28 de abril de 2013

O mundo de ponta-cabeça... Se não reagirmos!



Devido a diversas ocupações, somente hoje tomei conhecimento de um esplendido artigo que dele só lamento uma coisa: tê-lo lido (saboreado) apenas há pouco. Foi publicado na “VEJA” de 22 de abril deste mês e seu autor, José Roberto Guzzo, explicita magistralmente uma questão que toca na pele de todos nós. 

Com certa frequência, devido aos temas “politicamente INcorretos” que temos tratado neste blog, recebo e-mails adjetivando-o de “blog reacionário”. O que nos causa júbilo, pois quem reage é sinal que está vivo. O morto, ou o doente em estado terminal, não reagem. O médico não poderá acusá-los de “reacionários”...

Por que não reagir? Graças a Deus somos reacionários! Mas para a turma dos tolerantes a tudo, por mais absurdo que seja, não se pode discordar de nada. Entre tantas coisas, não se pode manifestar opinião própria criticando certos “dogmas” do mundo atual; não se pode dizer que sim é sim, que não é não; não se pode dizer que o errado é errado, que o certo é certo; não se pode dizer que bandido abaixo dos 18 anos é bandido (ele é “dimenor”); não se pode dizer que branco é branco, que negro é negro. Então o que é? — “Mais ou menos cinza, ora bolas”, poderia responder a turma (ou a ditadura) do “politicamente correto”.

É dessa maneira que tal “ditadura” espera calar a boca daqueles que desejariam expressar opinião, mas ficam com medo de manifestá-la e, assim, entrar numa encrenca. Então preferem ficar omissos ou concordar com todo mundo. 

É o nosso mundo invertido com os pés para cima e a cabeça no chão. A continuar desse jeito, terei que dar razão ao jornalista Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly — que se tornou famoso com o pseudônimo Barão de Itararé — quando afirmou que "Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato”...

Abaixo transcrevo o mencionado artigo, recomendando uma atenta leitura e sua difusão entre os Amigos que ainda não entraram na UTI deste mundo e que, portanto, ainda reagem.
 

Um mundo escuro 

§ José Roberto Guzzo 
Veja”, 22-4-13 

Está cada vez mais difícil, em nosso mundo de hoje, encontrar inocentes. No exato momento em que estiver lendo estas linhas, o leitor poderá muito bem estar sendo culpado pela prática de algum delito sério, mesmo que não saiba disso — e provavelmente não sabe. Como poderia saber?

As noções de certo ou errado, de bem ou mal ou de justo e injusto, cada vez mais, são definidas por dezenas de "causas", em relação às quais é indispensável estar do lado correto. E que lado é esse? É o lado dos donos ou dos militantes dessas causas — tarefa complicada, considerando-se que elas se multiplicam sem parar, não têm conexão nenhuma entre si e sua própria existência, muitas vezes, é completamente desconhecida do público em geral. Com o desmanche cada vez mais rápido de qualquer valor ou princípio na atividade política, e o falecimento da ideia geral de "direita" e "esquerda", o campo do "bem" vai sendo ocupado por movimentos que defendem ou condenam todo tipo de coisa. Importa cada vez menos, também, o divisor de águas formado pelo conjunto de valores morais como integridade, decência, gratidão, generosidade, honradez, cortesia e tantos outros que marcavam a correção do indivíduo, do ponto de vista pessoal, na vida de todos os dias. O cidadão, hoje, pode ser tudo isso ao mesmo tempo, mas ainda assim não será inocente — basta não concordar com as bandeiras em voga, ou ser indiferente a elas, ou não saber que existem. 

Todas essas cruzadas se declaram proprietárias exclusivas do bem e têm, cada vez mais, a certeza de que a lógica, os argumentos baseados em latos e o livre debate devem ceder lugar à fé — a fé dos dirigentes e militantes das "causas", que se julgam moralmente superiores e, portanto, autorizados a exigir que todos abram mão de seu direito a raciocinar e simplesmente concordem com eles. O lado escuro disso tudo é que a defesa de tais bandeiras está se tornando cada vez mais fanática — e o resultado é a criação, pouco a pouco, de um novo totalitarismo. Nega-se às pessoas o direito de discordar de qualquer delas e, principalmente, de criticar seja lá o que proponham: não é permitida nem a simples neutralidade, pois quem é neutro é considerado cúmplice do mal. 

Os efeitos práticos são muito parecidos com os que se produzem nas ditaduras — e sua primeira vítima é a liberdade de pensar e de exprimir o que se pensa. 

Muito de todo esse ruído é simplesmente cômico: além disso, ao contrário do que acontece nas tiranias, os líderes das novas causas não têm a seu dispor a força armada para obrigar o público a obedecer a suas decisões. Mas, em ambos os casos, sua atividade está gerando cada vez mais consequências na vida real. Ainda há pouco, um anúncio da agência AlmapBBDO [foto acima] mostrava um gato preto subindo no capô de um Volkswagen, numa brincadeira 100% inocente a respeito de sorte e azar. Ideia proibida, hoje em dia. Grupos que defendem a causa dos gatos, de qualquer cor, decidiram que o comercial estimulava a "perseguição" e o "desrespeito" ao gato preto, e exigiram da empresa que o comercial fosse retirado do ar. Ganharam: a Volkswagen, uma das maiores companhias do mundo, com mais de noventa fábricas, 550.000 empregados e faturamento superior a 200 bilhões de dólares em 2012, ficou com medo do pró-gato e topou, sim, cancelar o anúncio. Há uma coisa muito parecida com isso — ela se chama censura. A AlmapBBDO, uma das agências de publicidade mais respeitadas do Brasil, queria levar o comercial ao público, como a imprensa queria publicar notícias durante a ditadura militar. Mas a cruzada dos gatos, como acontecia na época em que o governo cortava as notícias que lhe desagradavam, não quis. Nas duas situações — uma pela força bruta, a outra pela pressão bruta — o resultado prático é o mesmo: aquilo que deveria ter sido publicado não o foi. Qual é a diferença?

Episódios como esse vão se tornando comuns e, para piorar as coisas, deixam atrás de si uma nuvem radioativa que contamina o ambiente do pensamento e faz com que as pessoas fujam das áreas de perigo. É muito pouco provável que a AlmapBBDO volte a criar comerciais com algum gato no enredo, ou qualquer outro animal. Para quê? Outras agências vão tomar, ou já tomaram, a decisão de cortar o reino animal do seu universo criativo — e também, por via das dúvidas, o reino vegetal e o reino mineral, pois é possível que provoquem objeções dos movimentos que atribuem direitos civis às árvores, ou às pedras, ou sabe-se lá ao que mais. Os jornalistas e os órgãos de imprensa, com frequência, vão pegando uma alergia cada vez maior a tratar de certos assuntos. "Isso vai dar confusão", ouve-se todos os dias nas redações. "Melhor a gente ficar fora dessa". O mesmo se aplica a políticos, por seu natural pavor de perder votos, a artistas que não querem ficar mal "na classe" e a mais um caminhão de gente capaz de ter posições claras, mas incapaz de arrumar coragem para falar delas em público.

É apenas natural que a situação tenha ficado assim. Não vale a pena, para a maioria, dizer o que pensa e ser imediatamente amaldiçoado como racista, cruel com os animais, homofóbico, nazista, destruidor da natureza, inimigo da fauna e da flora, poluidor de rios, lagos e mares, vendido aos interesses das "grandes empresas", carrasco das "minorias", assassino de bagres e por aí afora. Ser um mero defensor da luz elétrica, e achar natural, para isso, que sejam construídas usinas geradoras de energia passou a ser, no código da "causa ambiental", um delito grave. Pior ainda é ser chamado de "agricultor" ou "pecuarista" — as duas palavras passaram a ser utilizadas pelos militantes como um puro e simples insulto. Eis aí, por trás de todo o seu verniz de atitude moderna, democrática e defensora da virtude, a essência do totalitarismo que vai sendo imposto pelas "causas" do bem. O alicerce central de sua postura é raso e estreito: "Ou você pensa como eu, ou você é um idiota; ou você pensa como eu, ou você está errado". Ou você é coisa ainda muito pior, dependendo do grau de ira que sua opinião despertou neste ou naquele movimento.

Se discordar, por exemplo, de uma mudança na lei trabalhista, vão acusá-lo de ser a favor da volta da escravatura. Se criticar a doação de latifúndios a tribos de índios, pode ser chamado de genocida. Se achar errado o Bolsa Família, vai ser condenado como defensor da miséria. Se sustentar que o sistema de cotas para negros nas universidades tem problemas sérios, vira um racista na hora. Se julgar que os governos do PT são um exemplo mundial de incompetência, ignorância e vigarice, será incluído na lista negra dos que são contra o povo, contra a pátria e contra as eleições. Falar mal do ex-presidente Lula, então, é um caso perdido. Como ele diz em seus discursos que o seu segundo objetivo na vida é governar para os pobres (o primeiro, segundo uma confissão que fez há pouco, é "viver o céu aqui mesmo na terra"), quem não gosta do ex-presidente só pode ser contra os pobres. A alternativa é ouvir que você, até hoje, não se conforma com o fato de que "um operário tenha checado à Presidência" etc. etc., como o próprio Lula nos diz todo santo dia, há mais de dez anos.

Com certeza há pessoas boníssimas, e sinceramente interessadas no bem comum, na maioria das "causas" em cartaz hoje em dia — não lhes passaria pela cabeça, também, imaginar que estão construindo um mundo totalitário. Mas sua recusa em raciocinar um pouco mais, e em agredir a lógica um pouco menos, acaba levando-as, mesmo que não percebam, a uma postura de autoritarismo aberto diante da vida.

Um outro tóxico que alimenta essa marcha da insensatez é a ignorância. Somada à decisão de atirar primeiro nos fatos, e perguntar depois quais eram mesmo esses fatos, leva a episódios de circo como o movimento "Gota d"Água" — no qual um grupo de atores e atrizes tentou demonstrar, no fim de 2011, que a usina de Belo Monte seria uma catástrofe sem precedentes para o Rio Xingu e para a ecologia brasileira em geral. No vídeo que gravaram com o propósito de provar suas razões, confundiram o Pará com Mato Grosso, colocaram a usina a mais de 1.000 quilômetros do lugar onde está sendo construída e denunciaram a inundação de terras ocupadas por índios — quando não há um único índio na área a ser alagada. Foi um desempenho digno de entrar na lista das piores respostas do Enem. Mas os artistas continuam achando que estão certíssimos; sua "causa" é justa, dizem eles, e meros fatos como esses não têm a menor importância, pois o que interessa é o triunfo do bem.

"Não há expediente ao qual o homem deixará de recorrer para evitar o real trabalho de pensar", disse, no fim dos anos 1700, o grande mestre da arte inglesa do retrato, sir Joshua Reynolds. Hoje, mais de 200 anos depois, sua tirada é um resumo praticamente perfeito da turbina-mãe que faz girar a máquina das "causas" justas. Nada as incomoda tanto quanto o ato de pensar. Preferem receber insultos, porque podem responder com insultos — o que não toleram é a tarefa de raciocinar em cima de fatos, reconhecer realidades e convencer pelo uso da inteligência. Algum tempo atrás esta revista publicou, com a assinatura do autor do presente artigo, um conjunto de considerações sobre o que julgava serem exageros, equívocos ou distorções do chamado "movimento gay". Tudo o que foi escrito ali recebeu uma fenomenal descarga de ódio, histeria e ofensas, nas quais foram incluídas diversas maldições desejando uma morte rápida para o autor. Mas o que realmente deixou a liderança gay fora de si, acima de qualquer outra coisa, foi a afirmação de que casamento de homem com homem, ou de mulher com mulher, não gera filhos. É apenas um fato da natureza — mas é exatamente isso, o fato, o pior inimigo das "causas". Não pode ser anulado por abaixo-assinados, redes sociais ou passeatas. A única saída é mantê-lo oculto pelo silêncio. 

Por essa trilha, caminhamos para um mundo de escuridão.

3 comentários:

Anônimo disse...

Guzzo Wins!




PERFECT!!!

Vânia Luz disse...

Infelizmente vivemos numa crise, a dura realidade do politicamente coreto. Temos que fazer a nossa parte, para reverter essa situação. Não devemos nos render nessa hora... Deus por nós, para que tenhamos força nossa luta pela liberdade...

Renan disse...

ABISMOS ÉTICO-MORAL-RELIGIOSO E FINANCEIRO apenas por inexistirem outros!
TUDO VIA COMUNISMO E SOCIALISMO!
TODOS SÃO UNS BURGUESES, ELITISTAS E EXIBIDOS CAPITALISTAS DE ESTADO!
O SOCIALISMO é uma variação abrandada do comunismo, ao invés de tomar o poder pelas armas, gerava muita confusão, o socialismo é a sua tática por meio da SUBVERSÃO e entrar para o poder via voto e, aos poucos, ir instalando suas leis comunistas de forma lenta e com aparências de legalidade via voto, em geral comprados”.
Quanto às disputas do PT-PSDB e entre outros partidos, os comunistas abocanham-se como cães ferozes entre si pelo poder, e apenas os truculentos prevalecem os chamados EXPURGOS.
Todos são BURGUESES, ELITES E CAPITALISTAS DE ESTADO mas combatem encarniçadamente todos os burgueses, elites e capitalistas fora do partido, querem tudo sob suas botas e depois procedem como em Cuba etc., os chefões numa boa e o povo escravizado como animais estabulados sob ração pouca e de má qualidade...
É só adentrarem ao poder e logo suas riquezas transparecem.
Lula, com mais de U$2, 000, 000, 000 é o exemplo acabado do interesse que devotam com a parceira marxista Teologia da Libertação na falaciosa “opção preferencial pelos pobres”.
Evidentemente, quem vota no PT assina sua sentença de futura escravidão, muito mais opressora que dos burgueses capitalistas autônomos.
Os últimos 11 Papas rechaçam a ambos regimes tidos como "PESTES" e severas penalidades aos que os aceitam!