22 de fevereiro de 2015

TFP americana na marcha de meio milhão contra o aborto


Francisco José Saidl 

Por ocasião do 42º aniversário da decisão Roe x Wade, que legalizou o crime do aborto nos Estados Unidos, a Sociedade Americana de Defesa da Tradição Família e Propriedade, como vem fazendo desde aquele fatídico ano de 1973, marcou sua presença na capital americana por ocasião da marcha anual contra o aborto, realizada sempre no dia 22 de janeiro. 

Calcula-se que o número de nascituros abortados desde então ultrapassa a casa dos 61 milhões, número equivalente à população de 23 Estados americanos. Entretanto, o movimento anti-abortista vem conquistando terreno, especialmente entre os jovens: candidatos pela vida têm vencido eleições, clínicas de aborto vêm sendo fechadas e realizam-se diversas marchas em nível regional. 


Na marcha de 2015 viam-se por toda parte cartazes portados sobretudo por jovens, nos quais se lia: “Geração Pro-Life” [foto]. Além da já conhecida marcha em Washingon, DC, manifestações análogas ocorreram em Jefferson City, Missouri e Baton Rouge, na Louisiana. O governador deste Estado do extremo sul se fez presente, e dirigiu eloquentes palavras de encorajamento aos três mil manifestantes. 

Na capital do país, voluntários da TFP americana, portando nove
grandes estandartes vermelhos com o leão dourado e com suas capas de idêntica cor sobre os ombros, tiveram notável participação. A banda de música, constituída por membros da entidade, como também por alunos da Academia São Luís de Montfort, [foto] comunicou brilho ao evento com marchas patrióticas e religiosas. 


Uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima [foto] foi conduzida por membros da TFP. Sua presença recordava a todos que a prática do aborto deve ser inserida no elenco dos males morais previstos pela Santíssima Virgem há quase cem anos, quando disse em Fátima: "A Rússia espalhará seus erros pelo mundo". E a Rússia foi a primeira nação a aprovar esta ignominiosa lei.  

Representantes de associações anti-aborto da Itália, França, Holanda e Brasil também tiveram destacada participação na marcha realizada em Washington. 

Na ocasião, foram coletadas mais de 30 mil assinaturas [foto] para um
apelo a ser encaminhado ao Papa Francisco, pedindo sua especial atenção para a defesa da família em face das nocivas propostas apresentadas no último Sínodo, as quais ameaçam ser retomadas em outubro de 2015. 

No dia seguinte à marcha, membros de algumas delegações que ainda se encontravam em Washington reuniram-se na sede do Escritório de Representação da TFP americana em Mc Lean, Virginia. Nessa oportunidade, o Sr. John Horvat, autor do livro Return to Order — mais de 30 mil exemplares escoados em um ano — pronunciou uma conferência sobre o tema “Abrace a Cruz – Seja um autêntico líder pró-vida", na qual mostrou como o amor à Cruz de nosso Divino Salvador contraria diametralmente a mentalidade hedonista de nossos dias. Portanto, este é o verdadeiro caminho a trilhar.
Fotos: Michael Gorre [para percorrer a "galeria" de fotos, click na primeira e siga com a setinha do teclado.
No final assista o vídeo de 4 minutos sobre esta gigantesca marcha contra o aborto em Washington]











16 de fevereiro de 2015

Alô PROCON — O próprio Ministério da Saúde fazendo propaganda enganosa

Vírus da AIDS 

A falsa segurança do preservativo de látex 

(a castidade continua sendo o único preservativo eficaz no contágio da AIDS) 

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Imagine que o governo brasileiro distribuísse milhões de coletes a prova de balas a fim de que os brasileiros pudessem praticar “roubo seguro”. Tal atitude, se não fosse cômica, seria insultuosa. Ao fazer isso, o governo estaria chamando os cidadãos de ladrões. Mais que isso: estaria legitimando o roubo. 

“Quem procura o bônus deve aceitar o ônus”. Ninguém tem o direito de roubar. Se roubar, já deve estar contando com a possibilidade de ser preso ou de receber tiros da polícia. Não é função do governo garantir aos ladrões a segurança em seu “trabalho”. 

Coisa semelhante, mas muito pior, está acontecendo agora. O Ministério da Saúde distribui anualmente milhões de preservativos durante o carnaval a fim de que os brasileiros possam praticar “sexo seguro”. Ao fazer isso, o governo está chamando os cidadãos de devassos e libertinos. Mais que isso: está legitimando a devassidão e a libertinagem

“Quem procura o bônus deve aceitar o ônus”. Ninguém tem o direito de unir-se ao corpo alheio antes do casamento (fornicação), de trair o cônjuge (adultério), de vender o próprio corpo (prostituição), de praticar atos antinaturais (homossexualismo). Quem pratica tais pecados contra a castidade, já deve estar contando com a possibilidade de contrair a AIDS ou outra doença sexualmente transmissível. Não é função do governo garantir aos devassos a segurança em suas aberrações. 

Há defensores do governo que dizem que a campanha em favor do preservativo é um “mal necessário”. Argumentam eles que, como hoje é inútil falar de castidade aos jovens e adolescentes, a única “solução” é oferecer-lhes um meio para pecar com segurança. 

Tal argumentação é falaciosa. Para uma população que já se houvesse bestializado a ponto de não querer ouvir falar de castidade, a solução seria alertá-la para os riscos do pecado que pretende cometer. Assim, os libertinos, cientes de que podem contrair uma moléstia mortal e incurável, ainda que levados pelo instinto de sobrevivência, abandonariam a libertinagem. 

Além disso, para decepção dos defensores do “pecado seguro”, os jovens não estão tão endurecidos como se pensa. Prova disso é a ótima aceitação que tem tido no meio juvenil o livro “Descobrindo a castidade”, cuja segunda edição está para ser lançada. Os jovens gostam de desafios. Alegram-se quando veem alguém que não os trata como quadrúpedes. Entendem perfeitamente que não são como os irracionais, escravos dos seus instintos, que na época do cio agridem cegamente o animal do outro sexo para acasalar-se. Compreendem que o instinto reprodutor, presente no homem, deve ser governado pela razão. Daí a necessidade de guardar a virgindade antes do casamento, e de guardar a fidelidade conjugal depois dele. 

Existe pecado seguro? 

Há muito tempo os criminosos estão à procura do crime perfeito. Enquanto isso, o Ministério da Saúde apregoa o pecado seguro. Mas pode haver segurança para quem transgride a lei de Deus? 

São Paulo diz que os gentios (os não judeus), “tendo conhecido a Deus, não o honraram como Deus nem lhe renderam graças” (Rm 1,21). E prossegue: “Por isso Deus os entregou a paixões aviltantes. Suas mulheres mudaram as relações naturais por relações contra a natureza (alusão ao homossexualismo feminino); igualmente os homens, deixando a relação natural com a mulher, arderam em desejo uns para com os outros, praticando torpezas homens com homens (alusão ao homossexualismo masculino) e recebendo em si mesmo a paga da sua aberração” (Rm 1,26-27). 

Quem profana o sexo, que é tão sagrado quanto a vida, não deixa de receber o castigo. No exemplo fictício dos ladrões, o colete a prova de balas de maneira nenhuma asseguraria um “roubo seguro”. Mesmo usando o colete, os ladrões poderiam ser atingidos na cabeça, nas pernas ou nos braços. Da mesma forma, o famigerado “preservativo” de maneira nenhuma assegura aos fornicadores, adúlteros, prostitutos e homossexuais um “pecado seguro”.

Contra fatos não há argumentos 

Imagine-se sentado na cadeira de um consultório odontológico e sentindo uma dor alucinante enquanto o dentista aplica a broca sobre um dente cariado. O profissional argumenta que você não pode, de modo algum, estar sentido dor. E isso, por vários motivos: a região foi bem anestesiada; já houve tempo mais do que suficiente para que o anestésico fizesse efeito; e, além disso, a perfuração da broca não foi muito profunda. Pergunto: toda essa argumentação faria a dor desaparecer? Você simplesmente responderia: “Sinto muito, doutor, mas apesar de tudo, estou sentindo dor”. 

Assim, é totalmente inútil que o Ministério da Saúde tente convencer que o preservativo é impermeável ao HIV usando argumentos como este:
Pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos esticaram e ampliaram 2 mil vezes o látex do preservativo masculino (utilizando-se de microscópio eletrônico) e não foi encontrado nenhum poro. Em outro estudo, foram examinadas as 40 marcas de camisinha mais utilizadas em todo o mundo. A borracha foi ampliada 30 mil vezes (nível de ampliação que possibilita a visão do HIV) e nenhum exemplar apresentou poros[1]. 
Toda essa argumentação de que o preservativo não deveria deixar passar o HIV cai por terra diante do fato de que ele deixa passar não só HIV, mas até mesmo o espermatozoide! 

De fato, os preservativos de látex nunca foram considerados um método eficaz de se evitar gravidez (eu disse gravidez e não AIDS). Os preservativos têm uma taxa anual de sucesso de 85% na prevenção da gravidez. Há uma falha de 15%[2]. Ninguém até agora foi louco o suficiente para negar que a mulher que usa preservativo pode engravidar, e que de fato, muitas vezes engravida

Mas convém lembrar duas coisas: 

a) a mulher só engravida em cerca de 6 dias por mês, enquanto o HIV pode infectar uma pessoa durante os 30 dias do mês. 

b) o espermatozoide, que consegue passar pelas fissuras microscópicas do preservativo em 15% dos casos, é 450 vezes maior que o HIV! Só a cabeça do espermatozoide (que mede 3 milésimos de milímetro) é 30 vezes maior que o HIV, cujo diâmetro é 0,1 milésimo de milímetro! 

O que relatei acima são fatos, e contra fatos não há argumentos. Como uma peneira que não consegue reter pedras poderá impedir a passagem de grãos de areia 

Os efeitos da propaganda enganosa 

Ao afirmar categoricamente que o preservativo é impermeável, o Ministério da Saúde está oferecendo ao público uma falsa segurança. O resultado dessa publicidade enganosa é um aumento da prática sexual indiscriminada (antes ou fora do matrimônio, com pessoas do mesmo sexo, com prostitutos e prostitutas...) e, em consequência, o aumento da propagação da AIDS. Isso é coerente com o que admite o Ministério da Saúde sobre o crescimento de infectados entre os jovens: “Em relação aos jovens, os dados apontam que, embora eles tenham elevado conhecimento sobre prevenção da aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, há tendência de crescimento do HIV”[3]. 

Segundo relatório da ONU[4], na América Latina “aproximadamente 10 novas infecções por HIV ocorrem a cada hora” (p. 84). “Tem havido um lento, quase estagnante declínio no número de novas infecções entre 2005 e 2013. [...] Entretanto, em países como o Brasil, com um grande número de pessoas vivendo com HIV, as novas infecções cresceram 11%” (p. 88). 

Segundo o Código de Defesa do Consumidor, “é proibida toda publicidade enganosa ou abusiva” (art. 37, caput). Ao omitir a informação de que o preservativo é permeável e, mais ainda, ao assegurar que ele é impermeável, a União federal está incorrendo em publicidade enganosa. Está incorrendo também em publicidade abusiva, uma vez que “é abusiva, dentre outras, a publicidade [...] que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança” (art. 37, §2º). O Código pune com detenção de seis meses a dois anos e multa a conduta seguinte: “fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança” (art. 68). Além disso, ao infrator é imposta uma contrapropaganda “de forma capaz de desfazer o malefício da publicidade enganosa ou abusiva” (art. 60, §1º). 

Como se percebe, em nosso país essa lei tem sido simplesmente ignorada. Se fosse aplicada, o governo seria forçado a ensinar que não existe segurança fora da lei de Deus. 

Anápolis, 2 de fevereiro de 2015
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz 
Presidente do Pró-Vida de Anápolis

______________
Notas: 
[1] Por que usar a camisinha. Disponível emhttp://www.aids.gov.br/pagina/por-que-usar. 
[2] Cf. JONES, Elise F. & FORREST, Jacqueline Darroch, “Contraceptive Failure Rates Based on the 1988 NSFG (National Survey of Family I Growth)”:'Family Planning Perspectives 24:1 (Jan.-Feb. 1992), pp. 12, 18. Disponível emhttp://www.jstor.org/stable/2135719. 
[3] Aids no Brasil. Disponível emhttp://www.aids.gov.br/pagina/aids-no-brasil 
[4] UNAIDS. The gap report. 16 jul. 2014. Disponível emhttp://ep00.epimg.net/descargables/2014/07/15/af1da747cfd1bb233d64d9ac04939ab1.pdf

14 de fevereiro de 2015

Tempos carnavalescos — dias de perversões

Paulo Roberto Campos

Os festejos do carnaval, ano após ano, tornam-se mais extravagantes e imorais; cenas grotescas, bebedeiras, uso de drogas, práticas de nudismo e até orgias, são ostentadas torpemente, arruinando moralmente muitas famílias.

Apesar de todos essas depravações e escândalos, sabemos que o carnaval é impulsionado pelas autoridades do País, por exemplo, com a massiva distribuição de preservativos, sob o ridículo pretexto (melhor se diria ilusão) do denominado “sexo seguro”. 

Essas libertinagens carnavalescas nos levam a uma reflexão: seria possível alguém, durante os três dias de carnaval, entrar na “folia” –– violando gravemente os princípios da moral católica, portanto infringindo os Mandamentos da Lei de Deus — e depois voltar à normalidade? 

Esta pergunta foi admiravelmente respondida por Plinio Corrêa de Oliveira, em artigo publicado em “O Legionário”, de 15-2-1942: 


“Lembro-me de que, quando era menino, certo professor jesuíta do colégio São Luiz me contou que um diplomata japonês, tendo assistido [no Brasil] ao carnaval — que em sua pátria não se comemorava —, enviou ao seu governo a seguinte descrição: ‘durante três dias ficam todos loucos e praticam os maiores absurdos; depois, repentinamente, o senso lhes volta e recobram juízo’. A observação, que muito me impressionou na ocasião, é realmente interessante. Muitas pessoas já a têm feito. Entretanto, cumpre acentuar que ela não reflete toda a realidade. 
Com efeito, há uma regra de moral que afirma: ‘Nada de péssimo se faz subitamente’. É contra todas as regras da psicologia humana supor que pessoas muito dignas, muito moralizadas, muito sensatas, conseguem depor inteiramente as suas ideias durante os três dias do carnaval, e depois repô-las intactas, imaculadas, inteiriças, após os dos festejos de Momo. Ideias não são roupas que se vestem ou se despem. Se alguém procede, durante o carnaval, de modo extremamente leviano, é isto uma prova de que anteriormente já havia uma falha na couraça moral dessa pessoa. Por outro lado, se essa falha pode ter ocasionado a renúncia momentânea a certas atitudes e a certas ideias durante o carnaval, como é difícil voltar depois à primitiva linha de moral! 
Não nos iludamos. Erram, e erram miseravelmente, os que supõem que o carnaval constitui apenas um parêntese de loucura. Ele é um tumor que explode, e através de suas secreções se pode bem avaliar todo o vulto da infecção que, de maneira mais ou menos disfarçada, já minava anteriormente o organismo. Três dias depois esse tumor se cicatriza, na aparência. Fá-lo, entretanto, deixando uma base sempre mais profunda, sempre mais dolorosa, sempre mais perigosa, para o tumor do ano que vem”.

1 de fevereiro de 2015

Exortação às famílias numerosas


Paulo Roberto Campos

Em célebre discurso aos dirigentes e representantes das associações das famílias numerosas da Itália, o Papa Pio XII prestou homenagem às famílias grandes e as estimulou depositarem sua confiança na Providência Divina. Sua Santidade mostrou que elas são as mais queridas do Criador e representam a garantia da “saúde física e moral do povo cristão”. Também apontou os desvios às leis do matrimônio e da procriação como causa da decadência dos povos, devido à rejeição aos dons inestimáveis de Deus que são os filhos.

A esse propósito, não resisto ao desejo de citar uma frase de Nelson Rodrigues: “O filho único é um mártir; mártir do pai, mártir da mãe e mártir dessas circunstâncias. As famílias numerosas são muito mais normais, mais inteligentes e mais felizes”. Apenas coloco uma ressalva, para não suscetibilizar os casais que, por algum desígnio de Deus e não por limitação artificial da natalidade, não puderam ter filhos, ou tiveram somente um ou dois. Como reza o ditado popular, “toda regra tem exceção”. Esses casais podem oferecer esse sacrifício pelo bem das famílias com muitos filhos ou mesmo, tendo condições, prestar auxílio àquelas com proles numerosas que tenham alguma necessidade.

Segue a íntegra do admirável discurso de Pio XII, publicado pela Editora Vozes Ltda. (Documentos Pontifícios, 1958, pp. 13 a 22). Apenas tomei a liberdade ilustrar o texto, e de assinalar em negrito algumas passagens. 


No dia 20 de janeiro de 1958, o Papa Pio XII dirigiu a palavra a um grupo de dirigentes e membros da Federação Nacional (italiana) das Associações de Famílias Numerosas 





1. Entre as visitas mais agradáveis ao Nosso coração, destacamos a vossa, caros filhos e filhas, dirigentes e representantes das Associações de Famílias Numerosas de Roma e da Itália. Conheceis, com efeito, a viva solicitude que dedicamos à família. Não perdemos nenhuma ocasião de assinalar-lhe a dignidade em seus múltiplos aspectos, de afirmar e defender-lhe os direitos, de inculcar-lhe os deveres, numa palavra, de fazer dela um ponto fundamental de nosso ensinamento pastoral. 

2. Em razão dessa solicitude para com a família, consentimos com todo o prazer, quando as ocupações de Nosso cargo a isso não se opõem, em receber, mesmo que seja por breves momentos, os grupos de famílias que vêm até a Nossa residência e mesmo em deixar-Nos fotografar em sua companhia, para perpetuar, de algum modo, a lembrança da Nossa e sua alegria. 

3. O Papa no meio de uma família! Não é este um lugar que bem lhe convém? Não é ele próprio, com um significado altamente espiritual, o Pai da família humana regenerada no Cristo e na Igreja? E não é por intermédio do Vigário de Cristo na Terra que se realiza o admirável desígnio da Sabedoria criadora, que ordenou toda paternidade humana no sentido de preparar a família eleita dos céus, onde o amor de Deus, Uno e Trino, a envolverá num só e eterno abraço, dando-se a Si mesmo como herança de beatitude?

4. Entretanto não representais apenas a família, mas sois e representais as famílias numerosas, isto é, as que são mais abençoadas por Deus, queridas e estimadas pela Igreja como os tesouros mais preciosos. Destas recebe, com efeito, com mais evidência, um tríplice testemunho, pois ao mesmo tempo em que confirmam aos olhos do mundo a verdade de sua doutrina e a retidão de sua prática, tornam-se, em virtude do exemplo, de grande auxílio para todas as outras famílias e para a própria sociedade civil. Com efeito, quando são encontradas com frequência, as famílias numerosas atestam a saúde física e moral do povo cristão, a fé viva em Deus e a confiança em sua Providência, a santidade fecunda e feliz do casamento católico.

5. Sobre cada um desses testemunhos queremos dizer-vos algumas breves palavras. 

Famílias numerosas, garantia da saúde e moral de um povo 


6. Entre as aberrações mais prejudiciais da moderna sociedade pagã, deve-se destacar a opinião de alguns que ousam definir a fecundidade dos casamentos como uma “doença social” que os países por ela atingidos deveriam esforçar-se para banir de todos os modos. Daí a propaganda daquilo que se designa como “controle racional dos nascimentos”, sustentado por pessoas e entidades às vezes ilustres por outros títulos, mas infelizmente condenáveis por este. Mas, se é doloroso notar a difusão de tais doutrinas e práticas, mesmo das classes tradicionalmente sãs, é no entanto reconfortante assinalar em vossa pátria os sintomas e os fatos de uma salutar reação, tanto no terreno jurídico como médico.

7. Como se sabe, a Constituição em vigor na República Italiana, para citar apenas uma fonte, concede, no artigo 31, uma “particular proteção às famílias numerosas", enquanto a doutrina mais em voga entre os médicos italianos toma cada dia mais força contra as práticas que limitam os nascimentos. No entanto, não se deve julgar que o perigo cessou e foram destruídos os preconceitos que tendem a sujeitar o casamento e suas sábias normas a culpáveis egoísmos individuais e sociais. Deve-se especialmente lamentar que a imprensa volte, de tempos em tempos, ao problema, com a manifesta intenção de confundir as ideias do povo simples e induzi-lo em erro com documentações falsas, com inquéritos discutíveis e mesmo com declarações deturpadas de tal ou qual eclesiástico.

8. Da parte católica, é preciso insistir para se propagar a convicção, fundamentada na verdade, de que a saúde física e moral da família e da sociedade não se resguarda senão na obediência generosa às leis da natureza, isto é, do Criador, e antes de mais nada no respeito sagrado e interior nutrido por elas. Tudo nesse assunto depende da intenção. Poder-se-iam multiplicar as leis e agravar os sofrimentos, demonstrar por provas irrefutáveis a inanidade das teorias da limitação e os males que decorrem de sua aplicação; mas se faltar a sincera resolução de deixar o Criador realizar livremente a sua obra, o egoísmo humano saberá sempre encontrar novos sofismas e expedientes para fazer calar, se possível, a consciência e perpetuar os abusos. 

9. Ora, o valor do testemunho dos pais de famílias numerosas não consiste apenas em rejeitar sem meios-termos e com força dos fatos qualquer compromisso intencional entre a lei de Deus e o egoísmo do homem, mas na prontidão em aceitar com alegria e gratidão os inestimáveis dons de Deus que são os filhos, e no número que Lhe apraz. Esta disposição de espírito, ao mesmo tempo em que liberta os esposos de intoleráveis pesadelos e remorsos, traz consigo, conforme médicos autorizados, as premissas psíquicas mais favoráveis para o são desenvolvimento dos frutos próprios ao casamento, evitando na origem dessas vidas novas os tormentos e angústias que se transformam em taras físicas e psíquicas, tanto na mãe como na prole. 

10. Na verdade, exceto casos excepcionais sobre os quais tivemos ocasião de falar de outras vezes, a lei da natureza é essencialmente harmonia e portanto não produz desajustes e contradições senão na medida em que seu curso é perturbado por circunstâncias quase sempre anormais ou pela oposição da vontade humana. Não existe eugenia que saiba fazer melhor do que a natureza e só será salutar na medida em que respeitar as leis desta, após tê-las profundamente conhecido, tanto que em certos casos de pessoas deficientes, é aconselhável dissuadi-las de contrair matrimônio (Cf. Enc. “Casti Connubii”, 31-12-1930 — A. A. S. a. 22, 1930, p. 565). Aliás, sempre e em toda parte, o bom-senso popular viu nas famílias numerosas o sinal, a prova e a fonte da saúde física, enquanto a história não se engana quando aponta o desvio das leis do casamento e da procriação como uma primeira causa da decadência dos povos.

11. As famílias numerosas, longe de serem “doença social”,
são a garantia da saúde física e moral de um povo. Nos lares em que sempre há um berço de onde se ouvem vagidos, as virtudes florescem espontaneamente, enquanto o vício se afasta como que expulso pela infância, que aí se renova qual brisa fresca e vivificante da primavera. 

12. Que os pusilânimes e egoístas sigam pois o vosso exemplo; que a pátria vos seja grata e tenha predileção por vós, por tantos sacrifícios que assumis criando e educando seus cidadãos; do mesmo modo a Igreja vos deve gratidão, pois, graças a vós e convosco, pode apresentar à ação santificadora do Espírito Santo multidões de almas cada vez mais sãs e numerosas. 



Famílias numerosas, testemunho da fé viva em Deus e da confiança em Sua Providência



13. No mundo civil moderno a família numerosa vale em geral, não sem razão, como um testemunho da fé cristã vivida, porque o egoísmo de que acabamos de falar como principal obstáculo à expansão do núcleo familiar, não pode ser eficazmente vencido senão recorrendo-se aos princípios ético-religiosos. 

14. Recentemente ainda, viu-se que a famosa “política democrática” não obtém mais resultados apreciáveis, seja porque quase sempre o egoísmo individual prevalece sobre o egoísmo coletivo, de que ela é frequentemente a expressão, seja porque as intenções e os métodos dessa política aviltam a dignidade da família e da pessoa, equiparando-se quase às espécies inferiores. Somente a luz divina e eterna do Cristianismo ilumina e vivifica a família de tal modo que, seja no início, seja no desenvolvimento, a família numerosa é tida quase sempre como sinônimo de família cristã. O respeito às leis divinas lhe deu a exuberância da vida; a fé em Deus concede aos pais a força necessária para enfrentar os sacrifícios e as renúncias exigidas pela educação dos filhos; o espírito cristão do amor vela sobre a ordem e a tranquilidade, ao mesmo tempo em que prodigaliza, como que as extraindo da natureza, as íntimas alegrias familiares, comum aos pais, aos filhos, aos irmãos. 

15. Exteriormente também uma família numerosa bem ordenada é qual um santuário visível: o sacramento do Batismo não é para ela um acontecimento excepcional, mas renova muitas vezes a alegria e a graça do Senhor. Ainda não se encerraram as festivas peregrinações às fontes batismais e já começam, resplandecentes de igual candura, as das crismas e primeiras comunhões. Mal o caçulinha tirou sua pequena veste branca, conservada como a mais cara lembrança de sua vida, e eis que já aparece o primeiro véu nupcial, que reúne aos pés do altar pais, filhos e novos pais. Como primaveras renovadas, suceder-se-ão outros casamentos, outros batizados, outras primeiras comunhões, perpetuando por assim dizer, no lar, as visitas de Deus e de sua graça. 
Pintura do séc. XIX representando um cortejo de meninos e meninas caminhando em direção à igreja, cuja bela torre se faz notar ao fundo, para a cerimônia da Primeira Comunhão. No primeiro plano, uma mãe aguarda sua filha receber as felicitações da avó (osculando a netinha) e depois do avô (sentado e já estendo a mão para os cumprimentos). A mãe, com o livro de missa na mão esquerda, espera o término das saudações a fim de levar a filha para seguir o cortejo das crianças. O pequenino observa os meninos, um deles talvez seu irmão, certamente já desejando chegar o dia em que ele também poderá fazer a Primeira Comunhão.

16. Mas Deus também vem às famílias numerosas com a sua Providência, da qual os pais, principalmente os pobres, dão um testemunho evidente, nela colocando toda a sua confiança, quando não são suficientes os meios humanos. Confiança bem fundada e de modo algum vã! A Providência — para nos exprimirmos com conceitos e palavras humanas — não é propriamente o conjunto de atos excepcionais da clemência divina, mas o resultado normal da ação harmoniosa da sabedoria, bondade e onipotência infinita do Criador. Deus não recusa meios de viver àquele que traz à vida. O divino Mestre ensinou explicitamente que “a vida vale mais que o alimento e o corpo mais que a veste” (Cf. Mt 6,25). Se fatos isolados, pequenos e grandes, parecem às vezes provocar o contrário, é sinal de que algum obstáculo foi interposto pelo homem à execução da ordem divina, ou então, em casos excepcionais, que prevalecem desígnios superiores de bondade; mas a Providência é uma realidade, uma necessidade de Deus Criador.  

17. Sem dúvida alguma, não é de falta de harmonia ou de inércia da Providência, mas da desordem do homem — em particular do egoísmo e da avareza — que surgiu e permanece ainda sem solução o famoso problema do excesso de população da Terra, que em parte existe realmente e em parte irrazoavelmente temido como uma catástrofe iminente da sociedade moderna. Com o progresso da técnica, com a facilidade dos transportes, com as novas fontes de energia, de que apenas se começam a colher os frutos, a terra poderá proporcionar prosperidade a todos que acolher, durante muito tempo ainda. 

18. Quanto ao futuro, quem pode prever os outros novos recursos ainda ignorados que encerra o nosso planeta e que surpresas, fora dele, nos reservam talvez as admiráveis realizações da ciência, que apenas começam? E quem pode assegurar para o futuro um ritmo de procriação natural semelhante ao atual? Será impossível a intervenção de uma lei moderadora intrínseca do ritmo de expansão? A Providência reservou para si o futuro do mundo. Na expectativa disso, um fato singular é que, enquanto a ciência converte em realidades úteis o que outrora era considerado como fruto de imaginações fantasistas, o temor de alguns transforma as esperanças bem fundadas de propriedade em espectros de catástrofe. O excesso de população não é, pois, uma razão plausível para difundir os métodos ilícitos do controle dos nascimentos, mas antes pretexto para legitimar a avareza e o egoísmo, seja das nações que, da expansão de outras temem um perigo para sua própria hegemonia política e abaixamento do nível de vida, seja dos indivíduos especialmente dos mais bem providos de meios de fortuna, que preferem o mais amplo gozo dos bens da terra à honra e ao mérito de suscitar novas vidas. Chegam desse modo a violar as leis acertadas do Criador, sob o pretexto de corrigir os erros imaginários de sua Providência. Seria, pelo contrário, mais razoável e útil que a sociedade moderna procurasse mais resoluta e universalmente corrigir sua própria conduta, removendo as causas da fome nas “regiões subdesenvolvidas” ou superpovoadas, por meio do emprego mais ativo, com fins de paz, das descobertas modernas, de uma política mais, ampla de colaboração e intercâmbio, de uma economia mais previdente e menos nacionalista. E, principalmente, reagindo contra as sugestões do egoísmo pela caridade, da avareza pela aplicação mais concreta da justiça. Deus não pedirá aos homens contas do destino geral da humanidade, que é de sua alçada; mas dos atos distintos queridos por eles em conformidade com os ditames de suas consciências ou em oposição aos mesmos.

19. Quanto a vós, pais e filhos de famílias numerosas, continuai a dar com firmeza serena o vosso testemunho da confiança na Providência divina, certos de que ela não deixará de recompensá-los pela prova de sua assistência cotidiana e, se for necessário, por intervenções extraordinárias de que muitos dentre vós tendes a feliz experiência.

Famílias numerosas, testemunho da santidade fecunda e feliz do casamento católico


20. E agora, algumas considerações sobre o terceiro testemunho, a fim de apaziguar os inquietos e aumentar vossa coragem. 

As famílias numerosas são os mais belos ramalhetes do jardim da Igreja; nelas, como em terreno propício, floresce a alegria e amadurece a santidade. Qualquer núcleo familiar, mesmo o mais restrito é, nas intenções de Deus, um oásis de serenidade espiritual. Existe, porém, profunda diferença no lar em que o número de crianças não ultrapassa ao do filho único. Essa intimidade serena, que tem um valor de vida, traz em si qualquer coisa de melancólico e pálido; é de duração mais breve, talvez mais incerta, muitas vezes perturbada por temores e remorsos secretos. Outra é, pelo contrário, a serenidade de espírito dos pais cercados por uma vigorosa florescência de vidas jovens. A alegria, fruto da bênção superabundante de Deus, se manifesta de mil modos, com constância estável e segura. Sobre a fronte desses pais e mães, mesmo quando carregada de cuidados, não há traço dessa sombra interior reveladora de inquietações de consciência ou do temor de uma irreparável volta à solidão. Sua juventude parece nunca ter fim enquanto dura no lar o perfume dos berços, enquanto nas paredes da casa ressoam as vozes argentinas dos filhos e dos netos. As fadigas multiplicadas, os sacrifícios redobrados e as renúncias às distrações dispendiosas são largamente recompensadas, mesmo aqui na Terra, pelo mundo inesgotável de afetos e de doces esperanças que lhes invadem o coração, sem todavia oprimi-lo ou cansá-lo.



21. E as esperanças se transformam em breve em realidade, quando a filha mais velha já começa a ajudar a mãe a cuidar do mais novo; quando o filho mais velho volta para casa radiante, pela primeira vez, com seu primeiro salário. Esse dia entre todos será abençoado de modo especial pelos pais, que veem para sempre afastado o espectro de uma velhice miserável, e sentem a segurança da recompensa de seus sacrifícios. Os filhos numerosos, por sua vez, ignoram a solidão e o mal-estar de serem obrigados a viver no meio de adultos. É verdade que essa companhia numerosa pode às vezes transformar-se numa vivacidade fastidiosa e suas desavenças, em tempestades passageiras; mas quando estas são superficiais e de curta duração, concorrem eficazmente para a formação do caráter. Os filhos das famílias numerosas se educam por assim dizer por si mesmos na vigilância e na responsabilidade de seus atos, no respeito e no auxílio mútuo, na largueza do espírito e na generosidade. A família é para eles um pequeno mundo de experiências antes de enfrentarem o mundo exterior, mais árduo e mais constrangedor.

Recomendação final e Bênção Apostólica


22. Todos esses bens e todos esses valores ganham em consistência, intensidade e fecundidade quando a família numerosa coloca, como seu fundamento e regra, o espírito sobrenatural do Evangelho, que tudo eleva acima do humano e tudo perpetua. Nesses casos, aos dons comuns de providência, de paz, de alegria, Deus acrescenta muitas vezes, como a experiência o demonstra, os chamados de predileção, isto é, as vocações ao sacerdócio, à perfeição religiosa e à própria santidade. Mais de uma vez, e não sem
razão, salientou-se a prerrogativa das famílias numerosas como viveiros de santos. Citam-se, entre outras, a de São Luís, rei da França, composta de dez filhos; a de Santa Catarina de Sena, de vinte e cinco; a de São Roberto Bellarmino, de doze; a de São Pio X [foto], de dez. Toda vocação é um segredo da Providência; mas no que diz respeito aos pais, esses fatos permitem concluir que o número de filhos não impede sua excelente e perfeita educação; que o número, nesse assunto, não traz desvantagem para a qualidade no que se refere aos valores tanto físicos como espirituais.

23. Uma palavra, finalmente, para vós, dirigentes e representantes das Associações das Famílias Numerosas de Roma e da Itália. Tende o cuidado de imprimir um dinamismo cada vez mais vigilante e ativo à ação que vos propusestes realizar para o bem da dignidade da família numerosa e sua proteção econômica. Quanto à primeira finalidade, conformai-vos aos preceitos da Igreja; quanto à segunda, é preciso sacudir a inércia da porção da sociedade que ainda não se abriu aos deveres sociais. 

24. A Providência é uma verdade e uma realidade divina, mas ela se apraz em servir-se da colaboração humana. De ordinário, move-se e acorre quando é chamada e, por assim dizer, conduzida pela mão do homem; gosta de esconder-se por detrás da ação humana. Se é justo reconhecer na legislação italiana posições das mais avançadas no terreno da proteção às famílias, particularmente às famílias numerosas, é preciso não ocultar que ainda existem muitas que se debatem, sem que seja por culpa sua, no meio de dificuldades e privações. Pois bem, vossa ação deve propor-se fazer chegar igualmente a estas a proteção das leis e, nos casos urgentes, a da caridade. Qualquer resultado positivo alcançado nesse terreno é qual uma sólida pedra colocada no edifício da Pátria e da Igreja; e é o melhor que podeis fazer como católicos e como cidadãos.

25. Invocando a proteção divina para as vossas famílias e para as de toda a Itália e colocando-as ainda uma vez sob a égide celestial da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, de todo o coração Nós vos concedemos a Nossa paternal Bênção Apostólica".