Plinio Solimeo
No dia 27 de março deste ano, em consequência das chuvas torrenciais que caíram sobre o Peru, o Rio Piura transbordou e inundou parte da cidade do mesmo nome. Entre os edifícios afetados, estava a agência local do Banco de Crédito do Peru (BCP). A água atingiu 50 cm de altura no andar térreo, inundando o seu porão. Nele se encontrava emoldurada uma estampa em cartão do Senhor dos Milagres, piedosa invocação muito venerada no país andino, que ficou durante dez dias sob a água e o lodo, e foi depois encontrada intacta.
O sucedido em Piura
Carlos Miano Plaza, gerente regional do BCP em Piura, afirma que o porão do banco se encontra a mais de quatro metros sob o andar térreo, pelo que ficou totalmente inundado de água e de lodo do rio. [Na foto ao lado, à esquerda o BCP inundado]
Atesta ele que, durante cinco dias, procuraram evacuar a água das áreas inundadas. Depois tiveram de remover os escombros e os móveis que haviam se deslocado com a água, juntamente com uma grande quantidade de documentação, artigos de escritório etc., “que, pelo tempo decorrido, estavam em sua grande maioria destruídos ou seriamente danificados”.
“Sucedeu então que, duas semanas depois, na terça feira, 11 de abril, véspera da Semana Santa deste ano, os trabalhadores do banco desceram ao porão e encontraram o quadro do Senhor dos Milagres ‘molhado e com barro’”. Diz ele que, “depois de limpar a imagem, que é de papelão, esta se encontrava intacta, apesar de ter estado tantos dias debaixo da água e do lodo, e não estar protegida nem sequer por um vidro, embora em sua moldura de madeira se possa evidenciar o desgaste produzido pelo sucedido”. [foto ao lado]
Diante desse fato tão singular, a gerente do banco pediu ao setor de Imagem e Cultura do BCP que “nos conceda uma verba para confeccionar uma urna de vidro, para preservar a imagem com sua moldura original, tal qual ficou depois do desastre”.
Acrescenta que a estampa “fora comprada em 2014, com a finalidade de iniciar uma peregrinação pelas diferentes agências do Banco de Crédito de Piura, peregrinação essa que se tem mantido constante desde essa data e que, ano a ano, culmina com uma grande homenagem ao Senhor dos Milagres, que passa em procissão em frente de nossa sucursal de Piura”.
Isso mostra a fé do povo peruano. Já imaginaram um banco aqui no Brasil organizar uma peregrinação de alguma imagem religiosa por todas suas agências, a qual culminasse com uma procissão?
Como era natural, também se pronunciou sobre tão portentoso sucesso o arcebispo da cidade, que expressou seu empenho para que “todos os que estiveram envolvidos neste fato prodigioso documentem o seu testemunho para a posteridade, porque no final passarão as gerações, passaremos todos, o banco seguirá, mas ficará esta crônica”.
Origem da invocação do Senhor dos Milagres
O “Senhor dos Milagres” é uma devoção de tal modo popular no Peru, que sua procissão em 28 de outubro pelas ruas de Lima uma das maiores do mundo. [foto acima]
Segundo a tradição, trata-se de uma representação de Jesus Crucificado pintada numa parede de adobe por um escravo vindo da Angola e que se encontra atualmente no santuário das “Nazarenas” em Lima. [foto ao lado]
Essa pintura se tornou muito venerada depois de um terremoto ocorrido no dia 20 de outubro de 1687, o qual, segundo cronistas da época, durou quinze minutos e arrasou Lima e a vizinha cidade de Callao. O tremor se repetiu duas horas depois, danificando a ermida onde a pintura se encontrava. Entretanto, para surpresa geral, a parede onde ela estava, que havia ruído, se recompôs milagrosamente.
Testemunhando o milagre, um devoto do piedoso quadro, Sebastião de Antuñano, mandou fazer uma réplica do mesmo, a qual saiu então pela primeira vez em procissão pelas ruas da cidade [foto ao lado]. O fato se repetiu outras vezes, quase sempre depois de algum tremor de terra.
Em reconhecimento pela constante proteção do Senhor dos Milagres durante esses terremotos na capital e na região, o Cabido de Lima, por sugestão de Antuñano e de outros devotos, declarou o venerando Cristo “Patrono jurado pela Cidade dos Reis [antigo nome de Lima] contra os tremores que assolam a Terra”, oficializando assim esse culto também entre os habitantes de Lima.
Mais tarde, junto à capela onde se venerava o Senhor dos Milagres, foi fundado o convento das “Nazarenas”, as quais se vestiam de roxo por devoção a Cristo Nazareno. A instituição da festa recebeu em 1727 a devida aprovação do Papa Bento XIII do Rei da Espanha, Felipe V, estendendo-se também para a transformação do convento em mosteiro de clausura agregado à Ordem das Carmelitas Descalças.
Lima sofreu em 1746 o mais destruidor terremodo de sua história. No entanto, a parede em que estava o Senhor dos Milagres permaneceu em pé. Quando uma réplica de sua veneranda imagem saiu em procissão pelas ruas da cidade, a terra parou de tremer. Isso fez crescer sua devoção e levou à construção de uma igreja no local da capela original.
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Fontes consultadas:https://www.aciprensa.com/noticias/imagen-de-carton-del-senor-de-los-milagros-resistio-intacta-10-dias-bajo-el-agua-59025?utm_source=boletin&utm_medium=email&utm_campaign=noticias_del_dia
https://es.wikipedia.org/wiki/Se%C3%B1or_de_los_Milagros_(Lima)
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