16 de janeiro de 2014

Mãe que resistiu à pressão por fazer aborto — um caso de gravidez ectópica

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Sabrina e sua filha Maria Cecília, com quatro meses
Em janeiro de 2013, Sabrina, 32 anos, moradora de Brasília, DF, na quinta semana de gestação, após sentir dores crescentes no baixo ventre, submeteu-se a uma ecografia. O exame detectou uma gravidez dupla: um bebê estava no útero (gravidez tópica), o outro estava na trompa, fora de seu lugar natural (gravidez ectópica). Segundo sua médica, mais cedo ou mais tarde a trompa iria romper-se e os dois bebês morreriam. A sugestão dela foi simples, ou melhor, simplista: a gestante tomaria um “remedinho” chamado metotrexato (MTX), teria um sangramento (aborto duplo) e tudo ficaria bem. 

O metotrexato é uma droga usada no tratamento de tumores, para impedir a multiplicação de células cancerosas. Quando aplicada sobre o trofoblasto do embrião, ela impede o seu desenvolvimento e causa a sua morte por inanição. É comum que se use esse fármaco para “tratar” de uma gravidez ectópica, ou seja, para matar o embrião fixado na trompa. O objetivo de tal aborto é preservar a trompa (possibilitando uma nova gravidez) e evitar os riscos para a mãe decorrentes de uma ruptura tubária. 

No caso de Sabrina, o metotrexato mataria não só o embrião ectópico (fixado na trompa), mas também aquele fixado no útero. Embora praticado com boa intenção, o procedimento era moralmente inaceitável. Consistia no aborto diretamente provocado de dois bebês. 

Cristã e temente a Deus, Sabrina logo entrou em contato com o Pró-Vida de Anápolis buscando uma orientação. Foi-lhe dito o que ela já sabia: nunca é lícito matar diretamente um inocente, nem sequer para salvar outro inocente. Amparada pela fé, ela foi em busca de outros profissionais. Encontrou um médico que acalmou a ela e ao seu marido. Disse-lhes que de fato a trompa poderia romper-se, mas era possível também que o embrião parasse de crescer, morresse naturalmente e fosse absorvido pelo organismo. Isso porque ele havia-se implantado em uma região da trompa pouco vascularizada. 

E foi isso que aconteceu. A paciente ficou em repouso, em contínua observação e tomando remédio para aliviar a dor. A dor foi aumentando, mas depois diminuiu até desparecer completamente por volta da 15ª ou 16ª semana. O bebê fixado na trompa havia morrido. O outro bebê, fixado no útero, prosseguiu normalmente seu desenvolvimento. No dia 23 de agosto de 2013, Sabrina deu à luz por parto cesáreo uma menina a quem deu o nome de Maria Cecília. “Ela se chama Maria – explica a mãe – porque eu a consagrei à Virgem desde o início”. 

A terapia de espera
Hoje em dia, no caso de uma gravidez ectópica, muitas crianças são vítimas da pressa e da falta de princípios dos profissionais da saúde. O que aconteceu com a gravidez de Sabrina é muito comum que aconteça. Em mais de 65% dos casos, a gravidez termina em aborto espontâneo ou o embrião morre e é reabsorvido pela trompa[1]. Nenhuma intervenção é necessária. 

Em vez de esperar pacientemente para só intervir no caso de uma hemorragia em ato, muitos médicos removem a trompa antes de sua ruptura, o que constitui um aborto direto[2]. Ou então fazem uso de outras condutas, como a aplicação do MTX, também diretamente tendentes a matar a criança.

A conversão tubário-uterina 
A solução mais óbvia, porém, para a gravidez ectópica seria transportar a criança da trompa para o útero. Essa cirurgia, conhecida como operação Wallace ou conversão tubário-uterina, foi feita com sucesso em 1915 por C. J. Wallace[3]. Foram relatados alguns outros poucos casos de sucesso, mas infelizmente a pesquisa nesse campo tem sido praticamente nula. Bom seria se os veterinários investissem nos modelos animais, provocando uma gravidez ectópica e tentando convertê-la em gravidez uterina. 

Em 07/04/2010 recebi por e-mail uma mensagem de uma médica veterinária de Goiás endossando a ideia. Segundo ela, “na era na nanotecnologia, a medicina veterinária está anos-luz adiante da medicina humana”. Seria preciso achar um modelo animal e realizar pesquisas. Na opinião da profissional, os cães seriam um modelo mais próximo, pois seu ciclo de gestação é curto (60 dias) e permite a obtenção de resultados mais rápidos. 

Queira Deus que outros médicos veterinários também se interessem em pesquisar técnicas de conversão tubário-uterina, que depois possam ser usadas com segurança em pacientes humanos. 

Anápolis, 2 de janeiro de 2014
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz 
Presidente do Pró-Vida de Anápolis

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[1] Cf. A. G. SPAGNOLO – M. L. DI PIETRO, “Quale decisione per l’embrione in una gravidanza tubarica?”, Medicina e Morale 2 (1995), p. 298-299. 
2] Um estudo detalhado sobre a moralidade dos diversos procedimentos usados diante da gravidez ectópica pode ser vista em nosso livro O princípio da ação com duplo efeito e sua aplicação à gravidez ectópica, Anápolis: Múltipla, 2009. 
[3] C. J. WALLACE. “Transplantation of ectopic pregnancy from fallopian tube to cavity of uterus”, Surgery, Gynecology and Obstetrics 24 (1917), 578-579.

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