27 de novembro de 2012

INVERNO DEMOGRÁFICO

O artigo abaixo, publicado no semanário “Expresso” (Portugal) em 10-11-12, trata do gravíssimo problema demográfico que a nação portuguesa enfrenta, mas pareceu-me que esse “Diário de um Pai” (português) vale igualmente para os pais brasileiros. Pois, como recentes estatísticas têm demostrado, o Brasil está deixando de ser um país de jovens, devido ao programa (suicida) de controle de natalidade.

"Suicida", sim, uma vez que o envelhecimento da população brasileira avança (para o abismo) tragicamente. Segundo um relatório do Fundo de População das Nações Unidas, traçando o perfil demográfico de vários países, no que concerne ao Brasil registra: “A previsão é que o número de idosos triplique de hoje até 2050 – passando de 21 milhões para 64 milhões. Por essas previsões, a proporção de pessoas mais velhas no total da população brasileira passaria de 10%, em 2012, para 29%, em 2050”. Tal constatação soa até como castigo para uma nação que mata seus filhos por meio do aborto e de outros meios contraceptivos.

DIÁRIO DE UM PAI 

por Henrique Raposo
In Expresso, 10-11-2012 

Esta semana, a pátria teve um leve sobressalto quando viu a taxa de natalidade, mas o assunto voltou rapidamente à coleção de não-assuntos. Eu compreendo: se começassem a falar de apoios à natalidade, políticos, jornalistas e comentadores ainda perderiam, coitadinhos, as credenciais progressistas.

Como se sabe, esses assuntos são coisas de fachos e reacionários, e há que manter a feira das vaidades moderninhas e pós-moderninhas até ao fim. Se nada for feito ao nível das políticas de família, Portugal vai atravessar um inverno demográfico que criará a tempestade perfeita. A atual crise é um pequeno aguaceiro ao pé do “Sandy” demográfico que estamos a cozinhar.

Eu não exijo capas esvoaçantes e um S no peitoral, mas acho que ser pai nesta Terra já deve dar para entrar na escolinha dos super-heróis. Até porque o tal Estado social não existe neste campo. Já sou pai, e continuo sem ver o Estado social. Começo a achar que este ser omnipresente mas invisível é um daqueles clubes seletos que exigem sangue azul ou coisa parecida. É que encontrar uma creche financeiramente acessível é como encontrar um homem honesto no Parlamento. As IPSS de bairro são, sem dúvida, a melhor solução, mas repare-se na perversão do sistema: se tiver um rendimento mensal de 2250 euros, o casal já paga a mensalidade máxima, cerca de 400 euros. É outra renda, que se junta à renda da casa e à renda das fraldas, medicamentos, pediatra, brinquedos, leite de transição, frutinha, sopinha, roupinha e o cartão de sócio do Benfica.

Como se tudo isto não fosse suficiente, os mais velhos dizem-me que o sistema fiscal não valoriza os filhos na declaração de rendimentos. Eu não sei onde é que anda o Estado social, mas sei que o dito não está no sítio que deveria ser a sua primeira prioridade: as crianças, a formação da família, a saúde demográfica da sociedade. Há muito Estado e pouco social no tal Estado social. Num país esmagado por impostos e pela despesa pública, é incompreensível esta ausência do Leviatã no mundo fofo das babás. Mas, afinal, para onde é que vai o dinheiro dos nossos impostos? 0 Estado fica com metade da nossa riqueza e, mesmo assim, é incapaz de apoiar como deve ser a rede de creches já instalada. Repare-se que não é preciso colocar a MotaEngil a fazer uma rede de creches estatais. Basta apoiar e expandir as IPSS que já estão no terreno.

A fim de diminuir as mensalidades dos pais, estas instituições deviam receber mais dinheiro dos nossos impostos. Se não serve para apoiar as crianças e as famílias, se não serve para garantir o futuro, o Estado social serve exatamente para quê?

A Maria quer ser mãe, mas tem uma complicação: entra na maternidade e tem de fazer um aborto forçado. Além da dor física e mental, Maria tem de pagar uma taxa moderadora e os medicamentos.

Joana não quer ser mãe, entra na maternidade e faz uma “interrupção voluntária da gravidez”. Além de não pagar nada ainda recebe uma espécie de subsídio de maternidade.

Até parece piadinha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas não esqueçamos que a mãe igreja sempre apoiou a paternidade responsável e o que ocorre também é a impunidade de pais que abandonam suas famílias à procura de nova aventura sem que sejam responsabilizados jamais. Não possuimos um conjunto de leis que assegurem a instituição familiar a s sua plena destinação familiar. A indignação face ao aborto não exime que exigamos providências legais e políticas sociais mais católicas!