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No dia 1º começou, por decreto de Maduro (dono até do tempo...), o Natal na Venezuela, mas a grande maioria da população não tem dinheiro sequer para comprar metade de um frango para a ceia de Natal |
Um bizarro “decreto de Natal” como “cortina de fumaça” para esconder o caos venezuelano e evitar que o povo continue falando sobre as fraudes eleitorais e as táticas de repressão
Paulo Roberto Campos
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 886, outubro/2024
Em meio a uma das mais graves crises que atravessa a Venezuela — como tratamos extensamente na edição anterior —, de modo acentuado devido às eleições de 28 de julho, bem como a um “apagão” que atingiu 80% do país, o ditador Nicolás Maduro decretou que neste ano o Natal será antecipado. Segundo ele, será para manifestar sua gratidão ao povo por tê-lo “escolhido” para um terceiro mandato: “Vou decretar o adiantamento do Natal para o dia 1º de outubro”, declarou, no último dia 2 de setembro, durante seu programa de auditório semanal na televisão. “No dia 1º de outubro começa o Natal para todos e todas. Chegou o Natal com paz, felicidade e segurança”.
Será um delírio a mais do ditador para que o povo comece a falar de outra coisa — como dessa extravagância — e não mais do “apagão” e, sobretudo, das tão evidentes fraudes eleitorais?
Como se sabe, Maduro obteve apenas cerca de 30% dos votos, enquanto seu opositor, Edmundo González Urrutia, alcançou quase 70%. Tudo exaustivamente comprovado por instituições independentes.
Entretanto, o Supremo Tribunal da Venezuela e o Conselho Nacional Eleitoral declararam Maduro vencedor, e ponto final. Já vimos várias vezes esse filme. Assim funcionam as ditaduras marxistas, comprovando mais uma vez que Maduro segue à risca a recomendação do seu mentor Josef Stalin: “O que importa não é o voto, é como contamos os votos”.
Vitelio Brustolin, pesquisador de Harvard e professor de Relações internacionais, resumiu bem este tão extravagante “decreto de Natal”, dizendo que se trata de “cortina de fumaça para a fraude eleitoral [...]. É uma distração, enquanto continua a prender opositores”.
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O bizarro decreto de Natal antecipado trouxe-me a lembrança um artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira na “Folha de S. Paulo (13-12-1970), intitulado “Açúcar amargo, Natal sem luzes”.
Entre outros acontecimentos, o brilhante articulista comenta uma notícia publicada também na “Folha de S. Paulo” sobre uma declaração de Fidel Castro prorrogando as festas tradicionais de Natal e Ano Novo. Diz a notícia:
“Ao declarar-se ‘respeitador das tradições’ Castro entretanto assinalou ‘serem muito cristãs, muito belas e muito poéticas, porém constituem um fenômeno subjetivo que nos trouxeram da Europa’”.
Então o Prof. Plinio escreveu:
“Assim, para Fidel Castro o Natal não passa de ‘um fenômeno subjetivo que nos trouxeram da Europa’. Este o homem que desceu de Sierra Maestra ostentando um enorme rosário ao pescoço para embair os católicos de seu país. Cuidado, leitor, cuidado. Não dê crédito a alguém só porque se diz católico. Estamos na época da hipocrisia, em que Satanás por vezes se faz sacristão, por vezes padre e... prefiro não continuar.
“Leitor amigo, posso pedir-lhe algo para o Natal? Posso pedir-lhe o presente de uma prece?
“Quando rezar ao pé do presépio, ou quando se sentar feliz para a ceia de Natal, lembre-se do Natal negro, sem festas nem luzes, de um povo irmão que nessa mesma noite, a essa mesma hora, está na escuridão, dormindo exausto para retomar no dia imediato a produção do açúcar amargo, resultante do trabalho escravo. Lembre-se de Cuba [...].
“E reze pelo Brasil, caro leitor, para que jamais lhe ocorra desgraça igual”.
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Edmundo González Urrutia e sua filha Carolina, asilados na Espanha,
são recebidos no Palácio “La Moncloa” pelo primeiro ministro Pedro Sánchez. |
Apenas como breve atualização da matéria sobre a situação caótica da Venezuela, publicada na edição anterior desta revista, devemos acrescentar quatro questões relevantes:
1 — Maduro pediu o encarceramento do candidato eleito, Edmundo González Urrutia, e a Procuradoria-Geral da Venezuela oficializou o pedido a um tribunal especializado em crimes de terrorismo! E, logo em seguida, o Ministério Público emitiu a ordem de prisão. Ou seja, obedeceu exatamente ao que mandou o sucessor de Hugo Chávez.
Tal órgão acusou González Urrutia de prática de crimes terroristas relacionados com as eleições, “incitação à desobediência às leis e conspiração”. Para não ser jogado na prisão, talvez para o resto de sua vida, González pediu e obteve asilo na Espanha. Assim, desde o dia 8 de setembro ele se encontra em Madrid.
2 — A própria ONU teve de reconhecer, no dia 17 de setembro, que o governo totalitário de Maduro recrudesceu ainda mais as táticas repressivas após as últimas eleições. E isto “de forma consciente e planejada”, e que as perseguições para liquidar com os opositores “não são atos isolados ou aleatórios, e sim parte de um plano contínuo e coordenado para silenciar, desanimar e esmagar a oposição ao governo”.
3 — Tal foi o escândalo das fraudes eleitorais, que até o Parlamento Europeu teve de aprovar, no dia 19 de setembro, uma resolução reconhecendo o líder da oposição da Venezuela, Edmundo González Urrutia, como o presidente legítimo e democraticamente eleito do país.
Na resolução, os eurodeputados pedem que a União Europeia e seus Estados-membros façam todo o possível para que González Urrutia possa assumir a Presidência venezuelana no próximo dia 10 de janeiro.
Eis um trecho da resolução: “O respeito à vontade do povo venezuelano expressa nas eleições continua sendo o único caminho para que a Venezuela restabeleça a democracia, possibilite uma transição pacífica e autêntica e resolva a atual crise humanitária e socioeconômica.”
4 — O regime comunista de Cuba comunicou, no dia 16 de setembro, a diminuição de um quarto no peso da ração diária de pão subsidiado. A falta da farinha de trigo em Cuba, onde o pão é alimento básico, é extremamente penoso para os cubanos, que precisam enfrentar filas para obterem um pãozinho de 60 gramas. Ademais, na ilha da família Castro, agravou-se ainda mais neste ano a escassez extrema de alimentos, de produtos de higiene e limpeza, de combustíveis e remédios. Sem falar dos constantes apagões. A perspectiva para eles é de um Natal “amargo e sem luzes”.
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Devido à apocalíptica situação de nossos irmãos cubanos e venezuelanos, devemos rezar por eles. Não permita Deus que o calvário da Venezuela se prolongue como o de Cuba, e que ambas nações se vejam o quanto antes livres dessa cruel tirania comunista.
Por fim, peçamos a Nossa Senhora Aparecida que afaste do Brasil semelhante desgraça, a fim de que, irmanado às demais nações latino-americanas nossos governos jamais sigam os passos de Fidel Castro e de seus sequazes...