Plinio Maria Solimeo
Dados do Censo de 2010 divulgados pelo IBGE confirmam que a taxa de fecundidade no País era naquele ano de 1,9 filhos por mulher. O que já estava abaixo da taxa de reposição da população, que é de 2,1, pois as duas crianças substituem os pais, e a fração de 0,1 é necessária para compensar os indivíduos que morrem antes de atingirem a idade reprodutiva.
Já a projeção do mesmo Instituto para 2016 aponta que essa já baixa taxa de fecundidade caiu no Brasil para 1,69 filhos por mulher.
Os estudiosos apontam várias causas para isso, como o número de mulheres que trabalham fora, a insegurança, a crise na economia e, sobretudo, os métodos anticoncepcionais modernos mais ao alcance. Só não apontam a causa principal, que é a desastrosa queda da religiosidade da população. O esquecimento de que o principal fim da união matrimonial é, de acordo com a doutrina católica, a perpetuação da espécie, isto é, gerar e educar os filhos.
Deixando isso de lado, devemos considerar que o ser humano para expandir sua afetividade, e não tendo filhos, quer preencher esse vazio no lar, substituindo-o por um animal doméstico. Daí sua proliferação vertiginosa nos lares modernos.
Mostra-o, por exemplo, esta manchete da “G1.Globo”: “Brasileiros têm 53 milhões de cães e 22 milhões de gatos, aponta IBGE: 44,3% dos lares têm pelo menos um cão, e 17,7% têm ao menos um gato”.
A mesma fonte noticia ainda: “O dado mostra que, no Brasil, existem mais cachorros de estimação do que crianças. De acordo com outra pesquisa do IBGE, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2013 havia 44,9 milhões de crianças de até 14 anos”.(1) Quer dizer, o número de cães supera em quase nove milhões o de crianças!
Não é de admirar que surjam em todo canto lojas de material para cães e gatos [foto ao lado], e que a profissão de veterinário tenha se tornado hoje uma das mais lucrativas.
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Direitos dos animais?
Esses animais domésticos são, em geral, tratados com requintes desconhecidos de inúmeras crianças. Hoje em dia, em alguns países já se efetivou ou está para ser efetivada uma lei permitindo que os “pets” sejam enterrados junto a seus donos, ou em cemitérios próprios a eles, com túmulos, monumentos etc. como para seres humanos. E já dispõem de praias especiais, hotéis, e até salões de beleza! [Foto ao lado]Tornou-se hoje “politicamente correto” falar desses “direitos” dos animais, havendo em quase todo mundo movimentos que defendem não só os “pets”, como também as baleias e praticamente todos os animais, até mesmo os mais repulsivos.
Em quase sua totalidade, esses movimentos são orientados por uma ideologia esquerdizante, que é a mesma dos que defendem o aborto e outras aberrações do mundo contemporâneo.
Nesse sentido, o jornalista J. Lozano, do site espanhol Religión en Libertad, publicou um sugestivo artigo intitulado “O animalismo, de origem marxista, outorga ‘direitos aos animais e os nega a certos humanos”,(2) no qual comenta uma entrevista concedida pelo naturalista e conferencista espanhol Alexander Lachhein à "La Contra TV" sobre esta matéria.
Segundo Lozano, Lachhein explicou em sua entrevista que “a mensagem de que os animais têm direitos, e que devem ser tratados a este respeito como se fossem seres humanos, vai calando na sociedade, fruto de um bombardeio ideológico. Uns por sentimentalismo, pois já não é infrequente que as mascotes estejam começando a substituir os filhos e sejam tratadas como tais, e outros por ideologia. Mas, o objetivo final é ‘socavar os fundamentos desta civilização’ através do marxismo cultural, que se esconde por detrás” (grifo do original).
Lozano explica que Alex Lachhein se dedica aos animais. “Mas seu amor pelos animais é tão firme quanto sua luta contra a politização desta causa [dos direitos dos animais], e por isso denuncia o que denomina de ‘politicamente correto’, que impede de dizer certas coisas”. Para Lachhein, todo este assunto vem com uma “profunda carga ideológica [...] para conseguir o ecologismo político e o animalismo”. Para ele, por exemplo, as feministas radicais [foto ao lado], representantes deste marxismo cultural, são também parte do movimento “animalista”.
Alex Lachhein explica que os ideólogos marxistas, ao virem que o comunismo econômico estava fracassando em muitos países, apostaram então em “derrubar os fundamentos” e ir, “a partir de baixo, impondo o marxismo cultural, que é sinônimo do politicamente correto”. E assim surge o ativista ecologista profissional, que organiza manifestações, e que, segundo Lachhein, “é um político que não tem nada a ver com o ecólogo”, que é um personagem que “aplica a ciência e está à margem de todo elemento político”.
Em sua entrevista, Lachhein explica que alguns defensores desse “animalismo” chegam a defender que “não parece muito sensato [...] permitir que aumente o número de crianças com deficiência”. Segundo essa doutrina, tais crianças “não teriam direitos”. Cita o caso de um vídeo que se tornou viral na Espanha, no qual uma simpatizante do partido animalista PACMA criticava o fato de que ninguém lhe deu os pêsames quando morreu seu “pet”, mas o deram à família de Victor Barrio, toureiro que morreu numa tourada. Pois esses radicais são também contra as touradas por terem pena dos touros...
Não têm direitos porque não têm obrigações
Lachhein afirma que “os animais não têm direitos, porque não podem ter obrigações”. Pois, para ele, “os direitos são algo da sociedade humana, e criado pelos humanos. Você não pode dizer a um leão que não pode comer uma zebra, nem que o diga aos leõezinhos”.
O naturalista comenta enfim a grande influência que os filmes de Walt Disney tiveram nesse âmbito. Segundo ele, “o mundo de Disney é a humanização total dos animais, e a natureza e as pessoas se formam crendo que é vida real. E quando crescem, pensam que os sentimentos da natureza são assim. E a realidade é que aqui [entre os animais] impera a lei do mais forte, o comer para não ser comido”. “As pessoas têm uma má formação do que é o meio ambiente, e continuam vivendo no universo de Disney”.
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1. http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/06/brasileiros-tem-52-milhoes-de-caes-e-22-milhoes-de-gatos-aponta-ibge.html
Um comentário:
A tentativa de atribuir direitos aos animais e às plantas já foi considerada por Santo Agostinho no Livro I de "A Cidade de Deus", como segue:
“... pois que, essa injunção divina (de não matar) não excetua ninguém, nem mesmo quem se suicida. É verdade que muitos procuram incluir nesse mandamento até mesmo os animais. E porque não as plantas e tudo o que está na terra e se nutre de raízes? Ainda que privados de sentimentos, não se diz desses seres que eles vivem? E portanto, pode-se dizer que eles morrem e, se perecem por violência, que eles são mortos? Assim, os apóstolos, falando das sementes: “Nada do que semeias poderia viver se não morrer antes”. E lemos no Salmo: “Ele matou as vinhas com o granizo”. Será que essa palavra de lei “Não matarás” faz um crime arrancar um arbusto? E seríamos tão insensatos para adotar o erro de Manés? Assim, pois, rejeitando essas fantasias, não aplicamos o preceito (não matarás) nem às plantas privadas de sentimento nem aos animais privados de inteligência, a quem a ausência de razão interdiz toda sociedade conosco (de onde se segue que um justo conselho da Providência colocou sua vida e sua morte à disposição de nossas necessidades), não temos mais do que entender que se aplica somente ao homem esta palavra: “não matarás”, nem a outro nem a ti mesmo”.
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