A fim de não ficarmos “obesos” — devido ao excesso de informação — há necessidade de um "regime", ou seja, de nos impor limites. Senão, poderemos ficar viciados em internet, o que poderá provocar em nós crises de ansiedade e até desordens neuróticas.
Mas, somando e subtraindo, os benefícios que a Web nos oferece são maiores que os malefícios? Especialistas no assunto afirmam que no final das contas os malefícios são maiores. Por exemplo, quanto à dependência à tecnologia digital e aos danos psíquicos e morais causados nos usuários (de qualquer idade), sobretudo nas crianças.
Assim sendo, atenção senhores “internautas”! Atenção senhores pais e mães de família! Toda vigilância é pouca! Como auxílio para melhor entender o problema, recomendo a leitura do artigo abaixo — publicado na revista de cultura e atualidades Catolicismo deste mês — e tirar as devidas conclusões. A matéria é de especial importância para as famílias com crianças que começam a entrar no mundo cibernético e adolescentes já “narcotizados” pelo mundo virtual — mas superficial, como se poderá ver —, que vem provocando angustias, alterações no modo de pensar, ler e recordar e até mesmo prejudicando a saúde.
Tomando boa parte do tempo e da atenção, inibindo o
pensamento profundo e o recolhimento, a internet pode representar risco incomensurável
para o equilíbrio psíquico de um número assustadoramente crescente de usuários
§
Daniel Félix de Sousa Martins
Catolicismo publicou, em abril de 2010, o artigo A Quarta
Revolução e o Tribalismo Cibernético, no qual o pesquisador José Antonio
Ureta descreve a mudança de mentalidade que os autores da revolução digital
pretendem realizar em nível global, levando à tribalização do homem por meio de
transformações psicológicas, sociais e religiosas. No presente artigo desejamos
aprofundar a questão da cibernética sob outro prisma: os males psíquicos e
psicológicos que a internet pode trazer, com influência profunda na
personalidade de seus usuários.
Observação prévia: sites pornográficos e satanistas
Muitos criticam a internet pela
facilidade com que, através de seus bilhões de páginas, pode-se penetrar nos sinistros
mundos da pornografia mais baixa ou mesmo do ocultismo satânico. Tais críticas
procedem. Pessoas que normalmente ficariam alheias a essas aberrações, acabam
nelas caindo pela facilidade de acesso que a internet lhes proporciona. Em
outros termos, a internet se transforma, para milhões de seus usuários, em uma
verdadeira ocasião próxima de pecado.
A doutrina católica define a ocasião de
pecado como: “pessoa ou coisa externa que constitui um perigo de pecado para
o homem”. Consta, portanto, de dois fatores: um objeto externo que alicia o
homem para o pecado e uma propensão interna para pecar. Esta ocasião pode ser
próxima ou remota: a próxima é aquela em que há um grave ou provável perigo de
pecar. A remota é aquela que cria apenas um perigo leve.(1)
Assim, um jovem em plena adolescência –
fase em que as tentações se avolumam, sobretudo em matéria de castidade –, que ‘navegue’
desprevenido pela internet, transforma-se em presa fácil do demônio, tantas são
as ocasiões que se lhe apresentam: um vídeo no YouTube, um contato pouco
edificante pelo Facebook ou Orkut, uma página que achou pelo
sistema de busca de imagens da Google. Típicos casos de ocasião próxima
de pecado, as quais um católico deve de todos os modos evitar.
Outra ocasião típica são os sites esotéricos
e ocultistas. Renomados exorcistas chamam a atenção para o fato de que grande
parte das possessões diabólicas nos dias de hoje se dão por causa de sites desse
gênero, facilmente encontrados na web.
Portanto, toda cautela neste terreno é
pouca. Acertam os pais e educadores que tomam o devido cuidado para que seus
filhos e educandos evitem tais ocasiões.
Uma revolução tendencial
Entretanto, há um aspecto sobre o qual
pouco se tem chamado a atenção dos católicos. Serão perniciosos somente certos
conteúdos disponíveis na internet? Especialistas de diversas áreas pensam que
não. Segundo eles, a internet possui características que podem influenciar a
fundo a mentalidade de seus usuários. Ainda que não houvesse pornografia,
ocultismo e outros riscos, é uma verdadeira revolução nas tendências(2) que ela
está operando. Cumpre, pois, estudá-la sob este ângulo.
Para esse efeito, consultamos diversos
livros e artigos a respeito da temática, bem como conferências do Prof. Plinio
Corrêa de Oliveira sobre a cibernética, assunto sobre o qual ele tratou nas
décadas de 80 e 90.
Nosso objetivo aqui não é negar
benefícios práticos que a tecnologia da informação possa ter oferecido em
muitas áreas: pesquisa, rapidez de comunicação, praticidade de redação etc. O
que pretendemos é alertar os leitores para aspectos geralmente silenciados do
problema, o que lhes facilitará inclusive um uso mais consciencioso da internet
e demais mídias eletrônicas.
Três casos ilustrativos
Consideremos três casos bastante
significativos da influência dos eletrônicos e da internet na vida.
a) O primeiro é a experiência que Susan Maushart [FOTO], mãe australiana,
resolveu realizar juntamente com seus três filhos adolescentes: eles passaram
seis meses sem televisão, vídeo games, iPods, nem computadores. O
resultado foi impressionante, e está documentado no livro The Winter of
Our Disconnect(3) (O Inverno de Nossa Desconexão) [FOTO, abaixo, à direita]. A filha mais velha foi a
que mais rapidamente se adaptou, pois já havia adquirido o bom hábito da leitura.
O rapaz, que passava horas em video game, aprendeu um instrumento
musical e percebeu que tinha talento para música. A filha mais nova foi a que
mais dificilmente se adaptou à inusitada situação, mas depois se acostumou. O
resultado foi um acréscimo considerável no rendimento escolar de todos os
filhos (inclusive a mais nova, que obtinha péssimas notas). O rapaz desistiu de
jogos virtuais, vendeu seu video game e hoje estuda música na
universidade. Todos os filhos, afirma Susan Maushart, saíram da experiência de
um estado de cognitus interruptus (pensamento interrompido) e
passaram a pensar e refletir melhor.
Mas a principal vantagem foi uma união
maior da família, a qual passou a conviver mais entre si, com animados jantares
e boas conversas. Além disso, descobriram prazeres simples e agradáveis como
ouvir música em conjunto (não só cada um com seu fone de ouvido), jogos de
tabuleiro, rever antigas fotografias de família etc.(4)
Sobre o fenômeno, comenta o jornal “La
Republica”, de Montevidéu (16-6-11): “A necessidade dos meios técnicos
de comunicação e trabalho parece nos absorver e até nos escravizar. Susan
demonstrou que é uma escravização voluntária, da qual se pode escapar e com
muitos benefícios”.
b) Outro caso exposto na edição de Catolicismo de dezembro
de 2010 foi o de cinco neurocientistas americanos que passaram um mês em uma
região dos Estados Unidos, sem celulares nem internet, para investigar se o uso
intensivo de artefatos digitais pode mudar o modo de pensar e a conduta dos
homens. David Strayer, professor da Universidade de Utah, concluiu que a
atenção, a memória e o aprendizado dos cidadãos modernos ficam afetados. Para
Paul Atchley, professor da Universidade de Kansas, o uso continuado da
informática inibe o pensamento profundo, causa ansiedade, dependência e
prejudica a saúde. O Prof. Art Kramer, da Universidade de Illinois, notou
que no isolamento o grupo ficou muito mais refletido, tranquilo e voltado
para a realidade.
c) Um caso semelhante se deu com Nicholas Carr, um intelectual
norte-americano, diplomado em literatura pela Universidade de Harvard e pela
Dartmouth College. Imerso após alguns anos no mundo das mídias eletrônicas a
ponto de se tornar um especialista em tecnologia da informação, começou a
perceber que seu cérebro não funcionava como antes. As longas leituras
tornaram-se mais raras, a concentração ficou enfraquecida e difícil, a memória
constantemente o traía.
Decidiu então fazer uma experiência
radical: foi com sua esposa morar nas montanhas do Colorado (EUA), sem
celulares nem internet. Durante dois anos, fez profundas e abundantes pesquisas
em neuroplasticidade, história da comunicação e informática. Em 2009, lançou um
livro que logo se tornou best-seller: Os Superficiais – Como a
internet está mudando nosso modo de pensar, ler e recordar(5). [FOTO, à esquerda]
A obra contém inúmeras pesquisas e dados
científicos, alguns dos quais mencionamos neste artigo, para ajudar a responder
à pergunta: quais são as causas dessa influência da internet na psicologia e na
vida?
Tudo através da internet
O primeiro fator decisivo para a
influência que a internet exerce é sua universalidade, não só no sentido de se
estender ao mundo inteiro, mas a quase todas as áreas da atividade cotidiana.
Como explica Nicholas Carr, a internet tornou-se “uma máquina de poder
incomensurável, e está ao pé da letra subjugando a maior parte das outras
tecnologias intelectuais. Está se tornando nosso processador de texto e nossa
imprensa, nosso mapa e nosso relógio, nossa calculadora e nosso telefone, nosso
correio e nossa biblioteca, nosso rádio e nossa TV” (pp. 83-82).
Ou seja, atividades que antes
realizávamos em diferentes lugares vão gradualmente se restringindo à tela do
computador. A cada ano que passa ficamos mais tempo na rede, e isso com
nosso consentimento: “A internet tem demonstrado ser tão útil de tantas
formas, que nós acabamos por dar as boas-vindas a qualquer expansão de seu
uso” (p. 88).
A internet substitui o papel das outras
mídias, mas difere destas em ponto muito importante: é bidirecional. Ao
contrário de uma revista, por exemplo, ou de um programa de rádio, em que as
pessoas somente recebem a informação, a internet nos permite interagir e
responder a quase todas suas solicitações e estímulos, em tempo real.
Com poucos cliques, podemos
comprar os objetos da propaganda. O anúncio de um relógio de pulso, por
exemplo, em uma revista, pode nos dar um grande desejo de obter o objeto (já
tão ‘retrógrado’, aliás...). Mas para isso precisamos parar a leitura, deixar a
revista e ir até a loja. Com a internet, não: vemos a propaganda, ‘clicamos’ na
imagem, fazemos o pedido e rastreamos o frete. Um artigo de jornal apenas nos
dá informações. Na internet, o mesmo artigo permite-nos fazer comentários e
relacionar com outros artigos do mesmo ou de outros autores.
“A interatividade da internet – comenta Carr – transformou-a também em uma ‘casa
de encontro global’, onde as pessoas se reúnem para chats, fofocas e
discussões, através do Facebook, Twitter, MySpace, e todo tipo de redes socias
(e às vezes antissociais)” (p.85).
Muitos veem a universalidade e
interatividade da internet como um avanço, e de fato o é sob alguns aspectos.
Mas “raramente nós paramos para ponderar, e muito menos questionar, a
revolução midiática que tem se dado em torno de nós, em nossos lares, nossos
locais de trabalho, nossas escolas” (p. 88).
Uma verdadeira patologia
De tal maneira a internet convida ao uso
desmesurado, que ao estudarem desde 1995 os efeitos dessa mídia nos pacientes, psicólogos
e psiquiatras começaram a classificar um novo tipo de dependência patológica: o
transtorno de dependência à internet – TDI.(6)
Segundo a psicóloga-criminologista suíça
Martine Courvoisier, “os relatórios de psicoterapeutas indicam que os
usuários compulsivos e patológicos da internet se tornam dependentes da mesma
forma que um toxicômano ou um alcoólatra se tornam dependentes da droga ou da
bebida, e que os efeitos dessa dependência são igualmente devastadores na vida
da pessoa”.(7)
Sintomas do
Transtorno de Dependência à Internet
O TDI pode se manifestar por três ou
mais dos sinais seguintes, durante um período de 12 meses.(8)
I.
Necessidade de aumentar o tempo passado na internet para atingir a saciedade;
ou sentimento de saciedade diminuído se o tempo passado na internet permanece o
mesmo.
(A) Características da síndrome de
falta: 1,2 e 3:
1. Se há a redução ou cessação da
utilização intensa e prolongada da internet
2. Se dois ou mais dos seguintes
sinais, desenvolvidos durante vários dias do mesmo mês após a redução ou
cessação da utilização da internet:
a. agitação psicomotora
b. ansiedade
c. pensamentos obsessivos a propósito
da internet
d. imaginações ou sonhos a propósito
da internet
e. movimentos dos dedos mexendo no
teclado, voluntários ou involuntários
3. Se os sintomas acima mencionados
causam entrave ou lesam o funcionamento social e ocupacional, ou qualquer outro
domínio importante.
III. A internet
é frequentemente desejada por uma duração mais longa do que a que se tinha
previsto.
IV. O desejo é
persistente, mas os esforços em parar ou controlar a utilização da internet
mostram-se vãos.
V. Uma grande
parte do tempo é consagrada a atividades ligadas à utilização da internet.
VI. As
discussões a propósito da internet na vida cotidiana são muito frequentes.
VII. As
atividades familiares, sociais, ocupacionais importantes são abandonadas ou
diminuídas em sua duração ou frequência por causa da utilização da internet.
VIII. Manter a utilização da internet apesar do conhecimento da
existência de um problema físico ou familiar, social ou ocupacional, recorrente
ou persistente, com tendência a exacerbar-se devido a essa utilização.
Dissipação do pensamento: o papel dos links
Mesmo quando não chega às raias da
dependência patológica, a internet exerce forte influência sobre nosso modo de
raciocinar. Aos poucos ela nos afasta do pensamento profundo, da reflexão e do
recolhimento. Isso se dá por três elementos, sobretudo: os hiperlinks, a
acessibilidade e a multitarefa.
Hiperlinks — ou links, por simplificação — são palavras
ou figuras que se posicionam dentro ou ao redor do texto principal e que, ao
serem acionadas pelo cursor (a “seta do mouse”), remetem para páginas
diferentes da que estamos considerando naquele momento.
Na década de 80 houve muito entusiasmo a
respeito do uso de computador, e os educadores estavam convencidos de que a
introdução de links nos textos seria um “salto qualitativo” em matéria
didática. No fim da década, o otimismo começou a diminuir, pois as pesquisas de
então já mostravam que “avaliar os links e navegar por eles envolve tarefas
mentalmente difíceis de solução de problemas que são alheios ao próprio ato de
ler. Decifrar os links aumenta substancialmente a ‘sobrecarga cognocitiva’ dos
leitores e enfraquece assim sua capacidade de compreender e de reter o que leem”
(p. 126).
Um experimento de 1990 revelou que os
leitores de textos com links geralmente não podiam lembrar o que eles
leram ou não leram. Em um outro estudo, naquele mesmo ano, os pesquisadores apresentaram
uma série de perguntas sobre um texto. As pessoas que leram o texto em papel
tiveram um resultado bem melhor do que as que o fizeram em texto eletrônico
recheado de links.
Outra experiência, de 1999, realizado
por Erping Zhu, revelou que quanto maior o número de links em um texto,
menor a compreensão. Segundo ele, “há uma forte correlação entre o número de
links e a desorientação ou ‘sobrecarga cognoscitiva’. Ler e compreender
pressupõe estabelecer relações entre conceitos, tirar conclusões, ativar o
conhecimento prévio e sintetizar as idéias principais. A desorientação ou
sobrecarga cognoscitiva pode assim interferir nas atividades cognoscitivas de
leitura e compreensão” (p. 129).
Em 2005, Diana De Stefano e Joanne Lefèvre,
psicólogas da Universidade de Carleton (Canadá), fizeram um estudo comparativo
com 38 experimentos envolvendo o uso de links. Sua conclusão foi análoga
à das pesquisas anteriores.
Segundo Carr, “as recentes pesquisas
continuam a mostrar que aqueles que leem um texto linear compreendem mais,
recordam mais e aprendem mais do que aqueles que leem um texto salpicado de
links” (p. 127).
Rapidez de acesso à informação
O segundo elemento dispersivo é a
acessibilidade, isto é, a facilidade com que na internet se pode ‘pular’ de um
documento a outro, de uma página a outra, de uma informação a outra: “Assim
como os links, a facilidade e rápido acesso às buscas tornam muito mais simples
pular entre documentos digitais do que pular entre os impressos. Nossa ligação
com qualquer texto se torna mais tênue, mais efêmera” (p. 90).
A facilidade de busca traz consigo a
fragmentação dos documentos virtuais. O mecanismo de busca — como Google
ou Bing — desperta a atenção do internauta para um fragmento de texto,
algumas palavras ou frases com forte relevância no assunto procurado. Mas os
mesmos mecanismos proporcionam pouco incentivo para se considerar o trabalho em
seu conjunto: “Nós não vemos a floresta quando buscamos na Web. Nós não vemos
sequer as árvores. Nós vemos galhos e folhas” (p. 90).
O malabarismo mental
Os links e a acessibilidade
produzem um terceiro elemento dispersivo: a multitarefa, a qual consiste em
realizar várias atividades diferentes ao mesmo tempo.
Ligamos o computador de nosso escritório
para redigir um ofício. Após algumas linhas lembramos que há um e-mail “urgente”.
Lemos a mensagem: conta a pagar..., ‘entramos’ no site do banco.
Enquanto pagamos a conta e a página ‘carrega’, distraímo-nos com uma vídeo-propaganda
na mesma página do banco, do novo iPad, que pode ser pago em 12 vezes
sem juros no cartão de crédito! Fazemos a compra, pois afinal é preciso não
descolar da moda... Voltamos ao e-mail e nos deparamos com outra
mensagem com o título “Imperdível — Esculturas na melancia”. Abrimos a
apresentação de slides (o famoso ‘PPS’), na faina de descobrir o aspecto
fantástico. De fato, é preciso ser artista para esculpir em uma melancia!
Terminada a sensacional sucessão de fotos, voltamos aos e-mails e abrimos
o recado do gerente, furioso porque ainda não entregamos o ofício...
A experiência mostra que este é o modo de
proceder de boa parte dos usuários de computador, sobretudo os mais jovens.
Vê-se facilmente como a multitarefa, transformada em hábito, é um outro
elemento de dispersão. Mas tal hábito tem-se tornado tão comum que “muitos
de nós acharia intolerável se tivéssemos que voltar aos computadores que podiam
executar só um programa ou abrir só um arquivo por vez” ( p. 113).
A internet multimídia – que combina
muitos tipos diferentes de informação em uma só tela – “fragmenta ainda
mais o conteúdo e dispersa nossa concentração. Uma só página da web pode
conter blocos de texto, um vídeo ou áudio, uma série de instrumentos de
navegação, várias propagandas, e muitos aplicativos, os chamados ‘widgets’.
Todos nós sabemos como essa cacofonia de estímulos é dispersiva” (p.90).
Alguém pode objetar que, se bem
utilizada, a multitarefa pode ser um bom instrumento didático, pois treina a
rapidez de pensamento. Gary Small [FOTO], neurocientista especializado em Alzheimer
e diretor do Centro de Pesquisa em Memória e Envelhecimento da Universidade da
Califórnia (Ucla), afirma que “o uso da internet pode exercitar o cérebro da
mesma maneira que palavras-cruzadas. Mas tal exercício intenso, quando se
transforma em nosso modo primário de pensar, pode impedir o aprendizado e o
raciocínio. Tente ler um livro enquanto resolve uma palavra-cruzada; este é o
ambiente intelectual da internet” (p. 125).
Mudanças no próprio cérebro
Essa febre de multitarefa pode ter
efeitos físicos, alterando até o funcionamento do cérebro. Em entrevista para a
revista “Veja”(9), o mesmo professor Gary Small declara que “ao passarem
horas em frente ao computador, seja para pesquisar, mandar e-mails ou fazer
compras, as pessoas estão expondo o cérebro a uma enxurrada de estímulos. É por
isso que o uso da tecnologia digital altera nossos circuitos cerebrais”.
Pior do que a multitarefa em si é o
estado de contínua atenção parcial em que a internet nos mergulha, aliada aos
aparelhos eletrônicos da moda. Segundo o Dr. Small, “estamos
permanentemente ocupados, acompanhando tudo. Não nos focamos em nada. A atenção
parcial contínua é diferente da multitarefa, na qual temos um propósito para
cada uma das ações paralelas e tentamos melhorar nossa eficiência e
produtividade. Quando prestamos atenção parcial continuamente, colocamos nosso
cérebro num estágio mais elevado de stress. Ficamos sem tempo para refletir,
contemplar ou tomar decisões ponderadas. As pessoas passam a existir num ritmo
de crise constante, em alerta permanente, sedentas de um novo contato ou um
novo bit de informação”.
Os jovens são os mais afetados por essa exposição excessiva à informação
digital. “Muitas vezes,
eles passam mais tempo na internet do que cultivando contatos sociais diretos.
E o jovem, em pleno desenvolvimento, é mais vulnerável. Seu cérebro não
desenvolveu completamente o lobo frontal, a seção que nos diferencia dos
animais e controla pensamentos mais complexos e a nossa capacidade de
planejamento”.
O arcabouço mental próprio a cada homem
John Sweller, psicólogo educacional
australiano, estudou por três décadas o modo como nossas mentes processam a
informação e, em particular, como aprendemos as coisas. Seu trabalho científico
deita luz sobre como a internet e demais mídias eletrônicas influenciam o
estilo e a profundidade de nosso pensamento.
Ele explica que nosso cérebro incorpora
dois tipos bem diferentes de memória: a de curto-prazo e a de longo-prazo. A de
curto-prazo contém nossas impressões, sensações e pensamentos imediatos, que
tendem a durar somente alguns segundos. Tudo o que aprendemos sobre o mundo,
conscientemente ou não, fica armazenado como memória de longo-prazo, que pode
permanecer em nosso cérebro por alguns dias, alguns anos, ou mesmo a vida
inteira.
Um terceiro tipo é a memória de trabalho
(working memory). É tudo aquilo que temos de modo consciente no momento.
Por exemplo, quando lemos uma notícia sobre a crise da União Europeia, aquela
informação nos ocupa a atenção por alguns segundos. O papel da memória de
trabalho é obter a informação, captá-la e transferir o que é relevante para a
memória de longo-prazo, o que contribuirá para a criação de nosso arcabouço
pessoal de conhecimento.
O conteúdo de nossa memória de
longo-prazo fica armazenado em algum lugar do cérebro, sem que venha à
consciência a todo o momento. Para pensar em algo que previamente aprendemos ou
experimentamos, nosso cérebro deve transferir a informação da memória de
longo-prazo para a memória de trabalho. A profundidade de nossa inteligência reside
na habilidade de transferir as informações da memória de trabalho para a
memória de longo-prazo e transformá-las em esquemas conceituais.
Tais esquemas, que o homem possui no
fundo da cabeça, vão construindo a personalidade. É o processo mental humano
iluminado, que Plinio Corrêa de Oliveira chamava de “luz primordial”, ou seja,
aquele aspecto peculiar de Deus e do universo que cada homem é chamado a
entender e contemplar. Esse arcabouço mental é diferente em cada um e produz
uma admirável e rica desigualdade harmônica entre os homens.
Pois bem, ao contrário da memória de
longo-prazo, que pode conter uma quantidade quase ilimitada de informação, a
memória de trabalho pode conter pouquíssimos dados. De acordo com Sweller, as
evidências sugerem que “nós não podemos processar mais de dois ou quatro
elementos por vez”. Esses elementos que podemos conter na memória de
trabalho irão, ademais, rapidamente desaparecer, “a menos que o possamos refrescá-los”
por atividades repetidas.
Comenta Nicholas Carr: “Imagine se
fôssemos encher uma banheira com um dedal; esse é o desafio envolvido em
transferir informação da memória de trabalho para a memória de longo-prazo. Ao
regular a velocidade e a intensidade do fluxo de informação, as mídias exercem
forte influência nesse processo. Quando lemos um livro, a torneira da
informação proporciona um filete de água contínuo, que podemos controlar pela
velocidade da leitura. Pela concentração exclusiva no texto, podemos transferir
toda ou boa parte da informação, dedal por dedal, para nossa memória de
longo-prazo, e forjar as ricas correlações, indispensáveis para a criação dos
esquemas mentais. Com a internet, ficamos diante de várias torneiras de
informação, todas elas a todo vapor. Nosso pequeno dedal transborda
enquanto passamos de uma torneira a outra. Só conseguimos transferir para a
memória de longo-prazo uma pequena porção de informação, e o que de fato
transferimos é uma confusão de gotas de diferentes torneiras, e não um fluxo
contínuo e coerente vindo de uma só fonte” (p. 125).
Ou seja, embora abundante, a informação
não é digerida pela inteligência, restando na memória apenas cacos desconexos.
É o que tem sido chamado de geração dos informatissimi idioti(10) (idiotas
informadíssimos): pessoas sobrecarregadas de dados, descobertas e novidades,
mas que não conseguem passá-los para seu esquema mental, pois “quando a
carga de informação excede a capacidade de nossa mente armazenar e processar a
informação – quando a água transborda do dedal – ficamos incapazes de reter a
informação ou de fazer correlações com a informação já armazenada na memória de
longo-prazo. [...] Não conseguimos incorporar a nova informação a nosso esquema
mental. Nossa capacidade de aprender sai prejudicada, e nosso entendimento fica
superficial. Os recentes experimentos indicam que, quando atingimos os limites
de nossa memória de trabalho, torna-se mais difícil distinguir as informações
relevantes das irrelevantes. Nós nos tornamos meros consumidores irrefletidos
de dados” (p. 125).
Segundo Sweller, os dois fatores que
mais contribuem para essa sobrecarga mental são “resolução de problemas alheios
ao assunto” e “atenção dividida”. Essas são exatamente duas características
centrais da internet.
Quando estamos on-line, “ingressamos
em um ambiente que promove a leitura descuidada, pensamento apressado e
distraído, aprendizado superficial. É possível pensar de maneira profunda
enquanto se navega pela Rede, assim como é possível pensar de maneira
superficial durante a leitura de um livro, mas esse não é o gênero de
pensamento que o tipo de tecnologia encoraja e estimula” (p. 116).
A humanização da máquina e a ‘maquinização do homem’
Há ainda um outro problema, consequência
de todos os até aqui considerados: o homem começa a tratar a máquina como um
ser racional, dotado de inteligência, vontade e sensibilidade, e, ao mesmo
tempo, tende a ‘computadorizar’ seu temperamento.
Continuamente exposto a vibrações e
energias físicas, controladas e decodificadas por circuitos de integração (os chips),
o homem começa a ter a ilusão de que a máquina possui inteligência própria,
quase que mágica, com a qual ele pode interagir e conviver.
Em 1962, o famoso cientista Joseph
Weizenbaum acabava de criar ELIZA, um programa de computador que simulava um
ser humano, respondendo às perguntas como se fosse um psicoterapeuta. Em 1976,
mais de uma década depois de sua invenção, o mesmo Weizenbaum publicou o livro O
poder do computador e a razão humana, no qual criticava os efeitos danosos
de sua própria invenção. O seguinte fenômeno começou a ocorrer: “as pessoas
que ‘conversavam’ com o programa tinham pouco interesse em fazer julgamentos
racionais e objetivos sobre a identidade de ELIZA. Elas queriam acreditar que
ELIZA era uma máquina pensante. Ao simular um ser humano, embora
toscamente, ELIZA encorajava os próprios seres humanos a simularem
computadores”.(p. 206)
A humanização da máquina traz como seu
corolário a ‘maquinização’ do homem e das relações sociais, como afirma o Dr.
Gary Small: “Tecnicamente, a superexposição a estímulos constantes na
internet afeta a maioria dos circuitos corticais e a camada externa da área
cinzenta do cérebro, o que inclui os lobos frontal, parietal e temporal. O
resultado disso é que ocorre um reforço nos circuitos cerebrais que controlam
as habilidades tecnológicas. Mas os circuitos relacionados a habilidades
sociais são negligenciados”.
Por exemplo, “a alta exposição à
tecnologia parece diminuir a nossa capacidade de captar certos detalhes durante
uma conversa. Deixamos de ‘ler’ as informações não verbais existentes em um
bate-papo, como a postura corporal, os gestos e eventuais nuances no olhar”.
Vários analistas e escritores chegam à
mesma conclusão. Em sua sinopse do livro Os Superficiais, o propalado
escritor Mario Vargas Llosa conclui: “dá-me a impressão [...] que a
robotização de uma humanidade organizada em função da ‘inteligência artificial’
é incontrolável”.(11)
A simbiose do homem com a máquina
A ‘robotização’ ou ‘maquinização’ chega
a tal grau, que há quem já pretenda realizar, num futuro próximo, a simbiose
física entre o homem e a máquina. Atente-se, por exemplo, ao que afirma o Dr.
Gary Small, quando perguntado pela revista “Veja” sobre qual é o futuro do
cérebro humano(12): “Num futuro não muito distante, teremos a capacidade de monitorar e
estimular a atividade de células cerebrais individuais. Cientistas já contam
com aparelhos que fazem isso, por meio de uma proteína fotossensível,
controlada por laser. [...]. Em breve, também vamos checar e corrigir nosso
circuito neural por meio de controles remotos, semelhantes aos usados nas
TVs. Teremos também mínimos implantes na cabeça. Eles permitirão que nossa
mente se conecte aos computadores. Farão com que as máquinas entendam os
comandos do cérebro. À medida que nossos computadores ficarem mais rápidos e
mais eficientes, e esses implantes se tornarem a norma, em vez de
discutirmos a lacuna cerebral entre gerações, vamos debater as lacunas entre o
computador e o cérebro humano. Esse é um tema que dominou a ficção científica
por anos. Como se vê, o futuro pode ser a ficção atual”.
Esse
prognóstico faz lembrar um salmo que trata dos ídolos pagãos:
“Nosso Deus está nos Céus;
Ele faz tudo o que lhe apraz. Quanto a seus ídolos de ouro e prata, são eles
simples obras da mão dos homens. Têm boca, mas não falam, olhos e não podem
ver, têm ouvidos, mas não ouvem, nariz, e não podem cheirar, têm mãos, mas não
apalpam, pés e não podem andar, sua garganta não emite som algum.
“Semelhantes
a eles sejam os que os fabricam e quantos neles põem sua confiança. Mas Israel, ao contrário,
confia no Senhor: ele é o seu amparo e o seu escudo” (Salmo
113, 11-17).
> Conclusão e sugestões
práticas <
De quanto foi aqui analisado, podemos
concluir que, além dos perigos morais da internet, há graves prejuízos para a
psicologia humana. Enganar-se-ia quem pensasse que estes últimos são secundários.
Pois o pensamento profundo e concatenado, a estabilidade psíquica e o
recolhimento são pressupostos indispensáveis para alcançarmos a virtude da sabedoria,(13)
enquanto “com a internet, a mente calma, concentrada e recolhida está sendo
substituída por um novo tipo de mente” (p. 10).
O homem foi criado para conhecer, amar e
servir a Deus, e sem a contemplação da ordem do universo e das verdades da fé,
componentes da virtude da sabedoria, o homem não pode atingir sua finalidade.
Segundo D. Chautard, famoso frade
cisterciense francês, mestre da espiritualidade católica, para que a vida da graça
permaneça e aumente em nossa alma, é primordial o recolhimento para, “no
decurso das ocupações, conservar o coração numa pureza e generosidade
suficientemente grandes para não ser abafada a voz de Jesus”.(14) Para
ele, “os ventos da dispersão impedem a alma de viver unida a Deus”.(15)
Ora, ao dificultar o recolhimento e a
meditação do espírito humano, e roubar o tempo e a atenção que deveriam ser
empregados na contemplação e no convívio, a internet pode nos privar das
condições psicológicas de uma sadia vida espiritual.
Alguém dirá: há atividades na internet
que se tornaram hoje em dia indispensáveis para muitos. Como, então, resolver
esse problema na prática?
Respondo dizendo primeiramente que nunca
uma dificuldade é maior do que a proteção que Deus sempre nos concede. Assim
sendo, a primeira sugestão é a oração. Pedirmos a Nossa Senhora que nos obtenha
o Bom Conselho, para sabermos utilizar a internet sem nos deixarmos levar por
esses males.
Em segundo lugar, ter bem presentes os
riscos; conhecer inteiramente o problema já representa 50% da solução. A prece,
o conhecimento dos perigos e o bom senso serão bons guias em cada caso
particular.
Por fim, é indispensável exercer o
domínio sobre si mesmo. Uma das formas de atingir tal objetivo consiste em
planejar as atividades que serão realizadas na internet, e fazer somente aquilo
que for previsto. Não usar a internet como fonte principal de lazer. Retomar
boas leituras e conversas. Criar em si o hábito de analisar o mundo exterior, as
obras de Deus e as boas realizações dos homens, como as belas construções e verdadeiras
produções artísticas, além do apreço por um sadio convívio familiar e social.
________
Notas:
1. Aertnys-Damen
C.SS.R., Theologia Moralis secundum doctrinam S. Alfonsi de Ligorio, Doct.
Ecclesiae (Teologia Moral Segundo a Doutrina de Santo Afonso de Ligório,
Doutor da Igreja), Tomo II, itens 468, 469, Editora Marietti, Milão, 1950, 16ª
edição.
2. A Revolução nas
Tendências é estudada no ensaio Revolução e Contra-Revolução, obra
mestra de Plinio Corrêa de Oliveira, capítulos V e VI, Artpress Indústria
Gráfica e Editora LTDA., São Paulo, 1998.
3. The Winter of our Disconnect, Profile Books
Ltd., Londres, 2011.
4. Cfr. sinopse em http://www.ipco.org.br/home/noticias/seis-meses-de-liberdade
5. Nicholas Carr, The Shallows – How the internet
is changing the way we think, read and remember, Atlantic Books, Londres,
2010. As citações do artigo
proveem deste livro, salvo indicação em contrário.
6. Em inglês, IAD -
Internet Addiction Disorder. No Brasil, o conceito de dependência à internet
começou a ser divulgado desde o ano 2000, pela psicóloga Luciana Nunes, que
trouxe o conceito já estudado nos Estados Unidos desde 1995 por Dr. Ivan
Goldberg e Dra. Kinmberly Young.
7. Trouble de Dependance à Internet – IAD - Notions générales,
disponível em http://www.actioninnocence.org/suisse/Fichiers/ModeleContenu/214/Fichiers/D%C3%A9pendance%20Internet.pdf.
Acesso em 11 Ago. 2011.
8. Idem
9. A internet
transforma seu cérebro - entrevista à revista “Veja”, repórter Lia Luz,
edição nº 2125, 29-8-2009.
10. Esta expressão é
já consagrada na Europa, sobretudo na Itália, e foi primeiramente utilizada por
Ferrarroti Franco, em seu livro Le strage degli innocenti (O Massacre
dos Inocentes).
11. “O Estado de S.
Paulo”, Caderno 2, D11, 14-8-11.
12. A internet
transforma seu cérebro - entrevista citada à revista “Veja”.
13. Cfr. conferência
de Plinio Corrêa de Oliveira sobre a sacralidade e a sabedoria em 8-4-67.
14. D. Jean-Baptiste
Chautard, A Alma de todo Apostolado, Editora Civilização, Braga, 2001,
p. 19.
15. Idem, op. cit.,
p. 174.
No início da década de 80, o Prof. Plinio Corrêa
de Oliveira [FOTO] já alertava para uma revolução digital, que poderia desfechar em
verdadeiro “dilúvio energético”. Transcrevemos abaixo suas palavras,
proferidas numa palestra para jovens em 28-2-82 (sem revisão do autor). Impressiona
a antecipação com que o insigne pensador católico previu o que hoje
presenciamos:
* *
*
“A história do trabalho humano
compreende uma fase na qual o homem preparou os instrumentos para que ele, com
sua própria energia, pudesse acionar; instrumentos cuja finalidade era, por
assim dizer, economizar, condensar num determinado instrumento a energia humana
e assim, poupando energias, com esforço relativamente pequeno, conseguir um
efeito maior.
Todo instrumento tem, desde a
idade da pedra lascada – até a espada, a lança, ou sei lá o quê – por
finalidade que o golpe humano atinja com mais acerto: como cortar, matar,
colher, abrir, aproveitando as energias do homem.
Haveria uma segunda etapa, na
qual nos encontramos, que teria começado pelo aproveitamento pelo homem de
energias que não são humanas e que ele sujeita a si. Seriam, por exemplo, o
fogo, a roda d’água, o moinho de vento, a tração animal, coisas que permitem ao
homem captar energias de origem animal ou de origem natural comum sem vida, para
seu serviço. É, pois, um passo muito maior, porque representa um esforço em que
ele não gasta nada e, mediante o qual, ele se beneficia de vários modos.
Neste sentido a humanidade foi
progredindo até o momento (portanto, nos séculos XVIII e XIX) em que o homem
inventou a máquina a vapor e descobriu a eletricidade. A partir de então,
energias muito maiores do que as humanas, sobretudo a eletricidade, acentuaram
o raio de ação do homem enormemente. Tais energias se desenvolveram em
cascatas. Assim, cada progresso efetuado facilitou uma catarata de outros
progressos sempre maiores, até se atingir a situação em que atualmente nos
encontramos.
Cibernética e
transpsicologia
Há quem já fale também de captar
a energia dos astros. Sabe-se, por exemplo, que a maré é causada por influência
da lua sobre a Terra; é uma energia que a lua lança sobre nosso planeta e que o
influencia em certo sentido. Há, portanto, energias desse tipo que podem ser
captadas de algum modo. É um gênero de energia que, em certo momento, procura
realizar o trabalho do cérebro e penetrar na vida do cérebro. Já não é mais o
homem governando a energia, mas é esta usada para governar o homem; a matéria
procurando governar e modelar a alma humana.
Assim, por exemplo, a tendência de implantar chips nos homens. É, ao
lado disso, uma tentativa embrionária para manipular as energias mentais
mediante a transpsicologia.
Assim, a cibernética e a
transpsicologia se estabelecem – mas já então a transpsicologia num grau
completamente diferente: são energias de caráter espiritual, de qualidade muito
superior ao raio laser, sendo impossível prever a que pontos poderiam
atingir tais energias e que alterações poderiam produzir na vida humana. São
realizações inimagináveis que despontam em nosso horizonte.
Resumindo: eletricidade,
cibernética e transpsicologia. Haveria ainda outras coisas, e à medida que
formos revolvendo esses assuntos, poderão surgir novos dados de outra natureza.
Deus, ao que parece, permitiu
que o homem fosse puxando para fora aquilo que poderíamos chamar as chaves que
governam o universo; e que, até pouco tempo atrás, até há um ou dois séculos,
eram conhecidas só pelos anjos e agora participam do conhecimento humano. Isso
é uma parte da exposição.
Eu não estou, com esta
exposição, rumando para qualificar esse desenvolvimento como intrinsecamente mau.
Estou caminhando para dizer que, ou o homem é guiado por uma sabedoria — no
sentido católico da palavra — cada vez maior, para que o nível de sua fé, de
suas intenções e de sua virtude seja ainda maior do que as energias que ele vai
mobilizando; ou, se isto não ocorrer, ele caminha para o desastre. E será um
desastre tanto maior quanto maior for o desnível entre o fator religioso-moral,
de um lado, e o fator energético, de outro.
Imagem dos reis bom e mau
Para usar uma comparação que nos
produza a sensação tangível da problemática, imaginemos um rei que, na ponta de
seu cetro, possua esse poder que detém o homem de hoje. Que seja uma espécie de
mago, o qual mexendo o cetro pode ordenar e desordenar todo o universo,
inclusive as mentes. Se tal soberano for um santo, pode-se esperar muito bem —
por exemplo, se ele for um São Luiz IX. Mas se ele for como o neto de São Luiz,
Filipe o Belo, não há desastre que não se possa temer.
Assim, a bifurcação entre a
verdade e erro, bem e mal, posta essa situação, apresenta-se de um modo muito
mais lancinante. Qualquer ação boa caminha enormemente para resultados
magníficos; qualquer infidelidade na linha da sabedoria equivale a um
precipício para o mal, para resultados vertiginosos, pelo próprio poder que o
homem adquiriu.
“Dilúvio energético”
Se isto é assim, em que situação
nós estamos? Encontramo-nos num “dilúvio energético”. Expressão que é concisa e
ao mesmo tempo muito precisa. Quer dizer, assim como houve um dilúvio de água,
há um dilúvio de energias soltas, e que podem esmagar o homem e afogá-lo. Se é
que ele já não está meio esmagado e afogado, pergunta que se pode fazer. Em
outros termos, o próprio homem está se escravizando a esses aparelhos e se tornando
escravo deles. E colocando-se nessa escravidão, ele está se esmagando a si
próprio de modo mais terrível do que se fosse liquidado. Se a humanidade chegar
à metodização generalizada de chips dentro da cabeça, será a consumação
de um processo escravizador.
Tal dilúvio é mais terrível do
que o dilúvio da época de Noé. Alguém poderia dizer: “Não, porque ambos matam”.
Todavia, o “dilúvio energético” degrada muito mais, pois o dilúvio de Noé foi
ocasião para muitos se salvarem. São Pedro, numa de suas epístolas, afirma que
muitos salvaram suas almas porque caíram em si, pediram perdão; esse dilúvio,
não, estamos vendo claramente que ninguém está pedindo perdão. No “dilúvio
energético” em curso, não se observa alguém suplicando perdão ou se
salvando...”
Um comentário:
Balíssimo artigo meu irmão, eu tomei a liberdade de divulga no meu blogue. A Palavra de Deus diz... Examinai tudo: abraçai o que é bom. (I Tess 5, 21)
Partabéns pelos artigos por você publicados, DEUS abençoe a sua vida meu irmão!
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