23 de fevereiro de 2018

Discutindo sobre Ideologia de Gênero

Paulo Henrique Américo de Araujo

Era uma sexta-feira. À distância já se percebia a feição mal-humorada da professora. Com passo apressado e decidido, vinha ela percorrendo os corredores daquele colégio de ensino médio, num subúrbio da cidade. Segurava na mão direita um pequeno folheto impresso, que agitava com movimentos convulsivos. Dois alunos observavam a cena, e já previam que a professora caminharia até eles, que tinham distribuído na escola uma centena daqueles folhetos. Tratava-se de um pequeno manifesto contra a Ideologia de Gênero nas escolas, publicado pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira(1). Bastante conciso, o impresso fornecia argumentos rápidos e diretos, e ao final remetia o leitor a uma petição ao Presidente da República, repudiando tal ideologia.

Um dos jovens comentou, enquanto ela se aproximava: 

— Acho que ela não gostou. 

Márcia, a professora, conhecia os dois rapazes e foi direto ao ponto: 

— Davi e Leonardo, eu peguei este “folhetinho” de vocês na sala dos professores. Ele não é científico. Só traz argumentos religiosos, não tem valor acadêmico! 
Após pequena pausa, e vendo que os estudantes não replicavam, embora demonstrassem surpresa, ela prosseguiu, reprimindo um tanto o nervosismo do primeiro momento: 

— Olhem... se eu soubesse que meu filho de seis anos optou por ser uma menina, não haveria problema nenhum para mim. Eu apoiaria. Além disso, seu folheto é muito radical, vocês precisam respeitar os outros. 

— Profa. Márcia... 

Leonardo tentara replicar, mas a atitude impositiva da outra não lhe deixava margem para prosseguir, enquanto ela se expandia em tom taxativo:

— O que vocês estão fazendo não adianta nada! A Ideologia de Gênero vai entrar de um jeito ou de outro. Quem é contra está perdendo seu tempo! Espero que vocês revejam suas posições. É um conselho para o seu próprio bem. Até logo! 

Entregou o folheto a Davi, sem esconder um ar de vitória, e voltou-lhes as costas, seguindo seu caminho. Os jovens ficaram apreensivos, não esperavam uma reação tão ríspida da professora. A veloz sucessão dos argumentos os havia deixado atordoados. O que fazer? 

No dia seguinte, sábado, os dois foram participar de um círculo de estudos da Ação Jovem do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, ali mesmo no bairro onde moram. Num encontro anterior, juntamente com estudantes de outros colégios, tinham combinado imprimir e distribuir aquele folheto contra a Ideologia de Gênero. Júlio, o mais veterano dos participantes, após ouvir de Davi e Leonardo um aflitivo relato sobre a “contenda” com a Profa. Márcia, ponderou: 

— Amigos, tenham calma. De fato, a professora dispõe de uma autoridade legítima, e é normal exibir o peso da superioridade num caso desses, apesar de ela não ter dado nenhum argumento válido. 

— Como assim? Nenhum argumento válido!? — Exclamou Davi. 


— Vejam... – retomou Júlio. – O folheto não traz apenas argumentos religiosos, mas também apresenta o que personalidades importantes declararam sobre a falta de base científica para a Ideologia de Gênero. Mas o mais importante são os argumentos religiosos, que levantam um problema de consciência para todas as pessoas. A eficácia dos argumentos é exatamente esta. Eles não são feitos para convencer ateus e antirreligiosos, têm sobretudo o objetivo de fortalecer a posição dos que possuem princípios religiosos.

— Entendo – interrompeu Davi. – Mas ela disse que é preciso respeitar a opinião dos que aceitam o ensino de gênero nas escolas. 

Júlio tomou a iniciativa de responder: 

— O fato de a professora apoiar a Ideologia de Gênero não significa que todos são obrigados a segui-la. Se é preciso respeitar os outros, pela lógica devem ser também respeitados os pais contrários ao ensino de gênero nas escolas onde estão os seus filhos. 

— É verdade! 

Leonardo continuou o raciocínio: 

— Será que os pais serão “obrigados” a aceitar a Ideologia de Gênero? Impor que as pessoas aceitem algo contrário à razão, à ciência, à religião, isso sim é “radicalismo”! 

— Exatamente, Leonardo – replicou Júlio. – Uma ação não se torna justificável quando é apoiada por alguns, ou mesmo por muitos. Equivaleria a dizer que todos somos obrigados a aceitar as drogas, pelo simples fato de várias pessoas as aceitarem! 

Davi tinha no fundo da cabeça uma preocupação: 

— Júlio, a professora afirmou que a Ideologia de Gênero vai entrar de qualquer jeito, e é perda de tempo trabalhar contra. O que você acha? 


— Cuidado, Davi. Essa é exatamente a arma mais eficiente dos que desejam impor ideias revolucionárias. Lançam o desânimo sobre seus opositores, para diminuir neles a reação. Aliás, a feminista e ideóloga Judith Butler [foto ao lado] declarou isso numa recente entrevista(2). Ela acha que o mundo já mudou, portanto não adianta pensar diferente nem se manifestar contra a Ideologia de Gênero. Essa é uma tática que todos eles usam, por isso devemos permanecer bastante atentos, e nunca desanimar. 

Leonardo pegou o embalo, e soltou uma frase muito conhecida: 

— Eu li num livro a frase de um escritor chamado Edmund Burke: “Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada!”

— Se houver oportunidade, exponham esses pontos à professora, mas tratem-na com o devido respeito, por causa da autoridade que ela representa. 

O olhar dos dois jovens manifestava alívio e satisfação, depois de ouvirem as explicações do amigo mais experiente. Na segunda-feira, quando voltassem à escola, estariam encorajados a retomar a discussão com a Profa. Márcia... 


*       *       * 

Caro leitor, usando de legítimo recurso para um artigo, eu poderia ter inventado a pequena história acima. Mas os fatos, relatados durante uma conversa com os dois estudantes, realmente aconteceram. Apenas modifiquei os nomes dos protagonistas e algumas circunstâncias secundárias, que não alteram sua essência. Os fatos ilustram uma realidade dos colégios em nossa Pátria: a Ideologia de Gênero vai sendo imposta, apesar da rejeição massiva da população. 

Desejo e espero que este texto sirva para outros alunos e seus pais continuarem reagindo à malfazeja onda do “gênero”, sem nunca desanimarem(3). 

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Notas: 
1. O folheto completo pode ser lido em: https://ipco.org.br/wp-content/uploads/2017/10/Ideologia-de-g%C3%AAnero-folheto.pdf 
2. Ver declaração de Judith Butler em: http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,justica-social-nao-vira-sem-o-fim-da-discriminacao-de-genero--diz-pesquisadora,1760597 
3. Para um aprofundamento do assunto, cfr. livro Ideologia de Gênero, Pe. David Francisquini, ed. Artpress. 2017.

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