2 de maio de 2015

SÍNODO DA FAMÍLIA — Episcopado alemão contunde a doutrina católica


Mathias von Gersdorff (*)


Como parte da preparação do Sínodo da Família de outubro de 2015, as dioceses do mundo inteiro deveriam consultar a opinião dos fiéis sobre o tema do matrimônio e da família. As respostas do laicato alemão foram analisadas pela Conferência Episcopal, que resumiu sua avaliação no documento intitulado “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo de hoje”. Enviado a Roma, esse documento constitui por assim dizer a descrição da posição dos católicos alemães face ao referido tema, a qual servirá de base para o Sínodo elaborar no outono suas perspectivas pastorais. 

A tomada de posição da Conferência Episcopal Alemã revela contudo uma situação desoladora. Se ela refletir de fato a realidade nacional, a Igreja não exerce mais qualquer influência sobre a opinião dos fiéis no que diz respeito ao casamento, à família e à moral sexual. Quanto ao divórcio, às famílias mistas e às parcerias homossexuais, a julgar pelo documento dos bispos, os fiéis teriam adotado inteiramente as ideias difundidas por revistas como BRAVO, por filmes e novelas, ou por partidos políticos de esquerda como Bündnis 90/Die Grünen.


Em suma, o documento da Conferência Episcopal Alemã constitui uma confissão do colossal fracasso do Episcopado em defender a Fé católica e o Magistério eclesiástico no país. E sua delegação junto ao Sínodo, composta pelo cardeal Reinhard Marx [foto ao lado] (München-Freising) e pelos bispos Franz-Josef Bode (Osnabrück) e Heiner Koch (Dresden-Meißen), deveria se apresentar ajoelhada diante da assembleia sinodal de cinzas na cabeça e pedir perdão pelo seu fracasso. 

Bispos de dioceses pobres do interior da Bolívia ou da Nigéria certamente lhes fariam então as seguintes perguntas: — “Como pôde uma Igreja tão rica ter gastado tão pouco dinheiro no ensino da verdadeira doutrina católica sobre o matrimônio e a sexualidade?”; — “Por que o conteúdo das encíclicas dos Papas Bento XVI, João Paulo II (Familiaris consortio) e Paulo VI (Humanae vitae) permanece desconhecido ou não é levado a sério?”; — “Por que a encíclica Humanae vitae foi colocada em questão pela ‘Declaração de Königstein’ dos bispos alemães?”; – “Quanto dinheiro a rica Igreja católica alemã gastou para combater as influências perniciosas da televisão, da internet e de outras mídias sobre as pessoas?”;“Que contra-medidas catequéticas foram tomadas para manter viva a doutrina católica?”. 

Poder-se-iam acrescentar perguntas ainda mais incômodas, uma vez que o entendimento da Igreja sobre matrimônio e sexualidade está intimamente ligado à sua cristologia. Se de fato muito poucos alemães ainda seguem a moral matrimonial e sexual católica, deve-se perguntar até que ponto eles ainda aderem ao cerne da Fé, como por exemplo, à divindade de Cristo, à sua ação salvífica enquanto Vítima expiatória e redentora, à Ressurreição, etc. 

Face a essa catástrofe, é de esfregar os olhos quando bispos alemães têm ainda a triste coragem de apresentar exigências ao Sínodo. A doutrina deveria ser, segundo eles, “mais desenvolvida”; dever-se-ia mostrar “apreço” pelas relações extra-matrimoniais e homossexuais, e assim por diante. Afinal, que resultados podem mostrar tais prelados que os capacitem a apresentar semelhantes exigências?

Não é de espantar que em muitos países os católicos se surpreendam a respeito da Alemanha. Até mesmo Daniel Deckers, jornalista encarregado de assuntos referentes à Igreja Católica do “Frankfurter Allgemeine Zeitung” e muito longe de ser um conservador, escrevia em 21 de abril de 2015: “Sob a impressão causada pelas respostas, [os bispos alemães] acentuam agora sua proposta do ano passado, de permitir sob certas condições o acesso de católicos divorciados e recasados aos sacramentos da penitência e da eucaristia. Até o momento a Conferência Episcopal Alemã é a única no mundo a defender este ponto de vista”. 

De fato, deve-se perguntar o que pretende afinal a Conferência Episcopal Alemã com o documento “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo de hoje”. Da diocese de Essen — com aproximadamente 850.000 almaschegaram 14 respostas individuais ao questionário. De Mainz (740.000 almas) veio um total de 21 respostas. De Magdeburg (86.000 almas) vieram 18. Não é preciso ter estudado estatística para saber que tal pesquisa de opinião não vale nada. O que a Conferência Episcopal Alemã deveria ter informado ao Vaticano seria: “Infelizmente não foi possível saber o que os fiéis pensam a respeito de matrimônio e família, uma vez que não participaram da pesquisa”. Pelo contrário, a Conferência Episcopal redigiu um documento recomendando a demolição da doutrina católica sobre matrimônio e sexualidade.


Esperemos para ver o que o cardeal Marx e companhia vão produzir até o Sínodo da Família. Em todo caso, o cardeal alemão Walter Brandmüller [foto ao lado] já deixou claro: “Quem quiser mudar o dogma é herege — mesmo se estiver revestido da Púrpura.”

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(*) Mathias von Gersdorff, publicista de renome na Alemanha, é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM). 

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