16 de abril de 2025

SANTO SUDÁRIO DE TURIM — Milagre permanente, Realeza de Jesus, Bandeira da Ressurreição

 


Uma fotografia que providencialmente revelou a face régia e divina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Uma prova a mais de sua existência terrena, de sua flagelação, coroação de espinhos, crucifixão e ressurreição, tudo confirmando e reforçando as narrações do Evangelho. Estas e outras considerações foram feitas por Plinio Corrêa de Oliveira em conferência no dia 28 de abril de 1984, da qual seguem excertos, com leves adaptações da linguagem falada para a linguagem escrita.

 

Nos mistérios dolorosos do Rosário, contemplamos no terceiro a Coroação de Espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. O que nos traz ao espírito uma série de recordações, que se tornam mais pungentes à vista do Santo Sudário — a sagrada relíquia que merece toda a nossa veneração.

Entre as relíquias trazidas da Terra Santa para o Ocidente, figura esse precioso tecido no qual o sacrossanto Corpo de Nosso Senhor foi envolvido para ser depositado na sepultura, na qual esteve até o momento glorioso entre todos em que Ele, por um ato de Sua própria vontade, ressuscitou-Se a Si próprio. Ele ordenou aos anjos afastarem aquela pedra que lacrava sua sepultura e voltou a entrar glorioso no convívio dos homens.

O Santo Sudário teria sido recolhido por pessoas piedosas e, certamente, levado a Nossa Senhora, talvez a São Pedro, chefe da Igreja. Depois, teria ido parar nas mãos dos imperadores do Oriente.

Posteriormente veio para o Ocidente, ficando na posse da pequena dinastia da Casa de Sabóia e, mais tarde, foi para a catedral de Turim, guardado num monumento de mármore, dentro de um magnífico escrínio. Todo o ouro e toda a prata da terra não seriam proporcionais para conter essa relíquia, mas era uma bonita caixa para guardá-la dignamente.

 

Um pasmo geral, uma imagem real de Jesus

Com o uso habitual da fotografia no século XIX, um fotógrafo amador, o advogado italiano Secondo Pia, resolveu tirar fotos do Santo Sudário em 1898. Quando ele estava revelando as imagens, observou que os negativos fotográficos mostravam uma imagem positiva de um homem no Sudário — o que não se nota vendo diretamente o tecido —, além de uma representação mais clara da imagem. Era a revelação da autenticidade do Sudário.

A marca do Sagrado Corpo de Nosso Senhor sobre o pano deu numa fotografia d’Ele! Foi um pasmo geral! Muito desapontamento a toda espécie de incrédulos. Estes não queriam acreditar na autenticidade daquele pano e levantavam objeções.

Vendo aquela imagem tão impressionante, poder-se-ia rezar: “Senhor, falai porque vosso servo Vos escuta. Falai Vós! O que tenho eu para Vos dizer? Olho para os vossos olhos divinos e vejo que está ali uma sabedoria infinita! Vós dizeis qualquer palavra e ela vale mais do que todo o ouro da terra! Vós dais um passo e eu vejo que sois Rei pelo semblante dominador com que avançais. Vós encontrais um pobre, Vós encontrais um ímpio e Vós vos dirigis a eles para lhes fazer bem ao corpo e à alma. Vejo em Vós tanta bondade, que eu me vejo a mim mesmo como azinhavre em comparação convosco. Senhor, diante de Vós, quem pode subsistir? Falai! Eu sou feito para Vos olhar e para Vos adorar. E isso, por misericórdia vossa, porque não sou digno disso!”.

Nosso Senhor Jesus Cristo era o Rei das nações, cujo semblante, atitude e irradiação sobre o povo de Israel revelavam sua genealogia régia, pois da estirpe David e Salomão, dois grandes reis de Israel. Entretanto, foi morto entre dois ladrões. Este Rei, todo ferido na Cruz, o que tinha como corte? A corte da dor: sua Mãe Santíssima, passando pelo sofrimento mais pungente que se possa imaginar e apenas um discípulo! Também algumas das santas mulheres; entre elas, Santa Maria Madalena, chorando copiosamente.

Depois de descido da Cruz, carregam o Corpo Sagrado, com ajuda de dois criptodiscípulos, Nicodemos e José de Arimatéia, envolvem-no no Sudário e o põem dentro da sepultura.

Fechada a sepultura com a pedra, era toda uma vida que ficava para trás. O túmulo e a morte tragaram aquela vida. Agora era voltar para suas casas e chorar. Dentro do sepulcro ficara também aquele Sudário, sobre o qual talvez tenha caído lágrimas de Nossa Senhora.

 

O Enterro de Cristo - Carl Heinrich Bloch (1834-1890). Museu Histórico Nacional de Frederiksborg, em Hillerød, Dinamarca. 

A ciência dobra os joelhos ao “Homem do Sudário”

Quando o século XIX estava no auge do seu orgulho e se preparava para transmitir ao século XX — ao lado de muitos frutos da Civilização — a impiedade triunfante, comprova-se o Santo Sudário como uma bandeira magnífica da Ressurreição!

O divino corpo ressuscitara dentre os mortos, mas ficou o lençol que o envolvera; guardaram com toda piedade aquele pano por vários séculos.

Vemos nisso algo de profundamente paradoxal e de misterioso nos planos da Providência. No tecido ficaram as marcas do Corpo de Jesus, mas só séculos depois, com o advento da fotografia, elas foram vistas! A ciência ímpia dobrava os joelhos e dizia: Cristo venceu!

No sagrado tecido é possível notar, sem qualquer dúvida, sinais da flagelação, da coroação de espinhos e da crucifixão. Diante disso, que atitude toma o homem do século XX? A impiedade do século XIX levou essa cajadada na cabeça e o século afundou no passado. E o nosso século? É tal maravilha o Santo Sudário, é tal prova da existência de Nosso Senhor Jesus Cristo, tal prova de que Ele ressuscitou, tal prova daquilo que cremos, que se deveria ficar verdadeiramente encantado e em todos os ambientes se deveria falar do Santo Sudário. Mas o geral dos homens contemporâneos dá as costas para esse milagre.

 

Recriação do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Prova-se à evidência a autenticidade do Sudário

A 28 de maio de 1898,
o fotógrafo italiano Secondo Pia
tirou a primeira fotografia do Sudário.

Com o desenvolvimento das descobertas científicas, começaram a provar a autenticidade daquele precioso pano de linho. E os aparelhos modernos foram capazes de determinar a antiguidade do tecido. Verificaram até de que tipos de plantas extraíram as fibras com as quais teceram o Sudário, uma espécie de lençol, ou mortalha. Cientificamente demonstraram que elas eram da região onde se localiza a cidade de Jerusalém. Cientistas encontram até fragmentos mínimos de pólen de flores que, levados por ventos, impregnaram o pano; eram daquela mesma região, mas também da região da Turquia e d Europa, assim comprovando o itinerário percorrido pelo sacrossanto Sudário.

Pela análise científica da fotografia do milagroso linho ficou revelado inclusive que nos olhos de Nosso Senhor colocaram duas moedas — era costume da época colocá-las nos cadáveres a fim de manter os olhos fechados —, e elas são da época em que nosso Salvador veio ao mundo! [foto abaixo].

Há várias outras comprovações, cada uma mais brilhante que outra, certificando extraordinariamente até à evidência a autenticidade do tecido sagrado. Até mesmo os cientistas estudaram que há três dimensões na imagem do Sudário. Um mistério, um milagre, pois isso não ocorre nas fotografias normais.

Percebemos que o século XIX recebeu ao expirar uma grande manifestação da grandeza, do poder e da bondade de Deus: a verdadeira maravilha, que é a história do Santo Sudário! Mas o século XX portou-se diante desse milagre da seguinte maneira: olhar, não se converter e terminar numa tentativa de blasfêmia! É o curso da Revolução!

 


Realeza por natureza e por direito de conquista

Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei. Interrogado durante a Paixão pelos que O julgavam — sem direito de julgá-Lo —, Pilatos perguntou: “És tu o Rei dos judeus?” E Jesus respondeu “Sim”, que verdadeiramente era Rei. Donde terem pregado no alto da Cruz a inscrição I.N.R.I. (Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum — Jesus Nazareno Rei dos Judeus) [foto abaixo]. E também, para debicar d’Ele, mandaram coroá-Lo com uma coroa de espinhos; vesti-Lo com uma túnica e a vara dos bobos na mão (como se fossem a túnica e o cedro de rei).

Jesus Cristo é verdadeiramente Rei. Rei, antes de tudo, por ser Ele. O Verbo de Deus Encarnado; Deus feito homem. E Deus é Rei! Portanto, nosso Divino Redentor era Rei; plenamente Rei, porque Ele era Deus. Se há alguém sobre esta Terra que é Rei, era Ele e continua sendo e sê-lo-á para sempre.

Essa realeza d’Ele era de um reino que Ele possuía por natureza, mas tinha também por direito de conquista. Ele havia conquistado o mundo. Ele viera à Terra, fizera inúmeros milagres, convertera os homens e tinha o direito sobre o gênero humano que Ele vinha converter, era o Homem-Deus e, portanto, Rei do mundo inteiro. Mais ainda, Ele era Rei a um outro título: Ele morreria para resgatar os pecados dos homens e abrir para eles a porta do Céu. Ele se tornava Rei porque, pela sua morte, iria resgatar o mundo. Não Lhe faltavam títulos para realeza de toda ordem.

 

Tábua pregada no alto da Cruz com a inscrição I.N.R.I. (Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum — Jesus Nazareno Rei dos Judeus)

Legitimamente Jesus Cristo foi e é Rei autêntico

Os judeus deveriam ter reconhecido isso, porque Nosso Senhor Jesus Cristo fez todos os milagres que provavam sua realeza. Além de descendente dos antigos reis, a santidade, a profundidade incomparável de sua doutrina, provavam isso. Não Lhe faltava nada para ser verdadeiramente Rei. Que outra coisa se pode fazer perante uma figura assim, senão ajoelhar-se?

O Antigo Testamento narra como seria o Messias. Bastava olhar para Jesus para ver que Ele era o Messias. Faltava-Lhe apenas ser crucificado e morto para que se completassem as profecias sobre Ele, mas qualquer um que de boa fé estudasse tudo isso, deveria reconhecê-Lo como Rei.

O Antigo Testamento fala do reino do Messias, o Salvador, que seria rei de Israel e que teria um reino que se estenderia sobre o universo inteiro, e que seria o reino de glória e o reino eterno que nunca mais se extinguiria. Eles esperavam que viesse um príncipe da Casa de David, mas um conquistador extraordinário, um político extraordinário, um militar extraordinário que brilhasse como um príncipe terreno e expulsasse para longe os romanos, que se tinham metido dentro de Israel e que eles consideravam conquistadores, e que tomasse conta de Jerusalém para fazer um reino de glória, perto do qual o de Salomão não tinha sido senão um tímido prefácio, uma pequena prefigura, mas iria brilhar o reino d’Ele por todos os séculos.

Ele vem e não conquista. Perguntam-Lhe se reconhece a autoridade de César, Ele diz que sim (os judeus queriam se livrar do governo de César). Perguntam a Jesus sobre seu reino, e Ele diz que era um reino que não era deste mundo. Por que isso? — Porque Ele, Homem-Deus, não só conhecia o futuro, mas era Aquele que dispõe do futuro. O futuro seria como era, porque Ele queria ou porque Ele consentia. O governo de todos os acontecimentos da História pertence a Ele. Ele sabia que seria Rei realmente. O reino d’Ele chamar-se-ia Igreja Católica Apostólica Romana. Não é um reino deste mundo, não é um reino feito para ter tropas e exércitos, fazer política etc. É o reino feito para difundir o nome d’Ele e a mensagem d’Ele a todos os homens e para que a Lei de Deus governasse a Terra inteira. Não tem nada de comum com política, é algo de incalculavelmente superior à política: é o Reino de Deus nesta Terra! E essa glória Ele a realizou!

 

Relicário com a Coroa de Espinhos, venerada na Catedral de Notre-Dame

Na Paixão do Redentor, um misto de dor e de triunfo

Um grande mistério que não se poderia compreender: Jesus Cristo reinaria de dentro de todos os sacrários do mundo. Quem poderia compreender uma coisa dessas!? Mas Ele tinha razão: o reino d’Ele não era deste mundo!

Ele era Rei dos judeus? Mais especialmente porque os judeus eram a nação eleita, era o povo predileto, havia uma promessa de que o Filho de Deus se encarnaria, que a Virgem seria judia e teria um Filho, portanto judeu de raça e seria ao mesmo tempo o Homem-Deus. Se os judeus tivessem correspondido à graça, ninguém pode imaginar a grandeza da glória que teria o povo de Israel. Mas aquele povo recusou, coroou de espinhos e crucificou o Rei de Israel.

Colocam uma coroa de espinhos sobre a cabeça de Jesus. A coroa da dor, da irrisão, da vergonha. Ele cheio de dores no Corpo, mas sobretudo cheio de dores na Alma. A nação eleita O tinha recusado e estava se transformando em infâmia.

Na Paixão de nosso Divino Salvador há o misto de dor lancinante e de triunfo, sobretudo quando Ele ressuscita!

 


Aplicação à Igreja Católica, humilhação e glória

Que lição tirar de tudo isto? — Assim é a vida do católico! Assim é a vida da Igreja, cheia de humilhações e de vitórias. Humilhações tão grandes que se poderia imaginar que Ela nunca se reergueria. Vitórias tão grandes que se diria que Ela nunca mais cairá. Como uma barca que vai por ondas vertiginosas, que a levantam ao alto, mas depois ao fundo da voragem. Assim a barca de São Pedro vai percorrendo a História, com todas as glórias e honras, mas também com todas as dores e humilhações de Cristo Coroado de espinhos.

Um magnífico símbolo dessa dor e glória é a Sainte Chapelle, em Paris [foto acima]. Três espinhos da Sagrada Coroa posta em Nosso Senhor foram obtidas por São Luís, rei de França. E para abrigar devidamente esses adoráveis espinhos, ele mandou construir um dos mais belos monumentos da arte medieval e, portanto, de toda a História: a Sainte Chapelle — verdadeira caixa de cristal com nervuras de granito, onde se celebrava o Santo Sacrifício.

Entrei na SainteChapelle e fiquei tão maravilhado que tive um suspiro: “Ahahah!!!”. Eu não pensava que fosse tão bonita!

Não tive palavras para reagir... Foi o único lugar no mundo que visitei e fiquei sem ter o que dizer! Notre-Dame me extasiou, mas a Sainte Chapelle com os seus vitrais causou-me tal impressão, tal maravilhamento que, literalmente, fiquei sem palavras. Encantadíssimo! Um edifício-relicário para os três espinhos dessa Coroa Sacrossanta que acabamos de considerar.

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Fonte: Revista Catolicismo, 892, abril/2025

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