“Beau-Dieu” na fachada central da catedral de Nossa Senhora de Amiens, França |
➤ Guilherme Félix de Sousa Martins
“Perseverai
no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor,
como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor.
Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa
alegria seja completa” (Jo 15, 9-11).
Com essas consoladoras palavras aos Apóstolos,
nosso Divino Redentor, na véspera de sua Paixão, nos mostra o quanto deseja a nossa
felicidade; e para torná-la possível, Ele morreu na cruz por nós. Não nos
prometeu, evidentemente, a felicidade que o mundo promete. Nossas amargas
experiências cotidianas provam com abundância que o mundo não cumpre suas
falaciosas promessas, portanto não precisaríamos de comprovação científica para
ter esta certeza.
A novidade, no entanto, é que instituições
universitárias de renome começam a oferecer cursos especiais dedicados a ensinar
aos universitários como conseguir a felicidade.1 Já se pode desde logo prever o insucesso dessa
empreitada, pois a “alegria completa”
mencionada no Evangelho de São João apresenta esta condição: “se guardardes os meus mandamentos”. E o
que se conhece sobre a generalidade desses profissionais do ensino universitário
leva-nos a prever que tal condição será sistematicamente ignorada, quando não
ridiculizada.
Com efeito, as regras que Deus nos impõe,
sob a forma de Mandamentos, são garantias para atingirmos o grau de felicidade
possível nesta Terra. São como o corrimão de uma escada: servem de apoio no
caminho ascendente para o Céu, e ao mesmo tempo preservam-nos das quedas a que
estamos sujeitos pela fraqueza e concupiscência. Se a obediência a essas regras
exige sacrifício — portanto, certo sofrimento —, maior sofrimento traz a
desobediência a elas.
O divórcio arruína a família
“Não me casei contigo porque te quisesse, casei-me contigo para querer-te”. Palavras do Chanceler alemão Otto von Bismarck em resposta a uma carta de sua esposa Johanna (ambos no quadro). |
Um exemplo frisante nos foi oferecido em
12 de agosto último pelo insuspeito diário madrileno “El País”, versão on-line,2 com o título A
economia do desamor. O autor analisa, a partir de dados estatísticos da
Europa e dos Estados Unidos, as consequências do divórcio na vida financeira dos
cônjuges. O cabeçalho já contém um significativo resumo: “Romper o vínculo familiar supõe, para as classes médias, uma viagem
rumo ao empobrecimento”. Se bem que os aspectos econômicos não sejam os mais
importantes no matrimônio e no divórcio, não se pode negar-lhes a importância. Afinal,
a propriedade é o esteio da família; e a comunhão de bens, associada ao caráter
indissolúvel do matrimônio como Nosso Salvador o instituiu,
visa exatamente garantir a estabilidade da célula
mater da sociedade.
A busca da felicidade fora das sendas
iluminadas pelo amor de Deus não poderia conduzir a precipício maior que o
divórcio. Do ponto de vista estritamente econômico, o divórcio “é um pedágio caro, pois quem passa por essa
experiência perde, em média, 77% de seu patrimônio”. O autor o compara ao
fenômeno astronômico do buraco negro:
“O divórcio atrai e arruína o patrimônio
com a mesma determinação com que essa geografia do espaço encarcera a luz e a
matéria”.
Após uma análise toda ela voltada para
as estatísticas — preocupada com os números, mas esquecida dos aspectos
principais do matrimônio — o leitor é surpreendido por uma insólita conclusão: “Longe da geografia dos números, o estado
ideal de todo casal […] é conviver como consta em uma carta que há mais de cem
anos Otto von Bismarck escreveu a sua mulher. Naqueles dias, [as cartas]
demoravam a chegar, ou não chegavam nunca. ‘Tenho medo de que te esqueças de
mim’, anotou sua esposa. O chanceler alemão respondeu: ‘Não me casei contigo
porque te quisesse, casei-me contigo para querer-te’. Oxalá a vida de casal transcorresse
sempre como neste tempo do verbo”.
Ao que tudo indica, Bismarck compreendeu
melhor que os liberais modernos o modo de encontrar a felicidade no matrimônio.
No fundo, sua resposta — “casei-me
contigo para querer-te” — pressupunha a determinação de vencer os obstáculos
que ele desde o início divisara. Em linguagem católica, esses obstáculos chamam-se
“cruzes”. São os sacrifícios que a obediência aos mandamentos supõe — aos
casados, não menos que aos solteiros — sobretudo em um mundo paganizado, que
rejeitou o jugo suave de Nosso Senhor.
Para atingir a “alegria perfeita”, a
fórmula é clara: “perseverar no amor de
Deus, guardando seus mandamentos”. Obviamente, com a assistência benfazeja
da graça divina, inesgotável para aqueles que a procuram.
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Notas:
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