Paulo Roberto Campos
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Muito se tem falado sobre os 100 anos da Primeira Guerra Mundial, mas pouco de suas reais consequências. Iniciada em 28 de junho de 1914, com o assassinato do herdeiro do Império Áustro-Húngaro, o Arquiduque Francisco Ferdinando (Sarajevo), a hecatombe só encerrou-se em 1918, acarretando no mundo inteiro sérias consequências, profundo desmoronamento de valores morais, graves cicatrizes na Civilização Cristã. Naqueles primórdios do século passado, num clima saturado de otimismo, dançavam-se as valsas vienenses nos faustosos salões iluminados pelas recém-inventadas lâmpadas elétricas e exalavam-se os melhores perfumes da Belle Époque.
Na Paris de 1900, a capital da “douceur de vivre” [doçura de viver], realizou-se a primeira grande exposição universal. Visitantes de todos os quadrantes da Terra lá estiveram, prestando admirados suas homenagens aos surpreendentes progressos que a técnica acabara de descobrir.
Nascia a era apoteótica da máquina. Despontava a civilização industrial e o mundo mecanizado, nos quais os homens esperavam poder viver plenamente felizes — a tecnologia resolveria todos as dificuldades, a ciência eliminaria as doenças e, quiçá, até a morte.
Essa concepção de vida é denunciada por Plinio Corrêa de Oliveira em sua magna obra "Revolução e Contra-Revolução":
“Auto-suficiente pela ciência e pela técnica, [o homem] pode ele resolver todos os seus problemas, eliminar a dor, a pobreza, a ignorância, a insegurança, enfim tudo aquilo a que chamamos efeito do pecado original ou atual. [...] Nesse mundo, a Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo nada tem a fazer. Pois o homem terá superado o mal pela ciência e terá transformado a terra em um ‘céu’ tecnicamente delicioso. E pelo prolongamento indefinido da vida esperará vencer um dia a morte” (Parte I, Cap. XI, 3).Com uma tal mentalidade a entrava a humanidade nessa nova era, que prometia “um paraíso na Terra”. E entrava eufórica, como eufórica ingressara no Titanic — o fabuloso e gigantesco palácio flutuante — os futuros náufragos daquele colosso “insubmergível” que hoje jaz no fundo do oceano.
Como um raio céu sereno, o assassinato do herdeiro do Império Áustro-Húngaro, executado por um anarquista sérvio, foi a centelha da Primeira Guerra Mundial. Teria sido um castigo da Providência? Por quê? Não teria sido pelo fato de a humanidade ter posto mais fé na ciência e na tecnologia do que no Criador de todas as coisas?
Pior que a própria guerra foram as suas consequências: o continente europeu foi profundamente abalado por um psy-terremoto que fez tremer o magnífico edifício da Civilização Cristã e revolucionar os costumes. Apesar de seu “epicentro” ter ocorrido no Velho Mundo, seus efeitos fizeram-se sentir em todo o orbe. No Brasil, por exemplo — que vivia até então tranquilo, tendo como polo de atração a Europa, particularmente Paris —, uma profunda modificação transformou as mentalidades e os modos de ser. Novos “valores” emergiram, os costumes mais tradicionais foram abalados, tudo em nome da modernidade lançada pelos Estados Unidos — a American way of life —, especialmente do cinema, a grande novidade da época. Hollywood passou a ser o novo polo de atração mundial.
O mundo saído das trincheiras da guerra de 1914-1918 era completamente outro. A Europa católica foi a grande prejudicada, de modo especial o glorioso Império Áustro-Húngaro. As suaves melodias das valsas vienenses foram abafadas pelos grunhidos do fox trot e os ruídos da jazz band, oriundos da América do Norte. Usando linguagem metafórica, em artigo publicado no “O Legionário” (13-5-1945), Plinio Corrêa de Oliveira assim descreve os efeitos do pós-Guerra:
“É preciso ter vivido em 1920, ou 1925, para compreender o tremendo caos ideológico em que se debatia a humanidade. A Cristandade parecia um imenso prédio em trabalhos finais de demolição. Não havia o que não se fizesse para a destruir. Aqui, especialistas silenciosos e metódicos arrancavam uma a uma as pedras, desconjuntavam as traves, tiravam as portas a seus batentes, e as janelas a suas esquadrias. Essa faina, que faziam com o mutismo, a solércia e a agilidade de conspiradores, progredia com frieza inexorável, sem perda de um instante, sem desperdício de um segundo. [...] Procuravam com o material roubado à Casa de Deus, construir em suas linhas extravagantes e sensuais, a orgulhosa Cidade do Demônio. Tudo isto não é senão alegoria. E não há alegoria, nem imagem, nem descrição que possa retratar a confusão daqueles dias de pós-Guerra”.
Um comentário:
Uma guerra só poderia trazer tamanho caos para a humanidade, pois guerra é destruição é coisa do demonio que vem para destruir a paz.
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