Blog da Família
4 de agosto de 2022
No Bicentenário da Independência do Brasil, algumas reflexões históricas
20 de julho de 2022
PEREGRINANDO DENTRO DE UM OLHAR
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Foto: Felipe Del Campo |
Parte III. Em continuação ao post de ontem, "LÁGRIMAS... — UMA ADVERTÊNCIA AO MUNDO!"
http://blogdafamiliacatolica.blogspot.com/2022/07/lagrimas-uma-advertencia-ao-mundo.html
·
Plinio Corrêa de Oliveira
“Folha de S. Paulo”, 12-11-1976
Fisionomia igual não
conheço. Tenho-a bem diante de mim, e, movido pelo hábito inveterado de tudo
observar e explicar para meu próprio uso, fito-a com atenção. E de repente
percebo que entro dentro dela.
Sim, essa fisionomia
única como que deflui da face e especialmente dos olhos. Envolve-me no ambiente
que ela cria. Ao mesmo tempo, convida-me a entrar fundo no seu olhar.
— Que olhar! Nenhum
é tão límpido, tão franco, tão puro, tão acolhedor. Em nenhum se penetra com
tal facilidade. Contudo, nenhum também apresenta profundidades que se perdem em
tão longínquo horizonte. Quanto mais dentro desse olhar se caminha, tanto mais
ele atrai para um indescritível ápice interior e profundo.
— Que ápice? — O
estado de alma que eu seria tentado a dizer cheio de paradoxo, se a palavra
"paradoxo", da qual tanto se abusa na linguagem corrente, não me
morresse nos lábios por desrespeitosa.
Toda perfeição — diz
a Escola — resulta do equilíbrio de contrários harmônicos. De nenhum modo é um
equilíbrio precário entre contradições flagrantes (e, dizendo-o, penso nesta
pobre paz, esclerosada e vacilante, que o mundo contemporâneo procura preservar
à custa de tantas concessões e tantas vergonhas), mas uma harmonia suprema
entre todas as formas de bem.
É precisamente este
vértice, no qual todas as perfeições se conjugam, que vejo erguer-se no fundo
desse olhar. Vértice incomparavelmente mais alto do que as colunas que
sustentam o firmamento. Vértice do alto do qual um imperativo cristalino,
categórico, irresistível exclui toda forma de mal, por mais leve e miúdo que
seja.
Pode alguém passar a
vida inteira caminhando dentro desse olhar, sem jamais tocar nesse vértice. —
Caminhada inútil? — Não. Dentro desse olhar não se anda; voa-se. Não se
passeia; faz-se peregrinação.
Aquela montanha
sagrada, súmula de todas as perfeições criadas, o peregrino, sem jamais
alcançá-la, cada vez a vê mais claramente à medida que voa em direção a Ela.
Ao longo desta
peregrinação da alma, o olhar no qual voa, já não o envolve, apenas. Mas
penetra nele. Quando o peregrino cerra os olhos, julga vê-lo à maneira de luz
no mais profundo de si mesmo. Tenho a impressão de que, se durante toda a vida,
ele for fiel nesse voo, quando cerrar definitivamente os olhos, esta luz
brilhará no fundo de sua alma por toda a eternidade.
O olhar é a alma da
fisionomia. — Que fisionomia essa, que tenho diante de mim! A um tolo,
pareceria inexpressiva. A um observador destro ela manifesta uma plenitude de
alma maior do que a História, porque toca na eternidade. Maior do que o
universo, porque espelha o infinito.
A fronte parece
conter cogitações que, a partir de um Presepe e a terminar em uma Cruz, abarcam
todo o acontecer humano.
![]() |
Foto: Paulo Campos |
A face toda, o
nariz, cuja linha possui um “charme mais
belo do que a beleza” segundo diz o poeta, os lábios silenciosos, mas que
dizem tudo a todo momento, parecem louvar a Deus em cada criatura segundo as
características de cada uma; e pedir a Deus por toda miséria como se estivesse
a condoer-se das peculiaridades de cada uma delas... Estes lábios têm uma
eloquência perto da qual a de Demóstenes ou a de Cícero não seriam senão
barulheira. — O que dizer da cútis: nívea? — O qualificativo diz tudo e não diz
nada. Pois, para descrevê-la seria preciso imaginar um níveo que deixasse
reluzir em sua profundidade, com discrição infinita, todos os matizes do
arco-íris, e com isso mesmo inspirasse na alma de quem a contempla todos os
encantos da pureza.
Sim, peregrinei
neste olhar tão cheio de surpresas. E, inesperadamente, percebo que o olhar
peregrina ao mesmo tempo dentro de mim. Pobre e misericordiosa peregrinação,
não de esplendor a esplendor, mas de carência a carência, de miséria a miséria.
É só abrir-me a ele que, para cada defeito, ele me oferece um remédio, para
cada obstáculo uma ajuda, para cada aflição uma esperança.
Mas, afinal, quem
tenho diante de mim? — Uma imagem de madeira como tantas outras, sem nenhum
valor artístico especial.
É só fitá-la,
entretanto, que, sem se mover, sem a mínima transformação, essa Imagem começa a
fazer luzir todos esses esplendores.
— Como? — Não sei
também. Mas se o leitor quiser, venha ver.
É a Imagem de Nossa
Senhora de Fátima, a qual verteu lágrimas em Nova Orleans, a propósito dos
pecados dos homens e dos castigos que estes assim acumulam sobre si.
Por toda parte aonde
vai, a Imagem atrai multidões. Há pouco, em Caracas, só em um dia, 40 mil
pessoas. Ela está vindo de Fortaleza, onde cerca de 10 mil bravos cearenses a
veneraram. No Crato, em 10 horas, 8 mil pessoas afluíram para vê-la e rezar
ante Ela. Em Recife foram 5 mil.
Insisto, leitor. Se
crês na descrição que fiz, convido-te a que faças por tua vez esta magnífica
peregrinação dentro do olhar da Virgem. Se não crês, vem ver; melhor convite eu
não poderia te fazer.
Reza então por ti.
Reza pela Santa Igreja conturbada e atormentada como nunca. E por esse enorme
Brasil de Maria.
19 de julho de 2022
LÁGRIMAS, MILAGROSO AVISO
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No ano de 1917, Lúcia, Francisco e Jacinta tiveram várias visões de Nossa Senhora em Fátima |
Em continuação ao post de ontem, "LÁGRIMAS... — UMA ADVERTÊNCIA AO MUNDO!"
http://blogdafamiliacatolica.blogspot.com/2022/07/lagrimas-uma-advertencia-ao-mundo.html
✅ Plinio Corrêa de Oliveira
“Folha de S. Paulo”,
6-8-1972
A imprensa diária de
São Paulo publicou [em 21 de julho de 1972] uma fotografia procedente de Nova
Orleans, na qual se via uma imagem de Nossa Senhora de Fátima a verter
lágrimas. O documento despertou vivo interesse no público paulista. Penso,
pois, que algumas informações sobre este assunto satisfarão os justos anelos de
muitos leitores.
Não conheço melhor
fonte sobre a matéria do que um artigo intitulado, muito americanamente, “As
lágrimas da imagem molharam meu dedo”. Seu autor é o Pe. Elmo Romagosa.
Publicou seu trabalho o “Clarion Herald” (20 de julho de 1972), semanário de
Nova Orleans, e distribuído em 11 paróquias do Estado de Louisiana.
Os antecedentes do
fato são universalmente conhecidos. No ano de 1917, Lúcia, Jacinta e Francisco
tiveram várias visões de Nossa Senhora em Fátima. A autenticidade dessas visões
foi confirmada por vários prodígios no sol, atestados por toda uma multidão
reunida enquanto a Virgem se manifestava às três crianças.
Em termos genéricos,
Nossa Senhora incumbiu os pequenos pastores de comunicar ao mundo que estava
profundamente desgostosa com a impiedade e a corrupção dos homens. Se estes não
se emendassem, viria um terrível castigo, que faria desaparecer várias nações.
A Rússia difundiria seus erros por toda parte. O Santo Padre teria muito que
sofrer.
O castigo só seria
obviado se os homens se convertessem, se fosse consagrada a Rússia e o Mundo ao
Imaculado Coração de Maria e se se fizesse a Comunhão reparadora dos primeiros
sábados de cada mês.
Isto posto, a
pergunta que naturalmente salta ao espírito é se os pedidos foram atendidos.
Pio XII fez, em
1942, uma consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria. A Irmã Lúcia
asseverou que ao ato faltaram algumas das características indicadas por Nossa
Senhora. Não pretendo analisar aqui o complexo assunto. Registro apenas, de
passagem, que é discutível se o primeiro pedido de Nossa Senhora foi atendido,
ou não.
Quanto ao segundo
pedido, isto é, a conversão da humanidade, é tão óbvio que não foi atendido,
que me dispenso de entrar em pormenores.
Como Nossa Senhora
estabeleceu o atendimento de seus pedidos, como condição para que fossem
desviados os flagelos apocalípticos por Ela previstos, está na lógica das
coisas que baixe sobre a humanidade a cólera vingativa e purificadora de Deus,
antes de vir a nós a conversão dos homens e a instauração do Reino de Maria.
Das três crianças de
Fátima, a única sobrevivente é a irmã Lúcia, hoje religiosa carmelita em
Coimbra [nd: 33 anos após publicação deste artigo, ela falecera naquela cidade
portuguesa]. Sob a direção imediata desta última, um artista esculpiu imagens,
que correspondem quanto possível aos traços fisionômicos com que a Santíssima
Virgem apareceu em Fátima. Essas imagens, chamadas "peregrinas", têm
percorrido o mundo, conduzidas por sacerdotes e leigos. Uma delas foi levada
recentemente a Nova Orleans. E ali verteu lágrimas.
O Pe. Romagosa,
autor da crônica a que me referi, tinha ouvido falar dessas lacrimações pelo
Pe. Breault, ao qual está confiada a condução da imagem. Entretanto, sentia ele
funda relutância em admitir o milagre. Por isto, pediu ao Pe. Breault que o
avisasse assim que o fenômeno começasse a se produzir.
O Pe. Breault,
notando alguma umidade nos olhos da imagem, no dia 17 de julho, telefonou ao
Pe. Romagosa, o qual acorreu junto à imagem às 21:30, trazendo fotógrafos e
jornalistas. De fato, notaram todos alguma umidade nos olhos da imagem, que foi
logo fotografada. O Pe. Romagosa passou então o dedo pela superfície úmida, e
recolheu assim uma gota do líquido, que também foi fotografada. Segundo o Pe.
Breault, esta era a 13ª lacrimação da imagem.
Às 6:15 horas da
manhã seguinte, o Pe. Breault telefonou novamente ao Pe. Romagosa informando-o
de que desde as quatro horas da manhã, a imagem chorava. O Pe. Romagosa chegou
pouco depois à Igreja, onde, diz ele, “vi uma abundância de líquido nos olhos da
imagem, e uma gota grande de líquido na ponta do nariz da mesma”.
Foi essa gota, tão graciosamente pendente, que a fotografia da “Folha de S.
Paulo” mostrou a nosso público.
O Pe. Romagosa
acrescenta que vira “um movimento do líquido enquanto surgia
lentamente da pálpebra inferior”.
Mas o Pe. Romagosa
queria eliminar dúvidas. Notara ele que a imagem tinha uma coroa fixada na
cabeça por uma haste metálica. Ocorreu-lhe uma pergunta: não haveria sido
introduzida, no orifício em que penetrava a haste, certa porção de líquido que
depois escorrera até os olhos da imagem?
Cessado o pranto, o
Pe. Romagosa retirou a coroa da cabeça da imagem: a haste metálica estava
inteiramente seca. Introduziu ele, então, no orifício respectivo, um arame
revestido de papel especial, que absorveria forçosamente todo líquido que ali
estivesse. Mas o papel saiu absolutamente seco.
Ainda não satisfeito
com tal experiência, o Pe. Romagosa introduziu no orifício certa quantidade de
líquido. Sem embargo, os olhos se conservaram absolutamente secos. O Pe.
Romagosa voltou então a imagem para o solo: todo o líquido introduzido no
orifício escorreu normalmente. Estava cabalmente provado que do orifício da
cabeça — único existente na imagem — nenhuma filtração de líquido para os olhos
seria possível.
O Pe. Romagosa
ajoelhou-se. Enfim ele acreditara.
Foto atual da Imagem
Peregrina que chorou
em Nova Orleans.
“Mas, dirá alguém, esta
não é uma meditação própria para um ameno domingo”. Não é preferível —
pergunto — ler hoje este artigo sobre a suave manifestação da profética
melancolia de nossa Mãe, a suportar os dias de amargura trágica que, a não nos
emendarmos, terão que vir?
Se vierem, tenho por
lógico que haverá neles, pelo menos, uma misericórdia especial para os que, em
sua vida pessoal, tenham tomado a sério o milagroso aviso de Maria.
É para que minhas
leitoras, meus leitores, se beneficiem dessa misericórdia, que lhes ofereço o
presente artigo...
O misterioso pranto
nos mostra a Virgem de Fátima a chorar sobre o mundo contemporâneo, como
outrora Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém. Lágrimas de dor profunda, na
previsão do castigo que virá.
Virá para os homens
de nosso século, se não renunciarem à impiedade e à corrupção. Se não lutarem
especialmente contra a autodemolição da Igreja, a maldita fumaça de Satanás
que, no dizer do próprio Paulo VI, penetrou no recinto sagrado.
Ainda é tempo, pois,
de sustar o castigo, leitor, leitora!
______________
*
Cfr. Paulo VI, Alocuções de 7-12-68 e 29-6-72.
18 de julho de 2022
LÁGRIMAS... — UMA ADVERTÊNCIA AO MUNDO!
Meio
século de um grandioso milagre: em julho de 1972, em Nova Orleans (EUA),
lágrimas humanas correram pela face virginal de uma das imagens peregrinas de
Nossa Senhora de Fátima. 50 anos depois, a Santíssima Virgem continua sendo
ofendida e, portanto, com motivos para chorar ainda mais, em consequência da
degringolada geral da sociedade, tanto temporal quanto espiritual. — Lágrimas também de dor na
previsão do castigo que está prestes a punir a humanidade.
✅ Oscar Vidal
No dia 18 de julho de 1972, enquanto era venerada em uma igreja da cidade americana de Nova Orleans, uma das quatro imagens “peregrinas internacionais” de Nossa Senhora de Fátima verteu lágrimas humanas 14 vezes.
50 anos de um pranto milagroso, devidamente
comprovado, testemunhado por muitas pessoas e divulgado em diversos jornais do
Brasil e do exterior, inclusive estampando a pungente fotografia do milagre: a
bela imagem com os olhos lacrimejantes e uma lágrima nobremente pendente no
nariz. A “Folha de S. Paulo” de 21-7-72, por exemplo, publicou-a com destaque na
primeira página [foto acima]
A
fim de se obter mais comprovações para o prodígio, o Padre Elmo Romagosa fez várias
experiências, e não encontrando explicação natural, caiu de joelhos, passando a
crer naquele autêntico milagre.
Inexplicável mutação fisionômica da imagem
Uma das características mais impressionantes dessa sagrada e milagrosa imagem de Nossa Senhora de Fátima é a sua mutação de fisionomia. Por incrível que pareça, sem mover os traços de sua face, ela parece mudar de expressão fisionômica, como que “falando” profundamente às almas dos que a veneram. Muitos fiéis atestaram esse prodígio, testemunhando uns que a viam serena, outros triste, outros apreensiva, alegre, caridosa, afável. A cada um a imagem “falava” de um modo diferente, de acordo com as necessidades individuais.
Entre
os diversos comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a tal respeito, eis
um, especialmente significativo:
“Ora mostrando apreensiva e até aflita [A imagem da Virgem], como quem considera a crise catastrófica da Igreja e da civilização cristã; ora interrogativa, como quem nos dirige à alma uma pungente indagação sobre nossas cogitações e nossas vias, para nos convidar à seriedade e à emenda de vida; ora plácida, como para nos comunicar serenidade celeste, tão diversa dos nervosismos contemporâneos; ora, enfim, sorridente e meiga, para despertar em nós a confiança e unir-nos a Ela; entretanto os traços da imagem jamais esboçaram o menor movimento, ao contrário das faces terrenas, que só com algum movimento podem mudar de expressão. Fato único e admirável, que constitui a cada minuto um convite da bondade de Nossa Senhora. Convite, sim, para que nos associemos aos estados de alma assim expressos. E sobretudo para que nos deixemos elevar ao inefável nível espiritual, que através desses estados de alma se nos torna sensível”.
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Em maio de 1973, a Imagem Peregrina desembarcou no aeroporto de Congonhas, na capital paulista |
O Brasil honrado com a presença
da Augusta Visitante
Esculpida
em cedro brasileiro sob a orientação direta da Irmã Lúcia — para que lembrasse
ao máximo possível a fisionomia da Santíssima Virgem durante suas aparições na
Cova da Iria —, a abençoada imagem de Nossa Senhora esteve algumas vezes no
Brasil. Sua primeira honrosa visita se deu em 1973, e a última em 2017. Fomos agraciados
com o privilégio de ser o primeiro país a receber a Augusta Visitante após seu
pranto em Nova Orleans!Na Sede do Conselho Nacional
da TFP,
em São Paulo
Com
leves alterações, seguem trechos de um relato sobre essas
visitas-peregrinações, que redigi para uma matéria publicada em julho de 2002:
“Em
maio de 1973, desembarcou no aeroporto de Congonhas, na capital paulista, a
Imagem da Senhora de Fátima que comprovadamente verteu lágrimas em Nova
Orleans, cabendo à TFP brasileira a honrosa incumbência de trasladá-la.
Primeiramente ela ficou na Sede do Conselho Nacional da TFP, em São Paulo,
depois percorreu várias cidades do Norte fluminense e retornou aos Estados
Unidos.
A
maravilhosa e sagrada imagem concedeu-nos a imerecida graça de voltar diversas
vezes ao Brasil, a fim de visitar outros Estados da Federação. Durante suas peregrinações
ela atraiu multidões, ocorreram muitas conversões e várias pessoas atestaram
que foram curadas.
—
“Nossa Senhora me comoveu, tenho que mudar de vida!”
—
“Ela parecia que me falava!”
— “A
imagem mudou de expressão!”
—
Olha! Ela está tão triste que parece que vai desmaiar!”
— “Senti que ela sorriu para mim!”
Na cidade de Campos,
no Norte fluminense
Esses
comentários e outros análogos eram habituais. Sem dúvida, como já referimos, a
imagem — de modo prodigioso e com expressões fisionômicas diferentes — parece
“falar” no fundo do coração de cada um, amoldando-se ao estado de espírito e
conveniências de cada qual naquele momento.
Em
um de seus artigos para a “Folha de S. Paulo” (12-11-1976) — posteriormente
reproduzido em diversos jornais do exterior —, Plinio Corrêa de Oliveira fez
uma pungente narrativa daqueles admiráveis olhos que lacrimejaram. Esse artigo,
intitulado “Peregrinando dentro de
um olhar”, será aqui postado amanhã.
Nossa Senhora atrai multidões de brasileiros
Nas
cidades que a imagem da Rainha do Céu percorreu, ela era sempre acolhida
apoteoticamente [fotos??].
Em muitas ocasiões, fogos de artifício anunciavam sua entrada, algumas vezes
transportavam-na no alto de carros de bombeiros, e chuvas de pétalas de rosa,
lançadas pelos devotos, caíam por onde passava. Era comum contemplar as janelas
das casas adornadas com belas toalhas, flores e velas, em homenagem à celestial
visitante que passava em procissão.
Eis
o trecho de relato de um membro da TFP que a acompanhou por várias cidades da
Zona da Mata de Minas Gerais: “Em todos os lugares em que tenho estado, são
milhares de pessoas que vêm visitar a sagrada imagem todos os dias [...]
Há um momento em que os guardiães da imagem podem tocar nela objetos
pertencentes ao público, então formam-se filas enormes. São rosários tocados
nos pés da imagem, santinhos, fitas, medalhas, livros, alianças, flores etc.
Não apenas objetos de piedade, mas também lembranças de família, como
certidões, joias etc., e até mães que pedem para tocar seus bebês”.
“Este
olhar me converteu, vou confessar-me”
A
partir de 1976, toda a América do Sul foi agraciada com a visita da Augusta
Peregrina, que percorreu todos os países do continente, entre aquele ano e
1985. Em todas as cidades onde ficava exposta, intérminas filas de devotos se
formavam, à espera da oportunidade de rezar diante de sua milagrosa imagem. Em Caracas (Venezuela).
Diversas
pessoas afastadas havia muito dos sacramentos, ao contemplarem a imagem se
convertiam, abandonavam a vida pecaminosa e retornavam à prática da virtude.
“Este
olhar me converteu, vou confessar-me”,
afirmou um senhor de Mérida (Venezuela), após passar alguns instantes
diante da Virgem de Fátima. Ele voltou a frequentar os sacramentos depois de 40
anos... 11 mil pessoas foram venerá-la nessa cidade. Na capital venezuelana, em
um único dia acorreram mais de 40 mil fiéis.
São
páginas e páginas de relatos e milhares de repercussões registradas durante
essas peregrinações pelo Brasil e pelo mundo, que se torna quase impossível
transcrevê-los. A título de amostragem, quando a imagem chegou ao aeroporto da
capital colombiana, um embaixador sul-americano ofereceu sua Mercedes para
trasladá-la. Dispensou o motorista, e ele próprio assumiu o volante, dizendo: “Ante
a Virgem, o embaixador é o último dos homens”. Medellín (Colômbia)
A
milagrosa imagem não cingiu sua presença às capitais, mas estendeu-a a cidades
menores, até mesmo a pequenos povoados, deixando todos profundamente
emocionados e agradecidos. Em muitos desses lugares, as pessoas ainda se
recordam do dia de sua visita, sempre trasladada por membros da TFP.
Meio século depois...
50 anos depois, um dos mais
portentosos acontecimentos do século XX é filialmente recordado por um pugilo
de fiéis da Santa Mãe de Deus. Mas e o geral dos homens?Na Sicília, a igreja que guarda o corpo incorrupto de
Santa Ágata
foi vandalizada, o sacrário arrombado,
as partículas jogadas ao chão
e algumas roubadas.
50 anos depois daquelas
sacrossantas lágrimas vertidas, seria um atrevimento dizer que esse milagroso
pranto não foi desprezado.
50 anos depois não diminuíram as
razões da lacrimação, muito pelo contrário. O grau do estado pecaminoso da
humanidade hedonista só piorou, acelerando vertiginosamente o processo revolucionário,
no qual se inserem as Revoluções Protestante, Francesa, Comunista e Cultural.
Para comprová-lo, basta abrir os jornais, ligar a TV ou acessar a internet... O
que vemos? — Dissolução de casamentos, concubinatos, divórcios, amor livre,
diminuição da natalidade, drogas, criminalidade, aumento da gravidez entre
adolescentes, pílulas anticoncepcionais, abortos, modas que caminham para o
nudismo, pornografia, eutanásia, experiências com embriões, tentativas de
clonagens humanas, igualitarismo,
ateísmo, satanismo, progressismo “católico”, blasfêmias e sacrilégios, (des)educação
sexual para crianças, pedofilia, “casamento” homossexual, enfim imoralidades
sem limites despejadas como lixo nos lares, aumentando a cada dia a degradação
moral e a desintegração da família. Toneladas de lixo elaborado adrede por
certas forças visam eliminar o que resta de civilização cristã no mundo.
50 anos de um pranto que revela
ao mesmo tempo a tristeza da Mater Dolorosa e uma advertência, o anúncio de um
castigo, a hora da justiça de Deus, após a qual virá a hora da misericórdia.
Temos a promessa de que, após o mundo ser severamente “flagelado”, como
prenunciado em Fátima, haverá muita provação, mas também muitas e grandes
conversões em todo o orbe. Como na parábola do “filho pródigo” (cfr. Lc 15,
11-32), os filhos arrependidos retornarão com o coração contrito e humilhado à
“casa paterna”, e Nossa Senhora triunfará, estabelecendo seu Reino nesta Terra,
purificada pelas punições divinas.Durante os atos de violência esquerdista no Chile,
em
2020, a turba invadiu a paróquia da Assunção, em Santiago,
quebrou suas imagens e depois a incendiou
Em
artigo publicado na “Folha de S. Paulo” (6-8-1972), intitulado “Lágrimas, Milagroso Aviso” (será postado aqui no próximo dia 20 próximo), o Prof. Plinio nos ajuda a interpretar aquela pungente lacrimação de Nossa
Senhora: um aviso à humanidade prevaricadora por permanecer surda à Mensagem
revelada por Ela em 1917.
Quem
ousaria perguntar por que chorais?
50
anos depois, líderes da maioria das nações procuram extirpar os restos de
sociedade orgânica da antiga Cristandade edificada por Nosso Senhor Jesus
Cristo ao preço de seu Preciosíssimo Sangue. Pode-se dizer que quase todos os
dias se estabelecem leis para desfigurar a Cristandade, a ponto de sua
fisionomia não ser mais reconhecível no mundo contemporâneo. Disso, apenas um exemplo
em um só país: em fevereiro último, a Corte Constitucional colombiana
descriminalizou o aborto até a 24ª semana de gestação. Agora se pode matar um
bebê de seis meses naquele país sem que isso seja considerado um delito. Como
se sabe, muitas crianças nascem prematuramente com essa idade...
No
dia 20 último, diversos jornais publicaram a trágica notícia: “Ex-guerrilheiro
é eleito presidente da Colômbia”. Os periódicos também afirmaram que “é a primeira vez na História que um
candidato de esquerda vence a principal disputa eleitoral do país”. De
fato, eles deveriam noticiar que é de “de extrema esquerda” ou comunista, pois
o novo presidente, Gustavo Petro, militou como guerrilheiro do M-19. Seu governo será formado com
outros partidos de esquerda, inclusive com políticos que “foram” terroristas
das FARC. Triste Colômbia, agora com um presidente alinhado às miseráveis Cuba
e Venezuela.
Agora, todos aqueles
itens que elencamos no subtítulo acima: “Meio
século depois...” — aquele indigesto e longo “desfile” de ignomínias —
serão postos em marcha de modo radical, acelerando o processo de decomposição
da Colômbia “petrista”. Assim, em breve, veremos colombianos — à maneira dos
pobres venezuelanos — fugindo do país e vindo para o Brasil e outras nações.
Não permita Deus que aqui um novo governo petista tome o poder. Se tal desgraça
acontecer, serão brasileiros que daqui estarão fugindo...
Todos esses tristes
fatos só podem contribuir para que a Santíssima Virgem chore.
A
liturgia católica atribui a Nossa Senhora a lamentação do Profeta Jeremias: “Ó vós todos os que passais pelo caminho, parai e vede se
há dor semelhante à minha dor” (Lam
1, 12).
Nesse mesmo sentido, da Via
Sacra composta por Plinio Corrêa de Oliveira, publicada nesta revista
(edição de março de 1951), copiamos um trecho lapidar:
“Quem,
Senhora, vendo-Vos assim em pranto, ousaria perguntar por que chorais? Nem a
Terra, nem o mar, nem todo o firmamento poderiam servir de termo de comparação
à vossa dor. Dai-me, minha Mãe, um pouco, pelo menos, desta dor. Dai-me a graça
de chorar a Jesus com as lágrimas de uma compunção sincera e profunda.
“Sofreis
em união a Jesus. Dai-me a graça de sofrer como Vós e como Ele. Vossa dor maior
não foi por contemplar os inexprimíveis padecimentos corpóreos de vosso Divino
Filho. Que são os males do corpo, em comparação com os da alma? Se Jesus
sofresse todos aqueles tormentos, mas ao seu lado houvesse corações
compassivos! Se o ódio mais estúpido, mais injusto, mais alvar, não ferisse o
Sagrado Coração enormemente mais do que o peso da Cruz e dos maus tratos feriam
o Corpo de Nosso Senhor! Mas a manifestação tumultuosa do ódio e da ingratidão
daqueles a quem Ele tinha amado... a dois passos, estava um leproso a quem
havia curado... mais longe, um cego a quem tinha restituído a vista... pouco
além, um sofredor a quem tinha devolvido a paz. E todos pediam a sua morte,
todos O odiavam, todos O injuriavam. Tudo isto fazia Jesus sofrer imensamente
mais do que as inexprimíveis dores que pesavam sobre seu Corpo.”
Nossa Senhora como
Rainha que está sendo destronada
Se desejamos reparar nossa
indiferença em relação àquelas sublimes lágrimas da Rainha dos Anjos e dos
Homens e nossa ingratidão às graças recebidas, não podemos assistir de braços
cruzados tantas afrontas e ultrajes perpetrados contra Deus e a Santíssima Virgem
por nossos contemporâneos. Recentemente, para dar apenas só mais um exemplo, num
colégio carioca uma professora apresentou aos alunos um cartaz no qual aparece Nosso
Senhor Crucificado e a inscrição: “Bandido
bom é bandido morto” [foto
ao lado?]. Tal infâmia dispensa comentários, mas esta é apenas uma
notícia de incontáveis outras sobre afrontas e ultrajes com que O injuriam e
ridicularizam em filmes, novelas, shows, exposições “de arte”, teatros com
representações profanas, sacrílegas e blasfemas.Recentemente uma professora apresentou
aos alunos
de um colégio carioca um cartaz
com Nosso Senhor Crucificado
e a inscrição:
“Bandido bom é bandido morto”
Considerando esses virulentos ataques —
feitos por vezes até em ambientes católicos com permissão de altas figuras do
clero progressista e esquerdista que promove uma autodemolição da Igreja —, não
podemos abandonar Nosso Senhor e Sua Mãe puríssima; precisamos, além de
desagravar os ofendidos, sair a campo em defesa de seus santíssimos Nomes. Ou
vamos abandoná-Los e continuar de braços cruzados?
Uma metáfora nos proporciona uma clara
visão dessa trágica situação. Ela foi expressa pelo Prof. Plinio em uma
conferência no dia 26 de fevereiro de 1966:
“Nossa
Senhora é como uma Rainha que está sentada no seu trono. A sala está cheia de
inimigos. Os inimigos já Lhe arrancaram o dossel, já tiraram da sua fronte
veneranda a coroa de glória a que Ela tem direito, já Lhe arrancaram das mãos o
cetro. Ela está amarrada para ser morta.
“Dentro
dessa sala cheia de gente poderosa, armada, influente — todos diante da Rainha,
que não faz outra coisa senão chorar —, há também um pugilo de fiéis, e Ela
evidentemente olha para tais fiéis.
“Assim,
ou este olhar faz em nós o que o olhar de Jesus fez em São Pedro, ou não há
mais nada para dizer…
“A
Rainha vai ser arrancada do trono. Pergunta-se: o que nós vamos fazer? Nesta
hora de tal olhar, isso não me interessa? Este olhar não me sensibiliza?
“Poder-se-ia então
perguntar: Quem sou eu? Eu sou o homem para quem Nossa Senhora olhou!
“Mas serei o homem
a quem Ela terá olhado em vão?”
Fidelidade à
mensagem que o milagroso pranto significa
50 anos depois das lágrimas de advertência ao mundo, supliquemos a Nossa Senhora Rainha dos Corações que não permita que façamos parte do imensíssimo número de prevaricadores para os quais Ela olhou em vão, insensíveis ao “milagroso aviso”. E se em algum momento fomos indiferentes às suas lágrimas de dor, que Ela nos perdoe e nos dê fidelidade à mensagem que seu pranto significa, arranque de nossas almas essa indiferença, conceda-nos um coração contrito e humilhado, e nos prepare para o castigo — muito merecido, uma vez que não houve a conversão pedida reiteradamente — que se abaterá sobre todo o gênero humano como profetizado na Cova da Iria em 1917.
Que Ela misericordiosamente nos
coloque no número daqueles de seus filhos que A defendem e lutam pelo
restabelecimento da nova ordem católica no mundo — a renovação espiritual de toda a humanidade —, ou
seja, pela restauração da Cristandade com o advento do Reino de Maria nesta
Terra, que será a plenitude do Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme
profetizou o grande missionário francês do século XVIII, São Luís Maria
Grignion de Montfort:
“Ah!
quando virá este tempo
feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana nos corações, para
submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus? [...] Então,
coisas maravilhosas acontecerão neste mundo [...]. Quando chegará esse tempo
feliz, esse século de Maria, em
que inúmeras almas escolhidas, perdendo-se no abismo de seu interior, se
tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar Jesus Cristo? Esse tempo
só chegará quando se conhecer e praticar a devoção que ensino, ‘Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum
Mariae’”*. (Que venha o Reino de Maria, para que assim venha o vosso
Reino – ou seja, o Reino de Jesus Cristo).
____________
* Tratado da verdadeira
devoção à Santíssima Virgem, São Luís Maria Grignion de Montfort, Editora Vozes, Petrópolis, 1961,
VI edição, tópico 217, pp. 210-211.
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 859, Julho/2022.
14 de julho de 2022
A Revolução Francesa “guilhotinou” o caráter religioso das cerimônias públicas
Coroação de Carlos VII - Eugène Lenepveu (1819–1898). Panteão de Paris.
✅ Plinio Corrêa de Oliveira
11 de julho de 2022
MAGNIFICAT! — Grande e histórico dia na luta contra o aborto
Por fim, depois de quase 50 anos do bom combate contra leis abortistas, os americanos contrários à prática infanticida e os movimentos pró-life venceram uma grande batalha em defesa da vida inocente no seio materno. Mas a guerra ainda não terminou...
✅ Paulo Roberto Campos
Como o dia 22 de janeiro de 1973 foi uma data histórica para os defensores do crime do aborto, o dia 24 de junho de 2022 também passará para a História para aqueles que defendem a vida desde a concepção.
Com efeito, no último dia 24 de junho foi anulada pela Corte Suprema dos EUA, a abjeta e infanticida decisão judicial Roe vs. Wade, aprovada em 1973 por uma trapaça [vide quadro no final] que liberalizou o “direito” ao aborto naquele país, restringindo o poder dos Estados de proibi-lo.
A anulação reverte uma jurisprudência de quase meio século, ao criar outra que facilita a interdição pelos Estados de legislações favorecedoras da prática abortiva. Ademais, terá muita influência nas eleições de novembro, quando se disputará o controle das duas câmaras do Congresso americano.
Convém destacar o alto significado do dia 24 de junho: festividade solene do Sagrado Coração de Jesus e também dia em que se comemora a Natividade de São João Batista — aquele que desde bebê, ainda no ventre de sua mãe, Santa Isabel, saltou de alegria quando a Santíssima Mãe de Deus visitava a sua prima. Por uma imensa graça, ele havia percebido Jesus encarnado no seio da Virgem, fato miraculoso que se tornou símbolo da luta contra o aborto.
Revogação da decisão Roe vs. Wade
Apesar da enorme pressão de movimentos esquerdistas — apoiados pelo atual governo Biden e outros grupos abortistas, como a Planned Parenthood (organização multinacional fundada por movimentos feministas nos anos 50) —, os ministros Supremo Tribunal dos Estados Unidos declararam abolido, por uma maioria de 6 x 3, o acórdão de seus colegas de 1973 no mesmo Tribunal. No fundo, os ministros da Corte daquele ano haviam decidido que os nascituros não eram seres humanos. Logo, poderiam ser executados “legalmente”...
Agora, graças a Deus, essa aberração jurídica foi revertida. A causa antiaborto sai vitoriosa de uma grande batalha. Entretanto, não ganhou a guerra final. Ainda há muito combate pela frente, até se obter a proibição total do extermínio de vidas no seio materno.
A atual e histórica decisão da Corte Suprema devolve aos 50 Estados da Federação americana a faculdade de adotar leis próprias a favor ou contra o aborto.
A boa notícia é que se calcula que mais da metade dos Estados fará leis proibindo o aborto, alguns permitindo-o apenas em certos casos específicos. Muitos outros já tinham “leis de gatilho” contra a matança de inocentes, prontas para entrarem em vigor tão logo Roe vs. Wade fosse declarada inconstitucional. Assim, logo após a recente decisão da Corte Suprema, dez Estados proibiram totalmente o aborto, e muitos outros restringiram bastante o acesso à prática abortiva. Todos os abortos programados foram cancelados, e algumas clínicas fechadas.
“É hora de cumprir a Constituição”
O juiz Samuel Alito, autor da sentença revogando a decisão Roe vs. Wade, proferiu o parecer, ao qual se juntaram os Juízes Clarence Thomas, Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett. O presidente da Corte, John Roberts, acompanhou o voto deles.
A recente sentença — na mesma linha do rascunho vazado para a mídia em maio último, segundo o qual já havia maioria para reverter a decisão Roe vs. Wade — declara que o acórdão lavrado em 1973 é “extremamente censurável desde o início” e que teve “consequências danosas [...]. Nós sustentamos que [as decisões] Roe vs. Casey devem ser anuladas. A Constituição não faz referência ao aborto, e tal direito não é implicitamente protegido por qualquer disposição constitucional [...]. É hora de cumprir a Constituição e devolver a questão do aborto aos representantes eleitos pelo povo” — assim o juiz conservador Samuel Alito justificou seu voto.
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O juiz Samuel Alito, autor da sentença revogando a decisão Roe vs. Wade |
E os direitos de Deus e do nascituro?
O presidente John Biden declarou que fará todo o possível, através de ordens executivas, para manter o “direito” ao aborto. Ele se “esqueceu” do direito do bebê indefeso e, sobretudo, dos direitos de Deus, Criador de todas as coisas e que prescreveu o Mandamento “Não Matarás”.
Esqueceu-se Biden, que se diz “católico”, de que nenhuma lei humana pode contradizer a Lei Divina? O abortamento é um pecado gravíssimo, com o agravante de ser a própria mãe, que em vez de proteger seu bebê, permite que o executem. Mas Biden quer permitir a venda online de pílulas abortivas — pílulas da matança de inocentes no início de sua existência. Mas sua promessa, feita durante a campanha eleitoral, de transformar em lei federal a Roe vs. Wade, já caiu por terra. Graças a Deus e à forte reação antiaborto nos EUA!
A magnífica e recente decisão reflete o compromisso da maioria dos magistrados da Corte Suprema com o princípio exposto pelo juiz conservador Clarence Thomas: “Não podemos ser uma instituição que pode ser intimidada a emitir apenas os resultados que você deseja.”
A polarização da opinião pública americana — já muito dividida em torno de questões religiosas, culturais e morais — agora aumentou muito mais. Movimentos esquerdistas, defensores dos “direitos humanos”, da liberação das drogas, da eutanásia, bem como feministas e anarquistas dos EUA e do mundo inteiro estão furibundos. Eles não aceitam a decisão da Corte Suprema — ainda que seja para salvar milhões de vidas com “direitos humanos” — e fazem manifestações violentas, vandalizando igrejas e até as incendiando.
Os ativistas de tais movimentos libertários se uniram. Eles percebem que a proibição do aborto nos EUA é o caminho para se proibirem outras aberrações promovidas pela revolução sexual.
“Brada aos céus e clama a Deus por vingança”
Nessa revolução sexual, o massacre de inocentes faz parte dos planos daqueles que afrontam a Lei de Deus e a Lei Natural. Com a decisão judicial de 1973, o número de nascituros executados “legalmente” no ventre materno aumentou exponencialmente nos Estados Unidos, tornando-se o maior holocausto de inocentes de todos os tempos. Alguns pesquisadores falam em aproximadamente 63 milhões de abortos desde aquele ano até o final de 2021.
Agora, com a revogação da Roe vs. Wade, seria um bom momento para que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) mandasse celebrar cerimônias de “Te Deum” em ação de graças. E nos próximos dias promovesse atos de reparação pelos milhões de bebês executados no ventre materno. Nesses atos poder-se-iam renovar as excomunhões para aqueles que praticam ou ajudam a praticar o aborto.
A CNBB o fará? Pelo seu passado, dificilmente! Entretanto, o Código Canônico de 1983 é claro e taxativo: “Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae.” (Cânon 1398). Ou seja, é automaticamente excomungado — não necessita ser decretado pela autoridade eclesiástica. Aquele que incorre em excomunhão não pode, por exemplo, receber os sacramentos.
E o Bem-aventurado Papa Pio IX também foi categoricamente claro nesta matéria: “Declaramos estar sujeitos a excomunhão latae sententiae (anexa diretamente ao crime) os que praticam aborto com a eliminação do concebido.”
Esse decreto é inteiramente justificável, pois como ensina o Catecismo, o aborto é um pecado gravíssimo que “brada aos céus e clama a Deus por vingança”, por transgredir diretamente a ordem natural das coisas.
Lula da Silva é favorável ao crime do aborto
A legalização completa do aborto foi sempre uma pauta prioritária dos partidos de esquerda, “abençoados” pelo clero progressista. Não sem razão os ativistas desses partidos estão amargurados com a abolição da sentença que tornava o aborto um ato legal nos EUA.
Mas em Santa Catarina assistimos recentemente ao triste desfecho, comemorado pela esquerda, do caso da menina de 11 anos que acabou recebendo autorização para abortar seu bebê com 29 semanas de gestação.
Também recentemente, o ex-presidente e ex-presidiário Lula da Silva declarou que todos deveriam ter acesso ao aborto. Portanto, ele afronta diretamente a Deus em seu V Mandamento.
Entretanto, por alguma “mágica”, os institutos de pesquisa projetam Lula em primeiro lugar como candidato presidencial nas eleições de outubro próximo. Mas as pesquisas de rua desmentem os institutos, pois para não ser vaiado ele sequer pode aparecer em público, devido à maciça rejeição popular.
O momento presente é de ouro para todos aqueles que combatem o infanticídio no seio materno, para que exijam dos congressistas a proibição de uma vez por todas de qualquer tipo de prática abortiva no Brasil. O geral dos brasileiros rejeita o aborto, e por isso mesmo leis abortivas só são possíveis através do Supremo Tribunal Federal, que vem legislando, tomando o lugar do Congresso Nacional.
Mas se, a exemplo dos norte-americanos, houver aqui uma forte reação, com manifestações no estilo das gigantescas March for Life realizadas todos os anos em Washington — das quais a TFP americana participa com seus símbolos desde o início, dando-lhe um brilho todo especial —, as autoridades brasileiras não poderão avançar contra o desejo da maioria defensora da vida humana desde a concepção até à morte natural.
Norma McCorvey comemora diante da Corte Suprema, em abril de 1989, o veredicto a favor do aborto, após o Tribunal ouvir argumentos em um caso que já naquela época poderia ter anulado a decisão Roe vs. Wade.
Roe vs. Wade — uma trapaça
A americana Norma McCorvey — com o pseudônimo de Jane Roe — foi a primeira mulher a ganhar na Suprema Corte (1973) o pretenso “direito” de abortar nos EUA. Assim, devido à jurisprudência criada, seu caso serviu para que toda mulher passasse a ter o mesmo “direito de tirar” o seu bebê naquela nação. Ademais, outros países começaram a imitar a decisão daquela Corte.
Após 30 anos de ativismo abortista, Norma McCorvey se arrependeu, converteu-se ao catolicismo e revelou a trapaça armada pelos abortistas. Ela havia ficado horrorizada com os traumas adquiridos pelas mulheres que praticaram o aborto, com a enorme quantidade de dinheiro que os médicos aborteiros recebiam, e com o desprezo de seus advogados pela medicina. Afirmou também que se as mulheres soubessem a verdade sobre o aborto, jamais se submeteriam a ele, acrescentando que “as duas advogadas me disseram que seria bom que as mulheres pudessem escolher entre ter o bebê ou não; eu então pensava o mesmo”.
Relata ainda que certo dia, ao passar perto de um parquinho com brinquedos para crianças, viu os balanços vazios balançando ao vento, sem crianças brincando. Assim, perdeu sua convicção pró-aborto...
Ela redigiu um relatório — publicado no jornal “El Mundo”, do Panamá, em 19-01-2003 — confessando ter sido manipulada por advogadas que buscavam um caso para atacar a lei que proibia o aborto, além de quererem fama a qualquer custo. Eis o texto revelado por aquele jornal:
“Era o ano de 1969. Ela estava só, havia abandonado os estudos e dado os filhos para a adoção. As advogadas Sarah Weddington e Linda Coffee convenceram-na a denunciar o fiscal de Dallas, Henry Wade, e a lutar pelo seu direito de abortar no Texas. Assim nasceu o caso ‘Roe vs. Wade’, que foi, de acordo com Norma, um cúmulo de mentiras. Para que a Justiça fosse mais rápida, disse às advogadas que fora violentada.
“Mais tarde, em uma entrevista à televisão por ocasião dos 25 anos da sentença, confessou a farsa: a sua gravidez tinha sido fruto de ‘uma simples aventura’. Começou a sentir certa aversão pelas campanhas abortistas e pela clínica no início dos anos 90; não suportava a pressão de todas as mulheres que a procuravam para lhe agradecer, porque tinham podido abortar.
“Quando começou a trabalhar com o grupo católico, toda a sua vida até aquele momento pareceu-lhe um erro. Assim, Norma se converteu em porta-voz da sua causa e publicou um novo livro, contrário ao aborto desde o título da capa: Won by Love (Vencida pelo amor)”.
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Norma McCorvey, já convertida ao catolicismo, participa de uma campanha pró-vida no Texas. |
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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 859, Julho/2022
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