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Museu do Santo Sudário, em Turim |
Ficou cientificamente expresso no Santo Sudário de Turim que Nosso Senhor foi sepultado com símbolos e honras exclusivas dos reis de Israel
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Luis Dufaur
A exposição itinerante “The Mystery Man” —
da qual tratamos na edição de junho/2023 desta revista — continua percorrendo a
Espanha e, enquanto escrevemos, é exibida nas catedrais de Caravaca de la Cruz,
em Múrcia, e de Elche, no Alicante. Seu giro suscita um interesse sempre
renovado pelo Santo Sudário que envolveu o Corpo Santíssimo de Jesus, tendo sido
publicados depoimentos de especialistas com novas descobertas, entre eles os do
Dr. Jorge Manuel Rodríguez Almenar, professor de Direito na Universidade de
Valencia e presidente do Centro Espanhol de Sindonologia. Este centro é formado
por especialistas que estudam o Santo Sudário cientificamente, respeitando as
Sagradas Escrituras.
O Prof. Rodríguez Almenar mostrou que
Nosso Senhor Jesus Cristo recebeu em seu sepultamento o mesmo tratamento
reservado aos reis de Israel. Tanto pelo lado paterno, São José, como pelo
materno, a Santíssima Virgem, Ele foi príncipe da casa real fundada pelo rei
David. Se se respeitasse o direito, Jesus herdaria a coroa. Mas ela estava nas
mãos de usurpadores, porque o direito dinástico não era mais respeitado pelas
autoridades do tempo.
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Cristo Rei – Basílica de Cristo Rei, Paola (Arquidiocese de Malta). |
Genealogicamente Nosso Senhor era o herdeiro legítimo
A genealogia de Maria descrita por São
Lucas (3, 23-38) mostra a linhagem real de seu Divino Filho, sendo Ela
descendente de Abraão, patriarca fundador do povo eleito, e de David, fundador
da estirpe dos reis de Israel.
Os evangelhos de São Mateus (1, 1-17) e de
São Lucas (3, 23-38) descrevem a linhagem real de “Jesus Cristo, filho de
David, filho de Abraão” (Mt 1, 17). Por sua vez, São José era sucessor por
via masculina do rei David, também da tribo de Judá. Em consequência, Jesus
Cristo era o primogênito, herdeiro dos direitos da casa de David.
A série de usurpadores — iniciada por
Herodes I Magno, descendente de Esaú, e continuada por seus filhos, entre os
quais, Herodes III Antipas, do tempo da Paixão — ocupava o trono por intrigas
com Roma, sendo odiada pelo povo.
Israel era um protetorado romano
controlado por uma legião militar sob o comando do cônsul Pôncio Pilatos, a
quem não interessava esse problema dinástico. Ele só queria garantir o domínio
dos Césares na região e ser promovido na administração do Império. Entretanto,
a questão da monarquia de Jesus — e não só a sua superioridade como Sumo
Sacerdote porque Filho de Deus — está no centro dos iníquos processos que
levaram à sua crucifixão.
Jesus entrou em Jerusalém como entrara outrora Salomão
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O rei Salomão entra em Jerusalém montado em uma mula. |
Todos os Evangelhos (Mt 21, 1-11; Mc 11,
1-11; Lc 19, 28-40; Jo 12, 12-15) descrevem Nosso Senhor Jesus Cristo
ingressando em Jerusalém montado num jumento, sob aclamações populares que só
podiam ser feitas a um rei messiânico anunciado pelos profetas como um rei
sacrossanto, inviolável e ideal, sobre quem repousa o espírito divino, que
governará com sabedoria e justiça, prudência e coragem, ciência e temor de
Deus.
Essa entrada em Jerusalém no Domingo de
Ramos (Mc 11, 2; Lc 19, 30) só tinha um precedente: o ingresso histórico de
Salomão montado numa mula que lhe foi
dada por David: “fazei montar na minha
mula o meu filho Salomão” para
ser ungido rei (1Rs 1, 32-40). O povo estendeu suas vestes no caminho como
fazia a seus monarcas (Lc 19, 35-37).
Nosso Senhor não impediu que O aclamassem
rei com as palavras “Hosana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do
Senhor!” (Lc 19, 38-40; Mt 21, 9,15). Porém, Ele nunca reivindicou o
reinado temporal sobre Israel, mas sim uma monarquia completa e divina sobre toda
a ordem da Criação, no sentido contido na devoção a Cristo-Rei. Entretanto, o
Sinédrio, conhecedor do que estava escrito e vendo a reação do povo, reiterou
sua vontade de matá-Lo.
O Sinédrio acusou Nosso Senhor diante
Pilatos de se dizer rei dos judeus, única acusação que impressionaria o cônsul
romano. Este então O interrogou: “És o rei dos judeus? Sim, respondeu-lhe
Jesus” (Mt 27, 11), esclarecendo que era sobretudo Rei de um reino mais
alto: o dos Céus e de toda a Terra. Para Pilatos foi suficiente para encerrar o
caso e declarar que não via culpa alguma em Jesus.
Porém, o populacho, instigado pelo
Sinédrio, bradava: “Não temos outro rei senão César”. Agindo assim, eles
recusavam o Redentor prometido pelos Patriarcas e pelos Profetas, bem como seu
rei legítimo, sucessor de David. Interessado somente nos efeitos do processo em
Roma, Pilatos indagou aos sacerdotes: “Hei de crucificar o vosso rei?”.
E os sumos sacerdotes confirmaram: “Não temos outro rei senão César!”
(Jo 19, 15) e acrescentaram que se não O matasse, eles o denunciariam ao
imperador. O argumento de perder os favores de César levaram o venal Pilatos a
cometer o pior crime da História, lavando as mãos para demonstrar que não era
responsável pela acusação.
Por fim, Pilatos mandou fixar no alto da
Cruz uma tábua com a inscrição, em grego, hebraico e latim: “Jesus Nazareno
Rei dos Judeus” (Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum). É o I.N.R.I. que vemos habitualmente
nos crucifixos. Era esse o “crime” alegado pelo Sinédrio, porém “os sumos
sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: Não escrevas: Rei dos judeus, mas
sim: Este homem disse ser o rei dos judeus”. Agastado, Pilatos os repeliu
dizendo: “O que escrevi, escrevi.” (Jo 19, 19-22)
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À semelhança de Salomão, Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo igualmente rei, entra em Jerusalém no lombo de uma mula (Pietro Lorenzetti (1280-1348). Basílica Inferior de São Francisco, Assis) |
Santo Sudário aponta “rito funerário próprio de um rei”
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Prof. Rodríguez Almenar |
O Sumo Sacerdote devia se apresentar
revestido com uma sarja de linho puro em “espinha de peixe”, ao que tudo indica
vinda da Índia, desconhecida no Oriente Médio e que só se usaria na Europa a
partir do século XV. Esse tecido requintadíssimo, o mais caro que se podia
achar em Jerusalém, teria sido obtido no próprio Templo por José de Arimateia —
homem riquíssimo, “discípulo oculto” e membro do Sinédrio — e entregue por ele,
porque considerava que Jesus merecia um enterro digno de um rei e Sumo
Sacerdote. Também providenciou o túmulo que tinha mandado fazer para si,
exclusivo de pessoas muito ricas.
Nosso Senhor, pelo valor infinito de sua
Redenção, agiu como o divino Sumo Sacerdote que com seu sacrifício redimiu a
humanidade do pecado original. Era coerente que fosse envolvido nesse tecido
simbólico da expiação.
Outros símbolos monárquicos no Sudário
No Santo Sudário também foram encontrados vestígios de unguentos usados no enterro dos reis, como os menciona o historiador Plinio o Velho (23-79 d.C.). A Dra. Marzia Boi [foto], professora da Universidade das Ilhas Baleares, aprofundou o estudo dos ritos dos sepultamentos reais no Mediterrâneo no século I e apontou os óleos, bálsamos e unguentos — entre os quais se destacava em alta proporção o pólen de Helichrysum, ou Sempreviva amarela, além de Crisântemo e Amaranto, símbolos da imortalidade, que eram aplicados na preparação do corpo dos reis ou personagens de alta estirpe. Ela mostrou que o sepultamento de Nosso Senhor foi realizado com honras próprias aos reis, e implicava a “preparação do cadáver com bálsamos e óleos” do modo como foi feito.
Também o microscópio revelou tipos de flores que, “conforme está documentado desde remotos tempos”, eram usualmente utilizadas nos enterros reais. Destacou os pólens de Helichrysum, láudano, terebinto, gálbano aromático ou lentisco. Esse uso estava de acordo com a estirpe régia de Jesus Cristo. E coube a Nossa Senhora, sua Mãe com o auxílio das santas mulheres, preparar o Santíssimo Corpo de seu Filho para a sepultura de acordo com os costumes da família real.
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Embalsamaram e envolveram o Divino Corpo no Santo Sudário sobre a Pedra da Unção hoje venerada na igreja do Santo Sepulcro |
Sepultamento único, próprio a um rei
Tudo pesado e medido, o Prof. Rodríguez
Almenar conclui que no caso do Homem do Santo Sudário “não se tratou
de um sepultamento qualquer, mas se praticou um rito funerário próprio de um
rei”. Foram Nossa Senhora, princesa da casa de David, e as santas mulheres
também de extração aristocrática, observantes da Lei de Moisés, que sabendo
como agir com gente de alta extração, embalsamaram e envolveram o Divino Corpo
no Santo Sudário sobre a Pedra da Unção hoje venerada na igreja do Santo
Sepulcro.
O presidente do Centro Espanhol de
Sindonologia conclui que todos os dados do Santo Sudário apontam que Jesus
Cristo foi enterrado como um monarca. O contrário implica em achar que todos os
dados cientificamente compulsados não fazem sentido.
A ciência sublinha assim, com suas
descobertas, o valor infinito da Redenção obtida para a nossa salvação por um
monarca supremo do povo eleito e o Sumo Sacerdote que foi Deus feito homem. As
descobertas científicas no Santo Sudário inspiram reflexões próprias para a
Semana Santa. Sendo Rei de todas as almas e implicitamente de cada pessoa,
Jesus Cristo governa cada uma com a solicitude, o afeto e a atenção como se ela
fosse a única alma sobre a qual Ele exercesse o seu império. Ele é o modelo de
todos os reis ou chefes de Estado; é Rei de misericórdia e de amor, de um
reinado que “não é deste mundo” (Jo 18, 36) com o intuito de levar cada
alma a seu Reino verdadeiro que não terá fim.
O Santo Sudário como que reservou estas
comprovações da Majestade suprema de Cristo-Rei para nossa época a fim de
reavivar a lembrança da soberania universal de Jesus Cristo sobre as pessoas e
os povos. Precisamente para nossa época, cada vez mais seduzida por opções
falsas ou iníquas — sejam elas liberal-democráticas, libertárias ou socialo-comunistas
ou, no campo religioso, falsos ecumenismos e relativismos concessivos às piores
abominações morais, teológicas ou litúrgicas.
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