13 de janeiro de 2011

AIDS — para se combater uma crise moral, faz-se necessário uma solução moral

A propósito do post abaixo — a questão dos pseudos-preservativos, falhos na prevenção contra o vírus da AIDS, e as recentes declarações de Bento XVI — lembrei-me que no início de 2003 obtive, via Internet, uma entrevista com o médico e escritor norte-americano Farzin Davachi [foto acima]. Tal entrevista foi publicada no mensário “Catolicismo” (março/2003) e aqui a reproduzo textualmente. Apesar de terem-se transcorrido sete anos, o tema continua de suma atualidade, ademais, como sabemos, a moral é imutável.


Dr. Farzin Davachi foi assessor da ONU e trabalhou para a OMS e para o Banco Mundial em matérias relacionadas à saúde social como especialista em HIV/AIDS. Já foi convidado para conferências em mais de 50 países, nas quais aponta o grave dever dos governos no combate à AIDS, mas mostrando a necessidade da “educação moral” como meio para se combater o vírus, que se alastra em decorrência de uma “crise moral”. Com este objetivo o Dr. Davachi presta consultoria a vários governos. Segundo ele uma “vacina moral”, além de prevenir contra a AIDS, também é ótima prevenção contra as drogas, o alcoolismo, a violência e tantos outros males que afligem a família moderna.


Seria muito bom que o Dr. Davachi desse uma passadinha pelo Brasil... nosso Ministério da Saúde continua batendo na mesma tecla errada: a distribuição em larga escala de preservativos — o que tem colaborado para a devassidão de nosso povo e para o assombroso enriquecimento dos fabricantes!

“Vacina moral”, única garantia contra a AIDS

Catolicismo — O que o Sr. propõe para combater a expansão do HIV/AIDS?

Dr. Davachi — AIDS é o assassino número 1 de pessoas em idade de produção. E como até agora não se encontrou remédio, nem vacina, o que podemos fazer é prevenir. Uma vez que a AIDS se espalha principalmente por via sexual, há duas soluções: propor a abstenção e a fidelidade sexual ou divulgar o uso de preservativos. Mas os preservativos dão algum resultado efetivo? Parece que não, pois a doença continua a se espalhar rapidamente. Como médico, eu não poderia continuar o mesmo método de terapia se não trouxesse resultados visíveis. Não esperaria até que o paciente morresse. Eu aplicaria outro remédio. E me parece que é preciso proceder de modo semelhante neste caso. A abstinência e a fidelidade conjugal constituem a única garantia 100% certa contra a infecção do HIV. Proponho, pois, um programa de educação orientado para as crianças, antes que elas entrem na idade da maturidade e comecem a vida sexual.

Catolicismo — E o Sr. acha que as crianças assimilarão isso facilmente?

Dr. Davachi — Dados científicos indicam que o melhor período para formar o caráter do indivíduo é antes da puberdade. Depois disso o caráter já está formado, a mudança de comportamento se torna mais difícil. As crianças são como plantas novas, que com um pouco de ajuda podem crescer sem desvios, enquanto uma árvore que cresceu torta dificilmente se consegue retificar. Tudo o que a criança aprende fica gravado como na pedra, e não se consegue apagar. A profunda implicação social disso é que o bom caráter e o bom comportamento serão um benefício para a pessoa e a sociedade, enquanto o mau caráter e mau comportamento farão sofrer o indivíduo e a sociedade por toda a vida.
As crianças podem pois aprender a abstinência e a fidelidade com a mesma facilidade com que aprendem a fazer um laço ou cálculos matemáticos. Nada de mau — com certeza, nada — lhes acontece se esperarem até o casamento.

Catolicismo — Poderia exemplificar com algum resultado dessa orientação moral?

Dr. Davachi — Um marco decisivo foi em 1989, quando me tornei consultor do governo de Uganda (África). Tendo este concordado em ensinar a abstinência e a fidelidade para crianças nas escolas, isso resultou num acentuado declínio no grau de infecção por HIV em meninas de 15 a 19 anos, de 38% em 1989 para 7,3% em 1997, de acordo com estatísticas da ONU. Estes resultados são a comprovação científica da eficiência desse tipo de educação.
Em 1996 foi aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos a Welfare Reform Law, destinando 50 milhões de dólares para o desenvolvimento e implementação de programas de educação para a abstinência. Os Estados que implementaram tais programas relatam um decréscimo em gravidez de adolescentes, doenças sexualmente transmissíveis, HIV/AIDS e outros males sociais.


Foto de um aidético
Na prática médica, se um tratamento é ineficaz, deve ser mudado para salvar o paciente. O fato de que até o presente 65 milhões de pessoas foram infectadas com HIV/AIDS, e outros males estão em ascensão, é de si uma prova de que as medidas preventivas que estão sendo usadas são insuficientes. Daí ser necessário suplementar tais esforços patrocinando uma mudança fundamental no comportamento humano.


Catolicismo — O Sr. sugere uma educação moral. Sugestão de um médico, que, em certo sentido, é religiosa e não científica...

Dr. Davachi — Trata-se aqui de valores universais. A educação moral não é só educação sexual. É a formação das especificidades do caráter, tais como retidão, veracidade, dignidade, confiança, brandura, respeito para consigo mesmo e para com os outros, amabilidade, obediência, senso do belo, coragem, colaboração, justiça, unidade, pureza, lealdade, generosidade, serviço dos outros, constância, tendência para a perfeição etc. A educação, segundo esses valores morais universais, fortalece nas crianças a espinha dorsal moral, para que possam tomar no futuro decisões morais e proceder segundo as mesmas. Esse programa todos apóiam, independentemente da opção política e das convicções. Eu viajo pelo mundo, e ainda não encontrei mãe que me dissesse que esses valores não são necessários aos seus filhos. E também não conheço nenhum presidente que não quisesse que a sociedade fosse dirigida por esses valores. Em vez de martelar o roubo e a corrupção, não seria mais fácil incitar à honestidade desde a infância?

Catolicismo —Trata-se pois de insistir nesse sistema de educação?

Dr. Davachi — Atualmente todos os sistemas de educação no mundo têm como objetivo o desenvolvimento físico e intelectual das crianças, mas dá-se pouca importância à sua capacidade moral e espiritual. Esta falta de equilíbrio na educação levou à atual crise moral no mundo. Ela se manifesta sob a forma de alcoolismo, drogas, vida dissoluta, HIV/AIDS, violência, crimes, preconceitos, injustiça e tantas outras doenças sociais. As atuais soluções procuram atenuar os sintomas, ao invés de atingir as causas profundas. Esforçam-se em eliminar unicamente os sintomas desses fenômenos, enquanto o problema que está na sua base é a crise moral. Se eu tenho febre e me dói a cabeça, tomo aspirina. Não tomo penicilina. Este é um ótimo remédio, mas para outra doença. Se temos uma crise moral, é necessário uma solução moral.

Catolicismo — Que diz o Sr. sobre a eventual descoberta de uma vacina, ou possíveis remédios para a AIDS?

Dr. Davachi — Não resolveria o problema, tanto mais que certamente não serão baratos. É mais fácil prevenir. Sobretudo porque a AIDS não é apenas uma epidemia, é uma nova doença que ficará conosco, e durante muito tempo vai acompanhar a humanidade. Além disso, mesmo que déssemos um jeito na AIDS, será que isso liquida todos os nossos problemas? Não temos também outros, e não crescem eles dia-a-dia? As crianças são o futuro e a esperança da humanidade. Um dia serão pais e dirigentes da geração seguinte. São eles que, se lhes dermos chance, poderão mudar o rumo da História. Para mudar uma nação, basta inspirar uma geração. Como médico, não proponho outra coisa senão a vacina moral para uma doença moral.

Nenhum comentário: