovens extravagantes, que viram aí uma forma de manifesto contra-revolucionário; é sob a Restauração, na época em que Balzac publica sua Fisiologia da Indumentária, que a gravata conhece seu momento de glória. É então que se publica, para uso dos homens elegantes, um Tratado geral das gravatas consideradas em sua origem, sua influência política, física e moral, suas formas, suas cores e suas espécies (1823), Seguida, em 1927, por uma Arte de colocar a gravata de todas as maneiras conhecidas e usuais, ensinada e demonstrada, em dezesseis lições, pelo barão Émile de L´Empesé. [...]

Mas as coisas mudam depois de 1830 e do advento da Monarquia de Julho, dominada pelas elites burguesas mais ativas, que já não dispõem de tanto lazer nem das motivações necessárias, havia pouco, ao rito complexo da gravata. Eis a razão pela qual esta se simplifica, até mesmo em seu volume, assim como também seu papel social tende a se reduzir.

Nem precisaria ser dito, no entanto, que seu uso permanece obrigatório, desde a adolescência, praticamente em todos os momentos do dia.

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Notas: 
(*) Período transcorrido de 1814 a 1830, em que se pretendeu, após a queda de Napoleão, o restabelecimento dos princípios monárquicos que vigoraram no regime anterior à Revolução Francesa. 
1. Dictionnaire des usages du monde, Mongie-Ainé, 1818, t. I, p. 75. 
2. N. Élias, La Société de Cour, Flammarion, 1985, pp. 63-64. 
3. La Politesse qui régnait à l´ancienne Cour de France comparée au ton de la Cour de Bonaparte, Renand, 1814, p. 7. 
4. Mme d´Alq, Le Savoir-Vivre en toutes les circonstances de l´vie, librairie de la famille, François Ebhardt, 24ª ed., 1879, p. 209. 
5. Governo republicano da França, de 1870 até a invasão dos nazistas, em 1840, quando passa a ser governo de Vichy. Foi a mais longa república deste a Revolução Francesa de 1789. (N.T.) 
6. Ph. Perrot, Les Dessus et les Dessous de la burgeoisie, une histoire du vétement au XIXe siècle, Bruxelas, Complexe, 1984, p. 169. 
7. Le Diable rose, nº 4, t. 3, 20 de julho de 1862. 
8. Ph. Perrot, Les Dessus et les Dessous de la burgeoisie, une histoire du vétement au XIXe siècle, op. cit., pp. 172-173. 
9. Agenda de la baronne Staffe, 1897, Havard, 1897, p. 51. 
10. H. de Balzac, Physiologie de la toilette, Oeuvres diverses, p. 47. 
11. Ph. Perrot, Les Dessus et les Dessous de la burgeoisie, une histoire du vétement au XIXe siècle, op. cit., pp. 208 e ss.