São Francisco Jerônimo vistou a família Ligório. Na pintura, ele abençoando o recém nascido Afonso nos braços de sua mãe (Dona Ana Cavalieri). À direita, Dom José de Ligório. |
➤ Plinio Maria Solimeo
Muitos santos, para não dizer a maioria, deveram sua precoce santidade ao fato de encontrar no lar exemplos de virtude. Com efeito, se no lar paterno, seja ele uma pobre choupana ou um palácio, os pais amarem verdadeiramente a Deus Nosso Senhor, e transmitirem aos filhos esse amor, estão lançadas as raízes para a germinação da santidade entre eles.
Hoje em dia, isso é visto com simpatia e tido em louvor se se tratar de um lar humilde. Porque, devido à mentalidade socialista que invadiu o mundo inteiro, os nobres e os dotados de fortuna são em geral mal vistos, tidos como exploradores, sanguessugas e inimigos da virtude.
Para seguir a regra de Santo Inácio do “agere contra” — quer dizer, sempre que houver um erro, agir em sentido oposto — apraz-nos neste Blog da Família, citar o exemplo de uma das muitas famílias nobres e bem instaladas na vida, que deram exemplo de virtude e de amor de Deus e à sua religião.
Trata-se de Dom José de Ligório, nobre napolitano, casado com Da. Ana Cavalieri, que viveram no final do século XVII e no século XVIII, pais do grande Doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787).
Os dados que citamos foram tirados do excelente livro do Pe. Augustin Berthe, Saint Alphonse de Liguori, escrito em 1906. Dom José descendia de antiga e ilustre família. Já havia Ligórios em Nápoles antes mesmo que nela houvesse reis. Destacando-se entre os mais nobres fidalgos napolitanos, Dom José era Capitão das galeras reais. Amigo do trabalho, fidelíssimo ao dever, não cessava de desenvolver em si as qualidades naturais com que Deus o dotara.
Assim, aliava a piedade à bravura, e frequentava os Sacramentos, dando a seus subordinados o exemplo das mais austeras virtudes.
Quando estava no mar, a cabine do nobre capitão Dom José, decorada com imagens santas, parecia a cela de um monge cartuxo. Ele não deixava jamais de levar a bordo quatro estatuetas do Salvador, as quais representavam Jesus agonizante no Jardim das Oliveiras, Jesus amarrado à coluna da flagelação, Jesus no tribunal de Pilatos, e Jesus expirando na cruz.
Ele dizia que sua devoção aos mistérios dolorosos lhe havia valido graças numerosas e assinaladas.
Assim vivia Dom José de Ligório fiel a Deus e ao rei, amigo da religião, das boas obras e da disciplina. Imperioso, mesmo violento em face da contradição, exigia de seus inferiores uma submissão perfeita, e ninguém ousaria de se permitir, diante dele, fazer críticas inconvenientes ou ter conversas equívocas.
Por outro lado, Da. Ana, de caráter diametralmente oposto ao do marido, personificava a paciência e a doçura. Seu pai, Dom Frederico Cavalieri, conselheiro na corte real no reino de Carlos VI, praticava as virtudes cristãs com tal perfeição que seu diretor espiritual não temia em chamá-lo, como Jó, “um homem simples, justo, e temente a Deus”.
Santo Afonso diante do Santíssimo Sacramento, vitral da Catedral da Assunção em Carlow (Irlanda) |
Para se encontrar a nobre senhora todos sabiam que era necessário procurá-la na igreja ou em seu palácio; ou mais ainda, sob o humilde teto dos pobres, aos quais ela mesma levava o supérfluo que tanta gente consagra ao prazer. Ora, Deus uniu essas duas almas de escol para dar à Igreja um dos maiores santos que a ilustraram: Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja, Padroeiro dos Confessores e dos Moralistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário