18 de dezembro de 2025

INÉDITA E HISTÓRICA MENSAGEM DO PRESIDENTE DOS EUA SOBRE A IMACULADA CONCEIÇÃO

 


✅  Paulo Roberto Campos 

Nos dois séculos e meio de história dos Estados Unidos, Donald J. Trump é considerado o primeiro presidente norte-americano a fazer uma saudação oficial a Nossa Senhora enquanto concebida sem pecado original, ou seja, conforme o dogma da Imaculada Conceição, proclamado pelo Papa Pio IX, em 8 de dezembro 1854, com a Bula Ineffabilis Deus.

Sem aqui tratar dos acertos ou desacertos de Trump (e são muitos os acertos e muitos os desacertos...), no dia da Imaculada, 8 de dezembro, ele fez algo surpreendentemente bem acertado: uma saudação à Virgem, na qual inseriu, no final, a Ave Maria e pediu a intercessão d´Ela pelo fim da guerra e por uma paz duradoura no mundo. 

Apesar de ele não ser católico, falou da fervorosa devoção que os católicos norte-americanos dedicam a Santa Mãe de Deus e mencionou alguns grandes personagens do país que se consagraram na devoção à Imaculada, como Santa Elizabeth Seton e outros.

Basílica do Santuário Nacional
da Imaculada Conceição, em Washington
Na mensagem presidencial, Trump mencionou também a Basílica da Imaculada Conceição, em Washington, e das quase 50 universidades americanas que levam o nome de Maria, além de numerosas igrejas, hospitais e escolas. 

No final, o presidente americano acrescentou algumas palavras em agradecimento a Ela por sua intercessão a favor dos Estados Unidos, lembrando que Ela é Padroeira da nação.

Segue a tradução da íntegra da mensagem presidencial por ocasião da Festa da Imaculada Conceição. Publicado pela The White House em Briefings & Statements /  https://www.whitehouse.gov/ 


Hoje, reconheço todos os Americanos que celebram o dia 8 de Dezembro como um Dia Santo em homenagem à fé, humildade e amor de Maria, Mãe de Jesus e uma das maiores figuras da Bíblia. 

Anunciação do Anjo a Maria,
Ambrogio Lorenzetti (c. 1290 – 1348),
Pinacoteca Nazionale de Siena, Itália.


Na Festa da Imaculada Conceição, os católicos celebram o que acreditam ter nascido Maria livre do pecado original como mãe de Deus. Ela entrou pela primeira vez na história registrada como uma jovem mulher quando, de acordo com as Sagradas Escrituras, o anjo Gabriel a saudou na pequena cidade de Nazaré com a notícia de um milagre: “Ave, cheia de graça! O Senhor está contigo”, anunciando que “tu conceberás em teu ventre e darás à luz um filho, e o chamarás de Jesus”. 

Em um dos atos mais profundos e consequentes da história, Maria aceitou heroicamente a vontade de Deus com confiança e humildade: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. A decisão de Maria alterou para sempre o curso da humanidade. Nove meses depois, Deus se tornou homem quando Maria deu à luz um filho, Jesus, que viria a oferecer sua vida na cruz pela redenção dos pecados e pela salvação do mundo. 

Batalha de New Orleans,
pintada por Jean Hyacinthe de Laclotte,
membro da Milícia da Louisiana,
com base em seus esboços feitos no local.

Por quase 250 anos, Maria desempenhou um papel destacado na nossa grande história americana. Em 1792, menos de uma década após o fim da Guerra Revolucionária, o bispo John Carroll — o primeiro bispo católico nos Estados Unidos e primo do signatário da Declaração da Independência, Charles Carroll — consagrou nossa jovem nação à mãe de Cristo. Menos de um quarto de século depois, os católicos atribuíram a Maria a impressionante vitória do general Andrew Jackson sobre os britânicos na decisiva Batalha de Nova Orleans [quadro ao lado]. Todos os anos, os católicos celebram uma missa de ação de graças em Nova Orleans, no dia 8 de janeiro, em memória da ajuda de Maria para salvar a cidade. 

Ao longo dos tempos, personagens lendárias americanas como Elizabeth Ann Seton, Frances Xavier Cabrini e Fulton Sheen, que passaram suas vidas glorificando a Deus a serviço dos outros, mantiveram uma profunda devoção a Maria. A Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, localizada no coração da capital de nossa nação, honra Maria como a maior igreja da América do Norte. A oração atemporal “Ave Maria” continua sendo amada por inúmeros cidadãos. 

Ela inspirou a fundação de inúmeras igrejas, hospitais e escolas. Quase 50 faculdades e universidades americanas levam o nome de Maria. E, daqui a poucos dias, em 12 de dezembro, os católicos dos Estados Unidos e do México celebrarão a devoção inabalável a Maria que se originou no coração do México — um lugar que agora abriga a bela Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe — em 1531. À medida que nos aproximamos dos 250 anos da gloriosa Independência Americana, reconhecemos e agradecemos, com total gratidão, o papel de Maria na promoção da paz, da esperança e do amor na América e além de nossas fronteiras. 

Há mais de um século, em meio à Primeira Guerra Mundial, o Papa Bento XV, líder da Igreja Católica Romana, encomendou e dedicou uma majestosa estátua de Maria, Rainha da Paz, segurando o Menino Jesus com um ramo de oliveira, para que os fiéis cristãos fossem encorajados a seguir seu exemplo de paz, rezando pelo fim do terrível massacre. Poucos meses depois, a Primeira Guerra Mundial chegou ao fim. Hoje, voltamo-nos mais uma vez para Maria em busca de inspiração e encorajamento, enquanto rezamos pelo fim da guerra e por uma nova e duradoura era de paz, prosperidade e harmonia na Europa e em todo o mundo. 

Em sua homenagem, e em um dia tão especial para nossos cidadãos Católicos, lembramos as palavras sagradas que trouxeram ajuda, conforto e apoio a gerações de fiéis americanos em momentos de necessidade: 
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém!

12 de dezembro de 2025

FUNÇÃO DOS SÍMBOLOS PARA VENCER



A Batalha de Rocroi – François Joseph Heim (1834). Galeria de Batalhas, Palácio de Versalhes (França).



✅  Plinio Corrêa de Oliveira


N
este quadro da batalha de Rocroi — um dos principais combates da Guerra dos Trinta Anos travado em 19 de maio de 1643 —, vemos, de um lado, os franceses, e de outro os tércios espanhóis. Os soldados de ambos os lados estão firmes no campo de batalha e não há como abrir uma brecha no meio deles. 

Os franceses estão hesitantes, e nem toda fogosidade do Duque d’Enghien — então com apenas 21 anos, e mais tarde conhecido como o Grand Condé —, são suficientes para dar o arranco necessário para abrir essa brecha nas tropas dos tércios — então considerados invencíveis, eles estavam sob o comando do general Francisco de Melo, Conde de Assumar.

O Duque d’Enghien tem nas mãos o bastão de marechal da França [foto]. Era um símbolo muito sério! No mundo anterior à Revolução Francesa, sobretudo na Idade Média, o bastão era uma insígnia de mando frequente. E o bastão de marechal de França era forrado com veludo lilás sobre o qual se imprimiam, em ouro saliente, as flores de lis da Casa de França.

O Grand Condé comandava com esse bastão. Quando ele viu que não havia meio de abrir a brecha nos soldados tércios, ele lançou seu bastão no meio deles, dizendo ao exército francês: “Vamos pegá-lo!” 

Assim, seus soldados se lançaram e conseguiram abrir a brecha nas tropas adversárias.

Este quadro representa essa cena da batalha. O Grand Condé encontrou a solução para aquela situação difícil. 

Alguém talvez dissesse o seguinte: “Esse é um recurso que se usa até em brinquedos de criança; joga-se a bola no campo adversário e diz ‘vamos pegar a bola’. Portanto, trata-se de um método psicológico muito corrente e foi utilizado”. 

Mas no caso de Condé foi porque ele era um homem-símbolo e tinha na mão um bastão muito simbólico. E quem não for capaz de ir atrás do símbolo, não é capaz de vencer. Condé arriscou a vitória e lançou o bastão, talvez pensando: “Toda a minha glória militar está sendo arriscada neste gesto, mas a vaincre sans péril on triomphe sans gloire” (a vencer sem perigo, triunfa-se sem glória). 

Ele arriscou tudo na beleza do gesto, jogando o bastão de marechal de França, bradando, eventualmente com seu cavalo levantando as patas dianteiras de modo lindo.

Nessas horas, por uma disposição da Providência, até batem nas plumas do chapéu os ventos propícios para marcarem lindamente a história e o quadro ficar completo. No arriscado gesto de jogar seu bastão de mando, ele ganhou a batalha! 

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 15 de março de 1977. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

11 de dezembro de 2025

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE



Neste dia 12 de dezembro a Santa Igreja celebra solenemente a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira das Américas. 

Ela apareceu no ano de 1531, no México, ao índio asteca Juan Diego, deixando impressa a sua imagem, com os símbolos da Imaculada Conceição, no avental do índio. 

Neste episódio, mostrou Nossa Senhora uma predileção particularmente maternal para com os indígenas. Predileção essa que bem se refletiu no zelo de tantos missionários tradicionais. 

As conversões de aborígenes operadas ante a Imagem de Nossa Senhora foram incontáveis. É que a misericórdia d´Ela consistia em converter os índios e não em os deixar jazendo nas trevas do paganismo, como pleiteiam os missionários “aggiornati”. 

*   *   *
Segue o original e a tradução de uma belíssima oração a Nossa Senhora de Guadalupe. Eu a copiei de um “santinho” (na frente com uma foto d´Ela e no verso com a oração em castelhano) que Plinio Corrêa de Oliveira osculava, rezava e guardava com muita piedade. 

Pintura colonial (séc. XVIII) representando uma procissão com clérigos, fiéis e indígenas devotos, com o estandarte da Virgem de Guadalupe sendo solenemente levado sob um belo andor. O quadro, atribuído a Miguel Cabrera (1695–1768), fica exposto no Museo Soumaya, na cidade do México.



Manojito de imposibles a la Ssma. Virgen de Guadalupe 


Oh Madre mía de Guadalupe, que para Tí no hay imposibles! A Tu Corazón todo magnanimidad y dulzura, he confiado un manojito de imposibles, que bien conoces y que realmente son superiores a mis fuerzas. Problemas insolubles, dificultades insuperables, penas sin humano remedio que me torturan espantosamente, aquí están Madre mia, para que Tu hagas el imposible de que se remedien... Muestra la grandeza de Tu amor y Tu poder superando estos imposibles. 

Los traigo a Tus plantas, en la confianza, con la plena seguridad de que los remediarás porque por Tu propia dignación y por el compromiso que Tu Corazón quiso contraer en favor nuestro, esos imposibles dejarán de serlo. Sí, dejarán de serlo al influjo irresistible de Tu Bondad. Es imposible que Tu no venzas los imposibles. 

Amén 
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Buquê de impossíveis à Santíssima Virgem de Guadalupe 


Ó minha Mãe de Guadalupe, para quem não existem impossíveis! Ao vosso Coração, pleno de magnanimidade e doçura, confio um buquê (um punhado) de impossíveis, que bem conheceis e que realmente superam as minhas forças. Problemas insolúveis, dificuldades intransponíveis, penas sem remédio humano que me torturam espantosamente: aqui estão, minha Mãe, para que realizeis o impossível de vê-los remediados... Mostrai a grandeza do vosso amor e do vosso poder, superando esses impossíveis. 

Eu os trago aos vossos pés, na confiança, com plena segurança de que os remediareis, porque, por vossa própria grandeza e pelo compromisso que Vosso Coração quis assumir em nosso favor, esses impossíveis deixarão de sê-lo. Sim, deixarão de sê-lo sob o influxo irresistível de vossa Bondade. É impossível que Vós não vençais os impossíveis.

Amém!

7 de dezembro de 2025

IMACULADA CONCEIÇÃO — uma verdade de Fé, uma sacral desigualdade

 


✅  Paulo Roberto Campos 

Neste dia 8 de dezembro a Santa Igreja celebra solenemente a festividade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Privilégio unicamente d´Ela que foi defendido por muitos santos e teólogos, apesar de outros considerem ser uma questão discutível e que, portanto, não seria conveniente a proclamação de um dogma declarando definitivamente como “verdade de fé obrigatória” que Ela foi Concebida sem pecado original, como ocorre com todos os homens devido à culpa — o pecado de desobediência a Deus — de nossos primeiros pais, Adão e Eva. 

Entretanto, o dogma foi proclamado pelo Papa Pio IX — com a Bula Ineffabilis Deus, de 8 de dezembro de 1854 — e ocorreu um júbilo geral entre os católicos de todas as partes do mundo. 

Esse privilégio único e maravilhoso da Santíssima Virgem foi por Jacques-Bénigne Bossuet, bispo, grande orador e escritor francês do século XVII, assim sintetizado lapidarmente, vimos n´Ela "Un enfantement sans douleur, une chair sans fragilité, des sens sans rébellion, une vie sans tache, une mort sans peine" (“Um parto sem dor, uma carne sem fragilidade, sentidos sem rebeldia, uma vida sem mácula, uma morte sem sofrimento”). 

Em memória dessa tão augusta celebração do dia 8 de dezembro, segue a transcrição de trecho de um célebre artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado na revista Catolicismo, de fevereiro/1958, no qual ele faz uma análise da missão de Nossa Senhora em nossos tempos.

“Ao definir o dogma da Imaculada Conceição, o Papa Pio IX despertou em todo o orbe civilizado repercussões ao mesmo tempo díspares e profundas. 

De um lado, em grande parte dos fiéis, a definição do dogma suscitou um entusiasmo imenso. Ver um Vigário de Jesus Cristo erguer-se na plenitude e na majestade de seu poder, para proclamar um dogma em pleno século XIX, era presenciar um desafio admiravelmente sobranceiro e arrojado ao ceticismo triunfante, que já então corroía até as entranhas a civilização ocidental. 

Acresce que esse dogma era marial. Ora, o liberalismo, outra praga do século XIX, tende por sua própria natureza ao interconfessionalismo, à afirmação de tudo o que as várias religiões têm em comum (o que em última análise se reduz a um vago deísmo), e a uma subestimação, quando não a uma formal rejeição de tudo quanto as separa. 

Assim, a proclamação de um novo dogma mariano — precisamente como ocorreu em alguns arraiais com a definição recente da Assunção — se afigurava aos interconfessionalistas ocultos ou declarados de 1854 uma séria e inesperada barreira para a realização de seus desígnios. 

Mais ainda, o novo dogma, em si mesmo considerado, chocava a fundo o espírito essencialmente igualitário da Revolução que, a partir de 1789, reinava despoticamente no Ocidente. Ver uma simples criatura de tal maneira elevada sobre todas as outras, por um privilégio inestimável, concedido no primeiro instante de seu ser, é coisa que não podia nem pode deixar de doer aos filhos da Revolução que proclamava a igualdade absoluta entre os homens como o princípio de toda ordem, de toda justiça e de todo bem. 

Aos não-católicos, como aos católicos mais ou menos infectados do espírito de 1789 [ano da Revolução Francesa], doía-lhes aceitar que Deus tivesse instalado com tanto realce, na Criação, um elemento de tão caracterizada desigualdade. 

Por fim, a própria natureza do privilégio [de Nossa Senhora como “Imaculada Conceição”] é antipática para espíritos liberais. Se alguém admite o pecado original com toda a sequela de desregramentos da alma e misérias do corpo que ele acarretou, há de aceitar que o homem precisa de uma autoridade, a cujo império tem de viver sujeito. 

Ora, a definição da Imaculada Conceição implicava numa reafirmação implícita do ensinamento da Igreja a este respeito. 

Todavia, por mais que tudo isto seja, não estava só nisto o que ousaríamos chamar o sal do glorioso acontecimento da definição do dogma. É impossível pensar na Virgem Imaculada sem ao mesmo tempo lembrar a serpente cuja cabeça Ela esmagou triunfal e definitivamente com o calcanhar. O espírito revolucionário é o próprio espírito do demônio, e seria impossível, para uma pessoa de fé, não reconhecer a parte que o demônio tem no aparecimento e na propagação dos erros da Revolução, desde a catástrofe religiosa do século XVI até a catástrofe política do século XVIII e tudo quanto a esta se seguiu. 

Ora, ver assim afirmado o triunfo de sua máxima, de sua invariável, de sua inflexível inimiga, era, para o poder das trevas, a mais horrível das humilhações. 

De onde um concerto de vozes humanas e rugidos satânicos por todo o mundo, semelhante a uma imensa e fragorosa tempestade. 

Ver que contra essa tempestade de paixões inconfessáveis, de ódios ameaçadores, de desesperos furiosos, se erguia só, e intrépida, a figura majestosa do Vigário de Cristo, desarmada de todos os recursos da Terra e fiada apenas no auxílio do Céu, era fonte, para os verdadeiros católicos, de um júbilo igual ao que sentiram os Apóstolos vendo erguer-se, na tempestade desencadeada sobre o Lago de Genesareth, a figura divinamente varonil do Salvador, a comandar soberanamente os ventos e os mares: ‘venti et mare oboediunt ei’ (Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem? - Mt. 8, 27)”.

1 de dezembro de 2025

ESBOÇO DE CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA SOBRE A BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA, MÃE DE DEUS E MÃE DOS HOMENS

 


1. Sobre a íntima união entre Cristo e Maria segundo o beneplácito divino

O Criador de todas as coisas, Deus sapientíssimo e de imensa bondade, que gozava de plena liberdade para determinar o modo e o meio pelos quais se realizaria, por Ele mesmo, a libertação do gênero humano, desde toda a eternidade estabeleceu, por um único e mesmo decreto, a Encarnação da Sabedoria divina e a predestinação da Bem-Aventurada Virgem, da qual o Verbo feito carne haveria de nascer, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4).

Ora, como as Sagradas Escrituras, de modo explícito ou implícito, nos apresentam Maria unida a Jesus por um vínculo estreitíssimo e indissolúvel — desde o anúncio profético (cf. Gn 3,15; Is 7,14; Mt 1,23) e a concepção virginal (cf. Mt 1,18-25; Lc 1,26-38) — é plenamente coerente que a Igreja, assistida pelo Espírito Santo e guiada com segurança para compreender e perceber com clareza tudo quanto nas fontes sagradas se encontra velado ou apenas implicitamente contido (cf. Jo 14,26), e preservada do erro (cf. Mt 16,18; 28,18-20; Jo 14,16; 15,20), ao ilustrar os mistérios do divino Redentor, também traga à luz, de modo mais claro, o mistério da Mãe de Deus.

Esta Mãe amorosa, que “cooperou pela caridade para que na Igreja nascessem os fiéis”, é não só o membro “supereminente” e absolutamente singular da Igreja, mas também o seu modelo e, ainda mais, sua Mãe.

Por isso, o Santo Sínodo, depois de ter tratado do Corpo Místico de Cristo, permanecendo fiel aos documentos anteriores do Magistério vivo da Igreja, único intérprete autêntico do depósito revelado, julga oportuno expor sumariamente o lugar que a Mãe de Deus e dos homens ocupa na Igreja, os privilégios com que seu Filho a enriqueceu, e os deveres que nos cabem para com tão sublime criatura — a fim de que o saber e a piedade marianos floresçam reta e plenamente, e se afastem opiniões preconcebidas sobre este tema.

 

2. Sobre o papel da Bem-Aventurada Virgem Maria na economia da nossa salvação

Como, pois, o Verbo do eterno Pai quis assumir a natureza humana de uma mulher, para que, assim como por uma mulher veio a morte, também por uma mulher nos viesse a vida, e para que a libertação fosse obra de ambos os sexos, Ele não realizou tal desígnio antes que a aceitação livre da mãe designada, redimida de modo mais sublime em previsão dos méritos de Cristo, fosse obtida (cf. Lc 1,38); de modo que o Filho de Deus, pela Encarnação, se tornasse também Filho dela, novo Adão e Salvador do mundo.

Por este consentimento, Maria, filha de Adão, tornou-se não só mãe de Jesus, único Mediador e Redentor divino, mas também, com Ele e sob Ele, associou a sua ação à realização da redenção do gênero humano. Esse consentimento salvífico da Mãe de Deus — e, portanto, sua cooperação na obra redentora — perdurou desde a concepção virginal de Jesus Cristo até a sua morte; e brilhou de modo particular quando, junto à cruz, por desígnio divino, permaneceu de pé (cf. Jo 19,25), compadecendo-se profundamente com o seu Unigênito, oferecendo-O, com Ele e por Ele, com ânimo magnânimo, como preço da nossa redenção, e sendo, enfim, pelo mesmo Cristo Jesus moribundo, dada como mãe ao gênero humano (cf. Jo 19,26-27).

E, como o mistério da redenção humana não se completaria antes da vinda do Espírito Santo prometido por Cristo no dia de Pentecostes, contemplamos Maria perseverando em oração com os Apóstolos no Cenáculo (cf. At 1,14), implorando com suas preces a efusão do Espírito.

Assim, sendo a Bem-Aventurada Virgem predestinada desde a eternidade para ser Mãe de Deus e dos homens, e tendo sido disposta pela divina Providência a ser nesta terra a generosa companheira do Cristo sofredor na aquisição da graça para os homens, é com razão e justiça saudada como administradora e dispensadora das graças celestes.

Segue-se, pois, que Maria, que cooperou na formação do Corpo Místico de Cristo e que, assumida ao Céu e constituída Rainha pelo Senhor, manifesta para com todos os homens um coração maternal, obtém, por meio de seu Filho, uma primazia sobre todos; e por isso não está, como alguns dizem, “na periferia”, mas no próprio “centro” da Igreja, sob Cristo.

 
Virgem da Misericórdia – Jean Miraillet (por volta de 1444). Capela da Misericórdia, da Arquiconfradia dos Penitentes Negros de Nice

3. Sobre os títulos com que costuma exprimir-se a associação da Bem-Aventurada Virgem Maria com Cristo na economia da salvação

Como na cooperação da Mãe de Deus com Cristo — nova Eva com o novo Adão — na obra da redenção humana, os múltiplos e variados títulos com que o Magistério da Igreja, a venerável Tradição e o piedoso sentimento dos fiéis costumam saudar a Bem-Aventurada Virgem se apoiam em fundamento, raiz e princípio sólidos, seria impiedade afirmar que tais títulos, no sentido em que a Igreja os entende, são vãos ou contrários às Escrituras.

Assim, não sem motivo a Igreja chama a Bem-Aventurada Virgem “Medianeira de todas as graças”. Pois se, ainda nesta terra, o Apóstolo São Paulo se lembrava continuamente dos fiéis em suas orações e pedia com insistência o auxílio das preces deles, quanto mais convém e é proveitoso que nos recomendemos às preces e intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria.

Ela, com efeito, está unida a Deus e a Cristo, Filho de Deus e seu Filho, mais estreita e intimamente que qualquer outra criatura pura, de modo que lhe é absolutamente próprio; ama a Deus mais ardentemente do que qualquer criatura, e por Ele é amada de modo singular; como mãe do Salvador (cf. Lc 1,31), experimentou, ao ver sua alma transpassada (cf. Lc 2,35) sob a cruz do Filho moribundo pela salvação de todos (cf. Jo 19,25-27), o amor de Deus no amor pelos homens em seu ponto mais alto.

Sustentada por tantos e tão grandes títulos, intercede continuamente por nós diante de Deus e de Cristo com seu amor maternal; e, porque sua intercessão deriva toda a sua eficácia do sacrifício cruento de seu bendito Filho, esta mediação de Maria de modo algum faz com que cesse de haver um só Mediador entre Deus e os homens — o homem Cristo Jesus (cf. 1Tm 2,5) —, assim como da bondade de Deus não se segue que Ele deixe de ser o único e absoluto autor de todo bem (cf. Mt 19,17; Rm 2,4).

Embora, entre os mediadores subordinados de que o sapientíssimo Deus quis servir-se na economia da nossa salvação, não se possa conceber nenhum que tenha cooperado ou venha a cooperar com tanto poder para reconciliar os homens com Deus como a Mãe de Deus, é sempre verdade que também ela depende totalmente de Cristo e lhe está subordinada, tanto na sua predestinação e santidade quanto em todos os seus dons.

Portanto, sendo esta humilde “Serva do Senhor”, a quem “o Todo-Poderoso fez grandes coisas” (cf. Lc 1,49), chamada “Medianeira de todas as graças” por ter sido associada a Cristo na sua aquisição, e invocada pela Igreja como nossa Advogada e Mãe de misericórdia, pois, unida no Céu ao Cristo glorioso, intercede por todos, segue-se que, em toda comunicação de graça aos homens, está presente a caridade maternal da Bem-Aventurada Virgem; e de modo algum se obscurece nem se diminui a mediação única do nosso Mediador, segundo o sentido absoluto das palavras do Apóstolo (1Tm 2,5): “Um só é Deus, um só também o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus”; pelo contrário, a mediação de Cristo é exaltada e honrada.

Maria, com efeito, é medianeira em Cristo; e sua mediação não provém de necessidade alguma, mas do beneplácito divino e da superabundância e eficácia dos méritos de Jesus: ela se apoia na mediação de Cristo, dela depende inteiramente e dela tira toda a sua força.

Por isso, o Santo Sínodo exorta com empenho os teólogos e pregadores da Palavra de Deus a que, cultivando diligentemente o estudo da Sagrada Escritura e dos Santos Padres segundo o sentido do Magistério da Igreja, procurem colocar na verdadeira luz os ofícios e funções da Bem-Aventurada Virgem, em conexão com os outros dogmas, sobretudo com os que se referem a Cristo, que é o centro de toda a verdade, santidade e piedade.

Neste trabalho, guarde-se sempre o que se chama “analogia”, ou seja, uma semelhança dissemelhante, toda vez que se predica de Cristo e da Virgem Maria um mesmo nome ou ofício; pois de modo algum a Mãe de Deus pode ser equiparada a Cristo.

 

4. Sobre os privilégios singulares da Mãe de Deus e dos homens

A Virgem Maria, amada de modo inefável por Deus, foi adornada de privilégios absolutamente singulares: admirável no seu nascimento, pela Imaculada Conceição; admirável na sua vida, por ter permanecido livre de toda culpa pessoal e ter sido ao mesmo tempo mãe e sempre virgem, de mente e corpo; admirável, enfim, no seu trânsito, pois — segundo antiga e venerável tradição — embora tenha sofrido a morte temporal para se assemelhar mais plenamente ao seu Filho, não pôde, contudo, ser retida pelos laços da morte, sendo assunta ao Céu em corpo e alma, gloriosamente.

Tais privilégios singulares e outras graças provenientes de Cristo Redentor redundam em sua honra, de modo que não podemos contemplar as excelsas dádivas da Mãe sem admirar e celebrar a divindade, a bondade, o amor e a onipotência do Filho.

Assim como a injúria feita à mãe atinge o filho, também a glória da mãe redunda em glória do filho. Portanto, dado que Maria teve uma união singular com seu Filho, convinha que, em previsão dos méritos do perfeitíssimo Redentor — autor de toda santidade, que veio ao mundo para destruir o pecado —, fosse preservada imune de toda mancha do pecado original desde o primeiro instante de sua concepção, e ornada de graças e dons muito acima de todos os espíritos angélicos e de todos os santos, para que, verdadeiramente, como Mãe de Deus, Filha do Pai e Santuário do Espírito Santo, superasse em dignidade todas as criaturas.

Convinha também plenamente que o Filho, que amou sua Mãe com particular afeto, e quis que a integridade corporal dela permanecesse incorrupta e inviolada no próprio parto, para que “permanecendo a glória da virgindade, derramasse sobre o mundo a luz eterna”, não permitisse que aquele santíssimo corpo virginal — augusto tabernáculo do Verbo divino, templo de Deus, todo santo e todo puro — fosse reduzido ao pó.

 

5. Sobre o culto à Bem-Aventurada Virgem Maria

Como à Bem-Aventurada Virgem compete uma excelência singular, sendo saudada pelo Arcanjo mensageiro de Deus como “cheia de graça” (Lc 1,28) e por Isabel, cheia do Espírito Santo, como “bendita entre as mulheres” (cf. Lc 1,42), nada admira que, como ela mesma profetizou — “todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1,48) —, seja proclamada, venerada, amada e invocada como “bem-aventurada” por todos os povos e em todos os ritos, com louvores que, através dos séculos, crescem continuamente; sendo proposta como exemplo para imitação.

E está muito longe de ser verdade que esse culto singular prestado a Maria diminua o culto divino de latria — a adoração devida ao Verbo encarnado, assim como ao Pai e ao Espírito Santo; pelo contrário, muito o favorece.

As várias formas de piedade mariana aprovadas pela Igreja — dentro dos limites da sã e ortodoxa doutrina, segundo as condições dos tempos, lugares e índole dos fiéis — têm por fim que, ao se honrar a Mãe, o Filho, em quem aprouve ao Pai que habitasse toda a plenitude (cf. Cl 1,19), seja conhecido, amado, glorificado, e que seus mandamentos sejam observados; e assim, por Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), os homens sejam conduzidos ao pleno conhecimento e adoração do único e trino Deus.

Esta doutrina sã e católica o Santo Sínodo ensina deliberada e firmemente, advertindo ao mesmo tempo os Bispos que zelem diligentemente para que teólogos e pregadores da Palavra divina evitem tanto toda falsa exaltação quanto excessiva estreiteza de mente ao considerarem a dignidade singular da Mãe de Deus.

Lembrem-se também os fiéis de ambos os sexos de que a verdadeira devoção não consiste em um sentimento passageiro, e rejeitem toda vã credulidade; antes, mantenham firmemente que a devoção procede da verdadeira fé, pela qual somos levados à imitação das virtudes da Bem-Aventurada Virgem, que foi “a serva do Senhor” (Lc 1,38), humildíssima e obedientíssima, que guardou fielmente, “meditando em seu coração” (Lc 2,19), tudo o que dizia respeito ao Verbo encarnado (cf. Lc 2,51), e foi proclamada bem-aventurada “porque acreditou” (cf. Lc 1,45).

De nada teria aproveitado a Maria a proximidade física com Cristo, “se não o tivesse trazido mais felizmente no coração do que no seio”.

Com a devida honra e reverência com que os irmãos separados — especialmente os Orientais, movidos por um impulso fervoroso de venerar de modo peculiar a Mãe de Deus — tratam a Mãe do Senhor e Salvador nosso, alegra-se e consola-se grandemente o Santo Sínodo.

Por isso, é manifesto que se atribui injusta e falsamente à Igreja católica o culto à Mãe de Deus, como se daí se subtraísse algo da adoração devida somente a Deus e a Jesus Cristo.

 

As Bodas de Caná – Gerard David (1460-1523). Museu do Louvre, Paris

6. Maria Santíssima, protetora da unidade cristã

Maria, Mãe e Virgem Santíssima que no Calvário teve confiada ao seu coração materno toda a humanidade, deseja ardentemente que não só aqueles que receberam um só batismo e são conduzidos por um só Espírito, mas também os que ainda ignoram ter sido redimidos por Cristo Jesus, estejam unidos, tanto com o divino Salvador quanto entre si, pela mesma fé e caridade.

Por isso, o Santo Sínodo confia e espera firmemente que esta Mãe de Deus e dos homens — que intercedeu (cf. Jo 2,3) para que o Verbo encarnado realizasse em Caná da Galileia o seu primeiro sinal, pelo qual seus discípulos creram nele (cf. Jo 2,11), e que esteve presente ao lado da Igreja nascente — obtenha de Deus, com seu patrocínio, que finalmente todos se reúnam num só rebanho sob um só Pastor (cf. Jo 10,16).

Exorta, pois, a todos os fiéis de Cristo que dirijam insistentes preces e súplicas a esta Protetora da unidade e Auxiliadora dos cristãos, para que, por sua intercessão, seu divino Filho reúna todas as famílias das nações — e especialmente aqueles que se gloriam do nome cristão — num só povo de Deus, que reconheça com amor, como comum Pastor, o Vigário de Cristo na terra, Sucessor do bem-aventurado Pedro, aquele que, no Concílio de Éfeso — onde foi solenemente definido o dogma da maternidade divina —, os Padres, com aplauso unânime, justamente saudaram como “Guarda da fé”.

30 de novembro de 2025

Introdução histórica ao esquema preparatório sobre a Bem-aventurada Virgem Maria

 


Corredentora e Medianeira Universal de todas as graças. Dois títulos de glória da Virgem Maria. Dois dogmas que os fiéis aguardam!

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 900, Dezembro/2025

O século XIX e o início do século XX assistiram a um extraordinário florescimento da devoção mariana e dos estudos teológicos sobre Nossa Senhora. Tal impulso foi estimulado pela proclamação do dogma da Imaculada Conceição (1854), pelas aparições de Lourdes (1858) e de Fátima (1917), e pela redescoberta do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem de São Luís Maria Grignion de Montfort.

Esses acontecimentos reacenderam na Igreja o desejo ardente de que fosse proclamado um novo dogma, reconhecendo o papel eminente da Mãe de Deus na obra da Redenção.

Cardeal Désiré-Joseph Mercier,
arcebispo de Malines-Bruxelas
Já em 1913, o Cardeal Désiré-Joseph Mercier, arcebispo de Malines-Bruxelas, juntamente com todo o episcopado belga, dirigiu a São Pio X um pedido de definição dogmática sobre a Mediação Universal da Santíssima Virgem Maria na distribuição das graças.

A eclosão da Primeira Guerra Mundial e o falecimento do Pontífice interromperam, porém, essa iniciativa. Renovado o pedido sob o pontificado de Pio XI, este concedeu em 1922 à Igreja da Bélgica o privilégio de celebrar a Missa e o Ofício em honra de Maria Medianeira.

Mais tarde, Pio XII — que via na crescente devoção à Mãe de Deus “o mais encorajador sinal dos tempos” — proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora (1950), o que suscitou novos e numerosos pedidos à Santa Sé para a definição dos dogmas da Corredenção e da Mediação Universal. Entretanto, a morte do Papa interrompeu o curso dessas esperanças.

Quando João XXIII convocou o Concílio Vaticano II, o então Secretário de Estado, Cardeal Domenico Tardini, enviou a todos os bispos, superiores religiosos e universidades católicas um questionário, pedindo-lhes que manifestassem seus vota (desejos) sobre os temas a tratar na futura assembleia. A maioria dos prelados expressou o anseio por uma reforma moderada da Igreja, fiel à tradição, pela condenação dos erros modernos — sobretudo o comunismo — e, de modo particular, por novas definições doutrinais relativas à Santíssima Virgem Maria.

Os bispos italianos, majoritários no episcopado mundial, solicitaram que o Concílio proclamasse o dogma da “Mediação Universal da Bem-aventurada Virgem Maria”, pedido que encontrou eco também em parte significativa do episcopado francês. No Brasil, segundo o Pe. José Oscar Beozzo, o pedido mais frequente nos vota dos bispos era justamente o de que o Concílio definisse a doutrina ou o dogma da Mediação Universal de Nossa Senhora.

Atendendo a essa expectativa, a Comissão Preparatória criou um grupo de trabalho encarregado de redigir um esquema conciliar sobre a Beatíssima Virgem Maria. O texto foi elaborado principalmente por dois eminentes mariólogos: o Pe. Carlo Balić, presidente da Pontifícia Academia Mariana Internacional, e o Pe. Gabriele Maria Roschini, fundador e reitor da Pontifícia Faculdade Teológica Marianum. O esquema, intitulado Schema Constitutionis Dogmaticae de Beata Maria Virgine Matre Ecclesiae, empregava explicitamente o termo “Corredentora”. Uma subcomissão, contudo, suprimiu a expressão na versão final, ainda que reconhecendo ser “em si mesma veríssima”, por temor de interpretações desfavoráveis por parte dos “irmãos separados”.

A possibilidade de aprovação do texto encontrou forte resistência nos meios teológicos progressistas. O dominicano Yves Congar registrou em seu diário que “o drama que acompanhou toda [sua] vida” era “a necessidade de lutar contra uma mariologia que não procede da Revelação, mas que tem o apoio de textos pontifícios”. O jovem Pe. René Laurentin, por sua vez, afirmava ser necessário “purificar” a exaltação mariana então predominante. Essa corrente “minimalista”, como a denominou o Pe. Roschini, tendia a reduzir o papel de Maria, identificando-a com a própria Igreja e considerando-a apenas prima inter pares, “a primeira entre iguais”, dentro do Corpo Místico de Cristo.

Nossa Senhora da Misericórdia
Bonanat Zaortiga, o Velho (1430)
 Museu Nacional de Arte
 da Catalunha, Espanha.
O Schema de Beata Maria Virgine Mater Ecclesiae foi enviado aos Padres conciliares em maio de 1963, entre a primeira e a segunda sessões conciliares. Em uma reunião de episcopados da Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda e Suíça, o jesuíta Karl Rahner criticou o documento, alegando que suas afirmações “não eram suficientemente desenvolvidas” e poderiam causar “um mal incalculável do ponto de vista ecumênico”. O “bispo” luterano Dibelius havia declarado pouco antes que a doutrina católica sobre Maria constituía um dos maiores obstáculos ao ecumenismo. Rahner, portanto, propôs que o esquema marial fosse reduzido e incorporado como um simples capítulo final da constituição dogmática sobre a Igreja.

Nos debates conciliares, o Cardeal Josef Frings, de Colônia, sustentou essa proposta. Ele foi apoiado pelo Cardeal Raúl Silva Henríquez, de Santiago do Chile, em nome de 44 bispos latino-americanos, alegando que a devoção mariana popular na região excedia os limites da fé cristã. Em sentido contrário, o Cardeal Benjamín de Arriba y Castro, arcebispo de Tarragona, falando por 60 bispos espanhóis, defendeu a manutenção de um esquema separado, dada a importância de Maria Santíssima na economia da Redenção.

Diante do grande número de Padres conciliares inscritos para se pronunciar, o Papa João XXIII ordenou que a Comissão Teológica escolhesse um único porta-voz de cada corrente de opinião, a fim de apresentar sinteticamente, diante da aula conciliar, os fundamentos de cada posição. O Cardeal Rufino Santos, de Manila, resumiu magistralmente o argumento favorável ao esquema separado, afirmando que a Virgem é o primeiro e principal membro da Igreja, mas, ao mesmo tempo, está acima dela, intra Christum et Ecclesiam, como ensinou São Bernardo. A fusão dos esquemas, advertiu, seria interpretada pelos fiéis como uma diminuição da devoção mariana. O Cardeal Franz König, de Viena, respondeu que a devoção a Maria necessitava de “purificação”, para evitar exageros e obstáculos ao ecumenismo.

Cinco dias depois, a assembleia votou: 1.114 bispos a favor da fusão, 1.074 contrários — uma diferença mínima, mas suficiente para que o texto marial fosse incorporado ao De Ecclesia.

Uma comissão revisora reformulou o escrito. Seu presidente, o belga Mons. Gérard Philips, propôs a Paulo VI manter o título “Medianeira” no texto, porém sem maior desenvolvimento doutrinal, como gesto conciliador para com os que haviam votado contra a fusão. Apesar dessa concessão, houve protestos: o bispo de Granada, em nome de 80 prelados espanhóis, lamentou que a comissão tivesse reescrito inteiramente o documento, em vez de apenas adaptá-lo. Os bispos poloneses, por outro lado, pediram que o capítulo sobre Nossa Senhora fosse colocado não ao final, mas em segundo lugar, para sublinhar sua posição singular junto a Cristo.

Apesar das resistências, prevaleceu a versão “minimalista”. Foram suprimidas as expressões “Corredentora” e “Medianeira de todas as graças”, restando apenasa frase: “a Beatíssima Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora e Medianeira”. Paulo VI, no entanto, corrigiu parcialmente essa omissão ao proclamar solenemente, no encerramento da terceira sessão conciliar, Maria Santíssima como Mãe da Igreja — gesto que provocou protestos irados dos Padres e expertos conciliares progressistas, que o acusaram de “voltar-se contra o Concílio”.

Cardeal Rufino Santos
O antigo Schema de Beata Maria Virgine Mater Ecclesiae foi arquivado, e o texto reduzido inserido no último capítulo da Lumen Gentium. Como previra o Cardeal Rufino Santos, essa solução teve o efeito de diminuir a centralidade da devoção mariana na vida da Igreja e de esfriar a piedade da maioria dos fiéis. Contudo, o amor dos verdadeiros devotos da Santíssima Virgem não se extinguiu. Nas décadas seguintes, cresceu o movimento em favor da proclamação de um quinto dogma mariano — o da Corredenção e Mediação Universal. A associação Vox Populi Mariae Mediatrici recolheu, nos últimos 30 anos, o apoio de cerca de 700 bispos e cardeais, além de oito milhões de fiéis, que pedem incansavelmente à Santa Sé a definição solene desse papel único de Nossa Senhora na economia da salvação.

A publicação da recente Nota doutrinal sobre alguns títulos marianos referidos à cooperação de Maria na obra da Salvação — que, em oposição explícita ao Magistério ordinário universal dos Papas e doutores da Igreja, julga “sempre inoportuno” o título de Corredentora e arriscado o de Medianeira de todas as graças — não será suficiente para esfriar o ardor nem abalar a firme resolução dos fiéis de continuar a manifestar aos Pastores da Igreja os próprios anseios (CIC, cân. 212 §2) e de exprimir, com filial liberdade, a própria opinião sobre tudo o que diz respeito ao bem da Igreja (§3).

É nesse mesmo espírito de fidelidade à Tradição e de amor à Santíssima Virgem que Catolicismo apresenta a seguir [publicaremos amanhã] aos seus leitores a íntegra do esquema preparatório que foi rejeitado pela maioria do Padres conciliares, testemunho luminoso da mais elevada e autêntica expressão da Mariologia imediatamente anterior ao Concílio Vaticano II.

27 de novembro de 2025

MÃE DA DIVINA GRAÇA



A festividade da Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças comemora-se neste dia 27. Na atual época de crise, principalmente religiosa e moral, o que diria a Santíssima Virgem a alguém que estivesse ajoelhado diante de uma imagem de Nossa Senhora das Graças? A esse respeito, oferecemos a nossos leitores um admirável comentário de Plinio Corrêa de Oliveira. 


“Em mim verás: O reflexo sem jaça da Bondade incriada e absoluta, Tudo quanto quero dar porque sou boa, Tudo quanto desejo conceder porque sou Mãe, Tudo que posso dar porque sou Rainha. 
Isso tudo, meu filho, Eu o vou espargindo sobre os homens. 

Esta minha imagem, não te diz uma só palavra. Porém, eu faço algo muito melhor do que falar a teus ouvidos: comunico-te uma graça que te fala no fundo da alma. 

Notas em ti essa paz que transborda de meu Coração Imaculado, a qual te envolve, te penetra inteiro? 

Essa paz que nenhuma alegria terrena pode trazer, e que te faz sentir uma tranqüilidade interior, na qual ressoa minha voz, inaudível a teus sentidos! No que concerne a teus justos anseios, tudo está resolvido! E aquilo que não o estiver, resolver-se-á oportunamente, segundo os desígnios amorosos de Deus. Confia em Mim, que acertarei tudo. 
Aceita este sorriso, Deita atenção à voz da graça, Penetra-te desta bondade, E não duvides jamais”. 

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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 623, novembro/2002.

26 de novembro de 2025

QUIS UT VIRGO?

 

A Virgem do Apocalipse – Miguel Cabrera (1695-1768). Museu Nacional de Arte, Cidade de México. 

  ✅  Roberto de Mattei
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 900, Dezembro/2025


Em 16 de outubro de 1793 ocorreu aquele que foi o mais repugnante crime da Revolução Francesa: a execução da rainha Maria Antonieta da França, após um processo-farsa perante o Tribunal Revolucionário. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu sobre Maria Antonieta: 
“Há certas almas que só se tornam grandes quando as rajadas da desgraça as atingem. Maria Antonieta, que foi fútil como princesa e imperdoavelmente frívola em sua vida como rainha, foi transformada de maneira surpreendente pelo turbilhão de sangue e miséria que assolou a França”; e o historiador observa, tomado de respeito, “que da rainha nasceu uma mártir e da boneca, uma heroína”. 
Maria Antonieta aos 15 anos
 Joseph Ducreux (1735–1802)
Palácio de Versalhes.
Em 21 de janeiro foi guilhotinado o Rei da França, Luís XVI. O Papa Pio VI, em seu discurso Quare lacrymae, de 17 de junho de 1793, reconheceu o sacrifício do soberano como “uma morte devido ao ódio à religião católica”, atribuindo-lhe “a glória do martírio”. A mesma glória, poderíamos dizer, coube a Maria Antonieta, culpada apenas de ter representado — por sua própria presença — o princípio da realeza cristã diante do ódio da Revolução. 

O escritor britânico Edmund Burke (1729-1797), em uma das mais belas passagens de suas Reflexões sobre a Revolução Francesa (1791), escreve: 
“Já se passaram dezesseis ou dezessete anos desde que vi pela primeira vez a Rainha da França, então Delfina, em Versalhes, e certamente nunca uma visão mais encantadora visitou esta terra, que ela parecia apenas tocar. Eu a vi quando ela surgiu no horizonte, adornando e alegrando aquela esfera sublime na qual acabara de começar a se mover, brilhante como a estrela da manhã, cheia de vida, esplendor e alegria. Oh! Que revolução! E que coração eu deveria ter para contemplar aquela ascensão e aquela queda sem emoção! [...] Eu nunca sonhei em viver para ver tal desastre lhe acontecer em uma nação de homens tão galantes, em uma nação de homens de honra e cavalheirismo. Em minha imaginação, vi dez mil espadas desembainhadas repentinamente para vingar até mesmo um olhar que ameaçasse insultá-la. Mas a era da cavalaria acabou. Chegou a era dos sofistas, economistas e contabilistas; e a glória da Europa extinguiu-se para sempre” (Reflexões sobre a Revolução na França, trad. It. Ideazione, Roma 1998, pp. 98-99). 
Maria Antonieta
conduzida ao suplício
François Flameng (1856–1923).
Museu da Revolução Francesa,
Paris.
Hoje, dois séculos depois, as palavras do escritor britânico vêm à mente diante de um evento de gravidade muito maior. Em 4 de novembro de 2025, na casa generalícia dos jesuítas, foi apresentada a Mater Populi Fidelis, uma “nota doutrinal” do Dicastério para a Doutrina da Fé, chefiado pelo Cardeal Víctor Manuel Fernández. 

O documento compreende 80 parágrafos, dedicados à “compreensão correta dos títulos marianos”, que pretendem esclarecer “em que sentido certas expressões referentes à Virgem Maria são aceitáveis ou não”, colocando-a “na devida relação com Cristo, o único Mediador e Redentor”. 

É com profunda tristeza que lemos este texto que, por trás de seu tom melodioso, esconde um conteúdo venenoso. Em uma hora histórica de confusão, quando todas as esperanças das almas fervorosas se voltam para a Santíssima Virgem Maria, o Dicastério para a Fé procura despojá-la dos títulos de Corredentora e Medianeira universal de todas as graças, reduzindo-a a uma mulher como qualquer outra: “mãe do povo fiel”, “mãe dos crentes”, “mãe de Jesus”, “companheira da Igreja”, como se a Mãe de Deus pudesse ser confinada a uma categoria humana, despojando-a de seu mistério sobrenatural. É difícil não ler nestas páginas a concretização da deriva mariológica pós-conciliar que, em nome do “meio-termo”, escolheu um minimalismo que degrada a figura da Santíssima Virgem Maria. 

Execução de Maria Antonieta,
 16 de outubro de 1793
Gravura, Biblioteca Nacional
da França
Maria Antonieta representava a realeza terrena, um reflexo da realeza divina, mas frágil como tudo o que é humano: seu trono desmoronou sob a fúria da Revolução. Maria Santíssima, porém, é a Rainha universal — não por direito humano, mas pela graça divina. Seu trono não está em um palácio, mas no coração de Deus.

“O Altíssimo — diz São Luís Maria Grignion de Montfort — desceu perfeita e divinamente através da humilde Maria até nós, sem perder nada de sua divindade e santidade. E é por meio de Maria que os pequeninos devem ascender perfeita e divinamente ao Altíssimo, sem temer nada” (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 157). 

Os homens podem tentar “decapitá-la”, reduzindo-a a uma mera mulher, mas Maria permanece Mãe de Deus, Imaculada, Sempre Virgem, Assunta ao Céu, Rainha do Céu e da Terra, Corredentora e Medianeira Universal de todas as graças, porque, como explica São Bernardino de Siena: “Toda graça concedida aos homens procede de uma causa tríplice: de Deus passa para Cristo, de Cristo passa para a Virgem, da Virgem nos é dada” (Serm. VI in festis B.M.V., a. 1, c. 2). 

São Miguel Arcanjo na Visão do Apocalipse – Miguel Cabrera (1695-1768). Museu da Basílica de Guadalupe, Cidade de México.



Por esta razão, segundo Santo Agostinho, citado por Santo Afonso de Ligório, tudo o que dizemos em louvor de Maria é sempre pouco comparado ao que Ela merece por sua exaltada dignidade como Mãe de Deus (As Glórias de Maria, vol. I, Redentoristi, Roma 1936, p. 162). 

Edmund Burke lamentou que não houvesse dez mil espadas prontas para defender a Rainha Maria Antonieta “contra um único olhar que a ameaçasse com insulto”. Estamos convencidos de que hoje existe no mundo um punhado de sacerdotes e leigos, nobres e corajosos de espírito, prontos para empunhar a espada de dois gumes da Verdade para proclamar todos os privilégios de Maria e clamar, aos pés de seu trono: “Quis ut Virgo?” (Quem como a Virgem?). 

Sobre eles recairão as graças necessárias para a luta nestes tempos tempestuosos. E talvez, como sempre acontece na História quando se tenta obscurecer a luz, o documento do Dicastério da Fé que busca minimizar a Bem-Aventurada Virgem Maria confirme inadvertidamente sua imensa grandeza.

21 de novembro de 2025

A Duquesa de Kent e a conversão da Inglaterra

 


✅  Marcelo Dufaur

 

Pela primeira vez em quase 400 anos, um monarca britânico reinante assistiu oficialmente ao solene réquiem de um membro católico da família real na catedral de Westminster, em Londres, sede do arcebispo primaz católico da Inglaterra e Gales. Depois, o féretro foi trasladado em cerimonial de gala para o cemitério real de Frogmore, em Windsor.

 O rei Carlos III,
o Príncipe William e Kate Middleton
saindo da catedral de Westminster

Foi a pomposa despedida de Sua Alteza Real a duquesa Katharine de Kent. A presença oficial do rei Carlos III e de toda a família real foi algo nunca verificado desde a desastrosa Reforma protestante.

O último membro católico da família real foi o rei Carlos II, falecido em 1685, convertido in articulo mortis. Desde a imposição do protestantismo, após a apostasia formal do rei Henrique VIII secundado pelo episcopado, os católicos viveram num regime de perseguição e proibição. Nesse período, numerosos mártires, entre os quais São Tomás Morus, partiram para o Céu.

O iníquo Decreto de Estabelecimento (Act of Settlement), de 1701, interditou a um herdeiro real desposar uma pessoa católica, e não permitia a conversão de um membro da realeza ao catolicismo. A Lei de Sucessão à Coroa de 2013 removeu essas restrições.



A duquesa de Kent — nascida Katharine Lucy Mary Worsley — casou-se com o príncipe Edward, duque de Kent, primo-irmão da rainha Elizabeth II. Ela se converteu à Igreja Católica em 1994, com a aprovação e o apoio permanente da mesma rainha, que havia manifestado inclinação pelo catolicismo.

Admirada pelo seu charme natural e compaixão pelos doentes, a duquesa Kent era muito amada. Sua popularidade era reforçada por seu próprio sofrimento pessoal e natureza modesta. O radialista católico britânico Colin Brazier destacou que “num mundo de ostentação, autopromoção e vaidade, Katharine era uma figura pública de genuína humildade, até mesmo santidade”.

O filho da duquesa, lorde Nicholas Windsor; seu neto, lorde Downpatrick, e sua neta, lady Marina Windsor, também se converteram ao catolicismo. A BBC colheu a seguinte explicação da duquesa: “Eu adoro diretrizes, e a Igreja Católica oferece diretrizes. Sempre quis isso na minha vida. Gosto de saber o que se espera de mim. Gosto que me digam: você deve ir à igreja no domingo, e se não for, está errado!”

A inusitada pompa fúnebre reavivou as esperanças de conversão da Inglaterra, anunciada por Nossa Senhora e muitos santos.

O vidente Maximino ouviu de Nossa Senhora em La Salette que “um grande país no norte da Europa, hoje protestante, se converterá. Pelo apoio desta nação, todos os outros países se converterão”. Interrogado em 5 de agosto de 1853, especificou: “A Inglaterra será o instrumento pelo qual todas as nações do universo se converterão.”

O rei Santo Eduardo, Confessor (1003-1066)l, no leito de morte em seu Palácio Real, confidenciou: “Deus, em sua ira, enviará para o povo inglês espíritos maus, que vão puni-lo [...]. Mas deve retornar à sua raiz original, reflorescer e dar abundantes frutos”.

O venerável Bartolomeu Holzhauser, célebre por seus dons proféticos, disse que “a Inglaterra algum dia voltará à fé católica, prestando então à religião serviços ainda maiores do que depois de sua primeira conversão”.

Por sua vez, São João Maria Vianney dizia: “Estou certo de que a Igreja da Inglaterra recuperará seu antigo esplendor”.

Dom Bosco ouviu de São Domingos Sávio agonizante: “Vi Sua Santidade Pio IX, carregando uma tocha brilhante [...]. Esta tocha, é a religião Católica que está para iluminar a Inglaterra”.

O Beato Pio IX comentou essa visão: “Isto me confirma no propósito de trabalhar energicamente em favor da Inglaterra, pela qual eu já engajo as minhas mais vivas solicitudes.”

São Paulo da Cruz, fundador dos Passionistas: “Já faz 50 anos que estou rezando pela conversão da Inglaterra [...], o dia chegará quando Deus, na sua bondade, a trará de novo para a verdadeira fé”.

Em 1994, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira dedicou à Duquesa Katharine um exemplar de seu livro sobre a Nobreza com as seguintes palavras: “À Sua Alteza a Duquesa de Kent, como homenagem por sua feliz conversão à Santa Igreja Católica, oferece” [segue a assinatura do autor]. Na ocasião, ele havia dito: “A conversão da Duquesa de Kent produziu os efeitos de um raio sadio no ambiente inglês.”