4 de fevereiro de 2018

BÉCASSINE

Verdadeiros tratadinhos de sociologia viva 


Plinio Corrêa de Oliveira (*) 

Sempre considerei um verdadeiro sociólogo o artista Joseph Pinchon (1871-1953), autor dos desenhos dos livros de Bécassine, personagem da literatura infantil da época. Camponesa da Bretanha, Bécassine era filha do casal Labournez. Viviam em Clocher-les-Bécasses, cidadezinha de nome encantador que existia em função do castelo de Monsieur e Madame de Grand-Air, os marqueses da região.

Comparadas com as roupas e os modos de ser no meu tempo de menino [início do século XX], as ilustrações mostram características do ambiente social equivalente em São Paulo, consideravelmente afrancesado.
Os livros de Bécassine são verdadeiros tratadinhos de sociologia. Uma cena característica, anterior à Primeira Guerra Mundial, mostra o batizado na família de Bécassine — uma festa de camponeses, para a qual a marquesa foi convidada — onde se destacam três pessoas: a marquesa, o cocheiro e Monsieur Labournez.

Madame de Grand-Air aparenta uns trinta anos, com algo ainda de moça e algo de senhora. O modo como ela ergue os braços é sumamente distinto. O braço sustentando a sombrinha é tão leve, que dir-se-ia não estar sujeito à ação da gravidade. Com o outro braço ela saúda Monsieur Labournez de modo afável.

O pudor do traje é notável. Está toda coberta, os braços revestidos de grandes luvas de pelica branca que chegam até a manga. Demonstra grande segurança, sentada com o porte alto e o olhar benévolo para Monsieur Labournez. Ela o olha muito de cima, sabe marcar a distância, mas também sabe passar por cima dessa distância. De ponta a ponta, é como um arco-íris de benevolência e simpatia.

A importância dela é realçada pelo cocheiro. Com jeito teso e a corpulência de um banqueiro ufano de sua importância, ele guia o coche e sua fisionomia parece dizer: Abram caminho para a marquesa de Grand-Air. Essa atitude do cocheiro contrasta com a afabilidade da marquesa. Fica bem uma senhora desse nível fazer-se preceder por um homem capaz de defendê-la, garantindo a segurança e dando-lhe a possibilidade de ser muito graciosa, acolhedora e leve.

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(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 14 de maio de 1980. Sem revisão do autor.

5 comentários:

NEREU AUGUSTO TADEU DE GANTER PEPLOW disse...

Lembro que Dr. Plínio era fã também de Astérix... aliás, foi onde e quando fiquei fã do irredutível gaulês.... li meu primero Astérix na garagem da velha "sede da Rua Pará"....

Paulo Roberto Campos disse...

Também sou fã da Bécassine! Poderemos organizar um "Fanclub Bécassine"... Aqueles que desejarem se inscrever podem deixar seu nome aqui... A primeira coisa que precisaremos é conseguir toda a coleção dos livros da Bécassine -- creio que são uns 30 volumes.

Anônimo disse...

Amo a Bécassine e ganhei de presente do meu irmão, há muitos anos atrás, duas bonecas de pano, uma da Bécassine e outra da mãe dela (ambas foram feitas por encomenda), as quais guardo com muito carinho até hoje!
Gostaria muito de participar deste fã clube da Bécassine! Eliselma SP

Esther Rivas disse...

Gostaria de saber se existe a tradução para o português da coleção/Becassine. Se existe, favor colocar aqui um aviso do local aonde posso comprá-la. É para o aniversário de minha filha.

Nelson Fragelli disse...

Bécassine e Madame de Grand-Air unem, aos olhos fatigados do mundo moderno, duas singelezas eliminadas pelo progresso: a singeleza do povo e a singeleza da nobreza. Da união das duas jorra uma doçura insuperável.