29 de julho de 2018

Tudo pronto para o extermínio de inocentes


(Tudo pronto para o aborto. Até o congresso da FIGO Rio 2018 já ensina a praticá-lo...)

➤  Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

De 14 a 19 de outubro de 2018 será realizado no Rio de Janeiro o XXII Congresso Mundial da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). O Congresso será precedido de um pré-congresso com alguns cursos a serem oferecidos no dia 14 de outubro. Entre esses cursos encontramos um chamado “Tecnologia de aborto”.

Eis as palestras que serão dadas, cada uma com uma hora de duração:
1. Aspiração uterina com aspirador manual a vácuo no primeiro trimestre
2. Aborto médico precoce
3. Aborto médico tardio
4. Dilatação e evacuação no segundo trimestre
5. Controle da dor
6. Gerenciando complicações (com treinamento)

A explicação para tal curso é a seguinte:
Dada a mudança do clima em relação ao aborto em toda a América Central e do Sul, o Congresso da FIGO no Rio de Janeiro é uma oportunidade de introduzir novos fornecedores para a atual tecnologia de aborto e expandir as ofertas de provedores experientes[1].

Essa “mudança de clima” (“changing climate”) deve-se referir, entre outras coisas, à expectativa de que, em breve, o Supremo Tribunal Federal julgue procedente a ADPF 442, impondo a nós, a golpe de martelo, a legalização do aborto nos três primeiros meses de gestação.

Sobre esse assunto, a Diocese de Anápolis emitiu uma nota, com a ordem de que fosse lida em todas as Santas Missas de domingo.


NOTA DE REPÚDIO À ADPF 442
EM JUÍZO NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

A Diocese de Anápolis (GO), por seu Bispo Diocesano abaixo assinado, Dom João Wilk, OFMConv., vem fazer eco à “Nota da CNBB pela vida, contra o aborto”, de 11 de abril de 2017, para manifestar sua apreensão diante da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 442, proposta pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), solicitando que os artigos 124 e 126 do Código Penal, que incriminam o aborto, sejam “interpretados” de modo que se exclua “do seu âmbito de incidência a interrupção da gestação induzida e voluntária realizada nas primeiras 12 semanas”. O que esse minúsculo partido, autor da ADPF 442, pretende é obter o que jamais obteve no Congresso Nacional através do processo legislativo: a legalização do aborto até três meses de vida intrauterina.

Cite-se a referida nota da CNBB: essa é uma atitude que, “atropelando o Congresso Nacional, exige do Supremo Tribunal Federal-STF uma função que não lhe cabe, que é legislar”. Além de ser condenável pelo seu conteúdo — a pretensão de legitimar um “crime abominável, vergonha para a humanidade” (S.S. João Paulo II) — a ADPF 442 é particularmente repugnante por causa do meio que pretende usar para a obtenção de seu fim. De fato, nenhum dos onze Ministros da Suprema Corte foi eleito por voto popular. Todos têm mandato vitalício e não dependem dos eleitores para se manterem no poder. Daí resulta que, se o Tribunal atribuir a si a tarefa de “reinterpretar” a Constituição de modo a decidir arbitrariamente que ela não protege a vida do nascituro concebido até três meses, a população brasileira sofrerá um golpe. Onze juízes terão decidido, por sua própria conta, algo frontalmente contrário ao desejo da grande maioria do povo: que o aborto deve ser legal no primeiro trimestre. Isso será um golpe no Estado de Direito, na separação e harmonia dos Poderes da União e no exercício da cidadania.

Diz-se que o Supremo Tribunal Federal se vê “obrigado” a suprir uma “omissão” do Congresso Nacional sobre o aborto. Não é verdade. Pois o Congresso não tem sido omisso quanto a esse tema. Ao longo dos anos, sua decisão tem sido constante: uma resposta negativa à proposta de legalizar tal crime. Se os representantes do povo disseram “não” ao aborto, que direito têm os juízes da Suprema Corte de dizerem “sim” a essa nefanda prática?

É repudiável não apenas um absurdo possível julgamento favorável à ADPF 442. É vergonhoso o próprio fato de o Tribunal não ter indeferido liminarmente o pedido, mas ter-se considerado competente para decidir sobre a questão!

A invasão crescente da competência dos outros Poderes, em especial o Legislativo, pela Suprema Corte tem contribuído para aumentar a desconfiança popular nas autoridades constituídas. A sensação de caos e insegurança jurídica não cessará enquanto o STF persistir em reformar a Constituição a seu bel-prazer em vez de exercer sua função de guardião da Carta Magna (cf. art. 102, caput, CF).

Esta Diocese, cuja padroeira é Santa Ana, mãe da Virgem Maria, a Mãe do Salvador, conclama seus diocesanos a unirem-se em oração e a se mobilizarem, promovendo atividades pelo respeito da dignidade integral da vida humana. Esta é literalmente uma questão de vida ou morte.

Anápolis, 09 de julho de 2018
Dom João Wilk
Bispo Diocesano
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Agenda LGBT contra a Igreja

➤  Pe. David Francisquini

O artigo Católicos LGBT organizam movimento para reivindicar mais espaço na Igreja, de Anna Virginia Balloussier (folha.uol, 23-7-18), traz declarações de uma ativista homossexual que de tal maneira deixou cair a máscara, que produziu o efeito da pedrinha de sal ao cristalizar todo o líquido de um copo.

A árvore boa dá bons frutos, e a árvore má dá maus frutos, pelos frutos conhecereis os homens, ensina o divino Salvador (Mt 7, 20). Toda a árvore que não der bom fruto será lançada ao fogo. Portanto, as pessoas que não produzem bons frutos querem transformar o ambiente católico numa atmosfera concessiva ao pecado que clama a Deus por vingança. 

Aprendi nas aulas de Catecismo que a Igreja Católica — sociedade visível fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo — tem seus mandamentos, sua doutrina, suas leis, suas regras, seus cânones. Todo esse conjunto fundamentado na Sagrada Escritura e na Tradição constitui um bloco do qual não se pode aceitar apenas uma parte. 

Mais ainda, pelos estudos feitos no Seminário, aprendi também que os princípios da Religião católica são inegociáveis. Assim, entre o ensinamento da Igreja e o homossexualismo, por exemplo, não existe aproximação possível; são irreconciliáveis como a luz e as trevas, a verdade e o erro, a virtude e o vício; há entre eles uma incompatibilidade total, pois são excludentes. 

Se a Igreja abrisse mão deste ponto, deixaria de ser a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois está no livro do Gênesis: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gen. 3, 15). E essa inimizade é eterna. 

Vejamos as palavras da ativista homossexual que se insurge contra a autoridade eclesiástica: “Questionamos muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa, como se tivéssemos de aguardar algum tipo de autorização vinda do alto da Hierarquia para podermos ser Igreja. Isso nós já somos”. Seria bom se essa ativista que diz “ser Igreja” soubesse que, conforme afirma São Paulo na segunda epístola a Timóteo, autoridade alguma na face da Terra pode mudar a doutrina de Cristo. 

O Apóstolo ainda aconselha: “Prega a palavra, insiste, quer agrade, quer desagrade; repreende, suplica, admoesta com toda a paciência e doutrina. Porque, virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, e contratarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir, e afastarão os ouvidos da verdade para os abrir às fábulas” (Tim. 4,1-8). 

Afirmar ser igreja revela uma total deformação do conceito de Igreja. São Pio X [foto ao lado] ensina que a Igreja é uma sociedade visível composta de eclesiásticos e de leigos. Os primeiros pertencem à Igreja docente, ou seja, têm o poder de ensinar, governar e santificar; os leigos são da Igreja discente, isto é, devem ser ensinados, governados e santificados pelos seus pastores. Para ser cristão é indispensável ser batizado, crer e professar a doutrina e a lei ensinadas por Jesus Cristo e contida no magistério da Igreja. 

O ensinamento de Nosso Senhor na parábola do Bom Pastor e do filho pródigo que volta à casa paterna ressalta o Seu amor para com as almas afastadas da graça e da amizade divina. Ele faz de tudo para que elas voltem ao redil, pois há mais júbilo no Céu por um pecador que faça penitência do que por noventa e nove justos que não precisam dela. 

Há mais alegria no Céu por um só pecador que se emenda e faz penitência, do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se (Lc 15,7). A pior tragédia de uma alma é quando ela quer justificar sua má conduta impondo-a aos demais. Ao reivindicar cidadania para o erro, o seu coração endurece, dificultando a sua conversão. 

Toda sociedade civilizada tem suas leis, seus princípios, seus códigos. Seus membros devem aderir a esse conjunto normativo, pois são afins com ele e existem para o bem comum. Assim, a Igreja como sociedade visível de caráter espiritual não pode transigir em relação aos ensinamentos do seu Fundador, o Filho de Deus encarnado. 

O próprio Nosso Senhor nos alerta sobre os falsos profetas que vêm a nós com pele de ovelhas e por dentro são lobos vorazes. Porventura se colhem uvas de espinhos ou figos de cardos? São Paulo Apóstolo, na epístola aos Romanos, afirma que quando somos livres do pecado e feitos servos de Deus, temos por fruto a santidade e por fim a vida eterna. 

A mencionada ativista homossexual, pelo contrário, se considera acima dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja a ponto de querer impor condições à autoridade eclesiástica: “Questionamos muito a atitude de esperar que o Papa mude alguma coisa”... É bom lembrá-la da lição divina de que nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor” entrará no reino do Céu, mas quem faz a vontade de meu Pai que está no Céu, e a vontade de Deus está contida nos Mandamentos. 

A ativista vai mais longe. Para ela, “essa linguagem progressista do papa não é precisa, ‘não faz sentido’ a Igreja excluir e ferir. ‘Cristo andava com os piores pecadores, os maiores párias da sociedade”. Os apóstolos e discípulos seriam pecadores péssimos, párias da sociedade? Da mesma forma que Lázaro, José de Arimateia e Nicodemos, que comprou 100 libras de mirra e aloés para os funerais do Homem-Deus? (Jo 19-33). 

Qual o conselho do Divino Mestre à mulher adúltera? “Vai e não peques mais”. [representação ao lado] Se nas palavras de uma ativista homossexual não faz sentido a Igreja excluir e ferir, então o Papa Leão X deveria ter “incluído” os erros de Lutero no Magistério da Igreja? A Igreja deveria ter aceitado o divórcio e “incluído” Henrique VIII e todo o anglicanismo como enriquecimento do magistério? São Pio X deveria ter aprovado e “incluído” os erros modernistas, em vez de condená-los? 

A Igreja deveria acatar e “incluir” Frei Boff e os “teólogos” da Teologia da Libertação em seu seio? Talvez essa ativista inclua na sua agenda a reabilitação de Lúcifer e sua “inclusão” no reino celeste, um verdadeiro absurdo, mas é a conclusão que se pode tirar de seu ‘princípio inclusivo’. Na verdade, ela nega o princípio metafísico da contradição, a incompatibilidade do vício com a virtude. 

Convém lembrar o que diz São Pio X no Catecismo Maior: “A sodomia está classificada em gravidade logo depois do homicídio voluntário, entre os pecados que clamam a Deus por vingança. Desses pecados se diz que clamam a Deus por vingança, porque o Espírito Santo assim o diz, e porque a sua iniquidade é tão grave e evidente, que provoca a punição de Deus com os castigos mais severos.” 

Por sua vez, São Pedro Damião afirma: “Este vício não pode jamais ser comparado a nenhum outro, pois ultrapassa a enormidade de todos os vícios. Ele corrompe tudo, mancha tudo, polui tudo. Por sua própria natureza, não deixa nada puro, nada limpo, nada que não seja imundície. A carne miserável arde com o calor da luxúria; a mente fria treme com o rancor da suspeita; no coração do homem miserável o caos ferve como o inferno.” 

E prossegue: “Depois que essa serpente venenosa introduz suas presas na infeliz alma, o senso é retirado, a memória se desgarra, a clareza da mente é obscurecida. Ele não se lembra mais de Deus, até se esquece de si mesmo. Essa praga solapa os fundamentos da fé, enfraquece a força da esperança, destrói o laço da caridade; afasta a justiça subverte a fortaleza, expulsa a temperança, entorpece a perspicácia da prudência” (Homem e Mulher Deus os Criou, Artpress, S. Paulo, 2011, p. 26). 

Protestemos contra essa rebeldia, que é também uma ingerência e um insulto à Santa Igreja de Deus. Aconselharia a tal ativista que lesse meu livro Homem e Mulher Deus os Criou — As relações homossexuais à luz da doutrina católica, da Lei natural e da ciência médica.

27 de julho de 2018

Péssima conselheira

Alerta à família brasileira contra maus conselhos dados por alguém com maus antecedentes 


Marcos Machado 

O site universa.uol.com.br informa em 16 de julho de 2018 sobre o mau conselho dado às mulheres brasileiras pela deputada abortista argentina Vitoria Donda, do partido de esquerda Libres Del Sur. Temos grande apreço pela nação irmã e não reconhecemos nas palavras de Vitoria os sentimentos da verdadeira Argentina, católica e conservadora. 

Mais ainda, repudiamos essa ingerência contra a família brasileira, a qual tem mostrado seu repúdio às práticas abortistas, quer nas ruas, quer nas Câmaras estaduais ou na Assembleia federal.

Uma aprovação do aborto pela Câmara dos Deputados da Argentina — projeto que ainda irá ao Senado e dependerá depois da ratificação do Presidente Macri — de modo algum tem o valor de um plebiscito nacional, através do qual o povo se manifestaria e faria valer sua posição conservadora e antiabortista. 

Ademais, espera-se que o Episcopado argentino faça uso de sua autorizada voz mostrando as constantes condenações dos Papas ao aborto e as sanções eclesiásticas aos promotores deste infanticídio. 

Maus antecedentes — Filha de guerrilheiros coerente com os erros da ideologia comunista que vilipendia a família e a propriedade, Vitória vai além do aborto e encampa a agenda LGBT. 

Aqui no Brasil já temos longa comprovação desta espúria aliança dos abortistas com os promotores da agenda homossexual. 

Incoerências da esquerda abortista — Em entrevista por e-mail ao referido site da UOL, a deputada abortista, fiel seguidora dos velhos jargões da esquerda, não entende que os ventos da História já não enfunam as velas das naus bolivarianas. 

Assim, seu apelo às mulheres brasileiras é para “que não abaixem suas armas. [...]. Depende de nós modificar o estabelecido. [...] as mulheres continuarão a avançar na luta por uma sociedade mais igualitária”. 

Então, legalizar o aborto é caminhar na igualdade? Aborto, agenda LGBT, igualdade são parte de um mesmo kit. 

Saibamos nós, brasileiros, reagir em defesa da família e contra essas más ingerências de ventos fétidos que sopram da esquerda argentina igualitária e anticristã.

19 de julho de 2018

SANTO ELIAS — Espada e escudo da verdadeira fé

Nos dias 16 e 20 de julho, celebram-se respectivamente as festividades de Nossa Senhora do Carmo e do Profeta Elias, fundador da Ordem carmelitana. Para marcar essas memoráveis datas, transcrevemos algumas considerações do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em uma conferência de 20-7-67. 

➤  Plinio Corrêa de Oliveira 

Celebramos hoje a festa de Santo Elias. Ele constituiu a primeira Ordem religiosa que houve na História, cujos membros moravam no Monte Carmelo [nas proximidades de Jerusalém]. 

A Ordem do Carmo tem como finalidade principal propagar o culto a Nossa Senhora. No seu nascimento, combatia também o politeísmo na nação judaica. Os seguidores de Santo Elias eram a espada e o escudo da verdadeira fé.

Elias pode ser considerado o príncipe dos profetas, porque teve um papel maior que todos os outros. Converteu mais gente, atuou mais profundamente no povo judeu, do qual foi um verdadeiro condutor, salvou a nação eleita da ruína e lutou contra os erros do seu tempo. Num momento em que a nação estava completamente deteriorada, a Providência o escolheu para comunicar seu espírito a uma Ordem de religiosos, e a partir dela a toda a nação eleita. Foi escolhido para dirigir o povo de Deus naquele momento de hecatombe, e concentrou em si todo o espírito que Deus queria conceder à nação judaica para que ela ressurgisse. 

Elias foi o primeiro a considerar a devoção a Nossa Senhora, simbolizada na nuvenzinha que surgiu no alto do Monte Carmelo, e que se transformou numa nuvem enorme, dando origem a uma chuva que salvou o povo de Deus da miséria. Nossa Senhora é simbolizada pela nuvem, e o Messias é simbolizado pela chuva. 

Devemos pedir a Santo Elias um aumento de nossa devoção a Nossa Senhora, pois assim alcançaremos a felicidade celeste. Quanto à felicidade terrena, só uma é verdadeira: conhecer a finalidade para a qual nascemos, segundo os planos de Deus, e realizar essa finalidade.

16 de julho de 2018

Festa de Nossa Senhora do Carmo — 16 de julho

No século XII, como consequência do estabelecimento do Reino Latino de Jerusalém, muitos peregrinos da Europa vieram se juntar aos solitários da santa montanha do Carmelo [foto abaixo], na Palestina, aumentando-lhes assim o número. Pareceu bom dar à sua vida, até então mais eremítica que conventual, uma forma que fosse mais de acordo com os hábitos ocidentais. Foi quando o Legado Aimeric Malafaida, Patriarca de Antioquia, os reuniu em uma comunidade sob a autoridade de São Bertoldo, a quem foi dado pela primeira vez o título de Prior Geral. Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém e igualmente Legado Apostólico, completou, nos primeiros anos do século seguinte, a obra de Aimeric, concedendo uma Regra fixa à Ordem, que começou a se expandir em Chipre, na Sicília e nos países de além-mar, favorecida pelos príncipes e pelos cavaleiros, de volta da Terra Santa. 


Logo depois, tendo Deus abandonado os cristãos do Oriente aos castigos merecidos por suas faltas, tornaram-se tais — nesse século de adversidades para a Palestina — as represálias dos sarracenos vitoriosos, que uma assembleia geral, realizada no Monte Carmelo, sob os auspícios de Alain le Breton, decretou a emigração total dos religiosos, não deixando para cuidar do berço da Ordem senão alguns poucos sedentos de martírio. No preciso momento em que ela se extinguia no Oriente (1245), Simão Stock foi eleito Geral, no primeiro Capítulo do Ocidente, reunido em Aylesford, na Inglaterra.

Na noite do dia 15 para 16 de julho do ano de 1251, a graciosa Soberana do Carmelo confirmava a seus filhos, por um sinal externo, o direito de cidadania que Ela lhes havia obtido nas novas regiões para as quais os havia conduzido seu êxodo. Senhora e Mãe de toda a Ordem religiosa, Ela lhes conferia de suas próprias e augustas mãos o escapulário, parte do vestuário que caracteriza a maior e mais antiga das famílias religiosas do Ocidente. São Simão Stock, no momento em que recebia da Mãe de Deus essa insígnia [representação na pintura abaixo], enobrecendo-a ainda pelo contato de seus dedos sagrados, ouviu a própria Virgem Santíssima dizer: “Todo aquele que morrer dentro deste hábito não sofrerá de maneira nenhuma as chamas eternas”


A Rainha dos Santos manifestou-se posteriormente a Jacques d’Euze, que o mundo iria saudar em breve como novo Papa sob o nome de João XXII. Anunciava-lhe Ela sua próxima elevação ao sumo pontificado, e, ao mesmo tempo, recomendava-lhe publicar o privilégio de uma pronta libertação do purgatório, que Ela havia obtido de seu divino Filho para seus filhos do Carmelo: “Eu, sua Mãe, descerei por misericórdia até eles, no sábado que se seguir à sua morte, e a todos que encontrar no purgatório livrá-los-ei e levá-los-ei à montanha da eterna vida”. São as próprias palavras de Nossa Senhora, citadas por João XXII na bula em que ele disto deu testemunho, e que foi chamada Sabatina em razão do dia designado pela gloriosa libertadora, no qual Ela exerceria o misericordioso privilégio. 

A munificência de Maria, a piedosa gratidão de seus filhos pela hospitalidade que lhes dava o Ocidente, a autoridade, enfim, dos sucessores de Pedro, tornaram logo essas riquezas espirituais acessíveis a todo o povo cristão, pela instituição da Confraria do Santo Escapulário, que faz seus membros participarem dos méritos e privilégios de toda a Ordem do Carmo.

Quando o Papa Bento XIII, no século XVIII, estendeu a festa do dia 16 de julho para a Igreja inteira, ele, por assim dizer, nada mais fez do que consagrar oficialmente a universalidade do fato de que o culto da Rainha do Carmelo havia conquistado quase todas as latitudes do orbe. 

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Dom Prosper Guéranger, O.S.B., L’Année Liturgique – Le temps après la Pentecôte, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, 1922, tomo IV, excertos das pp. 149-153.

13 de julho de 2018

Desfazendo mitos sobre a Idade Média


➤  Plinio Maria Solimeo 

Quase todos nós aprendemos na escola que a Idade Média foi uma época de mil anos de trevas e de fanatismo religioso, sem nada digno de ser mencionado nos séculos seguintes. E não nos damos ao trabalho de estudar as obras, as instituições, a arquitetura, a vida de família e, sobretudo, a profunda religiosidade, que a tornaram insuperável. 

Segundo o prestigioso jornal “Economist” , isso começa a mudar: 
“Desde os ataques de 11 de setembro, a direita norte-americana desenvolveu um fascínio pela Idade Média e pela Renascença em particular, com a ideia do Ocidente como uma civilização que estava se defendendo de um desafio do Oriente. Essa tendência tem sido estimulada pela descoberta do movimento de suas contrapartes europeias que usavam imagens medievais e de cruzados desde o século XIX.” 
Para o jornal, alguns exemplos disso são o frequente aparecimento e as ilustrações de cruzados revestidos de capacete e que bradam o grito de guerra Deus vult! Diz ainda: 
Charles Martel na batalha de Poitiers (732),
obra de Charles de Steuben
(museu de história da França, Versailles)
“Os jornais e sites contrários ao islamismo se nomeiam segundo o rei franco Charles Martel [quadro ao lado], que lutou contra exércitos muçulmanos no século VIII, ou a derrota otomana (levemente pós-medieval) em Viena”, enquanto “milhões de outros [...] são atraídos pela era medieval, de que são testemunhos a popularidade de reconstituições renascentistas ou as fantasias medievais de inspiração, como Game of Thrones”. 
A esse respeito, o também muito conceituado site do “National Catholic Register” publica uma entrevista com o especialista da Idade Média, Andrew Willard Jones [foto], professor de história da Igreja, teologia e doutrina social na Universidade Franciscana de Steubenville, Ohio, sobre seu novo livro Diante da Igreja e do Estado: um estudo da ordem social no reino sacramental de São Luís IX [ao lado, foto da capa], no qual esse acadêmico traz considerações acerca de verdades esquecidas e frequentemente negadas sobre a Idade Média, a qual foi chamada de “A doce primavera da Fé” por Montalembert. 

Respondendo a uma pergunta sobre o que o levou a escrever seu livro, ele explica: 
“Eu estava estudando o papado do século XIII. E fui inspirado pelo que estava lendo. Era todo um mundo que não havia sido ainda investigado [...]. Somos abençoados na história medieval. Eles [os medievais] tinham se avantajado nas operações de escrita de cartas. Havia cartas e manuscritos papais. [...] É um tesouro de registros da Corte, de registros monárquicos e de crônicas”. 
Por isso, Jones afirma: 
“A Idade Média tem um papel na história do mundo moderno. Nós tendemos a vê-la como um mundo obscuro, de dogma e opressão, pelo que só agora entendemos o que significa liberdade.” O escritor faz então esta afirmação tantas vezes já repetida: “A visão da Idade Média como um período sombrio vem de um ceticismo moderno muito anticatólico.” 
Para evitar equívocos, ele esclarece: 
“Eu não romantizo excessivamente a Idade Média como uma utopia.” Mas vê a era medieval como a de uma civilização sacramental e cristianizada. Pelo que afirma: “Nós somos tendentes a imaginar o catolicismo como vida privada. O catolicismo pede uma civilização da caridade. A Idade Média pode nos ajudar a ver isso de novo.”
Hoje em dia se fala muito em igualdade. É um dogma do mundo moderno. Jones explica: 
“A modernidade tem uma noção específica de igualdade. Ela vê a desigualdade [entre as pessoas] como fonte inerente de conflito e competição. No cristianismo, as desigualdades levam à paz. Nós vemos diferenças na família: elas se manifestam na busca do bem comum”. E ainda: “Eu usei o exemplo de um pai e um filho, dizendo que eles alcançam o bem comum através de diferentes papéis.” 
Quer dizer, as diferenças entre ambos os fazem se complementar e completar-se, o que é muito diferente do jargão esquerdista. 

Jones afirma: 
“No mundo moderno, se entende por paz fazer compromissos, enquanto na Idade Média a paz se obtinha pelo modo de lidar com as diferenças de maneira adequada e caridosa. Enquanto os modernos veem [as desigualdades como] uma violação dos direitos, na Idade Média elas consistiam em se restabelecer as diferenças de modo pacífico. O mundo moderno é cético. Os medievais não tinham cinismo em relação à doação mútua. Por exemplo, há [hoje em dia] conflitos entre pai e filhos, porque não são propriamente diferentes. A mesmice é uma fonte de conflito. Somente essa ideia seria proveitosa para a nossa sociedade meditar, quando considerarmos como a cultura popular se tornou infantilizada”. 
O autor trata também em seu livro do tão difamado tema da Inquisição, abordando o tema da Inquisição Francesa do século XIII. Jones afirma: 
“Há uma visão polêmica e anticatólica da Inquisição. Naquela época havia muito pouco interesse em saber o que as pessoas conservavam em suas mentes. O problema era se [na manifestação das ideias] havia rejeição da ordem social e se a heresia se tornava pública. Uma investigação poderia começar, não havia interesse em pegar ou enganar as pessoas. Na maioria das vezes, a penalidade era a correção. Temos nossa própria versão da Inquisição e da heresia com os mobs do Twitter”. 
E conclui: 
“Precisamos ampliar nossa imaginação. A tentativa moderna de um mundo sem Deus vai falhar. Haverá uma concepção cristã de ordem social, mas não o mesmo que a Idade Média [...]. Meu livro visa afastar os leitores do mundo ao seu redor, e a procurar vê-lo a partir de um ponto de vista mais elevado [como foi o mundo medieval]. Isso nos salva do desespero. As coisas mudam. A esperança é uma virtude. O bom e o verdadeiro vencerão”.

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Notas:
1. http://www.economist.com/blogs/democracyinamerica/2017/01/medieval-memes 
2. http://www.ncregister.com/blog/annaabbott/steubenville-prof-sets-the-record-straight-on-the-middle-ages

11 de julho de 2018

Crianças que ameaçam os tiranos


Paulo Henrique de Araújo

O drama de Alfie Evans,[1] o bebê inglês falecido no final de abril passado, percorreu o mundo e movimentou desde simples opiniões individuais até discussões em altos escalões do direito internacional.[foto ao lado]

Nascido em maio de 2016, filho de Tom Evans e Kate James, inicialmente Alfie aparentava boa saúde, mas em dezembro do mesmo ano deu entrada no Hospital Infantil Alder Hey, de Liverpool. 

Para angústia dos pais, logo foi diagnosticada uma rara doença neurológica degenerativa; e incurável, segundo os pareceres médicos. A direção do hospital tomou a decisão de desligar os aparelhos que mantinham o bebê vivo, mas o pai insistia em que seu filho apresentava certas condições de melhora, portanto ainda havia esperança no tratamento. 

A partir de então iniciou-se uma disputa judicial para determinar o destino da criança. Os pais recorreram aos tribunais, invocando o direito de manter os cuidados médicos do filho. Os pedidos foram rejeitados, um a um, pelos diversos julgadores que analisaram o caso. Os tribunais ingleses, e mesmo a Corte Europeia de Direitos Humanos, alegavam que os “melhores interesses” do bebê consistiam em que o deixassem morrer. 

Durante as discussões legais, o hospital italiano Menino Jesus, de Roma, ofereceu seus serviços para o tratamento de Alfie. Tudo seria custeado, até mesmo o transporte aéreo da criança da Inglaterra para a Itália. Tratava-se de uma nova esperança para os pais. Mas tudo foi rejeitado pelo juiz Anthony Hayden sob alegação de que, sendo Alfie um cidadão inglês, seu destino deveria ser decidido pela justiça britânica, e não por um Estado estrangeiro. 

O último apelo dos pais [foto acima] ao poder judiciário foi negado em 25 de abril último, e em consequência foram desligados os aparelhos que ajudavam Alfie a respirar. Ele ainda sobreviveu por quatro dias, pairando no ar a hipótese de que um tratamento mais prolongado poderia tê-lo salvado. Se a hipótese de cura era real ou não, é um assunto que foge à nossa competência, e não é o aspecto que nos parece importante nesse caso. Muito mais importante que isso é a flagrante violação do pátrio poder pelo poder judiciário, cuja função é exatamente a defesa de todo o direito. 

Cada pessoa tem o dever de manter a própria vida, usando para isso os recursos disponíveis e sem recorrer também ao suicídio; e da mesma forma, ao pátrio poder compete fazer o possível para manter a vida dos filhos. Mas a impressão que nos fica, em todo esse caso, é que o destino de Alfie já estava selado desde a primeira decisão judicial. 

Negada a manutenção do tratamento nessa instância, todas as outras decisões seguiriam o mesmo entendimento. Nada adiantavam os inúmeros e insistentes apelos dos pais ao poder judiciário, representante do Estado inglês. Pode-se perguntar: Terá algum valor o pátrio poder para esses tribunais? E os direitos de Deus, onde ficam? 


Luís XVII, delfim de França
– Alexander Kucharsky, 1792.
Palácio de Versalhes, Paris.
Quem acompanha o noticiário, procurando observar onde estão sendo violados os direitos de Deus, poderia considerar pequena a violação no caso desse menino inglês. Pelo contrário, ela já é de si enorme, e além disso se inclui na obsessão midiática e legislativa de âmbito mundial pela aprovação do aborto, controle da natalidade pelo poder estatal, “suicídio assistido”, “morte consentida”, e tantos outros eufemismos para eutanásia, assassinato, violações criminosas do pátrio poder. 

É próprio às tiranias violar esses direitos, que em última análise são também direitos de Deus. 

Nada melhor do que o recuo histórico, para se entender a importância do assunto. Passemos a alguns exemplos. 

Um dos episódios mais cruéis da Revolução Francesa foi o sequestro e a degradação do pequeno delfim, herdeiro do trono francês, que o ocuparia como Luís XVII.[2] Em janeiro de 1793, a Convenção Nacional — autointitulada neste período representante do povo[3] — havia mandado executar seu pai, o rei Luís XVI, num pérfido processo judicial. A rainha Maria Antonieta permanecia prisioneira com seus dois filhos, Maria Teresa e Luís, este com apenas oito anos.

Maria Antonieta e Mme Elizabeth sofreriam em outubro de 1793 o mesmo destino de Luís XVI. Mas antes disso, em julho, os deputados convencionais decidiram arrancar o delfim dos cuidados da mãe — para ela um golpe pior do que a própria morte — e entregá-lo às garras de um brutal carcereiro chamado Simon. 


O pequeno Luís XVII é cruelmente separado de sua mãe, a
Rainha Maria Antonieta
Esse jacobino encarniçado recebera ordens de “reeducar” o menino nos moldes da mentalidade revolucionária. Caso ele não abandonasse seus costumes requintados e polidos para se tornar um “republicano” sanguinário e mal-educado, Simon deveria, segundo instruções de Marat, “não o matar, não o envenenar, mas desvencilhar-se dele”. Em outros termos, o filho do rei deveria se transformar num bruto como todos os revolucionários, ou então ser-lhe aplicada a morte. 

Essa atitude dos revolucionários franceses havia se tornado inevitável, pois além de o menino de oito anos ser inocente, ele representava uma ameaça para todo o desenvolvimento da Revolução, podendo galvanizar a reação de incontáveis franceses desejosos da antiga legitimidade real. 

Tendo falhado na “reeducação” do menino-rei, os revolucionários o atiraram num calabouço imundo, e aí o mantiveram por meses. Aos dez anos de idade, faleceu de infecções e desnutrição. Pode-se afirmar, no entanto, que a história da França seria muito diferente com o delfim ocupando o trono francês. E os tiranos não queriam isso. 


*       *       * 

O fato histórico por excelência de decisão tirânica contra um inocente foi o do Menino Jesus, que despertou a ira de Herodes, o tirano usurpador do trono de Judá. Herodes temia ser deposto pelo Rei dos Judeus, por isso ordenou o assassinato dos santos inocentes, entre os quais se incluiria o Menino Jesus. 


Fuga para o Egito – Bartolomé Esteban Murillo, 1647-50.
Detroit Institute of Arts
Qual teria sido o futuro da França, na hipótese de que o delfim sobrevivesse e fosse educado convenientemente para reinar como Luís XVII, após os desatinos da Revolução Francesa? E o leitor já pensou sobre o destino da humanidade inteira, se a ordem de Herodes tivesse sido cumprida? Qual teria sido o tamanho do crime de São José, na hipótese de uma negligência deixando de cumprir a ordem de fugir para o Egito? São hipóteses que merecem ser levantadas. Só hipóteses?! 

O mínimo que se pode dizer de tais hipóteses é de que não estão fora de qualquer cogitação nem podem ser liminarmente descartadas. Um exemplo concreto é o de outro inglês, o cientista Stephen Hawking, acometido de esclerose lateral amiotrófica aos 21 anos e que faleceu enquanto a situação de Alfie era discutida. Quase todos os portadores dessa doença degenerativa sobrevivem no máximo quatro anos, com grandes sofrimentos para si mesmos e para os pais. 

Os tribunais ingleses, se os juízes fossem os atuais, poderiam ter forçado os pais e os médicos de Hawking a “desligar os aparelhos”, pois os “melhores interesses” dele seriam deixá-lo morrer. Mas Hawking viveu ainda 55 anos, falecendo aos 76, após ter dado suas contribuições no campo da astrofísica contemporânea. Os juízes que julgassem o seu caso como o fizeram os de hoje, provavelmente teriam cometido o assassinato de um cientista e feito tabula rasa dos seus “melhores interesses”. 

Também no caso de Alfie, alguém poderia objetar que se tratava apenas da vida de um recém-nascido condenado a sofrer durante a vida inteira, além de trazer inúmeros trabalhos e sofrimentos para os pais. Mas quem pode garantir que, nos planos de Deus, essa criança não estaria destinada a grandes coisas, trazendo benefícios inimagináveis para a humanidade? 

Alfie, o menino inglês, representava também uma ameaça à tirania de dirigentes supremos na Inglaterra e na União Europeia. Não sob a forma do terror revolucionário, mas escamoteada sob o manto de juízes agindo em nome dos “melhores interesses” dele e violando os direitos dos pais. 


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Notas: 
1. Dados extraídos do artigo: http://www.bbc.com/news/uk-england-merseyside-43754949 

2. Cfr. Renaud Escande, O.P. (direção), O Livro Negro da Revolução Francesa, Aletheia Editores, Liboa, 2010. 

3. Segundo o historiador Pierre Gaxotte, a Convenção foi eleita com os votos de apenas 10% dos eleitores franceses. Cfr. Gaxotte, Pierre; A Revolução Francesa, ed. Tavares Martins, Porto, 1962, p. 203.

9 de julho de 2018

Em Roma, a oitava marcha contra o aborto


➤  Samuele Maniscalco 

Por ocasião dos 40 anos da Lei 194 sobre a prática abortiva, realizou-se no dia 19 de maio em Roma a oitava edição da “Marcha Nacional pela Vida”, o mais importante evento italiano pró-vida. Os milhares de participantes ocuparam as ruas da Cidade Santa para exigir a revogação dessa lei criminosa, através da qual mais de seis milhões de crianças foram executadas no ventre materno desde 22 de maio de 1978, quando o aborto foi legalizado na Itália.

A Sra. Virginia Coda Nunziante, presidente da Marcha pela Vida, afirmou: “Existe um livro da vida e há um livro da morte. Neste livro da morte, a data de 22 de maio de 1978 é escrita em letras de sangue, o sangue de quase seis milhões de vítimas”. Denunciou também o aborto por ser totalmente pago pelo governo, portanto pelos contribuintes. E acrescentou: “Não queremos passar este aniversário sem pedir a revogação da Lei 194, e enquanto isso retirar imediatamente dos gastos públicos os 2 a 3 bilhões de euros que todos os anos são usados para matar nossos filhos”

Foi também lembrado o assassinato do pequeno Alfie Evans, perpetrado em 28 de abril último pela equipe do hospital de Liverpool, com o apoio dos tribunais ingleses e do Tribunal Europeu de Direitos Humanos. 

O evento contou com a presença aproximada de 15 prefeitos e de várias figuras institucionais, como Lorenzo Fontana, vice-presidente da Câmara dos Deputados. Estiveram também presentes autoridades religiosas como o Cardeal Raymond Leo Burke; Mons. Carlo Maria Viganò, Núncio Apostólico emérito nos Estados Unidos; Mons. Luigi Negri, Arcebispo emérito de Ferrara-Comacchio. Participaram também párocos, representantes de institutos religiosos, e numerosas delegações internacionais dos cinco continentes contrárias ao aborto. 

Os organizadores se empenharam em que todos pedissem a ajuda de Deus, fundamental para se ganhar a batalha em defesa do direito à vida inocente. Nesse sentido, na noite de 18 de maio organizou-se na igreja de Santa Maria in Campitelli uma solene adoração eucarística presidida pelo Cardeal Raymond Burke. 

Nos dias 17 e 18 de maio, um dos auditórios da Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino (Angelicum) sediou o importante simpósio IV Rome Life Forum, promovido pela Voice of the Family, uma coalizão que reúne diversas associações pró-vida do mundo. Neste ano, o Forum foi dedicado ao tema da verdadeira e da falsa consciência.

8 de julho de 2018

“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”

Única foto existente de Santa Maria Goretti, encontrada em 2011 no álbum de recordações dos Condes Mazzoleni que acolheram os Goretti em sua propriedade, nas proximidades de Roma.
Ontem postamos uma matéria sobre Santa Maria Goretti (1890-1902). Inocente menina de apenas 12 anos, que sofreu o martírio para defender sua pureza. Verdadeiro modelo para nossas crianças e adolescentes. Hoje transcrevo alguns pensamentos de grandes santos sobre a virtude da castidade — denominada também de “virtude angélica”, uma vez que aqueles que a praticam se assemelham aos anjos de Deus, donde a afirmação de São Mateus “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”.

No final deste post: um vídeo da cerimônia de canonização de Santa Maria Goretti pelo Papa Pio XII, no dia 29 de junho de 1950). No trecho do velho filme (apenas 2 minutos) vemos uma religiosa que avança entre a multidão: é a irmã de Maria Goretti; o Papa, da sedia gestatoria, abençoa os presentes na imensa multidão (300 mil pessoas!); o Presidente da República Italiana assiste a cerimônia; dois irmãos da santa se acham presentes na tribuna da postulação; de uma janela do Vaticano, a mãe da jovem-mártir da pureza contempla a canonização.


“A castidade é o lírio das virtudes e torna os homens quase iguais aos anjos; nada é belo senão pela pureza, e a pureza dos homens chama-se castidade”.

(São Francisco de Sales)  


“Toda virtude em sua alma é um ornamento precioso que o torna querido de Deus e dos homens. Mas a santa pureza, a rainha das virtudes, a virtude angélica, é uma joia tão preciosa, que aqueles que a possuem se tornam como os anjos do Céu, mesmo que envoltos em carne mortal”.


(São João Bosco)  


“Devemos praticar a pureza e a modéstia, não apenas em nossa aparência, mas em todo nosso comportamento, particularmente no vestir, no andar, na conversa e em nossas ações para com os outros”.


(Santo Afonso Maria de Ligório) 

“Uma alma pura é como uma pérola rara. Enquanto está escondida na concha, no fundo do mar, ninguém pensa nela com admiração. Mas se for trazida à luz, essa pérola brilha e atrai todos os olhares. Assim a alma pura, que está escondida dos olhos do mundo, vai um dia brilhar diante dos anjos na luz da eternidade”.

(São João Maria Vianney, Cura d’Ars)



7 de julho de 2018

Santa Maria Goretti

Unica foto conhecida da menina Maria Goretti, tirada em 1902 [detalhe abaixo]

Esta menina de 12 anos incompletos preferiu morrer cruelmente do que perder sua pureza virginal. Pio XII afirma ser ela “o fruto de lar cristão, onde se reza, se educam cristãmente os filhos no santo amor de Deus, na obediência aos pais, no amor à verdade, na honestidade e na pureza”. Exemplo para todas as meninas e adolescentes.

➤  Plinio Maria Solimeo

         No dia 24 de junho de 1950, o Papa Pio XII deparou-se com um problema singular: a canonização de Maria Goretti deveria ser celebrada na Basílica de São Pedro, mas cerca de 500 mil pessoas afluíram à cerimônia, ultrapassando em muito a capacidade do templo — era a maior concentração na história de Roma até então. A solução foi celebrá-la do lado de fora, pela primeira vez em uma canonização.
        
O que levou tanta gente a afluir para essa canonização? Possivelmente foram os pormenores da vida e morte de Maria Goretti, que maravilharam a Itália e todo o mundo católico. Uma menina de apenas onze anos preferiu morrer a pecar; a sua atitude acabou convertendo o próprio assassino, que se tornou religioso; a mãe da vítima o perdoou, e recebeu a Sagrada Comunhão ao lado dele. Tudo isto traduz uma coerência na fé e na piedade, muito rara em nossos dias.

Muita pobreza e muita virtude

Terceira das seis crianças de uma família empobrecida, Maria Goretti nasceu em Corinaldo (Itália), no ano de 1890. Em 1899, a família de Luís Goretti mudou-se para Le Ferriere di Conca, a 40 milhas de Roma, trocando o trabalho agrícola pela situação de meeiros. Os Goretti passaram a compartilhar com os Serenelli — um viúvo de nome Giovanni e seu filho Alessandro — um prédio abandonado da propriedade, ocupando estes últimos o andar superior, enquanto os Goretti ficavam no andar térreo.
Tanto uns quanto outros tiravam seu sustento do árduo trabalho no campo, cuja terra era muito pobre, meio pantanosa, infectada de insetos e muito dura de trabalhar. No ano seguinte, Luís Goretti foi picado por um inseto transmissor da malária, falecendo onze dias depois.

Maria, então com nove anos, era a mais velha dos irmãos; e Assunta, sua mãe, colocou-a em seu lugar nos afazeres domésticos, a fim de substituir o marido no trabalho do campo. Ela passou a cozinhar, fazer limpeza, lavar roupa e cuidar dos irmãos. Também cozinhava e cuidava da limpeza do andar dos Serenelli.

Não era vaidosa

        
Casa onde nasceu a santa
Longe de se lamentar por um estado tão penoso, Maria Goretti era uma fonte de encorajamento para a mãe, a quem assegurava que Jesus Cristo as ajudaria em suas necessidades. Era uma criança piedosa, ia à Missa sempre que podia, aprendeu o Catecismo e recebeu a Primeira Comunhão com grande respeito, na festa de Corpus Christi de 1901. Apesar de todos os trabalhos e cuidados, crescia em graça e sabedoria diante de Deus e dos homens.


Assunta diria mais tarde a respeito da filha: “Não era vaidosa, não ambicionava vestidos novos. Procurava que os irmãozinhos estivessem cobertos e compostos, e ela própria guardava grande modéstia. Aborrecia palavras e conversas contrárias à honestidade.”

Depois de convertido, Alessandro declarou: “Seguindo as pegadas da mãe, era modesta, usava vestidos compridos, fugia de certas moças levianas, não se fixava em jornais ou revistas com gravuras indecentes. Era verdadeiramente um anjo, inocente como uma pomba, e tão piedosa, tão boa, tão serviçal em casa: era uma moça modelo.”

Martírio pela pureza

Alessandro Serenelli, assassino da santa,
após longo período preso,
reza no quarto que pertenceu a ela
Alessandro, pelo contrário, era um rapaz rude, sem nenhuma formação religiosa. Sua mãe tinha morrido num hospital psiquiátrico quando ele ainda era bebê, e seu pai era alcoólatra, sendo ele próprio dado à bebida. Era muito impuro, e fazia propostas indecentes a Maria quando esta se encontrava só. Ela detestava o procedimento vil e as sugestões torpes do rapaz, e sempre lhe retorquia: “Não, nunca, isso é pecado! Deus o proíbe, e iríamos para o inferno”.

Por que a menina não contava à mãe as investidas lúbricas do rapaz? De um lado, por não querer preocupá-la; de outro, porque Alessandro ajudava sua mãe nos trabalhos mais difíceis do campo. E também porque, se o fizesse, a família não teria para onde ir. Preferia então calar-se e confiar em Deus.

No dia 5 de julho de 1902, enquanto Maria costurava uma camisa de Alessandro e cuidava de uma irmã menor, ele apareceu sob um pretexto qualquer, entrou na cozinha e fechou a porta. Aproximou-se com uma peça de ferro pontiaguda e ameaçou-a de morte, caso ela não cedesse aos seus desejos impuros. Maria gritou: “Não! Isso é pecado! Deus não o quer!” Quando ele quis forçá-la, ela reagiu e lutou com ele, dizendo que preferia morrer a pecar. Furioso, Alessandro a perfurou nove vezes com a peça de ferro. No meio da aflição e das dores, a mártir continuou a recompor seus vestidos, resguardando sua pureza.

Julgando-a morta, o algoz se retirou. Maria conseguiu entreabrir a porta e gritar para o pai de Alessandro. O assassino então voltou e desferiu contra seu peito mais cinco punhaladas. Depois fechou a porta e saiu, deixando prostrada sobre uma poça de sangue a inocente vítima de 11 anos, que gemia: “Meu Deus! Meu Deus! Mãezinha, mãezinha”.

Teresita — uma de suas irmãs, ainda de berço — começou então a chorar desesperadamente, fazendo com que o pai de Alessandro acudisse e encontrasse a mártir esvaindo-se em seu próprio sangue.

Enquanto Maria era levada às pressas para o hospital de Nettuno, Alessandro, de 20 anos, ia para a cadeia, onde ficaria durante 28 anos.

Sofrimento oferecido a Deus

Quarto de Sta. Maria Goretti
Chegando ao hospital, pediu água insistentemente, devido à sede decorrente da perda de sangue, mas não podia ser atendida por causa das chagas no corpo. O pároco foi chamado para ministrar-lhe a Extrema Unção, antes de iniciar-se a arriscada operação. 

Mostrando um crucifixo, disse-lhe que Jesus também sofreu sede na cruz, e perguntou se ela queria oferecer sua sede a Ele pela salvação dos pecadores. A menina aceitou e não mais pediu água.

Antes de receber o Sagrado Viático, o sacerdote perguntou: “Mariazinha, perdoas de todo coração ao teu assassino?”. Ela respondeu: “Sim, por amor de Jesus perdoo-lhe. E também quero que ele esteja no Céu comigo”.

Os médicos deram início à operação. Eram 14 feridas, nove das quais perfurantes. Como a menina estava muito fraca, eles não usaram anestesia. Maria estava inteiramente consciente quando cada uma das feridas foi aberta para ser suturada por dentro. Apesar das dores, ela não chorou e sofreu sua agonia com perfeita paciência, oferecendo-a a Deus. Às 4 horas da tarde do dia 6 de julho de 1902, com 12 anos incompletos, Maria Goretti entregou sua alma virginal ao Criador, por cujo amor preferiu a morte à ofensa.

Além da dilacerante dor de ver sua filha morrer tão cruelmente, Assunta teve uma pungente dor adicional: uma semana depois, não dispunha de mais ninguém para cuidar dos filhos enquanto trabalhava no campo. Por ser muito pobre, não teve outro remédio senão entregá-los à adoção.

Conversão do assassino

Uma pintura da santa
Na prisão, Alessandro mostrou-se agressivo e revoltado, tendo de ser removido para uma solitária. Entretanto, seis anos depois, Maria Goretti lhe apareceu em sonho, e sem dizer uma só palavra lhe entregou 14 alvos lírios, símbolo da pureza, cada lírio representado uma de suas punhaladas.

O assassino compreendeu por esse sonho que Maria o havia perdoado do crime e estava no Céu. Comovido, sentiu grande arrependimento, seguido de milagrosa conversão. Pediu então que chamassem o bispo encarregado da prisão, a quem confessou seus crimes e pecados. Pagou o resto da sentença como prisioneiro modelo, razão pela qual foi libertado três anos antes do fim de sua pena.

Uma vez posto em liberdade, Alessandro foi procurar a mãe de sua vítima. Era véspera de Natal, e queria saber se ela ainda o reconhecia. Sim, ela o reconhecia como o homem que matou sua filha e destruiu sua família. 

Alessandro então lhe pediu perdão. A resposta dessa mãe verdadeiramente católica foi: “Se Maria, minha filha, o perdoa, e Deus o perdoa, como posso também não perdoá-lo?”. Os dois foram então à Missa de Natal, durante a qual receberam a comunhão de joelhos, lado a lado. Alessandro fez mais: confessou então publicamente na igreja seu pecado, diante dos fiéis, aos quais pediu também perdão.
As relíquias de Santa Maria Goretti, em peregrinação pelos EUA

Aceitação da sentença

No longo período que passou na prisão, Alessandro teve tempo para pensar no mal que fizera e se arrepender. Uma vez cumprida a pena, recolheu-se em um convento dos Padres Capuchinhos, onde faleceu em 1970 aos 88 anos de idade. Em 1962 ele escreveu o que pode ser tido como seu testamento espiritual, do qual transcrevemos aqui uma parte:

“Estou velho, com quase 80 anos, e prestes a terminar a minha vida na Terra. Olhando para o meu passado, reconheço que na minha mocidade segui um caminho errado. [...] Aos 20 anos, cometi o meu crime passional, cuja lembrança hoje me aterroriza. Maria Goretti, agora santa, foi o anjo bondoso que a Providência pôs nos meus passos. Ainda trago as suas palavras de repreensão e de perdão impressas no coração. Rezou por mim, intercedeu por mim, seu assassino.

“Passaram-se os 30 anos de cadeia. Se não fosse menor de idade, teria sido condenado por toda a vida. Aceitei a sentença merecida; resignado, expiei a minha culpa. Maria Goretti foi verdadeiramente a minha luz, a minha padroeira. Com o seu auxílio comportei-me bem, e procurei viver honestamente, quando de novo a sociedade me recebeu entre os seus membros.

“Os filhos de São Francisco, os Capuchinhos, acolheram-me com caridade seráfica, não como criado, mas como irmão. Estou com eles desde 1936. E agora espero serenamente o momento de ser admitido à visão de Deus, de rever e abraçar os meus entes queridos, e de estar perto do meu Anjo protetor (Santa Maria Goretti) e da sua querida mãe, a senhora Assunta.

“Os que lerem esta minha carta, queiram tirar a boa lição de sempre, de fugirem do mal desde novos e seguirem o bem. Convençam-se de que a Religião, com os seus mandamentos, não é coisa para se pôr de lado, mas é o conforto verdadeiro, o único caminho seguro em todas as circunstâncias, mesmo as mais dolorosas da vida.”

Glorificação final

Relíquia de Sta. Maria Goretti
A causa da beatificação de Maria Goretti foi aberta em 1935, com o próprio Alessandro testemunhando sua santidade e sua intercessão. Foi beatificada em 1947 por Pio XII. Sua mãe, presente ao ato, relata: “Quando vi o Papa se aproximando, rezei: ‘Madonna, por favor, ajudai-me’. Ele pôs sua mão em minha cabeça, e disse: ‘Bendita mãe, feliz mãe, mãe de uma Beata’”.

Maria Goretti foi canonizada três anos depois, pelo mesmo Papa, com a presença de Alessandro Serenelli, Assunta Goretti e seus quatro filhos restantes.

Os restos mortais da Santa estão na Basílica de Santa Maria Goretti, ao lado do mar, em Nettuno, Itália, perto do local onde ela viveu e morreu. Estão em um relicário, envoltos numa imagem de cera seguindo seus traços.

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Fontes:
Site “Who is St. Maria?”, disponível em http://mariagoretti.com/who-is-st-maria/
Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, Portugal, 1987, tomo II, pp. 385-388.