3 de fevereiro de 2021

O momento atual está mais para violino ou para espada?


H
oje me caiu nas mãos um artigo bem dos tempos de antigamente — redigido há 86 anos! Velha a questão nele abordada, mas, ao mesmo tempo, muito nova, pois trata de um problema com o qual hoje nos deparamos quando falamos de liberdade de expressão, quando defendemos o sagrado direito de propriedade e a instituição familiar.

Por isso, aqui reproduzo tal artigo para apreciação de nossos leitores. Com o título abaixo, o texto é de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira e foi publicado no “O Legionário”, Nº 184, em 10 de novembro de 1935. 


ENTRE A ESPADA E O VIOLINO 

É com pesar que registramos nesta coluna as declarações do líder Henrique Bayma, relativas à liberdade de cátedra. O Sr. João Carlos Fairbanks manifestou sua estranheza por ter a Câmara Estadual aprovado uma subvenção à Escola de Sociologia e Política, uma de cujas cátedras está confiada a um professor que faz em plena aula a mais clara campanha comunista. Em réplica, o líder Henrique Bayma afirmou - transcrevemos textualmente o “Estado de S. Paulo” – que “... a cátedra é livre. A chamada lei de segurança contém um artigo repetindo este princípio indiscutível: que é livre, a quem quer que seja, pregar idéias sejam elas quais forem. Só o que não é possível é fazerem propaganda por meios violentos. De maneira que, em qualquer hipótese, seria uma intolerância restringirmos a liberdade de cátedra”. 

Assim, pois, para o porta-voz do Partido Constitucionalista na Câmara dos Deputados, só a pregação da violência deve ser reprimida. Mas se pregar o amor livre, a supressão da propriedade ou a destruição da Religião por meios pacíficos, a maioria parlamentar estará disposta a cruzar os braços.

Proceder por esta forma é ignorar as condições sociais contemporâneas. Faça-se a pregação de qualquer doutrina como quer o Dr. Henrique Bayma, persuadam-se às massas de que a família é uma instituição burguesa destinada a perecer. E responda-nos S. Exa. o que será da moralidade pública, depois de arraigada esta convicção no espírito do povo. 

Convença-se este de que a Religião é a cocaína com que a burguesia anestesia os padecimentos da massa, e conte-nos, depois, Sr. Henrique Bayma, em que estado de devastação ficarão os nossos bons costumes particulares e públicos, já tão débeis

Persuada-se o povo de que a propriedade é ilegítima, e responsabilize-se o Sr. Henrique Bayma se tiver coragem, pela ordem pública material, de cuja conservação S. Exa. faz a suprema finalidade do Estado. Quem conterá as massas sem moral e sem Fé, para evitar que elas se atirem contra a propriedade privada que durante tantos anos lhes foi apontada como iníqua? Por que esperarão elas pacientemente que se suprima a propriedade individual por via pacífica e legislativa? Merecem porventura as imposturas tamanha consideração? E quando as massas se atirarem sobre os lares e as Igrejas, de que forma se há de lhes levantar barreira? Não se conte com os soldados, que são filhos do povo e estarão ao lado da massa. Com quem conta o Sr. Henrique Bayma para empunhar os fuzis que os soldados não quererão manejar? Com alguma coligação lírica de bacharéis liberais? 

Narra-se que quando Bizâncio foi invadida pelas tropas turcas, em um suntuoso edifício se encontrou um bizantino, cidadão prestante, que em lugar de empunhar a espada na defesa da Pátria, tocava violino enquanto seus compatriotas morriam no cumprimento do dever. Com um golpe de espada foi morto sob o riso sarcástico dos adversários e entrou para a História como símbolo da imprevidência e da inércia. 

Ao Partido Constitucionalista incumbem, no momento, gravíssimas responsabilidades. É nas suas mãos que está depositada a espada cortante e augusta da autoridade pública. Se, neste momento de perigo, ele a deixar de lado para vibrar as cordas líricas do liberalismo bacharelesco, não merecerá ele a celebridade que alcançou o violinista de Bizâncio? 

Parece, em todo o caso, que o violino exerce atrativo maior que a espada. É ao menos o que nos dá a entender a Prefeitura, que mais uma vez prepara o Carnaval Oficial. 

Uma Comissão de Divertimentos Públicos nomeada pela Prefeitura, já está preparando todas as providências para que seja bem completa a devastação dos lares e de honras. (...) 

Em um País em que o governo cruza os braços diante da demagogia e se cinge com a coroa suspeita de Rei Momo; em um País em que a oposição silencia diante deste espetáculo, julgando dignas de sua atenção apenas as cifras orçamentárias, o que há a fazer? 

Católicos: estais com a palavra, respondei.

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