13 de dezembro de 2024

MEDIANTE AS COISAS SIMBÓLICAS CHEGAMOS A DEUS

 


A consideração simbólica é uma verdadeira antevisão do Céu, onde somos chamados a contemplar Deus face a face. Nesta Terra somos chamados a vê-Lo nas coisas criadas, através dos símbolos chegamos a Ele. 


  Plinio Corrêa de Oliveira 

O cerimonial tem valor moral e está vinculado à questão do simbolismo. De modo geral, os cerimoniais marcaram a Idade Média, por exemplo, com as belas cerimônias de armar um cavaleiro, como também aquelas que eram feitas para degradá-lo, no caso de ele ter praticado algo contrário à honra. 

Para ilustrar a questão do simbolismo, dou outro exemplo: uma pessoa contempla a caça com falcão. A ave voa, pega uma presa e desce. É bonito considerar o falcão na sua altivez, na sua dignidade, no ímpeto de sua força. Consideramos a sua agudeza de vista, seu élan, sua coragem, e fazemos analogias com qualidades humanas. O ardor belicoso do falcão é símbolo, pois reflete o homem que luta, e esta é sua mais alta ação, abaixo da oração. 

Deus proveu a natureza em abundância de exemplos nesse sentido. Isto a fim de que o homem se compenetre bem das verdades e dos princípios abstratos ao considerar os símbolos palpáveis. Se ele não olha, analisa e medita, não há possibilidade de se compenetrar inteiramente. 

Esta consideração simbólica é uma verdadeira antevisão do Céu, tem algo da visão beatífica. Porque o homem é chamado a ver Deus face a face no Céu, mas nesta Terra ele O vê nos símbolos. Estes alimentam a inteligência e dão uma espécie de proporção humana, de estatura humana à ideia abstrata. 


Por esta razão, toda a vida da Idade Média era feita de cerimoniais e símbolos, pois o homem não é composto só de alma, mas também de corpo. Ele seria uma espécie de esqueleto sem carne se tivesse só a doutrina sem os símbolos. 

Isto explica a simbologia medieval e seus cerimoniais. Mais ainda, explica algo do feitio de alma que deve ter um autêntico católico contra-revolucionário. 

Quando vemos algo que nos fala à alma e nos entusiasma, devemos aprofundar nesta linha de transcender do concreto para o abstrato, como no exemplo da coragem do falcão ilustrando a ideia de coragem e a virtude da coragem. O que se liga metafisicamente a Deus. 

Se quisermos considerar a presença de Deus em todas as coisas, devemos procurar os símbolos criados por Ele. Num falcão observamos a sua coragem, e disso passamos para o abstrato, deduzindo um princípio moral: a virtude da coragem. Daí vemos essa virtude em Deus de um modo absoluto. 

Miniatura da investidura de um cavaleiro,
dos estatutos da “Ordem do Nó”, 
fundada em 1352 por Luís de Nápoles
Este exercício metafísico é árduo, mas é o prêmio que na Terra se pode ter. Há um provérbio alemão que diz: “todo começo é difícil”. Mas para alcançar o prêmio é preciso começar a se exercitar para chegar até o metafísico. 
Alguém poderia dizer que não tem tempo de pensar nisso. Respondo que não é falta de tempo, é falta de pensar no tempo que temos. Mas adquirindo o hábito de pensar, será agradável. A pessoa passa a se deleitar com as coisas que levam a Deus e passa a execrar as coisas que nos afastam d’Ele. A pessoa passa a viver noutra dimensão, num mundo do maravilhoso. 

Lembro-me de uma cidadezinha do interior de São Paulo, Amparo, onde fizemos um exercício de transcendência desses. Certa vez, fiz por suas ruazinhas um passeio a pé junto com alguns amigos de uma fazenda das proximidades. Comentamos as bonitas portas das casas e daí passamos a relacioná-las com as portas no estilo Império francês e com os faustos da Europa. 



Este encontro do bom gosto dentro das cinzas apagadas do interior é deleitável, nos eleva a Deus, e forma as almas altamente simbólicas dos varões verdadeiramente católicos. ____________ 

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 10 de agosto de 1973. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

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