6 de setembro de 2015

A ideologia de gênero no banco dos réus


Miguel Nagib (*) 

Confesso minha ignorância: até ontem, nunca tinha ouvido falar de Judith Butler, uma filósofa americana, feminista radical, que veio ao Brasil para participar de um megaevento sobre sexualidade, feminismo e questões de gênero na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, de 4 a 7 de setembro. O 2.º Seminário Internacional “Desfazendo Gênero”. “Em quatro dias”, promete o coordenador do evento, “iremos produzir muitas reflexões, babados, gritarias, confusões, afetos, laços e rupturas”. Tudo com o nosso dinheiro, claro.

A temática desse evento vem sendo repetida ad nauseam em milhares de congressos, seminários, encontros, simpósios, mesas-redondas etc. realizados todos os anos pelas universidades e secretarias estaduais e municipais de Educação. O público-alvo quase sempre é formado por professores da educação básica (infantil, fundamental e médio); e o objetivo – que está sendo plenamente alcançado — não podia ser mais claro: martelar esses assuntos nas cabeças dos professores para que eles os martelem nas cabeças dos alunos. 

A obsessão dessa turma, como se sabe, é a chamada teoria (ou ideologia) de gênero. Indiferente às decisões soberanas do Congresso Nacional e da imensa maioria das Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores — que se negaram a incluir a ideologia de gênero nos seus respectivos planos de educação —, a burocracia do ensino continua utilizando a máquina do Estado para promover suas próprias convicções, induzindo professores desavisados a violar o direito dos pais dos alunos sobre a educação moral dos seus filhos.

Ao cair nessa conversa e tratar seus alunos como cobaias da teoria de gênero, esses professores estão correndo um altíssimo risco. Refiro-me à possibilidade de os pais dos seus alunos entenderem que essa prática pedagógica implica algum tipo de dano aos seus filhos ou ao seu direito de dar a eles a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções — direito previsto no artigo 12, IV, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. 

Se isso acontecer, os professores poderão vir a ser processados por danos morais pelos pais dos seus alunos. Ser réu numa única ação judicial já é motivo de dor de cabeça. Imagine figurar como réu em dezenas de processos ajuizados por dezenas de pais de alunos! 

A lei facilita enormemente a propositura dessas ações de reparação de dano. As causas cujo valor não exceda 40 salários mínimos podem ser ajuizadas perante os juizados especiais cíveis; nessas ações, nem sequer é necessário estar assistido por advogado (se o valor da indenização pleiteada for igual ou inferior a 20 salários mínimos, atualmente R$ 15.760). Além disso, não há cobrança de custas judiciais nem se a demanda for julgada improcedente, bem como condenação ao pagamento de honorários ao advogado da parte contrária (a não ser que o juiz reconheça a litigância de má-fé). Caso haja recurso da sentença, aí, sim, a parte vencida será condenada a pagar custas e honorários advocatícios. 

O professor é pessoalmente responsável pelos danos que causar no exercício das suas funções. Por isso, é melhor ficar esperto e pensar duas vezes antes de seguir as recomendações do MEC. Na dúvida, vale consultar um advogado. 
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(*) Miguel Nagib, advogado, é coordenador do Escola sem Partido.
Fonte: "Gazeta do Povo", 6-9-2015:
http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-ideologia-de-genero-no-banco-dos-reus-2jbsz8k92cse5z6f5721cc8f0

2 comentários:

Nelson Fragelli disse...

É necessário informar as família a este respeito. Nada tenho ouvido nos sermões em igrejas que frequento. O Paulo Roberto poderia publicar também pronunciamentos de autoridades eclesiásticas? Estou certo de que háverá muitas, pois a matéria é essencialmente religiosa.

Paulo Roberto Campos disse...

Em resposta ao comentarista acima:

Sermões em Igrejas tratando desses temas sérios e realmente necessários para as famílias? Ahh, pode esperar bem sentado... Faço votos que os bancos de sua Igreja não sejam muito duros... As autoridades eclesiásticas, COM HONROSAS EXCEÇÕES, estão muito ocupadas e preocupadas com assuntos mais importantes..., como a escassez de água; a extinção do mico-leão da cara dourada; o “aquecimento global”; além do mais, tais autoridades, estão muito ocupadas em incentivar os índios a invadir propriedades alheias em diversas regiões do Brasil; em forçar o governo a fazer reforma agrária para favorecer o MST; em fazer reforma urbana em favor do movimento dos sem-teto. Esses temas “espirituais” e “morais”, tão “altos” quanto “elevados”, ocupam todo o tempo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Assim, não sobra tempo para tratar, por exemplo, das crises morais, como a crise que pungentemente atinge a família em nossos dias. Por isso, não é de se estranhar que nossas Igrejas estejam cada vez mais vazias, pois os fiéis católicos têm sede e fome de ensinamentos divinos, mas nas Igrejas a maioria dos sermões tratam de questões sociais que nada têm a ver com a verdadeira Teologia, mas sim com a “teologia da libertação” — que melhor se denominaria como “teologia da escravidão”... Infelizmente essa é a realidade!