19 de abril de 2025

CHRISTUS VINCIT! CHRISTUS REGNAT! CRISTO IMPERAT!


✅  Paulo Roberto Campos 

Com a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, nossa Fé ficou para sempre confirmada, assim como a certeza absoluta no seu triunfo final sobre as trevas infernais, que parecem triunfar com a Revolução gnóstica e igualitária impregnando a mentalidade da generalidade dos homens. 

Um triunfo meramente aparente, como foi aparente o triunfo do rei das trevas com a crucifixão e morte de Jesus no alto do Calvário. 

Entretanto, sua morte não foi o fim; seu holocausto foi o triunfo da vida sobre a morte. Três dias depois raiou a Ressurreição! Não temos mais o que temer; nada derrotará aqueles que têm fé! Ele está e estará conosco para sempre! Ele morreu, e Ressuscitou, para dar aos fiéis a vida eterna! 

Nesse sentido, seguem alguns pensamentos para refletirmos nesta Páscoa, o Domingo da Ressurreição. 



“Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, mas ressuscitou.” 
 (São Lucas 24, 5-6) 

"Ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com Ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. Se fomos feitos o mesmo ser com Ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição." 
(São Paulo, Rom. 6, 3-5) 

“Se não se pode pensar na Paixão, por ser penoso, quem nos impede de estar com Ele depois de ressuscitado, pois tão perto O temos no Sacramento, onde já está glorificado?” 
 (Santa Teresa de Jesus) 

“Nossa Senhora nos ensina a perseverança na fé, no senso católico e na virtude do apostolado destemido — ‘Fides intrepida’ — mesmo quando parece tudo perdido. A Ressurreição virá logo. Felizes os que souberem perseverar como Ela, e com Ela. Deles serão as alegrias, em certa medida as glórias, do dia da Ressurreição.” 
(Plinio Corrêa de Oliveira)

18 de abril de 2025

CONVERTIDOS PELO SANTO SUDÁRIO

 

Cientistas examinam o Santo Sudário 

·        Afonso de Sousa

 

Uma das mais preciosas e espetaculares relíquias da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo para os católicos é o Santo Sudário de Turim, alvo lençol no qual envolveram piedosamente o corpo do Salvador depois de o descerem da Cruz.

Esse lençol é tão intrigante, que se tornou a peça mais estudada de toda a história humana. No século passado, como veremos, a ciência moderna completou centenas de milhares de horas no detalhado estudo sobre o Sudário, e a grande maioria dos cientistas nele envolvidos foram praticamente unânimes em afirmar sua autenticidade, o que levou a uma boa parte deles a se converter à fé católica ou a praticá-la mais seriamente.

Apesar do discordante e suspeito teste do Carbono-14 com o qual quiseram provar que essa santa relíquia é apenas uma peça pintada na Idade Média, cientistas rejeitaram tal teste e continuam afirmando que ficou comprovado que o Sudário teve origem na Palestina, no tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O que muito impressiona e impressionou grande parte dos cientistas que se puseram a analisar o Santo Sudário é sua majestade e fisionomia de paz em meio às maiores aflições. Feito por pessoas de diversas orientações — protestantes, agnósticos, ateus —, o estudo dessa impressionante relíquia levou vários deles à Igreja Católica, como veremos adiante.

 

“Diante das evidências, como permanecer agnóstico?”

        

Artigo no National Catholic Register relata: “Em 1994, após anos de intenso estudo, o médico californiano Augusto Accept chegou a uma conclusão sobre o Sudário de Turim. Em sua mente, a evidência científica [de sua autenticidade] era esmagadora. [Concluiu:] O Sudário, de fato, é a mortalha de Jesus Cristo. Ao contemplar a imagem do rosto crucificado de Cristo milagrosamente impresso no Sudário e preservado ao longo dos séculos, ele sabia que teria de enfrentar uma questão pessoal sobre a qual vinha ponderando nos dois anos anteriores de seu estudo: como ele poderia permanecer agnóstico?”.

         Augusto Accept cresceu no sul da Califórnia e foi muito ligado à Igreja em sua juventude. Contudo, na faculdade se deixou influenciar pelos agnósticos que afirmavam que religião e ciência eram incompatíveis, e acabou abandonando a prática da fé.

         Depois de formado casou-se com uma protestante fundamentalista, teve dois filhos e se uniu à igreja dela.

         Seu primeiro encontro com o Sudário foi na sua adolescência, em leituras sobre ele. Na faculdade de medicina tornou-se amigo de Allan Wanger, proeminente cientista do Sudário de Turim. Isso o levou a se interessar pelo assunto do ponto de vista de suas áreas de interesse, isto é, medicina, química e física.

 

Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim

        

Entretanto, o interesse pelo Santo Sudário nos meios científicos já atraíra a atenção de muitos estudiosos. Em 1977, um grupo de cientistas formados ao acaso, adeptos de diferentes confissões religiosas — católicos, agnósticos, mórmons, judeus e protestantes de diversas denominações —, atraídos pelo enigma do Santo Sudário, fundaram o STURP – Shroudof Turin Research Project (Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim).

         Esse grupo de tal maneira foi envolvido pelo tema, que seus membros chegaram a dispor até mesmo dos próprios recursos pessoais para levar adiante suas pesquisas, empregando horas e horas de suas obrigações diárias em um projeto inteiramente alheio à suas necessidades profissionais.

         Às suas expensas, eles foram a Turim, onde durante cinco dias (120 horas seguidas), auxiliados por uma equipe italiana, submeteram o Santo Lençol a todo tipo de provas e análises, utilizando os mais sofisticados meios da tecnologia.

Ao terminar a análise, o Dr. Thomas D’Humala, coordenador do projeto, testemunhou: Todos nós pensávamos que o que íamos descobrir era apenas uma falsificação, e que antes de se passar meia hora, teríamos de fazer as malas e voltar. Mas não foi assim. Todos os que fomos lá, pelo menos todos aqueles com quem falei a respeito, estamos convencidos de que o acúmulo de provas nos fez mudar de rumo. Agora, as provas são contra os céticos”.1

 

 O público aprecia uma réplica do Santo Sudário numa das muitas exposições já realizadas pelo mundo todo.

“Um processo de crescimento na fé”

         Aos poucos, ao analisar a figura do Sudário, o Dr. Accept começou a considerar que a imagem nele impressa era a de um corpo em estado de rigor mortis que ainda não tinha sofrido corrupção, o que se daria cinco dias após sua morte. Ora, isso era condizente com as Sagradas Escrituras, que narram a Ressurreição de Cristo no terceiro dia após sua crucificação.

         Além disso, a húngara Isabel Piczek, sua amiga e especialista em história da arte, fizera um estudo em que chegara à conclusão de que a imagem do Sudário não podia ter sido, como afirmavam os agnósticos, pintada por um artista medieval que não tinha as técnicas necessárias para isso, e que sua aparência no tecido continua inexplicável pela ciência.

         Tudo isso fez com que o Dr. Accept se dedicasse intensamente entre 1992-1994 ao estudo do Sudário de Turim. À medida que se aprofundava no estudo de sua autenticidade, suas dúvidas iam sendo respondidas uma a uma. Ele diz que esse período foi para ele simultaneamente “um processo de crescimento” em sua fé, de modo que em 1994 convenceu-se de que era hora de dedicar novamente sua vida a Cristo. Pelo que conclui: Em contraste com muitos [estudiosos] no século XX, a ciência me trouxe de volta a Deus.

 

 Cientistas do STURP – Shroudof Turin Research Pro ject (Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim) fazem aprofundados estudos de cada detalhe do Sudário. 

“A que Igreja foi o Sudário confiado?”

         Uma vez convencido de que o Sudário trazia o corpo de Cristo, Accept queria saber qual das milhares de denominações cristãs do mundo foi a que Jesus Cristo fundou. Sendo por natureza um estudioso, ele se pôs a estudar teologia e história eclesiástica. Quando começou a ler as obras dos primeiros Padres da Igreja e viu a doutrina católica em seus ensinamentos e práticas, encontrou a resposta: Fiquei emocionado ao encontrar Cristo na Igreja Católica. Quando comecei meu estudo, nunca pretendi voltar a ela. Mas foi para lá que meu processo de busca pela verdade me levou”. E comentou que não é coincidência que o Sudário lhe seja confiado.

         Coerente consigo mesmo, o Dr. Accept quis que sua experiência fosse compartilhada por outros. Por isso, em 1996 ele fundou em Silverado, no condado de Orange, o “Centro do Sudário do sul da Califórnia”, onde faz uma apresentação ilustrada de todo o roteiro histórico do Santo Sudário. Isso atraiu muitos guias turísticos como voluntários ao longo dos anos.

         Uma das pessoas que ele dirigiu em um tour foi o cientista Stephen Sheyn, que recentemente havia voltado à Igreja Católica. Ao terminar o tour, Stephen caiu em lágrimas e disse: Senti que estava na presença de Nosso Senhor, experimentando sua humanidade e divindade.

 

Imagem do Santo Sudário em 3 dimensões.

“As palavras não podem descrevê-lo”

         O Santo Sudário é exposto periodicamente na sua basílica em Turim, para ser venerado pelos fiéis. Em 1998, o Papa João Paulo II, após rezar diante dele, comentou que ele é um desafio à nossa inteligência [...] uma imagem que todos podem ver, mas ninguém ainda pôde explicar.

         O Dr. Augusto Accept fez sua primeira viagem a Turim para essa mesma exposição. Depois de permanecer em profundo e reverente silêncio, por quase duas horas, diante do Santo Sudário, ao lado de outros peregrinos, ele afirmou: Foi impressionante! As palavras não podem descrevê-lo”.

         Evidentemente houve e há muitos cientistas agnósticos, hereges ou simplesmente ateus que não se dobram às evidências e continuam a afirmar que o Santo Sudário de Turim é uma falsificação que não tem valor.

         Cremos que a ele se pode aplicar, com propriedade ainda maior, aquilo que o grande Papa São Pio X afirmou da Santa Casa de Loreto: para o espírito católico, ainda que não se tivessem todas as provas históricas e científicas que seriam de desejar, o fato de aquela relíquia ter, ao longo das gerações, despertado a piedade de tantos fiéis e edificado a numerosos Santos que a contemplaram, já ofereceria garantia suficiente de sua autenticidade.2

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Notas

1.       Cfr. Plinio Maria Solimeo, O SANTO SUDÁRIO - Testemunho da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, Artpress, São Paulo, 2014.

2.       Outras fontes:

https://www.ncregister.com/blog/shroud-center-of-southern-california

https://www.religionenlibertad.com/personajes/129321087/august-accetta-medico-conversion-sabana-santa-ciencia-fe.html?eti=8278

17 de abril de 2025

Pompas reais de Jesus Cristo reveladas pelo Santo Sudário

 

 Museu do Santo Sudário, em Turim

Ficou cientificamente expresso no Santo Sudário de Turim que Nosso Senhor foi sepultado com símbolos e honras exclusivas dos reis de Israel

 

·         Luis Dufaur

 

A exposição itinerante “The Mystery Man” — da qual tratamos na edição de junho/2023 desta revista — continua percorrendo a Espanha e, enquanto escrevemos, é exibida nas catedrais de Caravaca de la Cruz, em Múrcia, e de Elche, no Alicante. Seu giro suscita um interesse sempre renovado pelo Santo Sudário que envolveu o Corpo Santíssimo de Jesus, tendo sido publicados depoimentos de especialistas com novas descobertas, entre eles os do Dr. Jorge Manuel Rodríguez Almenar, professor de Direito na Universidade de Valencia e presidente do Centro Espanhol de Sindonologia. Este centro é formado por especialistas que estudam o Santo Sudário cientificamente, respeitando as Sagradas Escrituras.

O Prof. Rodríguez Almenar mostrou que Nosso Senhor Jesus Cristo recebeu em seu sepultamento o mesmo tratamento reservado aos reis de Israel. Tanto pelo lado paterno, São José, como pelo materno, a Santíssima Virgem, Ele foi príncipe da casa real fundada pelo rei David. Se se respeitasse o direito, Jesus herdaria a coroa. Mas ela estava nas mãos de usurpadores, porque o direito dinástico não era mais respeitado pelas autoridades do tempo.

 

Cristo Rei – Basílica de Cristo Rei, Paola (Arquidiocese de Malta).

Genealogicamente Nosso Senhor era o herdeiro legítimo


A genealogia de Maria descrita por São Lucas (3, 23-38) mostra a linhagem real de seu Divino Filho, sendo Ela descendente de Abraão, patriarca fundador do povo eleito, e de David, fundador da estirpe dos reis de Israel.

Os evangelhos de São Mateus (1, 1-17) e de São Lucas (3, 23-38) descrevem a linhagem real de “Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão” (Mt 1, 17). Por sua vez, São José era sucessor por via masculina do rei David, também da tribo de Judá. Em consequência, Jesus Cristo era o primogênito, herdeiro dos direitos da casa de David. 

A série de usurpadores — iniciada por Herodes I Magno, descendente de Esaú, e continuada por seus filhos, entre os quais, Herodes III Antipas, do tempo da Paixão — ocupava o trono por intrigas com Roma, sendo odiada pelo povo. 

Israel era um protetorado romano controlado por uma legião militar sob o comando do cônsul Pôncio Pilatos, a quem não interessava esse problema dinástico. Ele só queria garantir o domínio dos Césares na região e ser promovido na administração do Império. Entretanto, a questão da monarquia de Jesus — e não só a sua superioridade como Sumo Sacerdote porque Filho de Deus — está no centro dos iníquos processos que levaram à sua crucifixão. 


 

Jesus entrou em Jerusalém como entrara outrora Salomão


O rei Salomão entra em Jerusalém
montado em uma mula.
Até os Reis Magos, vindos de outros países, sabiam da estirpe régia de Jesus Cristo. Por isso, quando chegaram a Jerusalém, perguntaram “onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?” (Mt 2,2). Herodes, sempre ignaro da legitimidade, apelou aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas do povo. E estes responderam que o profeta Miqueas (Miq 5,2) anunciara onde nasceria o rei prometido, o Emanuel: “Belém, terra de Judá, [...] de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo” (Mt 2, 4-6). Os Apóstolos também, antes de Pentecostes, viam nele um futuro rei e até especularam sobre o posto que teriam na sua corte: “pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior” (Mc 9, 31). 

Todos os Evangelhos (Mt 21, 1-11; Mc 11, 1-11; Lc 19, 28-40; Jo 12, 12-15) descrevem Nosso Senhor Jesus Cristo ingressando em Jerusalém montado num jumento, sob aclamações populares que só podiam ser feitas a um rei messiânico anunciado pelos profetas como um rei sacrossanto, inviolável e ideal, sobre quem repousa o espírito divino, que governará com sabedoria e justiça, prudência e coragem, ciência e temor de Deus.

Essa entrada em Jerusalém no Domingo de Ramos (Mc 11, 2; Lc 19, 30) só tinha um precedente: o ingresso histórico de Salomão montado numa mula que lhe foi dada por David: “fazei montar na minha mula o meu filho Salomão” para ser ungido rei (1Rs 1, 32-40). O povo estendeu suas vestes no caminho como fazia a seus monarcas (Lc 19, 35-37).

Nosso Senhor não impediu que O aclamassem rei com as palavras “Hosana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Lc 19, 38-40; Mt 21, 9,15). Porém, Ele nunca reivindicou o reinado temporal sobre Israel, mas sim uma monarquia completa e divina sobre toda a ordem da Criação, no sentido contido na devoção a Cristo-Rei. Entretanto, o Sinédrio, conhecedor do que estava escrito e vendo a reação do povo, reiterou sua vontade de matá-Lo.

O Sinédrio acusou Nosso Senhor diante Pilatos de se dizer rei dos judeus, única acusação que impressionaria o cônsul romano. Este então O interrogou: “És o rei dos judeus? Sim, respondeu-lhe Jesus” (Mt 27, 11), esclarecendo que era sobretudo Rei de um reino mais alto: o dos Céus e de toda a Terra. Para Pilatos foi suficiente para encerrar o caso e declarar que não via culpa alguma em Jesus.

Porém, o populacho, instigado pelo Sinédrio, bradava: “Não temos outro rei senão César”. Agindo assim, eles recusavam o Redentor prometido pelos Patriarcas e pelos Profetas, bem como seu rei legítimo, sucessor de David. Interessado somente nos efeitos do processo em Roma, Pilatos indagou aos sacerdotes: “Hei de crucificar o vosso rei?”. E os sumos sacerdotes confirmaram: “Não temos outro rei senão César!” (Jo 19, 15) e acrescentaram que se não O matasse, eles o denunciariam ao imperador. O argumento de perder os favores de César levaram o venal Pilatos a cometer o pior crime da História, lavando as mãos para demonstrar que não era responsável pela acusação.

Por fim, Pilatos mandou fixar no alto da Cruz uma tábua com a inscrição, em grego, hebraico e latim: “Jesus Nazareno Rei dos Judeus” (Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum). É o I.N.R.I. que vemos habitualmente nos crucifixos. Era esse o “crime” alegado pelo Sinédrio, porém “os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: Não escrevas: Rei dos judeus, mas sim: Este homem disse ser o rei dos judeus”. Agastado, Pilatos os repeliu dizendo: “O que escrevi, escrevi.” (Jo 19, 19-22) 

 

À semelhança de Salomão, Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo igualmente rei, entra em Jerusalém no lombo de uma mula (Pietro Lorenzetti (1280-1348). Basílica Inferior de São Francisco, Assis)


Santo Sudário aponta “rito funerário próprio de um rei”


Prof. Rodríguez Almenar
O Prof. Rodríguez Almenar [foto ao lado] focaliza os símbolos no enterro de Nosso Senhor. Tendo sido crucificado como um malfeitor, seu Corpo deveria ser jogado numa fossa comum. Porém, foi envolvido com o Santo Sudário — um tecido de 4,42m x 1,13m destinado para fazer as vestimentas alvíssimas com as quais o Sumo Sacerdote do Templo ingressava no Sancta Sanctorum onde estava a Arca da Aliança com as Tábuas da Lei, na cerimônia mais santa e mais solene do ano, o Yom Kippur ou “Dia da Expiação”, ou “Dia do Perdão”. Essa máxima solenidade havia sido ordenada por Deus a Moisés (Lev 23-27). Contudo, a Arca da Aliança contendo as tábuas dos Dez Mandamentos estava desaparecida desde o século VI a.C., quando Jerusalém foi invadida por Nabucodonosor II, o rei da Babilônia que escravizou os judeus e os levou para a Caldeia. 

O Sumo Sacerdote devia se apresentar revestido com uma sarja de linho puro em “espinha de peixe”, ao que tudo indica vinda da Índia, desconhecida no Oriente Médio e que só se usaria na Europa a partir do século XV. Esse tecido requintadíssimo, o mais caro que se podia achar em Jerusalém, teria sido obtido no próprio Templo por José de Arimateia — homem riquíssimo, “discípulo oculto” e membro do Sinédrio — e entregue por ele, porque considerava que Jesus merecia um enterro digno de um rei e Sumo Sacerdote. Também providenciou o túmulo que tinha mandado fazer para si, exclusivo de pessoas muito ricas.

Nosso Senhor, pelo valor infinito de sua Redenção, agiu como o divino Sumo Sacerdote que com seu sacrifício redimiu a humanidade do pecado original. Era coerente que fosse envolvido nesse tecido simbólico da expiação. 

 

A Dedicação do Templo de Jerusalém construído pelo Rei Salomão - Bíblia de William Brassey Hole. O Sumo Sacerdote se apresentava com uma roupagem alvíssima, feita com o mesmo tipo de pano usado séculos depois no Santo Sudário.

Outros símbolos monárquicos no Sudário


No Santo Sudário também foram encontrados vestígios de unguentos usados no enterro dos reis, como os menciona o historiador Plinio o Velho (23-79 d.C.). A Dra. Marzia Boi [foto], professora da Universidade das Ilhas Baleares, aprofundou o estudo dos ritos dos sepultamentos reais no Mediterrâneo no século I e apontou os óleos, bálsamos e unguentos — entre os quais se destacava em alta proporção o pólen de Helichrysum, ou Sempreviva amarela, além de Crisântemo e Amaranto, símbolos da imortalidade, que eram aplicados na preparação do corpo dos reis ou personagens de alta estirpe. Ela mostrou que o sepultamento de Nosso Senhor foi realizado com honras próprias aos reis, e implicava a “preparação do cadáver com bálsamos e óleos” do modo como foi feito. 


Também o microscópio revelou tipos de flores que, “conforme está documentado desde remotos tempos”, eram usualmente utilizadas nos enterros reais. Destacou os pólens de Helichrysum, láudano, terebinto, gálbano aromático ou lentisco. Esse uso estava de acordo com a estirpe régia de Jesus Cristo. E coube a Nossa Senhora, sua Mãe com o auxílio das santas mulheres, preparar o Santíssimo Corpo de seu Filho para a sepultura de acordo com os costumes da família real. 

 

Embalsamaram e envolveram o Divino Corpo no Santo Sudário sobre a Pedra da Unção hoje venerada na igreja do Santo Sepulcro

Sepultamento único, próprio a um rei


Tudo pesado e medido, o Prof. Rodríguez Almenar conclui que no caso do Homem do Santo Sudário “não se tratou de um sepultamento qualquer, mas se praticou um rito funerário próprio de um rei”. Foram Nossa Senhora, princesa da casa de David, e as santas mulheres também de extração aristocrática, observantes da Lei de Moisés, que sabendo como agir com gente de alta extração, embalsamaram e envolveram o Divino Corpo no Santo Sudário sobre a Pedra da Unção hoje venerada na igreja do Santo Sepulcro.

O presidente do Centro Espanhol de Sindonologia conclui que todos os dados do Santo Sudário apontam que Jesus Cristo foi enterrado como um monarca. O contrário implica em achar que todos os dados cientificamente compulsados não fazem sentido.

A ciência sublinha assim, com suas descobertas, o valor infinito da Redenção obtida para a nossa salvação por um monarca supremo do povo eleito e o Sumo Sacerdote que foi Deus feito homem. As descobertas científicas no Santo Sudário inspiram reflexões próprias para a Semana Santa. Sendo Rei de todas as almas e implicitamente de cada pessoa, Jesus Cristo governa cada uma com a solicitude, o afeto e a atenção como se ela fosse a única alma sobre a qual Ele exercesse o seu império. Ele é o modelo de todos os reis ou chefes de Estado; é Rei de misericórdia e de amor, de um reinado que “não é deste mundo” (Jo 18, 36) com o intuito de levar cada alma a seu Reino verdadeiro que não terá fim. 

O Santo Sudário como que reservou estas comprovações da Majestade suprema de Cristo-Rei para nossa época a fim de reavivar a lembrança da soberania universal de Jesus Cristo sobre as pessoas e os povos. Precisamente para nossa época, cada vez mais seduzida por opções falsas ou iníquas — sejam elas liberal-democráticas, libertárias ou socialo-comunistas ou, no campo religioso, falsos ecumenismos e relativismos concessivos às piores abominações morais, teológicas ou litúrgicas.


16 de abril de 2025

SANTO SUDÁRIO DE TURIM — Milagre permanente, Realeza de Jesus, Bandeira da Ressurreição

 


Uma fotografia que providencialmente revelou a face régia e divina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Uma prova a mais de sua existência terrena, de sua flagelação, coroação de espinhos, crucifixão e ressurreição, tudo confirmando e reforçando as narrações do Evangelho. Estas e outras considerações foram feitas por Plinio Corrêa de Oliveira em conferência no dia 28 de abril de 1984, da qual seguem excertos, com leves adaptações da linguagem falada para a linguagem escrita.

 

Nos mistérios dolorosos do Rosário, contemplamos no terceiro a Coroação de Espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. O que nos traz ao espírito uma série de recordações, que se tornam mais pungentes à vista do Santo Sudário — a sagrada relíquia que merece toda a nossa veneração.

Entre as relíquias trazidas da Terra Santa para o Ocidente, figura esse precioso tecido no qual o sacrossanto Corpo de Nosso Senhor foi envolvido para ser depositado na sepultura, na qual esteve até o momento glorioso entre todos em que Ele, por um ato de Sua própria vontade, ressuscitou-Se a Si próprio. Ele ordenou aos anjos afastarem aquela pedra que lacrava sua sepultura e voltou a entrar glorioso no convívio dos homens.

O Santo Sudário teria sido recolhido por pessoas piedosas e, certamente, levado a Nossa Senhora, talvez a São Pedro, chefe da Igreja. Depois, teria ido parar nas mãos dos imperadores do Oriente.

Posteriormente veio para o Ocidente, ficando na posse da pequena dinastia da Casa de Sabóia e, mais tarde, foi para a catedral de Turim, guardado num monumento de mármore, dentro de um magnífico escrínio. Todo o ouro e toda a prata da terra não seriam proporcionais para conter essa relíquia, mas era uma bonita caixa para guardá-la dignamente.

 

Um pasmo geral, uma imagem real de Jesus

Com o uso habitual da fotografia no século XIX, um fotógrafo amador, o advogado italiano Secondo Pia, resolveu tirar fotos do Santo Sudário em 1898. Quando ele estava revelando as imagens, observou que os negativos fotográficos mostravam uma imagem positiva de um homem no Sudário — o que não se nota vendo diretamente o tecido —, além de uma representação mais clara da imagem. Era a revelação da autenticidade do Sudário.

A marca do Sagrado Corpo de Nosso Senhor sobre o pano deu numa fotografia d’Ele! Foi um pasmo geral! Muito desapontamento a toda espécie de incrédulos. Estes não queriam acreditar na autenticidade daquele pano e levantavam objeções.

Vendo aquela imagem tão impressionante, poder-se-ia rezar: “Senhor, falai porque vosso servo Vos escuta. Falai Vós! O que tenho eu para Vos dizer? Olho para os vossos olhos divinos e vejo que está ali uma sabedoria infinita! Vós dizeis qualquer palavra e ela vale mais do que todo o ouro da terra! Vós dais um passo e eu vejo que sois Rei pelo semblante dominador com que avançais. Vós encontrais um pobre, Vós encontrais um ímpio e Vós vos dirigis a eles para lhes fazer bem ao corpo e à alma. Vejo em Vós tanta bondade, que eu me vejo a mim mesmo como azinhavre em comparação convosco. Senhor, diante de Vós, quem pode subsistir? Falai! Eu sou feito para Vos olhar e para Vos adorar. E isso, por misericórdia vossa, porque não sou digno disso!”.

Nosso Senhor Jesus Cristo era o Rei das nações, cujo semblante, atitude e irradiação sobre o povo de Israel revelavam sua genealogia régia, pois da estirpe David e Salomão, dois grandes reis de Israel. Entretanto, foi morto entre dois ladrões. Este Rei, todo ferido na Cruz, o que tinha como corte? A corte da dor: sua Mãe Santíssima, passando pelo sofrimento mais pungente que se possa imaginar e apenas um discípulo! Também algumas das santas mulheres; entre elas, Santa Maria Madalena, chorando copiosamente.

Depois de descido da Cruz, carregam o Corpo Sagrado, com ajuda de dois criptodiscípulos, Nicodemos e José de Arimatéia, envolvem-no no Sudário e o põem dentro da sepultura.

Fechada a sepultura com a pedra, era toda uma vida que ficava para trás. O túmulo e a morte tragaram aquela vida. Agora era voltar para suas casas e chorar. Dentro do sepulcro ficara também aquele Sudário, sobre o qual talvez tenha caído lágrimas de Nossa Senhora.

 

O Enterro de Cristo - Carl Heinrich Bloch (1834-1890). Museu Histórico Nacional de Frederiksborg, em Hillerød, Dinamarca. 

A ciência dobra os joelhos ao “Homem do Sudário”

Quando o século XIX estava no auge do seu orgulho e se preparava para transmitir ao século XX — ao lado de muitos frutos da Civilização — a impiedade triunfante, comprova-se o Santo Sudário como uma bandeira magnífica da Ressurreição!

O divino corpo ressuscitara dentre os mortos, mas ficou o lençol que o envolvera; guardaram com toda piedade aquele pano por vários séculos.

Vemos nisso algo de profundamente paradoxal e de misterioso nos planos da Providência. No tecido ficaram as marcas do Corpo de Jesus, mas só séculos depois, com o advento da fotografia, elas foram vistas! A ciência ímpia dobrava os joelhos e dizia: Cristo venceu!

No sagrado tecido é possível notar, sem qualquer dúvida, sinais da flagelação, da coroação de espinhos e da crucifixão. Diante disso, que atitude toma o homem do século XX? A impiedade do século XIX levou essa cajadada na cabeça e o século afundou no passado. E o nosso século? É tal maravilha o Santo Sudário, é tal prova da existência de Nosso Senhor Jesus Cristo, tal prova de que Ele ressuscitou, tal prova daquilo que cremos, que se deveria ficar verdadeiramente encantado e em todos os ambientes se deveria falar do Santo Sudário. Mas o geral dos homens contemporâneos dá as costas para esse milagre.

 

Recriação do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Prova-se à evidência a autenticidade do Sudário

A 28 de maio de 1898,
o fotógrafo italiano Secondo Pia
tirou a primeira fotografia do Sudário.

Com o desenvolvimento das descobertas científicas, começaram a provar a autenticidade daquele precioso pano de linho. E os aparelhos modernos foram capazes de determinar a antiguidade do tecido. Verificaram até de que tipos de plantas extraíram as fibras com as quais teceram o Sudário, uma espécie de lençol, ou mortalha. Cientificamente demonstraram que elas eram da região onde se localiza a cidade de Jerusalém. Cientistas encontram até fragmentos mínimos de pólen de flores que, levados por ventos, impregnaram o pano; eram daquela mesma região, mas também da região da Turquia e d Europa, assim comprovando o itinerário percorrido pelo sacrossanto Sudário.

Pela análise científica da fotografia do milagroso linho ficou revelado inclusive que nos olhos de Nosso Senhor colocaram duas moedas — era costume da época colocá-las nos cadáveres a fim de manter os olhos fechados —, e elas são da época em que nosso Salvador veio ao mundo! [foto abaixo].

Há várias outras comprovações, cada uma mais brilhante que outra, certificando extraordinariamente até à evidência a autenticidade do tecido sagrado. Até mesmo os cientistas estudaram que há três dimensões na imagem do Sudário. Um mistério, um milagre, pois isso não ocorre nas fotografias normais.

Percebemos que o século XIX recebeu ao expirar uma grande manifestação da grandeza, do poder e da bondade de Deus: a verdadeira maravilha, que é a história do Santo Sudário! Mas o século XX portou-se diante desse milagre da seguinte maneira: olhar, não se converter e terminar numa tentativa de blasfêmia! É o curso da Revolução!

 


Realeza por natureza e por direito de conquista

Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei. Interrogado durante a Paixão pelos que O julgavam — sem direito de julgá-Lo —, Pilatos perguntou: “És tu o Rei dos judeus?” E Jesus respondeu “Sim”, que verdadeiramente era Rei. Donde terem pregado no alto da Cruz a inscrição I.N.R.I. (Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum — Jesus Nazareno Rei dos Judeus) [foto abaixo]. E também, para debicar d’Ele, mandaram coroá-Lo com uma coroa de espinhos; vesti-Lo com uma túnica e a vara dos bobos na mão (como se fossem a túnica e o cedro de rei).

Jesus Cristo é verdadeiramente Rei. Rei, antes de tudo, por ser Ele. O Verbo de Deus Encarnado; Deus feito homem. E Deus é Rei! Portanto, nosso Divino Redentor era Rei; plenamente Rei, porque Ele era Deus. Se há alguém sobre esta Terra que é Rei, era Ele e continua sendo e sê-lo-á para sempre.

Essa realeza d’Ele era de um reino que Ele possuía por natureza, mas tinha também por direito de conquista. Ele havia conquistado o mundo. Ele viera à Terra, fizera inúmeros milagres, convertera os homens e tinha o direito sobre o gênero humano que Ele vinha converter, era o Homem-Deus e, portanto, Rei do mundo inteiro. Mais ainda, Ele era Rei a um outro título: Ele morreria para resgatar os pecados dos homens e abrir para eles a porta do Céu. Ele se tornava Rei porque, pela sua morte, iria resgatar o mundo. Não Lhe faltavam títulos para realeza de toda ordem.

 

Tábua pregada no alto da Cruz com a inscrição I.N.R.I. (Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum — Jesus Nazareno Rei dos Judeus)

Legitimamente Jesus Cristo foi e é Rei autêntico

Os judeus deveriam ter reconhecido isso, porque Nosso Senhor Jesus Cristo fez todos os milagres que provavam sua realeza. Além de descendente dos antigos reis, a santidade, a profundidade incomparável de sua doutrina, provavam isso. Não Lhe faltava nada para ser verdadeiramente Rei. Que outra coisa se pode fazer perante uma figura assim, senão ajoelhar-se?

O Antigo Testamento narra como seria o Messias. Bastava olhar para Jesus para ver que Ele era o Messias. Faltava-Lhe apenas ser crucificado e morto para que se completassem as profecias sobre Ele, mas qualquer um que de boa fé estudasse tudo isso, deveria reconhecê-Lo como Rei.

O Antigo Testamento fala do reino do Messias, o Salvador, que seria rei de Israel e que teria um reino que se estenderia sobre o universo inteiro, e que seria o reino de glória e o reino eterno que nunca mais se extinguiria. Eles esperavam que viesse um príncipe da Casa de David, mas um conquistador extraordinário, um político extraordinário, um militar extraordinário que brilhasse como um príncipe terreno e expulsasse para longe os romanos, que se tinham metido dentro de Israel e que eles consideravam conquistadores, e que tomasse conta de Jerusalém para fazer um reino de glória, perto do qual o de Salomão não tinha sido senão um tímido prefácio, uma pequena prefigura, mas iria brilhar o reino d’Ele por todos os séculos.

Ele vem e não conquista. Perguntam-Lhe se reconhece a autoridade de César, Ele diz que sim (os judeus queriam se livrar do governo de César). Perguntam a Jesus sobre seu reino, e Ele diz que era um reino que não era deste mundo. Por que isso? — Porque Ele, Homem-Deus, não só conhecia o futuro, mas era Aquele que dispõe do futuro. O futuro seria como era, porque Ele queria ou porque Ele consentia. O governo de todos os acontecimentos da História pertence a Ele. Ele sabia que seria Rei realmente. O reino d’Ele chamar-se-ia Igreja Católica Apostólica Romana. Não é um reino deste mundo, não é um reino feito para ter tropas e exércitos, fazer política etc. É o reino feito para difundir o nome d’Ele e a mensagem d’Ele a todos os homens e para que a Lei de Deus governasse a Terra inteira. Não tem nada de comum com política, é algo de incalculavelmente superior à política: é o Reino de Deus nesta Terra! E essa glória Ele a realizou!

 

Relicário com a Coroa de Espinhos, venerada na Catedral de Notre-Dame

Na Paixão do Redentor, um misto de dor e de triunfo

Um grande mistério que não se poderia compreender: Jesus Cristo reinaria de dentro de todos os sacrários do mundo. Quem poderia compreender uma coisa dessas!? Mas Ele tinha razão: o reino d’Ele não era deste mundo!

Ele era Rei dos judeus? Mais especialmente porque os judeus eram a nação eleita, era o povo predileto, havia uma promessa de que o Filho de Deus se encarnaria, que a Virgem seria judia e teria um Filho, portanto judeu de raça e seria ao mesmo tempo o Homem-Deus. Se os judeus tivessem correspondido à graça, ninguém pode imaginar a grandeza da glória que teria o povo de Israel. Mas aquele povo recusou, coroou de espinhos e crucificou o Rei de Israel.

Colocam uma coroa de espinhos sobre a cabeça de Jesus. A coroa da dor, da irrisão, da vergonha. Ele cheio de dores no Corpo, mas sobretudo cheio de dores na Alma. A nação eleita O tinha recusado e estava se transformando em infâmia.

Na Paixão de nosso Divino Salvador há o misto de dor lancinante e de triunfo, sobretudo quando Ele ressuscita!

 


Aplicação à Igreja Católica, humilhação e glória

Que lição tirar de tudo isto? — Assim é a vida do católico! Assim é a vida da Igreja, cheia de humilhações e de vitórias. Humilhações tão grandes que se poderia imaginar que Ela nunca se reergueria. Vitórias tão grandes que se diria que Ela nunca mais cairá. Como uma barca que vai por ondas vertiginosas, que a levantam ao alto, mas depois ao fundo da voragem. Assim a barca de São Pedro vai percorrendo a História, com todas as glórias e honras, mas também com todas as dores e humilhações de Cristo Coroado de espinhos.

Um magnífico símbolo dessa dor e glória é a Sainte Chapelle, em Paris [foto acima]. Três espinhos da Sagrada Coroa posta em Nosso Senhor foram obtidas por São Luís, rei de França. E para abrigar devidamente esses adoráveis espinhos, ele mandou construir um dos mais belos monumentos da arte medieval e, portanto, de toda a História: a Sainte Chapelle — verdadeira caixa de cristal com nervuras de granito, onde se celebrava o Santo Sacrifício.

Entrei na SainteChapelle e fiquei tão maravilhado que tive um suspiro: “Ahahah!!!”. Eu não pensava que fosse tão bonita!

Não tive palavras para reagir... Foi o único lugar no mundo que visitei e fiquei sem ter o que dizer! Notre-Dame me extasiou, mas a Sainte Chapelle com os seus vitrais causou-me tal impressão, tal maravilhamento que, literalmente, fiquei sem palavras. Encantadíssimo! Um edifício-relicário para os três espinhos dessa Coroa Sacrossanta que acabamos de considerar.

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Fonte: Revista Catolicismo, 892, abril/2025

15 de abril de 2025

Análise da situação interna de Jesus durante a Paixão

 


      Plinio Corrêa de Oliveira 

As imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo flagelado e coroado de espinhos, que normalmente vemos nas igrejas aqui no Brasil, nem de longe se comparam com a esta. 

Nesta magnífica fotografia só do busto, Sua fisionomia traduz uma dor que chega até o limite da resistência. Quer dizer, um pouco mais de dor, a resistência quebraria, Ele morria. Mas ao mesmo tempo traduz uma firmeza e uma deliberação de ir até o fim. O que é impressionante!

Por outro lado, nota-se n’Ele uma tristeza meio perplexa frente à maldade que encontra diante de Si. Uma maldade que surpreende quase até ao desconcerto.

O escultor soube expressar bem o quanto Jesus era sensível à contradição e ao disparate da crueldade que sentiu diante de tanta bondade que manifestou. Não há n’Ele nenhuma cólera, mas há um reproche [uma censura] enorme. Imaculado! Justo! Reto! Naturalmente o Santo Sudário é superior, nada se lhe compara, mas imagens como esta eu conheço poucas. É a imagem de um rei padecente, mas que tem a coroa das dores, que vale mais do que a coroa de ouro. 

Lembra-me uma frase profética do Antigo Testamento a respeito de Nosso Senhor: “Ecce in pace amaritudo mea amarissima” [Eis na paz a minha amargura muito amarga (Isaías 38, 17)]. 

O artista-escultor parece ter entrado profundamente no papel de Nosso Senhor e soube compreender a posição d’Ele. É toda uma análise da situação interna de Jesus diante do que externamente Lhe ia sucedendo durante a Paixão. No meio de tudo isso, uma doçura inefável. 

O Aleijadinho é mais artista do que o escultor desta imagem, mas este expressou melhor a alma de Nosso Senhor. O Aleijadinho expressou muito bem os profetas, que considero obras-primas. São estupendos! Mas expressar a alma e o padecimento de Jesus Cristo como este escultor conseguiu, o Aleijadinho não conseguiu. 

Nosso Senhor é por excelência o Vir Dolorum, o Varão das Dores. Quem desejar compreendê-Lo inteiramente, compreenderá em função da cruz. Se fizer abstração da cruz não entendeu nada. 
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 8 de maio de 1993. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.