14 de junho de 2025

Há um século da beatificação de Santa Bernadette


  Paulo Roberto Campos

Neste dia 14 comemoramos a passagem dos 100 anos da beatificação da venerabilíssima vidente de Lourdes, Santa Bernadette Soubirous. Beatificada por Pio XI em 14 de junho 1925. Oito anos depois, pelo mesmo Papa, ela foi canonizada. 

Nascida em Lourdes, no Moulin de Boly, no dia 7 de janeiro de 1844, foi uma camponesa encantadora, puríssima, pobre, inteligente, discreta, de uma honestidade a toda prova. Falecida em 16 de abril de 1879 como freira no convento das “Irmãs da Caridade” da cidade de Nevers, onde alcançou o ápice da santidade. Tinha 35 anos, mas, apesar dos terríveis sofrimentos de corpo e de alma que padecera, continuava bela como na época de sua adolescência. 

Representação da aparição da Virgem Maria a Bernadette Soubirous (por Virgílio Tojetti, 1877)

Seu corpo foi exumado em 1908 e encontrado incorrupto. Milagre que pode ser interpretado como Deus selando o dogma da “Imaculada Conceição”, pois assim Nossa Senhora se apresentou. Numa de suas aparições à santa francesa, então com apenas 14 anos, esta perguntou quem era. “Eu sou a Imaculada Conceição” — foi a resposta! 

Após duas exumações, dois dias antes da beatificação (12 de Junho de 1925), foi feita uma terceira (e última) exumação do seu corpo a fim de se retirar algumas relíquias. E, como nas vezes anteriores, o corpo continuava incorrupto, muito preservado e sem o mínimo sinal de putrefação. Fato histórico e milagroso registrado no relatório do Dr. Comte:

“Eu queria abrir o lado esquerdo do tórax para retirar algumas costelas e então remover o coração, o qual eu tinha certeza que estaria intacto. Porém, como o tronco estava levemente apoiado no braço esquerdo, haveria dificuldade em ter acesso ao coração. Como a Madre Superiora expressou o desejo de que o coração de Santa Bernadette não fosse retirado, bem como também este era o desejo do Bispo, mudei de ideia de abrir o lado esquerdo do tórax, e apenas retirei duas costelas do lado direito, que estavam mais acessíveis. O que mais me impressionou durante esta exumação foi o perfeito estado de conservação do esqueleto, tecidos fibrosos, musculatura flexível e firme, ligamentos e pele após 46 anos de sua morte. Após tanto tempo, qualquer organismo morto tenderia a desintegrar-se, a se decompor e adquirir uma consistência calcária. Contudo, ao cortar, eu percebi uma consistência quase normal e macia. Naquele momento, eu fiz esta observação a todos os presentes de que eu não via aquilo como um fenômeno natural.” 
Na sepultura no convento de Nevers, corpo incorrupto de Santa Bernadette exposto à veneração pública 

De Santa Bernadette comentou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: 

“Nela vemos bem o espírito da verdadeira contra-revolucionária, católica e santa, que não se importa com as pompas deste mundo; que não dá importância a ser tida em grande ou pequena conta; e que, por causa disso, despreza as honras e louvores mundanos. Para se ter sobranceria, é preciso não ligar para o mundo". 

Neste centenário, peçamos a ela essa graça: sermos verdadeiramente contra-revolucionários, no sentido de não compactuarmos com a Revolução gnóstica e igualitária que se alastra em nossos dias destruindo aquelas virtudes sublimes que tanto caracterizaram Santa Bernadette de Lourdes!

6 de junho de 2025

Devoção ao Sagrado Coração de Jesus — Segura salvação para a dureza moral nos corações


  Fonte: Editorial da revista Catolicismo, 894, junho/2025 

Em meio às borrascas desse mar revolto que é o mundo atual, anarquizado e na iminência de uma terceira grande guerra, se não nos atracarmos a um porto seguro, poderemos naufragar. Mas a Divina Providência nos orienta a um porto seguríssimo: a devoção ao Sagrado Coração de Jesus! Devoção considerada por muitos santos e teólogos como uma das mais preciosas graças com que a Santa Igreja tem sido reconfortada nos últimos séculos. 

Podem os mares encapelados, as tempestades do mundo, as provações desta vida e as tentações diabólicas abaterem-se sobre nós, mas se invocarmos com confiança e fervor Aquele Adorável Coração seremos salvos. Vítima dos pecados, das ingratidões, dos ultrajes, da dureza e frieza de coração, e de diversas outras misérias, perfurado pela lança de Longinus no alto do Calvário, d’Ele jorrou sangue para a Redenção do gênero humano. É a infinita misericórdia de Deus, que jamais nos abandona e está sempre disposto a curar todos os males, a sanar todas as crises de nossos dias, a perdoar os corações contritos e humilhados. 

Pintura com a Beata Maria do Divino Coração
e Santa Margarida Maria de Alacoque
em adoração ao Sagrado Coração de Jesus.
Importa destacar que o culto ao Sagrado Coração está intimamente vinculado à devoção ao Coração de Maria. Essa verdade levou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a escrever: “No dia em que tivermos legiões de pessoas verdadeiramente devotas do Coração Imaculado de Maria, o Coração de Jesus reinará sobre o mundo inteiro.” 

É no intuito de colaborar para que essa incomparável devoção triunfe em todos os corações, a fim de que se restabeleça no mundo inteiro o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, que a equipe da revista Catolicismo* escolheu esse tema para matéria de capa de sua edição de junho [foto no topo] — mês consagrado especialmente ao Sagrado Coração de Jesus e no qual se completam exatamente 350 anos de sua principal aparição sobrenatural à sua confidente, Santa Margarida Maria Alacoque, no dia 16 de junho de 1675.


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5 de junho de 2025

O NOVO LEÃO E OS VELHOS LOBOS

“Até aqui, tivemos Francisco, que falava com os lobos. Agora, temos um leão que expulsará os lobos” (Cardeal Ladislav Nemet). 

✅  Paulo Roberto Campos

Incontáveis católicos rezavam pedindo ao Espírito Santo que inspirasse claramente os Cardeais reunidos em Roma no recente Conclave. Encheram-se de esperançosa alegria ao verem, no final da tarde de 8 de maio, a fumaça branca saindo da chaminé da Capela Sistina.

Era o sinal da eleição de um novo Papa. Foi um júbilo vê-lo despontar, com as vestes tradicionais, no balcão principal da Basílica de São Pedro. O novo Romano Pontífice eleito foi o Cardeal Prevost, que escolheu o nome de Leão XIV. Com o mesmo nome, ele teve por predecessores dois santos: São Leão Magno e São Leão IX. E mais recentemente, no final do século XIX e início do século XX, Leão XIII. 

O júbilo não se restringiu à imensa multidão reunida na Praça de São Pedro, em frente à monumental Basílica. Ele também se manifestou na grande maioria dos quase um bilhão de pessoas que assistiram à grandiosa cena pelos meios de comunicação. Todos queriam ver o novo Sucessor de Pedro, o Vigário de Jesus Cristo na Terra, e dele receber a primeira bênção Urbi et Orbi


Apenas dois dias após sua eleição, Leão XIV foi rezar diante do milagroso quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho [foto acima], na pequena e medieval cidade de Genazzano, cuja história é resumidamente exposta em artigo do Prof. Roberto de Mattei publicado na edição da revista Catolicismo* deste mês, que a todos recomendo vivamente. 

Supliquemos também à Madonna de Genazzano especial proteção ao novo Pontificado, sempre lhe inspirando bons conselhos nas grandes dificuldades com que se defrontará ao longo dos próximos anos. Tanto em função de um mundo prestes a entrar numa terceira guerra mundial, como em razão da terrível crise que flagela a Santa Igreja devido aos erros do modernismo infiltrados em seu seio, os quais foram severamente condenados por São Pio X.

Juntemos nossas orações pelo Papa Leão XIV, a fim de que Deus conceda-lhe, como bem disse o Cardeal Raymond Burke, “abundante sabedoria, força e coragem para fazer tudo o que Nosso Senhor lhe pede nestes tempos tumultuados”


Ao mesmo tempo em que houve referido júbilo do povo católico ao ver o novo Romano Pontífice, houve também uma impressão de decepção em certas alas da esquerda, tanto civil quanto religiosa, bem como da parte daqueles que sintonizam com a “esquerda católica”, que esperavam um Papa vinculado à “Teologia da Libertação”. Esses “teólogos” libertários estavam criando tal clima durante o Pontificado do Papa Francisco, que alguns observadores vaticanistas chegaram a recear a ocorrência de um cisma na Igreja. 

Esta e outras questões relativas ao novo Pontificado são desenvolvidas em Catolicismo. A título de exemplo, copio aqui um trecho de um dos colaboradores da revista, o Prof. José Antonio Ureta: 

“Segundo o jornal Le Figaro, o cardeal sérvio Ladislav Nemet [foto ao lado] teria contado uma brincadeira que circulava entre os cardeais e que daria uma outra explicação pela escolha do nome Leão – leo em latim: ‘Até aqui, tivemos Francisco, que falava com os lobos. Agora, temos um leão que expulsará os lobos”. 

É o que o geral dos católicos espera de Leão XIV para a restauração da Santa Igreja, hoje infiltrada pela “fumaça de satanás” e vítima de um “misterioso processo de autodemolição” — segundo palavras de Paulo VI — uma vez que, pelas portas e janelas abertas por lobos transvestidos de ovelhas, penetrou tal fumaça diabólica no Templo de Deus. Esperemos que Leão XIV a dissipe de uma vez por todas e ponha fim a essa “autodemolição” que levou a Igreja à crise atual. Assim será restaurada a paz na Igreja no sentido da verdadeira Paz como definida por Santo Agostinho, ou seja, “a tranquilidade da ordem”, o que supõe a eliminação tão radical quanto possível dos fatores de desordem doutrinária e disciplinar que grassam em todos os ambientes católicos. 

Ainda é cedo para alguma apreciação seriamente definitiva a respeito do novo Papa, mas suas primeiras palavras causaram alento, pelo tom da cortesia católica, oposto à brutalidade e à vulgaridade...

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