São Paulo, 5 de Dezembro de 1940
Prezado Sr.,
Aproximando-se agora as festas de Natal e de Ano Bom, todos os estabelecimentos comerciais da Cidade se aprestam a ampliar seus estoques, suas instalações e aperfeiçoar as exposições em suas vitrines, a fim de atender à imensa quantidade dos compradores que, por ocasião da festa do Menino Deus, querem proporcionar ao ambiente doméstico aquela fartura, aquela alegria e aquela serenidade própria das reuniões familiares felizes.
Entre estas famílias, que contam assim passar aos pés do Salvador algumas horas de tranquila satisfação, está certamente a sua. Para todos, a vida traz, ao par de alegrias reais, também incontestáveis dissabores. Não há uma única família que, fazendo junto à arvore de Natal ou ao Presépio a recordação dos fatos ocorridos durante o ano, não tenha a registrar satisfações verdadeiras e tristezas incontestáveis. E não há uma família que não se lembre de agradecer ao Menino Jesus os favores recebidos e de Lhe pedir a conservação das graças obtidas e a mitigação das dores e dos revezes ocorridos.
Quanta esperança não brilha com luz mais viva, diante da lembrança desse Salvador benigno e misericordioso, vindo ao mundo para redimir os homens! Quanta lágrima não se suaviza diante da convicção de que um Deus Bom, que governa todos os acontecimentos, sabe tirar o bem do mal e transformar em alegrias terrenas ou eternas os sofrimentos que são inseparáveis de toda a existência humana!
Tudo isto, o Sr. recebe de Deus, ou espera de Deus.
Mas... o que faz o Sr. por Deus?
Aproxima-se o Santo Natal. Todos se preparam para a grande festa da Catolicidade. Qual o concurso que o Sr. vai dar a essa festa? Permitirá que seus empregados lhe arranjem vitrines que, aos inúmeros transeuntes, não deem uma única ideia de Deus? Permitirá que, sob o pretexto de lucros mais fáceis do que lícitos, suas vitrines exibam modelos que constituem um repudio de todos os princípios que a festa de Natal santifica?
Porque, em lugar de vitrines que nada tem a ver com o Natal, e que traduzem apenas o desejo de vender, não organiza o Sr., além de vitrines que exponham artigos lícitos, também uma vitrine com um belo presépio, ou com qualquer disposição que lembre o Santo Natal? Porque não prestar em sua própria casa de comércio, que é o campo de sua atividade, o terreno de uma grande luta, o meio de sustento de sua família, uma homenagem a Quem deu aos homens, fazendo-se Homem, uma prova suprema de Seu amor?
Preste a Deus esta homenagem: exclua de suas vitrines todos os objetos ou artigos contrários aos princípios cristãos, e coloque em alguma delas uma bela homenagem ao Menino Deus.
Será, antes de tudo e sobretudo, um preito de adoração a Deus. Mas será também, para si, para sua família, para seus trabalhos, uma benção que frutificará neste mundo, para a eternidade.
Ação Católica Brasileira
Junta Arquidiocesana de São Paulo
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Nota:
Obs.:Esta missiva é do período em que o Prof. Plinio desempenhava o cargo de Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo, cfr. Minha vida pública, Parte V, Cap. I, item 3.
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No vídeo, um presépio montado na vitrine de um estabelecimento público na pitoresca cidade italiana de Genazzano — rica em tradições, essa cidade medieval (cerca de 45 kms de Roma) teve a honra de receber a milagrosa pintura de Nossa Senhora do Bom Conselho (1467).
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