27 de março de 2011

O tsunami, o japonês e o filho — uma bela e nobre lição de vida

O tsunami, o japonês e o filho — uma bela e nobre lição de vida
Paulo Roberto Campos
E-mail:  prccampos@terra.com.br

Em meio ao tsunami de notícias a respeito da tragédia que se abateu sobre o Japão, “pesquei” uma que me pareceu valer a pena comentar com os amigos. A finalidade é fazermos uma reflexão sobre o amor paterno e o entranhado vínculo natural existente entre pais e filhos. Um vínculo a respeito do qual se poderia certamente dizer que não é apenas natural, mas sagrado, porquanto revela a virtude e a nobreza de alma quando se chega ao momento extremo de os pais darem a vida pelos filhos.
Filmando restos daquele “dilúvio” — a maior catástrofe natural na história da nação japonesa —, um repórter de televisão ficou perplexo e indignado ao ver um senhor atravessando os destroços de casas, carros, barcos etc., mas... sorrindo! O local parecia ter sido bombardeado, não restava pedra sobre pedra — um cenário para chorar e não para rir.


O repórter não agüentou e foi entrevistar o sorridente japonês:


— Escuta aqui, tudo foi destruído, falta comida, falta água, falta luz, falta tudo; o senhor não se abala com isso!?


— Sim, falta tudo. Perdi meu barco, perdi tudo, mas... encontrei meu filho vivo debaixo de minha casa destruída! Estou sem teto, mas posso reconstruir tudo de novo; entretanto não poderia reconstruir a vida de meu filho. Se eu não  conseguisse resgatá-lo, eu é que estaria destruído definitivamente! Eu daria minha vida para salvá-lo!


Vemos que o terremoto abalou tudo, mas não abalou o senso moral de um pai. Uma magnífica lição de vida para todos, até mesmo para os inescrupulosos aborteiros e certas progenitoras que transformam seus ventres em túmulos para os filhos, em nome de um propalado “direito da mulher sobre seu próprio corpo”.


Lembro-me ter ouvido alguém contar que uma mãe, após um aborto, não teve mais sossego na vida. Sua consciência noite e dia a acusava do crime cometido, como que ouvindo uma voz que sempre lhe perguntava: “Mamãe, por que a senhora me rejeitou?”


Apavorada, ela procurou um juiz e confessou o crime. Afirmou que decidiu por abortar a criança por egoísmo, para poder viajar tranquilamente, frequentar festas etc.. E acrescentou:


— “Por isso, peço que o senhor me condene. Preciso pagar pelo meu erro de ter preferido os prazeres fáceis da vida, a ter a alegria de cuidar de um filho que Deus me deu”.


— “Senhora — sentenciou o juiz — não é a mim que deve confessar seu delito. Procure um sacerdote e se confesse a ele, assim, terá paz em sua consciência”.


A pobre mãe, profundamente arrependida de ter praticado aquele crime, cumpriu a exemplar sentença. Ela procurou um bom padre, confessou-se em lágrimas e realmente readquiriu a paz de alma; embora sempre lamentando sua triste decisão. Rezava pela alma de seu bebê e pedia a Deus poder reencontrá-lo no Céu por toda a eternidade.


Não sei se esse conto é real ou não. Mas bem poderia ter acontecido. Em todo caso, histórias semelhantes realmente ocorrem. Contudo, quão diferentes são elas da narrativa do bom e sorridente japonês que salvou seu filho. Que alegria de alma ele levará consigo por toda a vida! E quão grato ser-lhe-á seu japonesinho flagelado pelo tsunami, soterrado pelos escombros, mas salvo pelo amor paternal.

19 de março de 2011

Os Filhos devem aos Pais Amor, Respeito e Obediência

Na mesma direção das matérias que temos postado neste espaço  deveres recíprocos dos filhos e dos pais, e destes em relação à família , segue hoje outro texto que recebi e pareceu-me magnífico para conhecimento e estudo de nossos leitores.


É de autoria de um grande moralista: Santo Afonso Maria de Ligório [pintura à esquerda]. Nascido em Marianella (Itália), no ano de 1696, trilhou brilhante carreira  foi considerado o melhor partido do reino de Nápoles , mas abandonou todas as glórias do mundo por amor de Deus a fim de se dedicar inteiramente à salvação das almas. Em 1732 fundou a Congregação dos Redentoristas. Faleceu em 1787, sendo elevado à honra dos altares pelo Papa Gregório XVI e declarado, por Pio IX, “Doutor excelente e luz da Santa Igreja".


Então, vamos ao que ensina aos filhos este grande doutor e luzeiro da Igreja:


4º Mandamento — Honrar pai e mãe

Este Mandamento tem como principal objeto os deveres dos filhos para com os pais; mas ele compreende também os deveres dos pais para com os filhos, bem como os deveres recíprocos de senhores e servidores, de marido e mulher.
Um filho deve a seus pais Amor, Respeito e Obediência. Portanto, em primeiro lugar ele é obrigado a amá-los.

Como se peca contra o Amor que se deve aos pais

1. Comete pecado grave quem deseja o mal a seu pai ou a sua mãe em matéria grave. Peca até duplamente: contra a caridade e contra a piedade filial.
2. Peca quem fala mal dos pais. Comete então três pecados: um contra a caridade, outro contra a piedade filial e outro contra a justiça.
3. Peca quem não socorre os pais em suas necessidades, sejam temporais, sejam espirituais. Assim, quando um pai está perigosamente doente, o filho é obrigado a adverti-lo e induzi-lo a receber os Sacramentos.
Quando o pai ou a mãe se encontram numa grave necessidade, o filho é obrigado a sustentá-los a suas expensas. Ajudai vosso pai em sua velhice, nos diz o Espírito Santo: Fili, suscipe senectam patris tui (Ecli. 3, 14). [Vulgata — “Filho, ampara a velhice de teu pai”]. Nossos pais nos alimentaram em nossa infância; é justo que nós os alimentemos em sua velhice.
Santo Ambrósio (Exam. L. 5, C. 16) diz das cegonhas que, quando vêem seu pai e sua mãe na velhice e sem condição de procurar alimento, elas têm o cuidado de lho trazer. Que ingratidão num filho, beber e comer copiosamente, enquanto sua mãe morre de fome!

Exemplo de piedade filial

Escutai a narração de um admirável exemplo de piedade filial.
Havia no Japão, em 1604, três irmãos ocupados em obter um meio de sustentar sua mãe. Não conseguindo, o que fizeram eles? O imperador tinha ordenado que quem entregasse um ladrão nas mãos da justiça, receberia como recompensa uma soma considerável.
Os três irmãos combinaram que um dentre eles, designado à sorte, consentiria em passar por ladrão, e seria entregue pelos dois outros. Desse modo obteriam a recompensa prometida e poderiam socorrer sua mãe.
A sorte caiu sobre o mais jovem que, fazendo-se passar por ladrão, teve que se resignar a morrer, pois o roubo era punido com a morte. Foi então atado e conduzido à prisão. Mas os circunstantes notaram que os acusadores e o acusado, ao se despedirem, abraçavam-se vertendo lágrimas.
O juiz foi logo avisado e ordenou que se vigiassem os dois jovens, para saber aonde iam. Tão logo chegaram à casa, a mãe, tendo sabido o que se passara, declarou que preferiria morrer ela mesma a permitir que seu filho morresse por sua causa. "Devolvei o dinheiro, dizia ela, e restituam-me meu filho".
O juiz, inteirado do fato, deu conhecimento do mesmo ao imperador. Este ficou de tal modo tocado, que concedeu uma larga pensão aos três generosos irmãos. Foi assim que Deus os recompensou pelo amor que tinham testemunhado à sua mãe.

Deus castiga os maus filhos

Ouvi, pelo contrário, como Deus quis punir um filho ingrato. O bispo Abelly (Vérités princ. instr. 28) cita um fato contado por outro autor, Thomas de Cantimpré, como acontecido em seu tempo na França.
Um homem rico, tendo um filho único, desejava casá-lo com uma moça de posição bem mais elevada. Mas os pais desta impuseram como condição para o casamento, que esse homem e sua esposa cedessem tudo o que possuíam ao filho, do qual receberiam depois a subsistência; o que foi aceito.
O filho começou por tratar bastante bem o pai e a mãe. Mas ao fim de algum tempo, para agradar à mulher, obrigou-os a se retirarem de casa e passou a lhes conceder um parco auxílio.
Certo dia convidou amigos para um banquete em sua casa. Tendo seu pai vindo-lhe pedir alguma assistência, despediu-o com palavras duras. Mas escutai o que lhe aconteceu.
Quando se sentou à mesa, apareceu um sapo hediondo que, de um salto, se fixou no seu rosto de tal maneira que foi impossível retirá-lo. Não se podia tocar nesse sapo, sem causar ao infeliz uma dor insuportável.
Arrependeu-se então de sua ingratidão e foi confessar-se ao Bispo. Este lhe impôs, como penitência, percorrer todas as províncias do reino com a face descoberta, contando por toda a parte o que atraíra sobre si este castigo, a fim de que servisse de exemplo aos outros.
Thomas de Cantimpré diz ter tomado conhecimento desse fato por um religioso da Ordem de São Domingos, o qual, estando em Paris, tinha visto ele próprio o culpado com o sapo colado ao rosto e o tinha ouvido narrar estas coisas.

Vossos filhos vos tratarão como tiverdes tratado vossos pais

Sede, pois, zelosos em amar vossos pais e, se eles são pobres, ou prisioneiros, ou doentes, tende cuidado em ajudá-los. Senão, preparai-vos para os justos castigos de Deus, que permitirá, pelo menos, que vossos filhos vos tratem como tiverdes tratado vossos pais.
Verme narra, em sua Instrução, que um pai, tendo sido expulso de casa por seu próprio filho, e encontrando-se doente, entrou num hospital, de onde mandou pedir a este mesmo filho dois lençóis. Este encarregou seu jovem filho de os levar, mas a criança não entregou senão um dos lençóis ao seu avô. Tendo seu pai lhe perguntado a razão disto, respondeu: "Guardei o outro para ti, quando fores para o hospital". — Compreendeis o que isto significa: como os filhos tratam os pais, do mesmo modo serão tratados por seus filhos.

Como se peca contra o respeito devido aos pais

Deus quer que cada um honre seu pai e sua mãe, não lhes faltando jamais ao respeito, seja por atos, seja por palavras, e suportando seus defeitos com paciência inalterável: In opere et sermone, et omni patientia, honora patrem tuum (Ecli. III, 9).
É pois pecado falar a seus pais com aspereza ou com tom elevado. Pecado ainda maior é zombar deles, opor-se à sua vontade, amaldiçoá-los, ou proferir contra eles termos injuriosos, como os de louco, imbecil, ladrão, bêbado, bruxo, celerado, e outros deste gênero. Se palavras dessas são proferidas em sua presença, o pecado é mortal.
Sob a Antiga Lei, aquele que injuriava o pai ou a mãe era condenado à morte: “Qui maledixerit patri suo vel matri, morte moriatur” (Ex. XXI, 17). Agora, se não é mais condenado à morte, é contudo amaldiçoado por Deus, que o condena à morte eterna: "Et est maledictus a Deo, qui exasperat matrem" (Ecli. III, 18).
O pecado seria ainda mais grave se erguesse a mão contra seu pai ou sua mãe, ou se ameaçasse agredi-los. Aquele que ousou pôr as mãos sobre seu pai ou sua mãe, deve esperar morrer logo; pois a Escritura promete uma vida longa e feliz para aquele que honra os pais: "Honora patrem tuum et matrem..., ut longo vivas tempore, et bene sit tibi in terra"(Deut. 5, 16).["Honra teu pai e tua mãe..., para viveres largo tempo, e para sêres bem sucedido na terra”].
Assim, quem maltrata os pais viverá pouco tempo e será infeliz na terra.
São Bernardino de Siena (T. 2, s. 17, a. 3, c. 1) narra que um rapaz, tendo sido enforcado, ficou com a face coberta por uma longa barba branca, como a de um velho. Foi revelado ao Bispo, que rezava por aquele infeliz, que ele teria vivido até a velhice se não tivesse merecido, por respeitar pouco seus pais, ser abandonado por Deus a ponto de ser levado a cometer os crimes que lhe causaram a morte.
Mas escutai um fato ainda mais horrível, citado por Santo Agostinho (De Civ. D. l. 22, c. 8).
Na província de Capadócia, uma mãe tinha vários filhos. Um dia, o mais velho, após havê-la injuriado, começou a agredi-la, sem que os outros o impedissem como deviam. Então a mãe, irritada por este tratamento indigno, cometeu outro pecado: correu à igreja, e diante do batistério em que seus filhos tinham sido batizados, amaldiçou-os a todos, pedindo a Deus que lhes infligisse um castigo que espantasse o mundo inteiro.
Imediatamente os filhos sentiram um grande tremor em seus membros e se dispersaram por todos os lados, levando consigo os sinais da maldição pela qual estavam atingidos. À vista desse castigo, a mãe foi tomada de tal dor que, entregando-se ao desespero, enforcou-se.
Santo Agostinho acrescenta que, encontrando-se numa igreja onde se veneravam as relíquias de Santo Estêvão, viu chegar dois destes filhos amaldiçoados, que todos viam tremer. Porém, em presença das relíquias do glorioso Mártir, obtiveram por sua intercessão serem libertados do mal que os afligia.

Como se peca contra a obediência que se deve aos pais

Deve-se obedecer aos pais em tudo que é justo, segundo diz São Paulo: "Filii, obedite parentibus vestris in Domino" (Eph. VI,1): "Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor".
Portanto, há obrigação de obedecer-lhes naquilo que diz respeito ao bem da família e sobretudo aos bons costumes. Assim, peca o filho que não obedece aos pais quando eles o proíbem de se entregar ao jogo, ou de freqüentar certa má companhia, ou de ir a uma casa suspeita. (Santo Afonso Maria de Ligório, Oeuvres Complètes — Oeuvres Ascétiques, Casterman, Tournai, 1877, 2ª ed., t. XVI, pp. 463 a 470).


— CONVITE —

Aproveito o ensejo para convidar os Amigos deste Blog da Família para uma importante conferência do Prof. Ives Gandra da Silva Martins.


Promovida pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, a conferência será realizada no próximo dia 6 de abril, às 19h00 (recepção), 19h30 (início).


Local: Colégio e Faculdade São Bento s/n°  No centro de São Paulo.
Referência: Ao lado do Mosteiro São Bento / Estação São Bento do Metrô.


Para comparecer, basta se inscrever com antecedência. Para isso click na seguinte frase:

Não perca palestra do Prof. Ives Gandra Martins

O tema principal será o “Programa Nacional de Direitos Humanos" (PNDH-3), decretado pelo ex-presidente Lula (que alegria em escrever "ex" !, pois o "finado presidente" não deixou saudades...). Tal despótico “Programa" será ou está sendo colocado em prática pelo atual governo? É o que saberemos na conferência do renomado jurista brasileiro.


Relembrando: O PNDH-3 foi o “presente" dado aos brasileiros, pelo ex-presidente, às vésperas do Natal de 2009, que decreta uma série de questões contrárias às Leis Divinas e às leis naturais. Para mencionar apenas algumas que atingem diretamente a família, citemos o aborto, o “casamento" homossexual, a adoção de crianças por “casais homo-afetivos", a educação sexual obrigatória, a estrambótica proteção privilegiada a lésbicas, homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais, prostitutas etc.
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Como as vagas para a conferência são limitadas, faça já sua inscrição clicando aqui 


9 de março de 2011

“Deus fez o coração do pai e da mãe, um escrínio de ternura”

Como prometi — dando sequência ao post anterior “Deveres dos filhos para com os pais” —, segue o capítulo III, “Deveres dos pais para com os filhos”, extraído do livro de autoria do Mons. Boulenger, “Doutrina Católica — Manual de Instrução Religiosa”.

III – Deveres dos pais para com os filhos

"Estes deveres são: 1º afeto; 2º educação; 3º exemplo:


1º Afeto: Não será preciso insistir muito nesta obrigação primordial, pois Deus fez o coração do pai e da mãe, um tesouro de amor, um escrínio de ternura. Este sentimento, entretanto, seria cego e nefasto, se idolatrasse tudo nos filhos, inclusive as falhas, os defeitos. O amor dos pais deve ser, pelo contrário, esclarecido e inteligente, isto é:

a) sem fraqueza. Não se conceda, aos filhos, o que, porventura, fora prejudicial a seus verdadeiros interesses. Carinhos demasiados, sensibilidade exagerada seriam culposos, e trariam consequências desastradas. Quem sabe amar, sabe punir, é ditado sempre verificado;

b) sem egoísmo. A meta dos pais, o alvo de todos os seus anelos e esforços, deve ser o aproveitamento, o bem e a felicidade dos filhos, e não vantagens próprias;

c) sem predileções. O amor dos pais não pode fazer diferenças. O mesmo para todos. As preferências, que se manifestassem a favor deste ou daquele, provocariam inveja, aborrecimento, raiva nos outros, e assim entraria na família a malquerença, a discórdia.

2º Educação: A educação tem objeto duplo: corpo e alma. Seu fim é desenvolver as faculdades físicas, intelectuais e morais da criança.

A) EDUCAÇÃO FÍSICA:
a) Os pais têm obrigação de proporcionar aos filhos a subsistência material. É um dever que se impõe logo no alvorecer da existência da criança. Cabem à mãe, os primeiros desvelos. Ela é quem há de, primeiro, alimentar a criancinha. E não pode falhar à sua missão providencial. Não pode, sem motivo ponderoso, furtar-se ao papel essencial da maternidade: criar, ela mesma, a prole. Quando maiorzinha essa, será o pai mais particularmente indicado para prover ao sustento material da família. Ou melhor, pai e mãe hão de conjugar seus labores, cada um na esfera de sua atividade, para ministrar aos filhos o de que precisam, quanto ao alimento e à roupa, segundo as exigências de sua posição social e as possibilidades de sua situação.

b) Cumpre, além disso, que zelem pelo desenvolvimento das forças corporais de seus filhos, incitando-os a lançar mão, para isto, de exercícios físicos em harmonia com a idade: a saúde do corpo é, com efeito, poderoso fator de saúde da alma (mens sana in corpore sano). É no enrijar dos elementos de resistência do organismo, que os menores habilitar-se-ão a enfrentar os embates da existência, as lutas da vida, e a dobrar-se, serenos e inamolgáveis, às duas leis magnas do sofrimento e do sacrifício.

c) Enfim, precisam acostumar os filhos ao trabalho. O meio mais eficaz, nisto como em tudo, não esqueçam que é o bom exemplo. Trabalhar com afinco, perseverante e aturadamente, muito embora suas posses lhes permitam eximir-se, viver no ócio e nos divertimentos.

B. EDUCAÇÃO INTELECTUAL E MORAL:
Consiste na formação das duas faculdades mais nobres da criatura humana: a inteligência e a vontade, por meio da instrução e da educação propriamente dita.

a) Instrução — É da máxima importância o cultivo do espírito. Antes, porém, de encaminhar os filhos neste ou naquele ramo, de enfronhá-los nestas ou naquelas ciências, os seus mentores hão de levar em conta, os gostos e as aptidões dos pequenos. Do contrário, teriam, mais tarde, de curtir amargas decepções, cruéis e irremediáveis desenganos. Devem descobrir e auxiliar os planos divinos; logo indagar da vocação dos filhos, favorecê-los de toda a maneira, abstraindo por completo dos interesses mesquinhos, ou de estultos sonhos de megalomania.

b) Educação — Por mais alevantado que seja, o valor da instrução, ela seria vã, balofa, e até extremamente prejudicial, se não ombreasse com ela, emparelhando, a educação. É pérola preciosa, um espírito acepilhado. Jóia de mais fino quilate, porém, a vontade reta e forte, o caráter adamantino. Consegue-se esta lapidação lenta, pela persuasão, pela autoridade, pela influência moral de todas as horas. Exige, dos pais, o cumprimento escrupuloso de dois deveres de relevância suma: vigiar e corrigir.

Vigilância — Vigiar, é prevenir o mal; é espantá-lo, antes que apareça; é destruí-lo no germe. Os pais, para isso, hão de remover tudo quanto pudesse ser estorvo ou tropeço para a virtude dos filhos; más companhias, livros e jornais, que desrespeitam a fé ou os costumes. Hão de ensinar-lhes com paciência inesgotável, os nobilíssimos princípios do dever, do sacrifício, da honra, da dominação dos ímpetos e do gênio.

Correção — Não bastará sempre a vigilância. Será preciso corrigir. Corrigir, quer dizer endireitar, trazer os filhos ao rumo certo, quando se tresmalham: tarefa melindrosa, porque beira dois excessos opostos, funestos por igual: indulgência demais, ou demasiada severidade. De um lado, uma repreensão fraca é quase incentivo para reincidência. De outro lado, a autoridade despótica é fonte de desgostos, dá resultados contraproducentes. Pior do que tudo, talvez, o passar de um extremo a outro, do rigor ao relaxamento: é desmoronar rápido e fatal de toda a obra. A arte de mandar está na união prudente da mansidão com a firmeza. Pouquíssimas vezes, se deixará que a coação unicamente force à obediência, os educandos. É preciso, certamente, domar e disciplinar a vontade, nunca oprimí-la.
Acima, e antes de tudo, deve ser religiosa a educação. Infelizmente, não é penhor infalível do triunfo da moral, a educação religiosa. Mas, a experiência secular mostra que é erro colossal, separar da religião a moral, e que a educação divorciada da religião acarreta, logicamente, o divórcio da moral. Portanto, que os pais mandem batizar os filhos, quanto antes. Ensinem-lhes, desde o despontar das faculdades, os nomes de Jesus e Maria, as orações, os rudimentos da fé. E mandem-nos a escolas católicas. Caso não seja possível, a frequentação dessas escolhas, impende-lhes a obrigação inelutável de suprir, por si ou por meio de catequistas, o ensino religioso que a escolha leiga não ministra.

3º Bom exemplo: Ainda que se esmerassem, com todas as veras da alma, os pais, na educação dos filhos, não surtiriam efeito bom, todos estes empenhos se viessem desacompanhados do exemplo. Palavras sem exemplo, diz o grande Vieira, são tiros sem balas. De fato que fruto lograria quem pregasse a virtude, encomiasse a oração, a assistência à missa, a fidelidade às leis da abstinência, o cumprimento do dever da comunhão, não praticando ele próprio, nada disso?”
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(Boulenger, “Doutrina Católica — Manual de Instrução Religiosa”, (2a. parte). Coleção de livros didáticos (F.T.D.) – Livraria Francisco Alves, Paulo de Azevedo & Cia., Ltda., São Paulo, 28-2-1955. Págs. 73 a 76. Tradução de Mário Bachelet).

6 de março de 2011

DEVERES PARA COM A FAMÍLIA — dos filhos e dos pais

Uma das vantagens de se ter um Blog é que acabamos recebendo textos muito interessantes complementando, ou dando mais fundamento, a alguns de nossos posts.


Estava justamente à procura de algum bom documento de moral católica expondo os deveres dos filhos para com os pais, e destes para com aqueles, quando recebi a indicação do livro do Mons. Boulenger “Doutrina Católica — Manual de Instrução Religiosa”.


Consegui emprestado esse excelente livro, a fim de transcrever trechos escolhidos para nossos leitores, pois poderiam ser de valioso auxílio aos pais e mães de família a fim de aprimorarem a instrução moral e religiosa aos pequenos.


Seguem alguns trechos que tratam dos deveres que preceitua o 4º Mandamento da Lei de Deus, “Honrar pai e mãe”.


II – Deveres dos filhos para com os pais

"Concretiza-os, esses deveres, o 4º Mandamento, numa única palavra: ‘HONRAR’. Honrar, porém, exige quatro atos: amor, respeito, obediência, assistência.

1º Amor: Este sentimento tem base na própria natureza. É intuitivo. Seria um monstro de ingratidão, o filho que não correspondesse com o afeto mais entranhado, aos sacrifícios que os pais fazem para educá-lo.
Não cumpre o dever do amor, é claro, quem alimenta, no coração, antipatia a seus pais, quem lhes quer mal, quem deseja a morte deles, quem profere contra eles calúnias, quem lhe assoalha os defeitos, em vez de excogitar todos os meios possíveis de lhes agradar e de ocultar as suas imperfeições.



2º Respeito: O amor que todo filho deve ter a seus pais não pode destruir o respeito. Este é um misto de veneração e de temor, para os que ocupam o lugar de Deus. Não convém que os filhos tratem os pais como simples colegas ou amigos. Não obstante a idade dos filhos, a sua ilustração e celebridade intelectual, a superioridade da sua formação, e pode-se acrescentar, não obstante os defeitos, os achaques, as misérias dos pais, subsiste sempre, o dever do respeito, absoluto e imperioso; nos pais, embora, indignos e culpados, reside, apesar de tudo ‘o vestígio da majestade divina’.
Nunca, pois, teria direito o filho de se dirigir aos pais com maus modos, com altivez, arrogância ou impertinência, nem de lidar com eles com demasiada familiaridade. Muito menos de injuriá-los ou bater neles, nem de processá-los, a não ser quando fosse vítima de alguma injustiça por parte deles.

3º Obediência: O respeito é o melhor baluarte da obediência, e a obediência, a prova mais lídima do amor filial. Todavia, quando os filhos já deixaram o lar paterno, quando a Providência os colocou, por sua vez, à frente de uma família, não são mais adstritos à fiscalização dos pais. Assim mesmo, é bom notar que, no ponto de vista moral não há nunca emancipação completa. Os filhos devem aos pais durante a vida toda, amor e respeito, e até obediência às suas vontades justas.

Cumpre que a nossa obediência seja:
  • a) pronta, sem alteração;
  • b) alegre, sem queixas nem murmurações, e
  • c) inteira.
Há dois casos apenas em que está limitada a autoridade paterna:
1) o primeiro, é quando está em ‘oposição com a autoridade divina’ então é preciso responder com São Pedro: ‘antes obedecer a Deus do que aos homens’ (Atos, V, 29);
2) o segundo, é na ‘escolha de um estado de vida’. É certo que os filhos hão de prezar devidamente os conselhos ajuizados dos seus progenitores, para solucionar uma questão de tanta monta. Mas, porque a influência sobrenatural da graça é manifesta na gênese da vocação, e porque esta tem conexão direta e íntima com a salvação eterna, não se pode exigir, neste ponto, a obediência estrita aos desejos, ou às ordens dos pais. E se tais princípios vigoram para qualquer profissão humana, mas aplicação terão ainda quando a escolha for do estado sacerdotal ou religioso, ou às ordens dos pais. E se tais princípios vigoram para qualquer profissão humana, mais aplicação terão ainda, quando a escolha for do estado sacerdotal ou religioso, dependendo exclusivamente do chamado de Deus.

O pecado de desobediência é mortal ou venial, conforme o grau de resistência e a importância da ordem. Para que seja mortal, a falta, é necessário:
a) que os pais mandem com a intenção, pelo menos implícita, de obrigar gravemente,
b) que a coisa seja matéria importante, e
c) que a desobediência seja plenamente voluntária.


4º Assistência: A obrigação da assistência está gravada em todos os corações, e a lei civil, nisto, concorda com a Lei Natural, obrigando os filhos a socorrer os pais necessitados.
Os filhos deverão auxliar os pais nas precisões corporais e espirituais:
a) corporais, dando-lhes os subsídios pecuniários de que carecem na doença, na velhice e na pobreza, e prestando-lhes os cuidados que deles receberam quando pequenos;
b) espirituais, facilitando-lhes os benefícios da religião, trazendo-lhes o sacerdote quando enfermam, promovendo funerais dignos, de acordo com a sua posição social, e depois, sobretudo, orando e mandando rezar missas pelo descanso eterno da sua alma".
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(Boulenger, “Doutrina Católica — Manual de Instrução Religiosa”, (2a. parte). Coleção de livros didáticos (F.T.D.) – Livraria Francisco Alves, Paulo de Azevedo & Cia., Ltda., São Paulo, 28-2-1955. Págs. 71 a 73. Tradução de Mário Bachelet).
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PS: O próximo capítulo, “Deveres dos pais para com os filhos” —, ainda mais interessante que o capítulo acima —, pretendo postá-lo dentro de 3 dias. Aguardem!