Lançamento da Frente Parlamentar do Ensino Domiciliar, ocorrido no Congresso Nacional em 2 de abril de 2019 [Fotos: Cleia Viana / Câmara dos Deputados] |
➤ Paulo Henrique Américo de Araújo
O auditório encontrava-se lotado. Todos os
presentes pareciam muito à vontade, quase como se estivessem em casa. Homens,
mulheres, casais jovens; e para completar, muitas crianças corriam e brincavam
entre as poltronas, através dos corredores, deixando-se filmar e fotografar. Mas
o leitor se enganaria, julgando tratar-se de festa de aniversário ou reunião de
pouca importância. Não! Lá estavam vários deputados federais, jornalistas aglomerados;
e na tribuna, uma Ministra de Estado.
Um menino mais ousado subiu correndo até
a área das autoridades, e se escondeu sob a mesa junto da qual se achava a Ministra.
A mãe, em estado avançado de gravidez, rapidamente alcançou o pequeno atrevido,
e após pequena luta conseguiu retirá-lo daquele lugar inapropriado. Todos os
que presenciaram a cena, inclusive a Ministra, sorriam e achavam graça.
A descrição que acabo de fazer é fidedigna.
Eu mesmo a acompanhei, e seria facilmente confirmada por todos os presentes no
lançamento da Frente Parlamentar do Ensino Domiciliar, ocorrido no Congresso
Nacional em 2 de abril de 2019.1
A alegria distendida da cena pode surpreender o leitor, e foi certamente
sentida pelos frequentadores dos carrancudos ambientes parlamentares de
Brasília, assim amenizado pela presença incomum de tantas crianças em evento que
dizia respeito a elas.
As crianças amenizaram com sua presença o importante evento |
Defender os filhos da corrupção moral
Por cima do debate sobre o ensino domiciliar
(home schooling), durante aquela
sessão as atitudes, o convívio, as maneiras de ser revelavam algo de profundamente
distendido, gentil, suave, algo autenticamente brasileiro. Bem o oposto do que se
costuma ver no Congresso: carrancas, manifestações furiosas, gestos histéricos,
violentos até.
Como argumento mais recorrente a favor
do ensino domiciliar, os deputados integrantes da Frente Parlamentar apontavam
sobretudo a defesa da família, sob os aplausos entusiasmados da audiência. A
Ministra Damares Alves foi especialmente ovacionada quando afirmou: “O Estado é laico, mas nós somos cristãos”.
Poderia haver nos presentes algumas
discrepâncias de métodos, mas um princípio era compartilhado por todos: a
educação das crianças cabe primeiro aos pais. Ao Estado cabe apenas a função
supletiva, acessória. Os pais têm o direito e o dever de defender seus filhos,
especialmente quando se sabe que o ambiente escolar está impregnado de
doutrinação marxista e degradação moral. Assim, a bandeira do home schooling adquire, em linhas
gerais, um inegável caráter contra-revolucionário.
Algumas ponderações e distinções se
impõem. Em seu depoimento aos participantes, uma mãe de dois filhos com
problemas mentais indicou que o home schooling
não é para todos, mas sim para os pais que desejarem e tiverem condições para
tanto. Para os militantes da esquerda, contrários à educação dos filhos em casa,
deixou este recado, sob aplausos do auditório: “Nós não somos extra-terrestres!”.
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados |
Fracos argumentos contra o ensino em casa
A argumentação contrária ao home schooling alega que a educação cabe
primeiro ao Estado, e secundariamente à família. Num evidente embaralhamento de
conceitos, exemplifica com crianças hipotéticas, que fora das escolas públicas não
teriam oportunidade de interação, convívio com pessoas diferentes (na verdade, recorrem
a termos tendenciosamente manipulados, como “diversidade”, “socialização”, “preconceitos”,
etc). Os pais que negam isso aos filhos são pejorativamente tachados de retrógrados,
conservadores obtusos, religiosos fanáticos.
Nesse sentido, é reveladora a declaração
de Telma Vinha, professora de Psicologia Educacional da Unicamp: “Se a família tem visões racistas ou
preconceituosas, a escola tem que transformar esses valores em socialmente
desejáveis. Cada família vai estar centrada nos seus valores e achar que são
únicos, só que a gente tem que pensar que educa as pessoas para uma sociedade
democrática, plural”.2
A mensagem da professora não poderia ser
mais tendenciosa: deve-se corrigir as famílias de seus “racismos” e
“preconceitos”, quer dizer, de seu posicionamento contra o homossexualismo ou
contra a ideologia de gênero, por exemplo. E a escola se apresenta como o lugar
ideal para libertar as crianças de tais ideias religiosas “radicais” e
“discriminatórias” vindas dos pais...
Ainda mais ostensivamente contrária é a
opinião da jornalista Renata Cafardo, num pequeno artigo para “O Estado de S.
Paulo”: “Com 45 milhões de estudantes nas
escolas brasileiras, o governo de Jair Bolsonaro escolheu priorizar em seus
primeiros cem dias o ensino em casa, praticado por cerca de 7 mil famílias”.3 Note-se que o vozerio
altissonante da esquerda em favor das minorias (sobretudo a autointitulada LGBT)
aplaude qualquer iniciativa governamental que as favoreça, mas isso não vale
para as minorias do home schooling,
nas quais não reconhece o direito de existir.
Com esta comparação se percebe como a
iniciativa da educação em casa tem causado dores de cabeça aos revolucionários
de nossos dias.
A reação anticomunista se fortalece
Após a referida reunião no Congresso
Nacional, em 12 de abril o Governo Federal apresentou projeto de lei para
regulamentação do ensino domiciliar.4
É claro que os contrários esperam barrar essa iniciativa, para manterem como obrigatória para todas as crianças a
escola que no entanto qualificam como “plural”, “diversa” e “cidadã”. Os campos
estão bem delimitados, nessa batalha que não deve terminar tão cedo.
O ambiente distendido e alegre no
Congresso Nacional, por ocasião do lançamento da Frente Parlamentar do Ensino Domiciliar,
em nada diferia das multidões pacíficas, tipicamente
brasileiras, que se aglomeraram nas principais cidades do País a partir de 2013.
Pois os pais que se preocupam com os perigos da doutrinação esquerdista e a
degradação moral nas escolas acompanham e apoiam também as incontáveis outras
reações sadias da opinião pública nos últimos anos — manifestações firmes,
serenas, contra o socialismo e a imoralidade, sem nada de agressões nem
agitações.
Esse panorama trouxe-me a recordação de
uma entrevista concedida por Plinio Corrêa de Oliveira ao Prof. Marcelo Lúcio
Ottoni de Castro, na ocasião em que este preparava sua dissertação de mestrado
em História.5 Quando o
diálogo tratava do desequilíbrio de forças da Revolução e da Contra-Revolução, especificamente
entre as décadas de 60 e 90 do século XX, o entrevistado deixou claro o que
pensava:
“No
desequilíbrio de forças, a da Contra-Revolução aumentou mais. Por quê? Porque a
Revolução se tornou mais radical. E tornando-se mais radical, muita gente que
era da chamada ‘terra de ninguém’, entre Revolução e Contra-Revolução, se
assustou e voltou para trás. São os ‘agredidos pela realidade’. Esses voltaram
e acrescentaram em algo o círculo de influência da Contra-Revolução. Não
ficaram propriamente contra-revolucionários, mas ampliou-se o círculo de
influência da Contra-Revolução”.
A constatação acima se apresenta ainda
mais verdadeira ao analisar os fenômenos de opinião pública ocorridos no Brasil
recente. Nos 13 anos dos governos Lula-Dilma, aguçou-se uma reação veemente de
grande parte dos brasileiros contra a cavalgata esquerdista. E aí está o fenômeno
do “ensino domiciliar”, a comprovar o fato. Assim cresce o círculo de
influência da Contra-Revolução.
____________
Notas
Um comentário:
De pleno acordo com o artigo. A educação dos filhos cabe primordialmente aos pais, isso é doutrina assente no ensinamento da Igreja. Homeschooling tem se revelado um excelente método de ensino e aproveitamento dos alunos. Veja-se, por exemplo, nos EUA a Academia São Luiz de Montfort, da TFP americana. Link abaixo. Costa Marques
http://montfortacademy.edu/
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