20 de dezembro de 2022

Há 200 anos falecia o “Bandeirante de Cristo”

 

Mosteiro da Luz, na capital paulista [Foto PRC]

✅  Paulo Roberto Campos 

Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, OFM, popularmente conhecido como Frei Galvão, foi o primeiro brasileiro canonizado, embora já em vida fosse considerado santo. Era também conhecido, por sua heroica ousadia, como “Bandeirante de Cristo” — conforme expressão consagrada da Irmã Beatriz do Espírito Santo, freira do Mosteiro da Luz, em seu livro assinado com o pseudônimo Maristela.[1] 

Descendia dos primeiros povoadores da Capitania de São Paulo, correndo em suas veias o sangue de bandeirantes, pois sua muito virtuosa mãe, Da. Isabel Leite de Barros, era bisneta do célebre Fernão Dias Paes Leme, “O caçador de esmeradas”

Nascido em 1739 na cidade paulista de Guaratinguetá, Frei Galvão pertencia a uma família de fazendeiros distintos e abastados, mas renunciou a tudo — brilhante situação social, prazeres e glórias do mundo — para servir inteiramente a Deus. Ingressou na Ordem Franciscana, na qual fez seus votos solenes em 16 de abril de 1761. No ano seguinte foi ordenado sacerdote. Consagrou-se como “filho e perpétuo escravo da Virgem Santíssima Minha Senhora” em 9 de novembro de 1766, consagração assinada com seu próprio sangue. 

Como ele empreendia viagens em missões apostólicas por outras cidades — algumas vezes em dois lugares ao mesmo tempo, devido ao dom de bilocação que recebera de Deus —, o Senado da Câmara de São Paulo, desejando “segurá-lo” na capital, escreveu em 1798 ao Superior dos Franciscanos rogando-lhe que Frei Galvão não fosse mais designado para atividades em outras povoações: “Todos os moradores desta Cidade não poderão suportar um só momento a ausência do dito religioso. […] Este homem tão necessário às religiosas da Luz, é preciosíssimo a toda esta Cidade e Vilas da Capitania de São Paulo, é homem religiosíssimo e de prudente conselho; todos acorrem a pedir-lho; é homem da paz e da caridade”

Patrono dos engenheiros e arquitetos 

Sua obra mais conhecida é o Mosteiro da Luz, das Irmãs Concepcionistas da Imaculada Conceição. Fundado em São Paulo no dia 2 de fevereiro de 1774 com o nome de “Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência”. Fundação cujo estímulo partiu da Irmã Helena Maria do Espírito Santo (1736 - 1775), religiosa privilegiada com revelações de Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe pediu um novo convento na “São Paulinho” de então. 

Se hoje o belíssimo e extremamente aconchegante Mosteiro da Luz é considerado “Patrimônio Cultural da Humanidade” pela UNESCO, devemo-lo a Frei Galvão, que ao longo de quase 50 anos foi seu projetista, engenheiro e mestre de obra. Por isso, ele é considerado o patrono dos engenheiros e arquitetos. 

O edifício abriga, além do convento das concepcionistas, a igreja (inaugurada no dia da Imaculada Conceição de 1802) e o esplêndido e concorrido Museu de Arte Sacra de São Paulo. Há 200 anos que o local é visitado por muitos peregrinos e fiéis que ali vão rezar, pedir ou agradecer graças alcançadas, como também para obter das freiras as muito conhecidas (e milagrosas) “Pílulas do Frei Galvão”, distribuídas por elas. 

O que são as “Pílulas do Frei Galvão”? 

Azulejo de Frei Galvão no Mosteiro da Luz [Foto PRC] 

Essas “pílulas”, em papeizinhos brancos, têm operado verdadeiros milagres — curas inexplicáveis pelas ciências, inclusive de câncer, e até mesmo curas espirituais de pecadores. São particularmente benfazejas às mães com dificuldades na gravidez ou em momentos antes do parto; tomando-as com fé, seus filhos nascem normalmente e saudáveis. Sobre a origem das “pílulas” milagrosas, ver texto abaixo extraído de um folheto disponível no Mosteiro da Luz. 

No Mosteiro estão guardados milhares de relatos de pessoas beneficiadas com graças do primeiro santo brasileiro, de suas “pílulas”, ou mesmo de milagres confirmados, como curas de graves enfermidades. 

Em entrevista exclusiva para Catolicismo (edição de setembro/1998), a Irmã Célia B. Cadorin[2] (1927-2017) explicou-nos o seguinte: 
“Remédios e consultas médicas hoje são caros. Nosso povo tem fé e, por isso, as ‘pílulas’ de Frei Galvão são cada vez mais procuradas no Mosteiro da Luz. Há um boletim que as irmãs concepcionistas dessa casa religiosa publicam mensalmente denominado Celeste Orvalho. Nele, são relatadas as graças recebidas mediante a intercessão do novo Beato, as quais são comunicadas pelos beneficiários, por escrito, ao Mosteiro da Luz. 

Chama a atenção, neste último mês, o fato de que muitas pessoas apresentavam câncer num primeiro exame. Submetidas a um segundo, não denotavam mais nenhum sintoma da doença. 

Eu levei para o Vaticano um registro de tais graças, obtidas desde 1930 até 15 de setembro de 1990: o total era 23.920 graças!” 

A milagrosa cura de Daniela Cristina 

Caso Daniela Cristina 
Nessa mesma entrevista a Catolicismo, a religiosa narra um dos milagres comprovados, necessário para a beatificação de Frei Galvão: 

“Trata-se da cura de uma criança de quatro anos, Daniela Cristina da Silva, filha de Valdecir da Silva e Jacira Francisco da Silva, residentes em Vila Brasilândia, à rua Padre José Materni, 598, na capital paulista. 

Em maio de 1990, devido a complicações bronco-pulmonares, a criança foi internada e tratada com antibióticos e metoclorpramida. 

Obtida a alta hospitalar, Daniela voltou para casa, mas logo depois começou a apresentar sonolência e crises convulsivas, sendo encaminhada por seu pediatra, na noite de 24 de maio de 1990, ao Hospital Emílio Ribas (hoje Instituto de Infectologia Emílio Ribas), em São Paulo. Havia suspeita de que a moléstia fosse meningite ou hepatite. 

Levada para a UTI do hospital, o diagnóstico inicial foi: coma por encefalopatia hepática, causada por hepatite do vírus A, insuficiência hepática grave, insuficiência renal aguda e intoxicação por causa da metoclorpramida. Havia ainda hipertonia intensa nos membros inferiores e superiores. 

Com o diagnóstico posterior de ‘insuficiência hepática fulminante’, a criança sofreu ainda parada cardiorrespiratória. O quadro clínico evoluiu com a ocorrência de epistaxe, sangramento gengival, hematúria, ascite, progressivo aumento da circunferência abdominal, broncopneumonia, parotidite bilateral, faringite, além de dois episódios de infecção hospitalar. A menina permaneceu 13 dias (de 25 de maio a 7 de junho de 1990) na UTI.

A intervenção divina para salvar a criança foi pedida por pais, parentes, amigos, vizinhos e religiosas do Mosteiro da Luz, que, unidos numa só prece, invocaram com muita fé a intercessão de Frei Galvão. 

Da UTI, a criança passou para a Seção de Pediatria do mesmo hospital. A 13 de junho, foi efetuada uma biópsia hepática, cujo resultado foi: ‘Hepatite aguda colestática’.

Em 21 de junho de 1990, Daniela recebeu alta hospitalar, sendo ‘considerada curada’. Acompanhada ambulatorialmente, a menina não apresentou depois mais recaída.

Em 1995, o pediatra, que cuida da saúde de Daniela desde seu nascimento, atestou: ‘A menor foi examinada por mim nesta data (4-8-95), estando a mesma em perfeitas condições de saúde física e mental’. 

O mesmo médico, perante o Tribunal Eclesiástico, afirmou o seguinte a respeito da cura da criança: ‘Eu atribuo à intervenção divina não só a cura da doença, mas a recuperação total dela’. 

Após Daniela receber alta do hospital, seus pais, parentes e amigos levaram-na diretamente ao túmulo de Frei Galvão, na capela do Mosteiro da Luz. E, algum tempo depois, realizaram uma comemoração para agradecer a Deus a cura miraculosa. 

Vários médicos depuseram no processo. Conseguimos todas as provas científicas da cura, tendo sido esta comprovada de maneira límpida. 

Hoje, Daniela, com 12 anos, é uma menina saudável e alegre, cursa a 6ª série e continua a residir com seus familiares em Brasilândia”. 

Santa morte e sepultura no Mosteiro 

Capela do Mosteiro da Luz [Foto PRC]
O grande santo brasileiro entregou sua alma a Deus aos 83 anos, no mesmo mosteiro que havia construído. Sua sepultura, muito visitada por devotos de todo o Brasil, encontra-se hoje diante do altar-mor da igreja do Mosteiro da Luz, sob uma grande lápide com os seguintes dizeres: 
“Hic jacet Fr. Antonius a Sant’Anna Galvão, hujus almae domus inclytus fundator et director qui animam suam in manibus suis semper tenens placide obdormivit in Domino die 23 decembris anno 1822”. (Aqui jaz Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, ínclito fundador e diretor desta casa, que tendo sua alma sempre em suas mãos, placidamente faleceu no Senhor no dia 23 de dezembro de 1822).[3]

Canonização — “honrado entre os santos” 

Depois de meticulosa análise, iniciada em 1938, de toda a vida de Frei Galvão, a Igreja concedeu-lhe a honra e a glória dos altares. É o reconhecimento oficial de que ele praticou em grau heroico as virtudes cristãs, bem como da autenticidade dos milagres por ele operados. Isso foi solenemente confirmado no dia 11 de maio de 2007, na capital paulista, quando — perante mais de um milhão de pessoas reunidas no Campo de Marte (capital paulista) — o Papa Bento XVI proclamou: “Declaramos e definimos como santo o beato Antônio de Sant’Anna Galvão, e o inscrevemos na Lista dos Santos, e estabelecemos que, em toda a Igreja, ele seja devotamente honrado entre os santos”. 

Temos, portanto, um “Bandeirante de Cristo” como excepcional embaixador no Céu. Que ele nos obtenha do Divino Redentor o discernimento e a força de alma necessária para, a exemplo dos francos e de sua gesta por Deus, empreendermos uma “gesta Dei per brasiliensis”; a graça de lutar denodadamente, dentro das leis de Deus e dos homens, a fim de impedir que o regime comunista se instale no Brasil; e de contribuir para que esse regime opressor e seus “companheiros de viagem” sejam definitivamente afastados da América Latina e do mundo. 
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Notas: 
1. Maristela, “Frei Galvão – Bandeirante de Cristo”, Editora Vozes, São Paulo, 1998. A primeira edição é de 1954. 
2. Nascida em Nova Trento (SC), a Irmã Célia B. Cadorin pertencente à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada em 1890, em Santa Catarina, pela Santa Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Entre algumas outras causas, ela foi a postuladora da causa de beatificação de Frei Galvão (o que ocorreu em 1998) e depois da canonização (2007). 
3. A fim de melhor conhecer a vida de Frei Galvão, recomendamos o livro de Armando Alexandre dos Santos, “Frei Galvão, o primeiro Santo brasileiro”, Editora Petrus, São Paulo. 2007. https://livrariapetrus.com.br/ 

“PILULAS DE FREI GALVÃO” 

“Certo dia Frei Galvão foi procurado por um senhor muito aflito, porque sua mulher estava em trabalho de parto e em perigo de perder a vida. Frei Galvão escreveu em três papelinhos o versículo do Ofício da Santíssima Virgem: Post partum Virgo Inviolata permansisti: Dei Genitrix intercede pro nobis (Depois do parto, ó Virgem, permanecestes intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós). Deu-os ao homem, que por sua vez levou-os à esposa. Apenas a mulher ingeriu os papelinhos, que Frei Galvão enrolara como uma pílula, a criança nasceu normalmente. 

Caso idêntico deu-se com um jovem que se estorcia com dores provocadas por cálculos visicais. Frei Galvão fez outras pílulas semelhantes e deu-as ao moço. Após ingerir os papelinhos, o jovem expeliu os cálculos e ficou curado. 

Esta foi a origem dos milagrosos papelinhos, que, desde então, foram muito procurados pelos devotos de Frei Galvão, e até hoje o Mosteiro fornece para as pessoas que têm fé na intercessão do Servo de Deus” (transcrito de folheto distribuído no Mosteiro da Luz). 

*   *   * 
Tornando-se muito conhecidas as curas milagrosas, aumentaram enormemente os pedidos pelas “Pílulas do Frei Galvão”. Assim, até os presentes dias, as freiras concepcionistas do Mosteiro da Luz repetem a “fórmula” ensinada por suas irmãs que viveram nos tempos de Frei Galvão e que com ele aprenderam diretamente. 

Para obter essas prodigiosas “pílulas”, basta se apresentar à portaria do Mosteiro, que fica na Av. Tiradentes, 676 – Luz – São Paulo – SP.

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