22 de setembro de 2016

“É mais satisfatório salvar uma alma das chamas eternas”

Bombeiro americano que foi vítima no atentado contra as Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001 e sua vida de fé, transmitida à Família

Plinio Maria Solimeo

No último dia 11 transcorreram 15 anos do maior atentado terrorista já perpetrado no mundo. O ataque às Torres Gêmeas, em Nova York, marcou o fim de uma era. Desde então, o mundo não foi mais o mesmo. A insegurança reinou por toda parte. Das mais de três mil vítimas desse atentado, cada uma tem sua história. É de uma delas que vamos tratar. 

Uma reportagem “não politicamente correta” 

A cadeia americana de televisão CNN é uma das mais poderosas do mundo. Evidentemente, como toda a mídia, ela só traz matérias que interessem aos seus telespectadores e rendam dividendos. 

Por isso, surpreende uma longa reportagem “não politicamente correta” e contra seus hábitos, publicada por ela no dia 6 de setembro, sobre uma família numerosa e genuinamente católica, atingida pelo infortúnio. Tinha como título: “Os 10 Palombo: como perdendo o pai em 11 de setembro, e em seguida a mãe, transformaram o sofrimento em força” .(1) 

Trata-se da família de Frank Anthony Palombo, bombeiro em Nova York, que perdeu a vida no atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro. Lídimo católico, por ocasião de sua morte aos 46 anos de idade, era pai de dez filhos, oito homens e duas mulheres, na idade de 11 meses a 15 anos. [foto acima

Família numerosa e feliz 

Frank e sua esposa Joana se conheciam praticamente desde criança. No entanto, ele entrou para o seminário pensando ser sacerdote. Saiu algum tempo depois, convencido de que sua vocação era o matrimônio. Em 1979 entrou para o corpo de bombeiros de Nova York, e em 1982 casava-se com Joana, que era professora. 

No início houve alguns problemas a superar. Enquanto Frank era profundamente religioso, Joana “não queria saber de religião”. Ele queria ter muitos filhos, e ela não queria ter nenhum. 

Foi só em 1985 que as coisas mudaram. Um dia Frank viu em sua paróquia o anúncio de uma série de palestras com o título: “Qual o sentido de sua vida?”. E convenceu sua esposa a delas participar. Joana foi a contragosto, mas as palestras a impressionaram profundamente. As palavras do sacerdote: “Por que você não deixa Deus entrar em sua vida?” foram-lhe diretamente ao coração. Rendeu-se. “Saber que Deus a amava, deu-lhe a força para levar a vida adiante, sem se assustar com o sofrimento”, diz sua filha Maria. 

Casualmente ela encontrou na igreja um casal italiano com quatro filhos, que parecia ser muito feliz. “Por que não hei de fazer o mesmo?”, pensou. Isso a reconciliou com o pensamento da maternidade. 

A partir de então os filhos começaram a chegar, um após outro. E o casal os recebia com alegria, como um dom de Deus. Não lhes importava ficar ricos, mas sim amar os filhos que Deus lhes dava. Desse modo, o que não podiam dar financeiramente aos filhos, eles compensavam com o carinho e a disponibilidade.

Mais tarde Frank se emocionava quando via à mesa seus numerosos filhos, e agradecia a Deus por tê-los dado. 

Frank, com seu bom temperamento, era a alma da ruidosa família. Em tudo os filhos recorriam ao pai, que os ajudava nas tarefas escolares ou nos jogos, e os encorajava a se esforçarem muito no estudo. “Se vocês tirarem nota baixa por não se terem esforçado, eu ficarei muito bravo”, dizia-lhes. 

De seu lado, Joana era uma mãe amorosa, que tratava os filhos com muita delicadeza. Muito ativa, ela os levava e buscava na escola, assistia-os nos estudos e nos jogos, e, sobretudo, instilava neles uma profunda piedade. 

O zelo apostólico de Frank levava-o a se interessar também pelos jovens da paróquia. A cada três anos, conduzia um grupo deles para fazer missões no ultramar. 

Certa vez comentavam o gosto que ele teria salvando muitos das chamas nos incêndios. Com espírito sobrenatural, ele respondeu que antes “era mais satisfatório salvar uma alma das chamas eternas”

Nas horas vagas em sua corporação, Frank lia a Sagrada Escritura. A quem lhe dizia que, em vez disso, deveria empregar seu tempo estudando para ser promovido a tenente, ele respondia: “Você nunca irá ao Céu só lendo a apostilha para ser tenente”. 

Frank poderia aposentar-se em 1999. Não o fez, mas começou a fazer trabalhos extras, julgando que necessitava de mais alguns anos para ter seu próprio negócio. A esposa terminara seu mestrado, e esperava poder lecionar de novo para ajudar nas despesas. 

A primeira tragédia: o 11 de Setembro 

Foi então que, em setembro de 2001, sobreveio a tragédia. Frank e mais seis colegas foram esmagados pelas ruínas em chamas do prédio das Torres Gêmeas, no qual trabalhavam. 

O trágico acontecimento provocou uma como que devastação não só na família, privada de seu mais firme suporte, mas em toda a paróquia que Frank frequentava e em muitos de seus amigos. 

Sozinha, às voltas com dez filhos — o mais velho dos quais tinha apenas 15 anos e o mais novo seis meses —, Joana, com sua fé em Deus, enfrentou com coragem a nova situação. 

Naturalmente, o choque dos filhos foi tremendo. Eles se perguntavam: “Como pôde Deus permitir isso? Como pôde Deus deixar-nos sem um pai?” A mãe procurava explicar-lhes que os desígnios de Deus são insondáveis, mas que, permitindo essa desgraça, Ele não os desamparava; pelo contrário, continuava a assisti-los. 

O temor de Joana era de que o Estado pusesse em dúvida sua capacidade de criar tantos filhos sem o marido, e que, portanto, os separassem dela. Felizmente isso não ocorreu. Mulher enérgica, ela queria a todo custo manter unida a família, baseada no que o esposo sempre lhe dizia: “Deus proverá”.

Do ponto de vista financeiro, eles contavam com a pensão do pai, mais uma compensação extra por sua morte em serviço, além de doações de parentes e amigos. 

Todos ajudam a família enlutada 

E as ajudas vinham de todos os lados, a começar pelos bombeiros da unidade de Frank. Eles já se tinham familiarizado com os meninos quando o pai os levava para a corporação, e começaram a ajudar de vários modos, executando pequenos reparos e outros serviços na casa, dando-lhes carona nos seus carros de serviço, e jogando com eles em frente da casa. 

Além disso, estranhos começaram a lhes dar alguma ajuda, em espécie ou em dinheiro. Por exemplo, Jim Fassel, técnico do famoso clube de futebol americano New York Giants, ficou tão comovido com a notícia de que um bombeiro tinha morrido deixando 10 filhos, que procurou ajudá-los como pôde. Concedia-lhes ingresso grátis para os treinos e jogos do seu clube, e até os convidava para entrar no campo com seus jogadores nos dias de jogo. Um pequeno episódio ocorreu num desses dias, durante a execução do hino nacional. Um dos filhos de Frank, o adolescente Tom, ouvia um tanto displicentemente o hino. Então um dos mais conhecidos jogadores do clube, Michael Strahan, deu-lhe um tapinha na cabeça dizendo: “Ponha as mãos juntas”. 

A segunda tragédia: a morte da mãe 

A vida para eles seguia com relativa normalidade quando, em 2008, Joana foi diagnosticada com câncer no cólon. Cirurgias, quimioterapias, tratamentos diversos se seguiram enquanto ela lutava desesperadamente pela vida. 

Mas sentia que era preciso preparar os filhos para o pior. Quando sentiu que o fim se aproximava, recomendou-lhes que permanecessem sempre unidos e que não se preocupassem com os irmãos mais novos, “porque agora eles teriam uma Mãe melhor. Amem a vida, e façam o melhor que possam”.

 No dia 8 de agosto de 2013, rodeada pelos filhos, irmãos, e por muitos de sua paróquia, Joana entregou sua alma a Deus, enquanto os presentes cantavam o Credo. O primogênito tinha 27 anos e o caçula, 12. 

A vida sem os pais 

Já vimos num artigo anterior que a união existente entre os membros das famílias numerosas é muito maior. Isso se deu com os Palombo: seguindo o desejo da mãe, todos os irmãos resolveram permanecer juntos em sua casa de Nova Jersey, para se ajudarem mutuamente. 

Antonio, o mais velho, está agora no seminário para ser sacerdote. Frank Jr., o segundo, é o único casado e já tem três filhos. Joe, o terceiro, é o contador que controla o orçamento da família. Maria, a quarta, é enfermeira especializada em oncologia. Tornou-se a “mãe” e a dona da casa. O quinto filho, Tom, seguiu a profissão do pai. João, o sexto, foi admitido na academia dos bombeiros. Patrick, o “chefe” da casa, está trabalhando como cozinheiro num restaurante italiano. Daniel, o seguinte, está no colégio, e a última, Margarete, está no ginásio. 

Joe afirma: “Tendo esse vínculo [de união entre si] apesar da diferença de cada um e da diferença de personalidades, eu penso que isso nos mantem unidos”. E Patrick acrescenta: “Nossos pais instilaram em nós a importância de estarmos juntos, comermos juntos, e rezarmos juntos”

Como o domingo é o dia em que todos estão em casa, os 10 se reúnem para fazer a oração da manhã em conjunto, como os pais lhes ensinara.(2)

As considerações sobre essa família tão religiosa e tão unida diante de tanto sofrimento nos mostram a importância da Religião Católica e do afeto na formação dos filhos. E como Deus socorre e abençoa os que são d’Ele, mesmo em meio às piores tragédias.

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12 de setembro de 2016

NESTE MOMENTO TRISTE?

Neste momento o Brasil não tem razão para estar triste, mas para pular de alegria. Antes, estava angustiado pelas algemas de 13 anos de retrocesso



Péricles Capanema 

Na manhã de 3 de setembro, diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida, nos jardins do Vaticano, o Papa Francisco feriu, dói dizê-lo, a maioria dos católicos brasileiros. Estavam presentes o cardeal-arcebispo de Aparecida, alguns bispos, o embaixador brasileiro junto à Santa Sé, no total umas 300 pessoas. Palavras do Pontífice: “Estou contente com a imagem de Nossa Senhora aqui nos jardins. Em 2013 prometi voltar a Aparecida. Não sei se será possível. [...] Convido-os a rezar para que ela continue a proteger todo o Brasil, todo o povo brasileiro, neste momento triste. Que ela proteja os pobres, os descartados, os idosos abandonados, os meninos de rua. Que ela salve o seu povo com a justiça social”. 

A CNBB rapidamente acertou o passo, em nota divulgada em 7 de setembro: “Vivemos um triste momento. [...] A histórica desigualdade social não foi superada. Corremos o risco de vê-la agravada pela desconstrução de políticas públicas, que resultam em perda de direitos”. E as manifestações do “22º Grito dos Excluídos”, bafejadas por ela Brasil afora na data da independência, tiveram como parceiras MST, CUT além de partidos como PSOL, PCO, PC do B, PCR e PT distribuindo panfletos e berrando o “Fora Temer” e “Diretas Já”.

Volto ao Papa Francisco. Onde está a ferida? Claro, as três palavras “neste momento triste” causaram perplexidade. É triste o momento pelo qual passa o Brasil? Agravou a estranheza o possível cancelamento de sua viagem a Aparecida em 2017. Não foi ambígua a declaração, elas constituíram apoio à presidente cassada e às suas políticas. Era notório, pelo caráter augusto da investidura petrina, não ser politicamente prudente avançar mais na expressão do pensamento, sob pena de ruidosa inconformidade na grossa maioria das escandalizadas ovelhas, cuja defesa dos lobos foi confiada por Cristo ao Sucessor de Pedro. Sentiriam que estava sendo escancarada a porta do redil. A declaração trouxe à memória palavras de frei Betto em Cuba, sob silêncio dos órgãos da Santa Sé, um ano atrás: “Toda a esquerda latino-americana que conheço está muito feliz com o Papa Francisco”. 

Atendo-me aos fatos: não sei se inocente-útil; de qualquer maneira, sem lesionar o respeito filial, o curso da lógica leva até lá, companheiro-de-viagem. E o ponto final da viagem na mente os que comandam a jornada é o regime comunista.

Sob muitos pontos de vista, neste momento o Brasil não tem razão para estar triste, mas para pular de alegria. Antes, estava angustiado pelas algemas de 13 anos de retrocesso e exclusão. Retrocesso em suas possibilidades de caminhar na rota da prosperidade, exclusão de políticas que favorecem os pobres em longo prazo. Havia inclusão social: o povo estava incluído na rota que passa pela Venezuela e leva à situação de Cuba. Não custa lembrar que em 2016, segundo o insuspeito Latinobarómetro, 72% das pessoas na Venezuela confessaram que nos últimos 12 meses lhes faltou comida. Sem eufemismos, passaram fome. 

Diante da grave caminhada do Brasil, os católicos brasileiros estavam especialmente aflitos ao constatar que a CNBB permaneceu obstinada em favorecer a ascensão ao poder e a apoiar um governo promotor de políticas destruidoras da moral católica na vida familiar e social (e agora, mantendo a rota, sôfrega, aproveita-se das palavras do Papa Francisco para uma vez mais proclamar que tem lado). 


Acima falei em alegria. Outro motivo de felicidade, esse permanente, é ler ensinamentos de grandes Papas do passado, que desanuviam o espírito. São Pio X [foto] advertiu: “Os verdadeiros amigos do povo não são inovadores nem revolucionários, mas tradicionalistas”. 

E Pio XII, jamais utilizando a linguagem habitualmente imprecisa e favorecedora dos objetivos revolucionários da CNBB (só lembro aqui a dose de hoje: a histórica desigualdade social não foi superada), ensinou: “Num povo digno de tal nome, todas as desigualdades decorrentes não do arbítrio, mas da própria natureza das coisas — desigualdades de cultura, de haveres, de posição social, sem prejuízo, bem entendido, da justiça e da mútua caridade — não são, de modo algum, um obstáculo à existência e ao predomínio de um autêntico espírito de comunidade e fraternidade. Mais ainda, longe de ferir de qualquer maneira a igualdade civil, elas lhe conferem seu legítimo significado; ou seja, que perante o Estado cada qual tenha o direito de viver honradamente a própria vida pessoal, na posição e nas condições em que os desígnios e disposições da Providência o colocaram.”

Reitero, são motivos perenes de júbilo, paz e certeza, neste momento, por outras razões, de tristeza e perplexidade.

3 de setembro de 2016

A FELICIDADE DAS FAMÍLIAS NUMEROSAS

Família de José Maria Postigo e Rosa Pich, de Barcelona (Espanha)

Plinio Maria Solimeo 

Hoje em dia, quando se diz que uma família é numerosa, é porque tem de três a quatro filhos. E mesmo isso está cada vez mais raro. Pois em geral os casais não querem ter mais que um filho, ou mesmo nenhum, pois “dão trabalho”, e “queremos gozar a vida”. Infelizmente, boa parte dos casais está substituindo os filhos por animais de estimação, que tratam com mimos que não dariam a filhos.

Desse modo, a finalidade primordial do casamento, que é a procriação da espécie humana, segundo mandado de Nosso Senhor Jesus Cristo, não é mais observada, ou o é muito pouco. Além de constituir grave pecado, isso traz como consequência secundária o envelhecimento e declínio da população.

Felizes os tempos em que se via por toda parte a buliçosa e feliz algazarra de incontáveis crianças, cheias de graça, vitalidade e alegria.

Por isso trazemos hoje à consideração de nossos leitores o exemplo de duas famílias excepcionais, uma espanhola e outra americana, que receberam como verdadeira bênção do Céu os numerosos filhos que Deus lhes mandou. A primeira teve 18, e a segunda, 13. 

“Família Numerosa Europeia de 2015” 

A família de José Maria Postigo e Rosa Pich [foto acima, ao lado e abaixo], de Barcelona, foi eleita pela European Large Families Confederation como a Família Numerosa Europeia de 2015, “não tanto pelo número de seus membros, quanto pelo seu modo de encarar os reveses” da vida. A imprensa espanhola trouxe na ocasião extensas reportagens, nas quais nos baseamos, sobre essa família modelo.(1) 

Os dois esposos excepcionais que a constituíram vêm também de famílias numerosas. José Maria teve 16 irmãos e Rosa, 14. Por isso sempre sonharam em ter muitos filhos. 

Mas isso parecia quase impossível, pois a primeira filha, Carmina, nasceu com severa cardiopatia(2), tendo os médicos lhe dado poucos anos de vida. Entretanto, ela viveu até os 22 anos, falecendo depois graduar-se e acabar um mestrado. Os dois filhos seguintes nasceram com o mesmo problema e não sobreviveram. Por isso os médicos recomendaram ao casal que não tivesse mais filhos. 

José Maria e Rosa não seguiram esse conselho. Diz ela: “Ninguém sabe o número de vidas nos espera na Terra ou no Céu. [...] Se os filhos nascem e os tenho de enterrar, terão tido a oportunidade de salvar-se [pelo batismo], e sempre serão meus filhos. Pois a vida não acaba aqui na Terra”. E conclui, com muita propriedade: “Estamos voltando ao nazismo quando decidimos matar nossos próprios filhos. Há algo no mundo que não está funcionando bem quando consideramos que o aborto é um direito”


Essa mulher exemplar encontra na religião católica as forças para enfrentar as vicissitudes da vida: “Somos graças a Deus uma família com fé, porque com tudo o que temos passado, não teríamos podido superar de outra maneira. Depois de enterrar dois filhos em quatro meses, logo morreu a maior, já com 22 anos, e nos teríamos desfeito de todo se não fosse pela fé que temos”.

Com o falecimento de três filhos, restam-lhes ainda 15, o que a torna a família com mais filhos em idade escolar de toda a Espanha. Desses 15 filhos, 8 nasceram com a mesma doença de coração. Alguns se curaram, outros estão em tratamento. Essa razão levou o casal a promover uma fundação destinada à investigação da cardiopatia, cujo nome é “Menudos Corazones” (Pequenos Corações). 

Muito ativo, o casal não se limita a cuidar de sua imensa prole, mas já participou de numerosas reportagens e documentário sobre famílias numerosas. José Maria e Rosa também dão palestras de orientação familiar para ajudar outros pais.


Apesar do trabalho insano com uma família de 17 pessoas, Rosa ainda encontrou tempo para escrever um livro sobre sua experiência e os segredos da felicidade de sua família “Como ser feliz com 1, 2, 3... filhos” [capa ao lado], que já foi traduzido em seis idiomas europeus. Orgulhosa de seus inúmeros filhos, ela afirma: “Temos um tesouro que queremos compartir com a sociedade”.

Como educar tantos filhos? Diz Rosa: “Os sacerdotes devem proporcionar uma direção espiritual, mas creio que os pais de famílias numerosas temos uma graça especial para educar nossos filhos e somos responsáveis pela sua educação. Creio que o fato de ter uma família tão numerosa tornou meu coração maior, porque não só quero a todos os meus filhos, como também a seus amigos”.

Para ela, “não importa o que dizem os que não querem [ter muitos filhos] para não sofrer. As alegrias sempre superam os sofrimentos, e vale a pena lutar por cada segundo de vida. Uns lutam para ter um automóvel, por uma viagem, e eu luto por ter uma família. Se passamos de dois a três, tanto melhor. O que os meus filhos querem é ter muitos irmãos”. 

É preciso notar que o casal não é rico e vive apenas de seu salário. Por isso cria os filhos com muita austeridade. Rosa, além de todo o trabalho com uma família de 17 pessoas, trabalha meio período em uma empresa de organização de eventos. José Maria é consultor de indústrias relacionadas com o comércio de carnes, que produzem, processam e distribuem carne aos centros consumidores. Por isso passa quase o dia inteiro trabalhando. 


Os filhos dormem em dois quartos, em cada um dos quais foram adaptados dois conjuntos com quatro camas superpostas, um para os meninos, outro para as meninas. Não dá para mais. Em cada quarto, um dos irmãos fica como responsável, velando pela boa ordem e os bons modos. Os filhos são educados para agir como uma equipe. Cada um se encarrega de um irmão menor.

As roupas e os livros escolares passam de filho a filho. A comida é muito frugal, não havendo na geladeira coisas consideradas supérfluas como chocolates e refrigerantes. Também não há presentes de aniversário. Apesar disso, diz a mãe: “Meus filhos valorizam muito cada coisa, como se fosse algo único”


Todos devem observar algumas normas. Na cozinha há um quadro com a função de cada um, como montar, servir e recolher a mesa, pôr o lixo para fora, apagar as luzes etc. E também uma lista de sugestões para se melhorar no dia-a-dia como, aos muito chorões, de “chorar uma só vez por dia”, “não ficar amuado”, “sorrir mais”, “tratar bem o pai” etc. 

Algumas coisas estão formalmente proibidas, como fumar ou adquirir uma moto ou celular antes dos 18 anos. Todos se contentam com o que têm e não se sentem inferiorizados pelo que não têm. “Nós pomos alguns limites, diz a mãe, pois não esperamos para dizer-lhes ‘não’ só quando forem adolescentes; mas desde o primeiro momento, ano por ano. E sabem? Os meninos agradecem e os amigos querem ser seus amigos, porque veem que são generosos e serviçais”.

Com tudo isso, todos formam uma família muito feliz. E é uma alegria quando se encontram na hora do jantar. Os 15 irmãos estudam, praticam esportes e almoçam no colégio ou fora. Mas, haja o que houver, a hora do jantar é sagrada. “É quando nos juntamos e comentamos como foi o dia, o que sucedeu a cada um, nos ajudamos, nos escutamos e rimos”, explica a mãe. Para ela, “cada um é um indivíduo, tem seu caráter diferenciado e suas preocupações próprias. Entretanto, ainda que custe crer, conheço muito bem todos os meus filhos”.

Muito poucas famílias com menos filhos podem ter semelhante felicidade de situação e a satisfação que tal convívio produz! 
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Os Fatzingers: família numerosa, um dom de Deus 

Rob, 51 anos, e Sam Fatzinger, 48, residentes em Bowie, Maryland, Estados unidos, têm nada menos que 13 filhos [foto acima]. A esposa cuida só da casa, de maneira que eles têm de viver apenas do salário do marido para sustentar uma família de 15 pessoas. Apesar de tudo, foram recebendo os filhos como uma dádiva do Céu.


Seu caso é tão excepcional, que “The Washington Post” dedicou-lhes extensa reportagem com o título: “Como uma família está enviando 13 filhos à escola, vivendo sem débitos — e ainda planeja aposentar-se cedo” .(3) Entretanto, a vida dessa família modelo não é assim tão fácil. Seus chefes não nasceram ricos, e vivem somente do salário e de estrita economia. Desde que se casaram, há 27 anos, começaram a fazer um pecúlio para comprar uma casa. Seu único luxo é comemorar anualmente o aniversário de casamento em um restaurante econômico. 

Católicos ao estilo antigo, quiseram ter todos os filhos que Deus lhes mandasse, confiando em que, como diz um velho dito popular, “cada filhinho já nascia trazendo debaixo do braço o seu pãozinho”. Ou ainda, “Deus manda o frio conforme o cobertor”. Por isso, por mais que a família crescesse, nunca passaram necessidade. 

Católicos praticantes, seu primeiro negócio foi uma livraria católica. Como não tiveram muito sucesso, fecharam-na em 2000, quando já tinham sete filhos. Rob conseguiu então trabalho testando softwares e, muito aplicado e consciencioso, teve várias promoções, até receber um salário bem razoável. Entretanto, para sustentar a numerosa família, eles economizam no que podem. A esposa procura comprar sempre o que está em oferta, e adapta seu cardápio de acordo com o que encontra. Nas horas vagas, Rob procura ganhar alguma coisa extra, cortando grama ou fazendo pequenos reparos para os vizinhos. Qualquer tostão é importante para eles. 

Com suas economias puderam dar entrada para a compra de uma casa grande, velha, de cinco quartos. Compraram-na barato, pois estava em tão mal estado, que parecia uma casa mal assombrada. O que levou o sacerdote que foi chamado para benzê-la a perguntar jocosamente: “Devemos fazer nela um exorcismo?”

Como a Providência Divina vela pelas grandes famílias, com a ajuda de parentes e amigos, aos poucos a reformaram e tornaram a casa habitável. Com o tempo foi até possível acrescentar mais dois dormitórios e aumentar a cozinha. E os donativos foram chegando: um fogão a lenha, um sofá velho, um automóvel usado... Assim, foi possível ter coisas indispensáveis para tanta gente, como duas geladeiras, dois fogões, duas máquinas de lavar pratos, uma van e uma máquina de lavar roupa. E os únicos que estão livres de cuidar da lavagem da enorme quantidade de roupa suja são os dois caçulas, de seis e quatro anos de idade. Evidentemente, como católicos exemplares, fica proibido fazer esse trabalho no domingo, para observar o preceito. 

A mãe ensina aos filhos as primeiras letras em casa, seguindo o bom costume americano do home-schooling. Depois eles frequentam os ginásios e universidades. “Meus filhos arrumam empregos tão logo têm idade, e aprendem a discernir entre necessidades e desejos. Eles pagam seus celulares, seus colégios, e até mesmo a gasolina que gastam”. Eles aprendem a economizar para atender às suas necessidades, pois não têm mesadas. 


Entretanto, o admirável êxito dessa família não seria possível se não fosse sua profunda fé: “Sem dúvida, a Missa diária é o mais importante [para a família], e também o rosário à tarde, quando é possível, bem como viver o ano litúrgico”, diz a mãe. “É difícil responder a isto [hábitos religiosos] em nível familiar, porque quase todos nossos filhos já são maiores de idade e portanto responsáveis pela sua própria formação na fé. Eles vão aos retiros no instituto [católico] sempre que lhes é possível. [...] Aqueles de nossos filhos que vão, participam das aulas sobre a Bíblia e dos grupos de jovens. E os menores são coroinhas”. [...] Eu gosto de fazer uma Hora Santa durante a semana, mas foi difícil encontrar tempo por causa da numerosa família, e de minha personalidade. Sou muito madrugadora. Finalmente julguei que a melhor hora para mim [para fazer a Hora Santa] era ao sábado, às cinco horas da manhã”

Rob e Sam são orgulhosos de sua família. E dão às outras alguns conselhos que as ajudaram a ser felizes: “Sê amável, e aja do modo que convenha à situação de tua família na vida. Ajuda as outras famílias, dá-lhes uma mão com os filhos ou a comida, apoiando-os na oração. [...] Ama o pecador e aborrece o pecado. Encontra formas para que as pessoas se voltem para Deus, e sê um exemplo em um mundo conturbado para ajudar os demais” .(4) 

É certo que as famílias numerosas são mais unidas. Os filhos se aproximam mais dos pais e os ajudam a enfrentar as vicissitudes da vida. Por isso é muito difícil ouvir falar de separação entre eles, o que é muito mais frequente nas famílias menos numerosas, e mesmo sem filhos. 

Que o belo exemplo de religiosidade e confiança na Providência dessas duas notáveis famílias sirva de inspiração a muitos casais brasileiros. 
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1. http://www.religionenlibertad.com/los-postigopich-18-hijos-en-la-cama-de-papa-y-mama-40617.htm 
https://www.facebook.com/pages/C%C3%B3mo-ser-feliz-con-123-hijos/1384298871817535 
http://www.europapress.es/sociedad/noticia-familia-espanola-18-hijos-premio-familia-numerosa-europea-ano-20151209175448.html 
http://www.elmundo.es/sociedad/2015/12/26/56731bbaca47410d658b4590.html 
http://www.abc.es/familia/padres-hijos/abci-familia-espanola-18-hijos-premio-familia-numerosa-europea-201512100153_noticia.html 
http://www.lavanguardia.com/gente/20160227/4035882214/familia-numerosa-postigo-pich.html 
http://www.actuall.com/entrevista/familia/rosa-pich-madre-de-18-hijos-no-se-puede-vivir-con-miedo-las-alegrias-superan-a-los-sufrimientos/

2. “alteração na estrutura do coração presente antes mesmo do nascimento. Essas alterações ocorrem enquanto o feto está se desenvolvendo no útero e pode afetar cerca de 1 em cada 100 crianças, segundo dados da American Heart Association. É a alteração congênita mais comum e uma das principais causas de óbito relacionados a malformações congênitas” http://www.minhavida.com.br/saude/temas/cardiopatia-congenita. 3. 

4. https://www.washingtonpost.com/lifestyle/magazine/13-kids-13-college-educations-not-rich-retiring-early/2016/08/08/3abe7cec-38b4-11e6-a254-2b336e293a3c_story.html 

5. http://www.religionenlibertad.com/los-postigopich-18-hijos-en-la-cama-de-papa-y-mama-40617.htm