30 de outubro de 2024

Dia de Todos os Santos e Finados — oposição ao Halloween

 

Finados, pintura de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)

✅  Paulo Roberto Campos 

prccampos@terra.com.br

No primeiro dia de novembro comemoram-se Todos os Santos — todos homens e mulheres que morreram, se salvaram e cujas almas estão no Céu na felicidade eterna. Conforme o Apóstolo São Paulo: “Se morremos com Cristo, temos fé de que também viveremos com Ele” (Rom. 6,8). 

O segundo dia deste mês é dedicado aos fiéis defuntos, ou Dia de Finados. Com o desvelo de Mãe, a Igreja, depois de festejar a glória de todos que se encontram no Céu, volta seu olhar misericordioso para as almas que estão sofrendo no Purgatório (lugar de purificação). 

Santa Catarina de Gênova, em seu “Tratado do Purgatório”, escreve: 

“A alma do justo, ao sair de seu corpo, vendo em si mesma alguma coisa que empana sua inocência primitiva e opõe-se à sua união com Deus, experimenta uma aflição incomparável; e como sabe muito bem que este impedimento não pode ser destruído senão pelo fogo do Purgatório, desce ali de repente e com plena vontade”. 
Isto porque a alma deseja apresentar-se diante de Deus purificada de qualquer mancha, de qualquer pecado. Como filhos de Deus, devemos procurar aliviar as penas, e mesmo obter de nosso Divino Redentor o livramento das almas que padecem no Purgatório, especialmente as de nossos mais próximos, parentes, amigos. 

Como aliviar seus padecimentos? — Rezando e sofrendo por elas, pedindo a intercessão de Maria Santíssima para que leve as almas dos fiéis defuntos o quanto antes para a glória da bem-aventurança eterna. 

Dia de Finados
em Guanajuato (México).
Nessa intenção, devemos rezar todos os dias do ano, mas de modo particular no Dia de Finados. Daí o costume de em 2 de novembro visitar os cemitérios e rezar junto à sepultura de nossos entes queridos. Os que o fizerem de 1º a 8 de novembro podem ganhar uma indulgência plenária, nas condições estabelecidas pela Santa Igreja. 

Infelizmente, em nossos tempos, procura-se desviar a atenção de assuntos relacionados com a morte. Entretanto, quem de nós sabe se viverá até amanhã? A cada passo a morte roça em nós — é um parente, um amigo, um vizinho que é chamado ao Tribunal de Deus —, mas procuramos não pensar nesse tema tão sério, como se não nos dissesse respeito. 

Essa não é uma atitude cristã. “Como? Morreu?”, fingimos surpresa. “Como se pudesse causar surpresa a morte de um mortal” (Bossuet, Le sermon sur la mort). 

Também se procura cada vez mais esquecer esta lembrança de Finados, substituindo-a pelo Halloween (dia das bruxas), festividade evocativa de cultos do antigo paganismo, trazendo à tona recordações hediondas e sinistras — sobretudo quando associam o Halloween com as Marchas dos Zumbis (ou dos mortos vivos, como na foto ao lado), que desfilam pelas cidades seus horrores asquerosos, macabros e infernais. 


As pessoas que amam tais coisas repugnantes deveriam começar a rechaçá-las a fim de não se aplicar a elas a censura do Profeta Oséias (9,10): “tornaram-se tão abomináveis como as coisas que amavam”. Especial cuidado devem ter os pais em não fantasiar seus filhos com esses horrores do inferno. O Padre Gagriel Amorth, que foi o principal exorcista de Roma, advertiu que esses horrores servem ao diabo para dominar as almas. 

No Brasil, Halloween faz parte do programa de descristianização das famílias e da sociedade em geral. Na Europa, berço da Cristandade, a onda impondo artificialmente o Dia das Bruxas deu-se há 20 anos. Esforçava-se então para levar as famílias a festejá-lo, adotando suas imagens repugnantes, conferindo uma importância semelhante à do Natal. Programas de rádio e televisão, artigos de jornais e revistas — de festejos escolares abusando da inocência até papéis de embrulho recomendados pelas associações comerciais — ostentavam morcegos dentuços, esqueletos, cadáveres ambulantes, bruxas e gatos pretos, aranhas negras e serpentes, monstros saídos de cavernas infernais. 

As músicas afins com este horror, tocadas em muitos ambientes, restaurantes, livrarias etc., causam calafrios. Aos poucos trouxeram repulsa. Crianças choravam. Velhos viravam o rosto. Sorriam, de um sorriso amarelo, somente donos das lojas, num esforço de passar imagens das trevas. 

Contou-me um Amigo, que, há uns dez anos, num posto de gasolina, na auto-estrada A-4, que liga Paris à Alemanha, uma jovem mãe hesitava em receber como brinde de um dos empregados um monstro cadavérico, típico de Halloween. O casal de filhos, a quem se destinava o “brinde”, dependurando-se na barra de sua saia, tal náufragos amedrontados pela morte: “Não, mãe. O Natal já vai chegar. Já temos o Menino Jesus”, disse o menino. “E os boizinhos e o burrico. E também os anjos”, acrescentou a menina. 

Enquanto o Halloween e a Marcha dos Zumbis nos impelem para as coisas cadavéricas, para o horrendo próprio ao Inferno e seus precitos e demônios, as celebrações nos dias de Todos os Santos e de Finados elevam nossos olhos para o Céu e seus Anjos e Santos. 
"Sete Santos", pintura de Filippo Lippi (1406-1469)



15 de outubro de 2024

CORPO INCORRUPTO DE SANTA TERESA D’ÁVILA

Túmulo de Santa Teresa na Basílica da Anunciação, em Alba de Tormes


O túmulo e o caixão de prata da grande Santa Teresa de Jesus de Ávila foram reabertos no dia 28 de agosto próximo passado. Na ocasião, o Pe. Marco Chiesa, do mosteiro de Alba de Tormes, Postulador-Geral da Ordem dos Carmelitas Descalços, declarou: “Verificamos que tudo está nas mesmas condições de quando foi aberto pela última vez em 1914.”

O carmelita acrescentou que “as partes descobertas, que são o rosto e o pé, são as mesmas de 1914. Não há cor, nenhuma cor de pele, porque a pele fica como que mumificada, mas se pode ver a santa, especialmente no meio do rosto. Parece bom. Os especialistas médicos quase conseguem ver o rosto de Teresa claramente”

 Relicários contendo o coração, uma mão e um braço da Santa.

Por sua vez, o Prior carmelita de Alba de Tormes e Salamanca, Pe. Miguel Ángel González narrou alguns detalhes: “A comunidade das Madres Carmelitas Descalças junto com o Postulador-Geral da Ordem, membros do tribunal eclesiástico e um pequeno grupo de religiosos transferimos os relicários com austeridade e solenidade para o local designado para estudo. Fizemos isso cantando o Te Deum com o coração cheio de emoção.”

A exumação do corpo de Santa Teresa de Jesus foi realizada para se confirmar se ele havia permanecido incorrupto desde a primeira verificação, em 1585. Após a morte da santa, ocorrida em 4 de outubro de 1582, seu corpo permanece na Basílica da Anunciação, em Alba de Tormes (Noroeste da Espanha), exceto algumas relíquias, que foram enviadas a outras igrejas para veneração. Os restos mortais serão analisados por uma equipe de médicos e de cientistas italianos, que farão fotos e radiografias. 

Retirada da caixa de prata que guarda o corpo de Santa Teresa


Após terem retirado a laje de mármore do túmulo, pelo noticiário do LifeSiteNews (29-8-24), temos conhecimento de uma bela tradição secular, informada pela diocese de Ávila: “Abrir o caixão de Santa Teresa é um processo complicado, envolvendo 10 chaves. Três das chaves são mantidas em Alba de Tormes, três emprestadas pelo Duque de Alba e três mantidas em Roma pelo Padre Geral Carmelita Descalço, junto com a chave do rei. As três primeiras chaves são usadas para abrir a grade externa, as três seguintes para abrir o sepulcro de mármore, e as outras quatro são usadas para abrir o caixão de prata.”

Retirada da caixa de prata
que guarda o corpo de Santa Teresa
Agora -- seguindo instruções do “Dicastério para a Causa dos Santos”, como explicou o Pe. Marco Chiesa -- dar-se-á prosseguimento às pesquisas para “verificar aspectos da vida da santa, como suas doenças, como está o estado de conservação do corpo, para ver como é possível intervir para preservá-lo por séculos”.

Se esse extraordinário milagre de Deus preservou até hoje o corpo da grande santa fundadora da Ordem das Carmelitas Descalças -- 442 anos depois de sua morte --, certamente Deus o preservará para sempre. Por isso, ficaram meio incompreensíveis as palavras do postulador “para ver como é possível intervir para preservá-lo por séculos”. 

Como não foi preciso nenhuma intervenção humana para preservá-lo até hoje, quase cinco séculos depois da morte, parece melhor não intervirem, mas confiarem, deixando tudo nas Mãos de Deus. Neste caso, os cientistas poderão nos confundir e atrapalhar...

Em qualquer caso, esperamos que tudo corra bem e que as relíquias da grande santa espanhola possam ser veneradas por todos os fiéis que desejarem.

Viático de Santa Teresa – Pablo Pardo González (1846-1876).
 Museu do Prado, Madri.


14 de outubro de 2024

Santa Teresa d’Ávila, a grandeza carolíngia


A grande santa carmelita, grandeza perfeita e acabada, expressão da reflexão, da decisão e da perseverança 

✅  Plinio Corrêa de Oliveira 

Já comentei este e outros quadros de Santa Teresa d’Ávila. Este eu considero magnífico, pois exprime bem o que eu imaginava da grande santa espanhola. 

Rosto impassível, olhar com vida própria, por assim dizer, autônomo do rosto. Enquanto o rosto está átono, o olhar está contemplando. Olhar que se compraz em ver longe no horizonte, como de uma águia, o ponto mais esplendoroso. Dir-se-ia que a santa carmelita está olhando um sol que não ofusca. O que ela considera com admiração, com veneração, com uma forma de amor que não é propriamente o carinho, mas a completa entrega de si e o não querer a não ser aquilo que ela está olhando. 

Mas há por detrás dessa impassibilidade do rosto, pela posição da cabeça sobre o pescoço e do pescoço sobre os ombros, muita coerência. A cabeça está para o pescoço como o pescoço está para o corpo. Esta impostação caracteriza o seu élan, sua coragem e a própria expressão da reflexão, da decisão e da perseverança. 

Neste quadro de Santa Teresa notamos uma atitude de altivez que recebe d’Aquele a quem ela contempla. O olhar parece dizer: “Eu só temo Aquele a quem admiro, e a favor d’Ele não temo absolutamente ninguém. Aquele que é tudo e vence tudo; vamos para a frente!” 

É uma alma varonil, com nada do pseudo-feminismo atual. Ela é a figura feminina, mas também a figura da força de um varão com uma grandeza carolíngia. No domínio feminino ela é um Carlos Magno. Uma grandeza perfeita e acabada! Bem se poderia chamá-la de “Teresa de Jesus, a carolíngea” — magnífico elogio também para Carlos Magno!

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 6 de junho de 1980. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

11 de outubro de 2024

APARECIDA

 


“Capital autêntica do Brasil” — eis a real perspectiva de como a cidade de Aparecida deveria ser considerada 

✅  Plinio Corrêa de Oliveira

Nossa Senhora aclamada Rainha do Brasil, o Reino de Maria juridicamente já ficou declarado. E juridicamente, para os efeitos celestes e para os efeitos terrestres, Ela tem direitos ainda maiores sobre o Brasil do que se Ela fosse apenas Rainha nesta Terra.

Devido a isto, temos uma obrigação especial de cultuar Nossa Senhora; de dar glória a Ela; de propagar sua devoção por toda parte; de lutar por esta devoção junto aos outros povos que resistam ao culto a Nossa Senhora; de fazer, portanto, cruzadas em nome d’Ela.

Com isso, é toda uma vocação nacional e mundial que se delineia para o Brasil, a partir precisamente dessa devoção a Ela como nossa Rainha. 

Daí decorre também outro fato: se o Brasil não fosse oficialmente o País agnóstico e interconfessional que é, o verdadeiro seria — para determinados efeitos — a capital autêntica do Brasil ser Aparecida do Norte. 


Após Nossa Senhora ter sido declarada Rainha do Brasil, não concebo a possibilidade de que os grandes atos da vida nacional se realizem em outro lugar que não em Aparecida: a promulgação de leis importantes; declarações de guerra; tratados de paz; grandes solenidades das ilustres famílias do País. E só concebo tais atos sendo realizados em Aparecida, que, pelo ato dessa coroação, ficou sendo o centro espiritual do Brasil.

Quando tanto se discute “Brasília ou Rio”, nós esquecemos o verdadeiro polo: Aparecida, para esses efeitos, ser a verdadeira capital do País! Assim tem-se a perspectiva de como Aparecida deveria ser considerada. 
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 5 de outubro de 1964. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

10 de outubro de 2024

Milhares homenageiam Nossa Senhora Aparecida na capital dos Estados Unidos

Imagem de Nossa Senhora Aparecida entronizada solenemente na Basílica em Washington / [Fotos: Nikolas Scheuren]

 

  Domenick Galatolo

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 886, outubro/2024

 

Seis mil e quinhentos brasileiros se reuniram no dia 14 de setembro passado em Washington D.C., para entronizar uma imagem de Nossa Senhora Aparecida na Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição.

Membros da Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) e alunos da Academia St. Louis de Montfort também se reuniram para prestar homenagem à Padroeira do Brasil.

 


Imagem Milagrosa

A história de Nossa Senhora Aparecida é espetacular. Há mais de 300 anos, três pescadores, ao puxarem suas redes, encontraram uma imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, mas sem sua cabeça. Depois de outro lançamento das redes, eles puxaram e ‘pescaram’ a cabeça. Ao colocarem a cabeça sobre o corpo, ambas as partes se encaixaram perfeitamente.

O lançamento seguinte da rede trouxe uma pesca abundante de peixes, após uma jornada até então estéril. No entanto, a maior ‘pesca’ foi a da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Até hoje, milhões de peregrinos visitam sua milagrosa Imagem na cidade de Aparecida do Norte, onde muitos milagres se operam pela sua intercessão.



Entusiasmo por Nossa Senhora

Brasileiros de todos os Estados Unidos vieram para o evento na capital americana. Grupos de Massachusetts, Flórida, Michigan, e até mesmo da Califórnia, compareceram ao ato para a entronização da imagem.

Antes do ato solene, milhares de pessoas participaram de uma procissão com a imagem de Nossa Senhora Aparecida carregada num andor, desde o Santuário do Sagrado Coração até a Basílica. Cada grupo segurava faixas e estandartes enfeitados com os símbolos de suas paróquias. A atmosfera era piedosa e entusiasmada.

 


Um tributo musical

Quando os peregrinos chegaram aos degraus da Basílica de Washington, a banda da TFP americana e da Academia St. Louis de Montfort os recebeu com hinos emocionantes. Trompetistas, bateristas, pífaros e até gaiteiros em trajes escoceses completos homenagearam Nossa Senhora de maneira especial.

A música favorita da multidão era a bem brasileira “Viva a Mãe de Deus e nossa”. Milhares de vozes se juntaram aos metais e gaitas de fole neste belo hino mariano na língua portuguesa.

No final desta música, um brasileiro bradou: “Viva Nossa Senhora Aparecida!” Milhares de vozes responderam com um retumbante “Viva!”

Os membros da TFP então proclamaram, “O Brasil é: Terra de Santa Cruz!”

 


Padroeira dos dois países

Nossa Senhora da Imaculada Conceição é a Padroeira do Brasil e dos Estados Unidos. Assim, era apropriado que Nossa Senhora Aparecida da Imaculada Conceição fosse entronizada na Basílica da Imaculada Conceição.

A Imaculada Conceição talvez seja o título mais contra-revolucionário da Santa Mãe de Deus, pois proclama a sua virgindade absoluta diante da sensualidade do mundo, e a sua predileção como o auge da criação, em meio à cultura mergulhada no igualitarismo radical.

Nossa Senhora tem um plano especial para esses dois países? Ambos são chamados a serem os campeões de Maria Imaculada?

Uma coisa é certa: a entronização d’Ela na capital dos Estados Unidos trará graças para que nosso país e o Brasil se tornem as nações contra-revolucionárias a que foram suscitadas por Deus.

Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós!

As guerras que ensanguentam o mundo



✅  Roberto de Mattei

No último século, depois dos dois conflitos mundiais de 1914-1918 e 1939-1945, guerras, revoluções e convulsões sociais de todos os tipos têm acompanhado a história da humanidade, confirmando o cenário dramático previsto por Nossa Senhora em Fátima, em 1917, se o mundo continuasse a ofender a Deus com seus pecados.

O Papa Francisco tem falado repetidamente de uma “guerra mundial fragmentada” para descrever esta turbulência global, mas não se pode negar que entre a agressão russa contra a Ucrânia em 22 de Fevereiro de 2022 e a do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, as chamas de uma nova explosão eclodiu violentamente e está envolvendo as fronteiras orientais da Europa, do Mar Báltico até o Mar Vermelho. Mais longe, no Extremo Oriente, a China comunista lança a sua sombra ameaçadora no horizonte internacional.

É natural que a Europa volte o seu olhar para o Ocidente, para os Estados Unidos, que parece ser a única potência mundial capaz de lhe oferecer proteção militar. No entanto, até que o sucessor de Joe Biden tome posse na Casa Branca, em janeiro de 2025, os EUA vivem uma situação de extrema fraqueza. Além disso, foi criada uma polarização entre os dois candidatos presidenciais, Harris e Trump, e sobretudo entre os seus eleitorados, o que sugere a possibilidade de fortes tensões dentro do gigante americano.

Por outro lado, os insistentes apelos à paz do Papa Francisco estão destinados a cair no vazio até que as causas da desordem internacional, tão claramente indicadas na mensagem de Fátima de 13 de julho de 1917, sejam eliminadas: a guerra e todas as catástrofes a ela ligadas são uma consequência dos pecados dos homens. É por isso que “Deus está prestes a punir o mundo através da guerra, da fome e da perseguição à Igreja e ao Santo Padre”.

Mas mesmo sem uma advertência divina tão urgente, cada homem, somente com a luz da razão, pode compreender a existência de um castigo que paira sobre a humanidade. Uma das obras mais importantes da antiguidade, revivida no século XIX pelo Conde Joseph de Maistre [desenho ao lado], é o tratado de Plutarco Sobre os atrasos da justiça ivina. De sera numinis vindicta (versão italiana Lo Studiolo, Sanremo 2023). Precisamente partindo da verdade natural de um Deus que recompensa tudo no céu e na terra, o filósofo de Queronea aborda o problema da lentidão com que Deus parece punir os ímpios. Plutarco explica como a justiça humana só sabe punir, enquanto Deus tenta reconduzir as almas ao arrependimento e concede um atraso, por vezes longo, para que possam corrigir-se. Deus não teme que, com o passar do tempo, o culpado possa escapar d’Ele. Além disso, acrescenta, se a punição seguisse imediata e infalivelmente a culpa, não haveria mais vício ou virtude, porque alguém se absteria do mal como se abstém de se atirar no fogo. “A lei que regula a vida das almas é muito diferente: o castigo é adiado porque Deus é bom, mas é certo porque Deus é justo”.

Todos os povos, todas as civilizações acreditaram que as guerras e as catástrofes naturais, como a fome e as epidemias, são consequência dos pecados dos homens. Das três calamidades que Deus usa para punir os homens, a pior, segundo o Padre Eusebio Nieremberg (1595-1658), é a guerra, quer porque as outras duas se sucedem a esta, quer porque a guerra traz consigo castigos maiores e, o que é pior, também leva a pecados maiores, desencadeando a violência das paixões humanas mais do que as epidemias e as fomes (Tempo e eternidade. Normas da sabedoria cristã, L.I.C.E., Turim 1933, p. 310).

Dois anos e meio após a eclosão do conflito russo-ucraniano, The Wall Street Journal levanta a hipótese de um número global de um milhão, incluindo mortos e feridos, enquanto dezenas de milhares seriam vítimas da guerra no Oriente Médio. Mas serão estas as verdadeiras guerras que hoje ensanguentam o mundo?

Choramos pelo destino das crianças enterradas sob as bombas em Gaza, mas não se derramam lágrimas pelo maior genocídio dos séculos XX e XXI, que é o do aborto: milhões de crianças são desmembradas, retalhadas, nos úteros de suas mães, e tudo isso é reivindicado como um “direito civil”. Como podemos negar a existência de uma guerra feroz e global contra o direito à vida destes pequenos seres humanos inocentes? E como podemos negar que nesta guerra estão envolvidos chefes de Estado, como o presidente francês Macron, que gostaria de introduzir o aborto na constituição europeia, e o primeiro-ministro belga Alexander De Croo, que gostaria de impedir o Papa de decidir sobre esta questão moral muito séria? Não são também “assassinos” como os médicos que praticam assassinatos na sala de cirurgia?

O espectro da guerra nuclear aterroriza o homem comum, que se lembra das imagens arrepiantes de Hiroshima e Nagasaki, mas hoje há uma guerra contínua contra a família, com efeitos, em nível espiritual e moral, mais devastadores do que um massacre nuclear. Essa guerra foi cuidadosamente planejada e arrasou famílias inteiras, decapitando a autoridade paterna, espalhando o veneno radioativo da anarquia e do pansexualismo, pulverizando os laços sociais. Se os efeitos desta Revolução moral pudessem ser tornados visíveis, compreenderíamos a vastidão das crateras que engolem a família e a gravidade das queimaduras que hoje assolam moralmente homens, mulheres e crianças.

E o que dizer da guerra externa contra a Igreja e a civilização cristã, e a ainda mais grave que ocorre internamente? O que foi o glorioso Cristianismo ocidental aparece como uma pilha de escombros, em torno da qual rondam abutres e chacais. Esta não será a cidade em ruínas de que fala o Terceiro Segredo de Fátima, quando descreve o Santo Padre subindo em direção a uma montanha onde encontrará a morte, mas “antes de lá chegar, atravessou uma grande cidade meio em ruínas e meio trêmulo com passos vacilantes, afligido pela dor e pela tristeza, rezou pelas almas dos cadáveres que encontrou no seu caminho”?

Na cidade em ruínas, uma catedral desfigurada é uma lembrança do seu antigo esplendor. Desmoronou-se, mas a vida ainda pulsa dentro dela; é a vida sobrenatural do Santíssimo Sacramento que não cessa de produzir os seus efeitos, em oposição aos destrutivos dos inimigos, enquanto alguns guerreiros defendem as pedras e as memórias da cidade, confiando numa vitória que só o Céu pode agora dar.

Essa vitória não só devolverá ao Cristianismo um novo esplendor, mas salvará o mundo do caos, restituindo o sentido à vida, restaurando a família, a Igreja e toda a sociedade. Só Deus pode fazê-lo, mas Nossa Senhora é capaz de obter esta graça para o mundo.

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Fonte: As guerras que sangram o mundo - por Roberto de Mattei | Correspondência romana (corrispondenzaromana.it)

5 de outubro de 2024

NICOLÁS MADURO NOS PASSOS DE FIDEL CASTRO

No dia 1º começou, por decreto de Maduro (dono até do tempo...), o Natal na Venezuela, mas a grande maioria da população não tem dinheiro sequer para comprar metade de um frango para a ceia de Natal


Um bizarro “decreto de Natal” como “cortina de fumaça” para esconder o caos venezuelano e evitar que o povo continue falando sobre as fraudes eleitorais e as táticas de repressão 

Paulo Roberto Campos

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 886, outubro/2024



E
m meio a uma das mais graves crises que atravessa a Venezuela — como tratamos extensamente na edição anterior —, de modo acentuado devido às eleições de 28 de julho, bem como a um “apagão” que atingiu 80% do país, o ditador Nicolás Maduro decretou que neste ano o Natal será antecipado. 

Segundo ele, será para manifestar sua gratidão ao povo por tê-lo “escolhido” para um terceiro mandato: “Vou decretar o adiantamento do Natal para o dia 1º de outubro”, declarou, no último dia 2 de setembro, durante seu programa de auditório semanal na televisão. “No dia 1º de outubro começa o Natal para todos e todas. Chegou o Natal com paz, felicidade e segurança”

Será um delírio a mais do ditador para que o povo comece a falar de outra coisa — como dessa extravagância — e não mais do “apagão” e, sobretudo, das tão evidentes fraudes eleitorais? 

Como se sabe, Maduro obteve apenas cerca de 30% dos votos, enquanto seu opositor, Edmundo González Urrutia, alcançou quase 70%. Tudo exaustivamente comprovado por instituições independentes. 

Entretanto, o Supremo Tribunal da Venezuela e o Conselho Nacional Eleitoral declararam Maduro vencedor, e ponto final. Já vimos várias vezes esse filme. Assim funcionam as ditaduras marxistas, comprovando mais uma vez que Maduro segue à risca a recomendação do seu mentor Josef Stalin: “O que importa não é o voto, é como contamos os votos”.

Vitelio Brustolin, pesquisador de Harvard e professor de Relações internacionais, resumiu bem este tão extravagante “decreto de Natal”, dizendo que se trata de “cortina de fumaça para a fraude eleitoral [...]. É uma distração, enquanto continua a prender opositores”

* * * 


O bizarro decreto de Natal antecipado trouxe-me a lembrança um artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira na “Folha de S. Paulo (13-12-1970), intitulado “Açúcar amargo, Natal sem luzes”. 

Entre outros acontecimentos, o brilhante articulista comenta uma notícia publicada também na “Folha de S. Paulo” sobre uma declaração de Fidel Castro prorrogando as festas tradicionais de Natal e Ano Novo. Diz a notícia: 

“Ao declarar-se ‘respeitador das tradições’ Castro entretanto assinalou ‘serem muito cristãs, muito belas e muito poéticas, porém constituem um fenômeno subjetivo que nos trouxeram da Europa’”. 

Então o Prof. Plinio escreveu: 

“Assim, para Fidel Castro o Natal não passa de ‘um fenômeno subjetivo que nos trouxeram da Europa’. Este o homem que desceu de Sierra Maestra ostentando um enorme rosário ao pescoço para embair os católicos de seu país. Cuidado, leitor, cuidado. Não dê crédito a alguém só porque se diz católico. Estamos na época da hipocrisia, em que Satanás por vezes se faz sacristão, por vezes padre e... prefiro não continuar. 

“Leitor amigo, posso pedir-lhe algo para o Natal? Posso pedir-lhe o presente de uma prece?

“Quando rezar ao pé do presépio, ou quando se sentar feliz para a ceia de Natal, lembre-se do Natal negro, sem festas nem luzes, de um povo irmão que nessa mesma noite, a essa mesma hora, está na escuridão, dormindo exausto para retomar no dia imediato a produção do açúcar amargo, resultante do trabalho escravo. Lembre-se de Cuba [...].

“E reze pelo Brasil, caro leitor, para que jamais lhe ocorra desgraça igual”.

Edmundo González Urrutia e sua filha Carolina, asilados na Espanha, são recebidos no Palácio “La Moncloa” pelo primeiro ministro Pedro Sánchez.


 Apenas como breve atualização da matéria sobre a situação caótica da Venezuela, publicada na edição anterior desta revista, devemos acrescentar quatro questões relevantes:

1 — Maduro pediu o encarceramento do candidato eleito, Edmundo González Urrutia, e a Procuradoria-Geral da Venezuela oficializou o pedido a um tribunal especializado em crimes de terrorismo! E, logo em seguida, o Ministério Público emitiu a ordem de prisão. Ou seja, obedeceu exatamente ao que mandou o sucessor de Hugo Chávez. 

Tal órgão acusou González Urrutia de prática de crimes terroristas relacionados com as eleições, “incitação à desobediência às leis e conspiração”. Para não ser jogado na prisão, talvez para o resto de sua vida, González pediu e obteve asilo na Espanha. Assim, desde o dia 8 de setembro ele se encontra em Madrid. 

2 — A própria ONU teve de reconhecer, no dia 17 de setembro, que o governo totalitário de Maduro recrudesceu ainda mais as táticas repressivas após as últimas eleições. E isto “de forma consciente e planejada”, e que as perseguições para liquidar com os opositores “não são atos isolados ou aleatórios, e sim parte de um plano contínuo e coordenado para silenciar, desanimar e esmagar a oposição ao governo”

3 — Tal foi o escândalo das fraudes eleitorais, que até o Parlamento Europeu teve de aprovar, no dia 19 de setembro, uma resolução reconhecendo o líder da oposição da Venezuela, Edmundo González Urrutia, como o presidente legítimo e democraticamente eleito do país. 

Na resolução, os eurodeputados pedem que a União Europeia e seus Estados-membros façam todo o possível para que González Urrutia possa assumir a Presidência venezuelana no próximo dia 10 de janeiro. 

Eis um trecho da resolução: “O respeito à vontade do povo venezuelano expressa nas eleições continua sendo o único caminho para que a Venezuela restabeleça a democracia, possibilite uma transição pacífica e autêntica e resolva a atual crise humanitária e socioeconômica.” 

4 — O regime comunista de Cuba comunicou, no dia 16 de setembro, a diminuição de um quarto no peso da ração diária de pão subsidiado. A falta da farinha de trigo em Cuba, onde o pão é alimento básico, é extremamente penoso para os cubanos, que precisam enfrentar filas para obterem um pãozinho de 60 gramas. Ademais, na ilha da família Castro, agravou-se ainda mais neste ano a escassez extrema de alimentos, de produtos de higiene e limpeza, de combustíveis e remédios. Sem falar dos constantes apagões. A perspectiva para eles é de um Natal “amargo e sem luzes”

* * * 

Devido à apocalíptica situação de nossos irmãos cubanos e venezuelanos, devemos rezar por eles. Não permita Deus que o calvário da Venezuela se prolongue como o de Cuba, e que ambas nações se vejam o quanto antes livres dessa cruel tirania comunista. 

Por fim, peçamos a Nossa Senhora Aparecida que afaste do Brasil semelhante desgraça, a fim de que, irmanado às demais nações latino-americanas nossos governos jamais sigam os passos de Fidel Castro e de seus sequazes...

4 de outubro de 2024

“Mineração e eleição só depois da apuração”



Nas vésperas das eleições municipais, seguem alguns pensamentos para levarmos em consideração no próximo domingo 


“Para vencer, não devem os candidatos procurar ajustar suas campanhas eleitorais ao quadro-fiction de uma opinião pública brasileira socialo-comunista. Falem com timbre claro, leal e valente, a linguagem que os setores centristas e até reacionários da opinião pública gostam de ouvir. E as urnas lhes dirão que terá vencido o candidato que falou ao Brasil real, e não o que tenha falado a um Brasil irreal, um Brasil-fiction, paraíso dos comunistas e de seus vizinhos ideológicos.” (Plinio Corrêa de Oliveira) 

 

“Em ano eleitoral o ar está cheio de discursos. E vice-versa.” (François-Joseph Nolau)

 

“Fala-se em liberdade para matá-la, em democracia para destruí-la, em legalidade para negá-la em sua própria essência. As palavras adquirem sentido oposto ao seu significado, e os homens afetam sentimentos nobres para justificar, na perplexidade das ideias, a política dos mais baixos instintos.” (Carlos Lacerda

 

“O silêncio dos povos é lição para os governantes.” (Provérbio francês)

 

“Nunca se mente tanto quanto antes de uma eleição, durante uma guerra e depois de uma pescaria...” (Otto von Bismarck

 

“Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas, por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo” (Abraham Lincoln

 

“O coração do sábio o inclina para a direita, mas o coração do tolo o inclina para a esquerda. Quando o tolo vai pelo caminho, falta-lhe o entendimento, e assim mostra a todos que é tolo” (Eclesiastes 10, 2-3

 

“Alguns usam a estatística como os bêbados usam os postes: mais para apoio do que para iluminação” (Andrew Lang

 

“Todos nós, políticos, sabemos o que é preciso fazer. Só não sabemos como ser reeleitos depois”. (Jean-Claude Juncker

 

“Quando a política penetra no recinto dos Tribunais, a Justiça se retira por alguma porta”. (François Guizot

 

“Um povo que elege corruptos, impostores, ladrões e traidores, não é vítima, é cúmplice”. (George Orwell


2 de outubro de 2024

Nas difíceis circunstâncias dos nossos dias, o grandioso legado de Plinio Corrêa de Oliveira

 


Fonte: Editorial da Revista Catolicismo, Nº 886, outubro/2024 

Para matéria de capa da edição de outubro de Catolicismo — no mês em que a revista costuma recordar de modo especial o falecimento de seu principal colaborador e inspirador, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da TFP brasileira, ocorrido em 3 de outubro de 1995 —, se escolheu reproduzir o texto de uma brilhante conferência de Juan Miguel Montes, colaborador de Catolicismo em Roma, onde reside desde 1981. 

Em sua palestra proferida durante um congresso em 2021, ele apontou muito bem como o pensamento pliniano continua presente em nosso século, irradiando e inspirando grupos contra-revolucionários no Brasil e em quase todos os países dos cinco continentes. 

E comprovou a atualidade e penetração desse pensamento contra-revolucionário na opinião pública, como explicitado em Revolução e Contra-Revolução, obra magna do Prof. Plinio e livro de cabeceira dos membros das TFPs e do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, bem como de diversos movimentos conservadores contemporâneos. 

Nesse livro, publicado em primeira mão por Catolicismo em 1959, o autor analisa em profundidade todo o processo revolucionário — iniciado com o Protestantismo, passando pelas revoluções Francesa, Comunista e da Sorbonne, até os danos causados pela Revolução Cultural, atualmente em curso com laivos de satanismo —, e denuncia esse processo e seu objetivo: a completa descristianização da humanidade e a implantação de uma sociedade primitiva e tribalista. 

Para alcançar tal objetivo, os mentores destas revoluções contaram com a crise na Igreja Católica, instituição sem a qual não conseguiriam avançar na meta de destruição da Cristandade. Donde o processo de “autodemolição” da Igreja ao qual se referiu Paulo VI.

Juan Miguel cita, por exemplo, as palavras do antigo Arcebispo de Guayaquil (Equador), Cardeal Bernardino Echeverría, por ocasião da morte do fundador da TFP: “Plinio Corrêa de Oliveira dedicou todas as suas energias, durante sua longa e fecunda vida, à luta intrépida contra o processo de secularização revolucionária, no sentido de recristianizar a ordem temporal na perspectiva do Reino de Cristo, do Reino de Maria.” 

Como fica então essa recristianização do mundo, o grande ideal de Plinio Corrêa de Oliveira, tendo ele passado seus últimos dias nesta Terra em outubro de 1995? — Os princípios defendidos por ele continuam vivos em seus discípulos e admiradores que perseveram no bom combate da ação contra-revolucionária nos quatro cantos do mundo; naqueles que mantêm fidelidade à sua escola de pensamento, como os leitores da revista compreenderão melhor com a leitura da referida matéria que se inicia à pág. 26.