Recente confirmação da cura, oficialmente reconhecida como milagrosa, do soldado John Traynor, da Marinha Real Britânica.
✅ Afonso de Souza
Fonte: Revista Catolicismo, fevereiro/2025
No dia 8 de dezembro passado, festa da Imaculada Conceição,
Dom Malcolm McMahon, Arcebispo de Liverpool (Inglaterra), comunicou a cura
milagrosa do soldado da Marinha Real Britânica, John Traynor, no 81º
aniversário de sua morte.John Traynor
com uniforme
de marinheiro
Esse foi o 71º milagre ocorrido em Lourdes a ser aprovado,
depois de o Dr. Alessandro de Franciscis ter pedido, no ano passado, a revisão
do caso Traynor, realizada pelo médico inglês Dr. Kieran Moriaty, membro do
Comitê Médico Internacional de Lourdes.
Em
sua pesquisa, o Dr. Moriaty descobriu várias pastas nos arquivos de Lourdes,
que incluíam os depoimentos dos três médicos que naquela época examinaram
Traynor antes e depois de sua cura, juntamente com outras evidências.
Isso
levou a que o caso de Traynor fosse declarado não explicável pela ciência
médica e considerado milagroso pela Igreja.
O
arcebispo Dom McMahon declarou: “Dado o
peso das evidências médicas, o testemunho da fé de John Traynor e sua devoção a
Nossa Senhora, é com grande alegria que declaro que a cura de John Traynor, de
múltiplas condições médicas graves, deve ser reconhecida como um milagre
realizado pelo poder de Deus por meio da intercessão de Nossa Senhora de
Lourdes.”
O fato de o Arcebispo de Liverpool declarar depois de tanto
tempo que a cura do militar inglês pode ser considerada milagrosa, mostra todo
o rigor da Igreja em aprovar um milagre. Para se ter ideia disso, constate-se
que o Bureau Médico de Lourdes,
encarregado de analisar as possíveis curas tidas por milagrosas, registrou,
desde 1905, sete mil curas “medicamente
inexplicáveis”. Entretanto, destas, só 70 foram declaradas “milagrosas”
pela Igreja.
John Traynor ainda debilitado sobe no trem em Lourdes e desce em Liverpool, após a cura milagrosa, levando sua antiga cadeira de rodas
De família profundamente católica
John Traynor nasceu em Liverpool, em 1883, de mãe irlandesa.
Ela faleceu quando ele ainda era jovem. Em seu testemunho apresentado no site
do santuário, Traynor afirma que “sua
devoção à Missa e à Sagrada Comunhão e sua confiança na Mãe Santíssima
permaneceram com ele como uma memória e um exemplo frutífero”. Pois sua mãe
era, naquela época, “comungante diária
quando poucas pessoas o eram”.
Consequências das batalhas
No início da Primeira Grande Guerra (1914-1918), participando
no sítio de Antuérpia como membro da Reserva da Marinha Real, John Traynor foi
atingido na cabeça por estilhaços ao tentar carregar um oficial para fora do
campo. Recuperando-se rapidamente, voltou ao serviço.Em 1940, John Traynor na sua última visita
a Lourdes (no centro)
Em 25 de abril de 1915, ele participou de um desembarque
anfíbio nas costas de Galípoli, como parte de uma tentativa mal-sucedida das
tropas britânicas e francesas de capturar a península na Turquia ocupada pelos
otomanos. Traynor foi dos poucos soldados a chegar à costa naquele primeiro dia,
apesar do ataque de fogo de metralhadora pelas forças turcas que estavam no
topo de barrancos íngremes junto à praia. Por mais de uma semana ele permaneceu
ileso enquanto tentava liderar o pequeno contingente que sobrevivera ao ataque.
Entretanto,
no dia 8 de maio o destemido militar recebeu uma rajada de metralhadora na
cabeça, no peito e no braço, durante uma carga de baioneta. Seus ferimentos o
deixaram com o braço direito paralisado e o tornaram suscetível a ataques
epiléticos. Os médicos tentaram várias cirurgias para reparar os nervos
danificados em seu braço e tratar dos ferimentos na cabeça que se acreditava
serem a causa de sua epilepsia, mas sem sucesso.
Tendo sido considerado “completa
e incuravelmente incapacitado”, oito anos depois da batalha Traynor foi
designado para internação em um hospital para incuráveis. Ele, entretanto,
ignorando os apelos da esposa, dos médicos e sacerdotes, insistiu em participar
da peregrinação de sua paróquia a Lourdes, de 22 a 27 de julho de 1923.
Efeito dos banhos nas piscinas
Nos três primeiros dias da viagem, Traynor esteve gravemente
doente. Já em Lourdes, enfrentando a resistência de seus cuidadores, conforme
ele afirma em seu depoimento, “conseguiu
ser banhado nove vezes na água da piscina da gruta”.John Traynor após o milagre
“Levanto sacos de carvão que
pesam quase 100 qauilos”
No segundo dia em Lourdes, o militar sofreu um severo ataque
epilético enquanto era levado à piscina. Diz ele: “Sangue escorria da minha boca, e os médicos ficaram muito alarmados”.
Mas quando tentavam levá-lo de volta ao seu alojamento, Traynor se recusou,
puxando os freios da cadeira de rodas com sua mão sadia. Então, afirma ele em
seu depoimento, “eles me levaram para o
banho e me banharam da maneira usual. Nunca mais tive um ataque epilético
depois disso”.
Quando estava na piscina no dia seguinte, sentiu que sua
perna direita, até então paralisada, tornou-se “violentamente agitada”, e ele sentiu como se tivesse recuperado o
uso dela. Como deveria retornar para a procissão eucarística, os seus
cuidadores, que acreditavam que ele estava tendo outro ataque epilético,
levaram-no às pressas para a igreja do Rosário.
Lá, quando o Arcebispo de Reims passou por ele com o
Santíssimo Sacramento, também seu braço direito foi “violentamente agitado”. Então ele rompeu suas bandagens e fez o
Sinal da Cruz, pela primeira vez em oito anos.
Sentindo-se curado, na manhã seguinte Traynor pulou da cama e correu para a gruta. Diante da imagem da Virgem, ele disse:
“Minha mãe sempre me ensinou quando alguém pede um favor a Nossa Senhora ou deseja mostrar a Ela alguma veneração especial, deve fazer um sacrifício”. Então, continua,“eu não tinha dinheiro para oferecer, pois havia gastado meus últimos shillings em rosários e medalhas para minha esposa e meus filhos. Mas, ajoelhado diante da Mãe Santíssima, fiz o único sacrifício que pude pensar: resolvi parar de fumar”.
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Imagem de Nossa Senhora na gruta das aparições |
Conclui Madalaine Elhabbal, no artigo em que nos baseamos:
“Na manhã de 27 de julho, Traynor foi examinado por três médicos, os quais descobriram que ele havia recuperado sua capacidade de andar perfeitamente, assim como o uso e a função completos de seu braço e perna direita. As feridas em seu corpo haviam cicatrizado completamente e seus ataques epiléticos cessaram. Uma abertura em seu crânio, criada durante uma de suas cirurgias, também havia diminuído consideravelmente.
“Um dos relatórios oficiais emitidos pelo Bureau Médico de Lourdes em 2 de outubro de 1926 — mais tarde descoberto por Moriarty — afirma que a ‘cura extraordinária de Traynor está absolutamente além e acima dos poderes da natureza’.”1
Traynor
teve três filhos após sua cura; deu a uma das filhas o nome de Bernadette.
Acredita-se que John Traynor seja o primeiro católico britânico a ser curado em
Lourdes, de acordo com o site do santuário.
____________
Notas:
Healing at
Lourdes of British World War I soldier declared ‘miraculous’ By Madalaine
Elhabbal Catholic News Agency Dec 10, 2024. https://www.catholicnewsagency.com/news/260945/healing-at-lourdes-of-british-world-war-i-soldier-declared-miraculous?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=catholic_news_healing_at_lourdes_of_british_world_war_i_soldier_officially_declared_miraculous&utm_term=2024-12-10
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