3 de novembro de 2016

500 anos depois, de joelhos diante de Lutero

O Papa Francisco e o pastor luterano Martin Junge assinam uma "Declaração Conjunta". O heresiarca Lutero definiu, no século XVI, o Papa como "apóstolo de Satanás" e "anticristo".

Roberto de Mattei (*) 

Dizemo-lo com profunda dor. Parece uma nova religião aquela que aflorou em Lund no dia 31 de outubro, durante o encontro ecumênico entre o Papa Francisco e os representantes da Federação Luterana Mundial. Uma religião em que são claros os pontos de partida, mas obscura e inquietante a linha de chegada. 

O slogan que mais ressoou na catedral de Lund foi o da necessidade de um “caminho comum” que leve católicos e luteranos “do conflito à comunhão”. Tanto o Papa Francisco quanto o pastor Martin Junge, secretário da Federação Luterana, se referiram em seus sermões à parábola evangélica da videira e dos ramos. Católicos e luteranos seriam “ramos secos” de uma única árvore que não dá frutos por causa da separação de 1517. Mas ninguém sabe quais seriam esses “frutos”. O que católicos e luteranos parecem ter agora em comum é apenas uma situação de profunda crise, ainda que por motivos diferentes. 

O luteranismo foi um dos principais fatores da secularização da sociedade ocidental e hoje está agonizando pela coerência com que desenvolveu os germes de dissolução que portava dentro de si desde a sua irrupção. Na vanguarda da secularização estiveram os países escandinavos, apresentados por longo tempo como modelo do nosso futuro. Mas a Suécia, depois de ter-se transformado na pátria do multiculturalismo e dos direitos homossexuais, é hoje um país onde apenas 2% dos luteranos são praticantes, enquanto quase 10% da população segue a religião islâmica. 

A Igreja Católica, pelo contrário, está em crise de autodemolição porque abandonou sua Tradição para abraçar o processo de secularização do mundo moderno na hora em que este entrava na sua fase final de decomposição. Os luteranos procuram no ecumenismo um sopro de vida, e a Igreja Católica não adverte nesse abraço o mau hálito da morte.

“O que nos une é muito mais do que aquilo que nos divide”, foi ainda dito na cerimônia de Lund. Mas, o que une católicos e luteranos? Nada, nem sequer o significado do batismo, o único dos sete sacramentos que os luteranos reconhecem. Para os católicos, o batismo elimina de fato o pecado original, enquanto para os luteranos ele não pode apagá-lo, porque consideram a natureza humana radicalmente corrupta, e irremovível o pecado. A fórmula de Lutero “peca com força, mas crê com maior força ainda” resume o seu pensamento. O homem é incapaz de praticar o bem e não pode senão pecar e abandonar-se cegamente à misericórdia divina. A vontade corrompida do homem não tendo nenhuma participação nesse ato de fé, no fundo é Deus que decide, de forma arbitrária e inapelável, quem se condena e quem se salva, como deduziu Calvino. Não existe liberdade, mas apenas rigorosa predestinação dos eleitos e dos condenados. 


Santo Inácio de Loyola combateu com muita
coragem e eficácia a heresia luterana
A “Sola Fede” é acompanhada pela “Sola Scriptura”. Para os católicos, a Sagrada Escritura e a Tradição são as duas fontes da Revelação divina. Os luteranos eliminam a Tradição porque afirmam que o homem deve ter uma relação direta com Deus, sem a mediação da Igreja. É o princípio do “livre exame” das Escrituras, a partir do qual fluem o individualismo e o relativismo contemporâneos. Este princípio implica a negação do papel da Igreja e do Papa, que Lutero define como “apóstolo de Satanás” e “anticristo”. Lutero odiava especialmente o Papa e a Missa católica, que ele queria reduzir a mera comemoração, negando-lhe o caráter de sacrifício e impugnando a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo. Mas, para os católicos, a renovação incruenta do sacrifício de Cristo existente na Missa é a fonte principal da graça divina. Trata-se de simples incompreensões e mal-entendidos? 

O Papa Francisco declarou em Lund: “Também nós devemos olhar, com amor e honestidade, para o nosso passado e reconhecer o erro e pedir perdão.” E ainda: “Com a mesma honestidade e amor, temos de reconhecer que a nossa divisão se afastava da intuição originária do povo de Deus, cujo anseio é naturalmente estar unido, e, historicamente, foi perpetuada mais por homens de poder deste mundo do que por vontade do povo fiel.” — Quem são esses homens de poder? Os Papas e os santos, que combateram o luteranismo desde o início? A Igreja, que o condenou durante cinco séculos? 

O Concílio de Trento pronunciou um ditame irrevogável sobre a incompatibilidade entre a fé católica e a protestante. Não podemos seguir o Papa Francisco por um caminho diferente. 

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Fonte: “Il Tempo”, Roma, 2-11-2016. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.

8 comentários:

Costa Marques disse...

Lamentavel que o Papa Francisco esteja numa via que ja foi condenada pela Igreja no Concilio de Trento! Sera' que este Papa nunca leu as decisoes da Igreja sobre Lutero, sobre a falsa doutrina da justificacao? Lamentavel e triste. CostaMarques

Isac disse...

O POLITICAMENTE CORRETO LUTERO É O PAPA DA DITADURA DO RELATIVISMO, VINCULADO COM O MATERIAL-ATEÍSMO/MAÇONARIA/IDEOLOGIAS ATUAIS-MARXISMO!
É contrastante de fato celebrar a revolta protestante para dela emergir unidade, em particular por os revoltosos não se disporem em retornar à Igreja-mãe, aceitando-lhe a doutrina; ao contrario, seguem a contestando e se esforçam bastante por nos cooptarem!
O protestantismo está imerso no mais absoluto relativismo – é-o em potencial – levando-se em conta que jamais em época alguma entenderam-se nem entre si – muito ao contrario, permanecem entre si em infindas disputas, além de estranhamente manterem excelentes relações com a maçonaria!
Pela experiencia em contatos, conclui-se que os que compartilham do alienante protestantismo o apreciam por ser uma religião que deixa cada um seguir a deusa da razão e suas veleidades, atualmente muito entronizada e incensada, embora saibamos que os que seus adeptos se iludem-se numa crença sem fundamentos teológicos, como aquela de que já estão antecipadamente salvos – no entanto, fiam num potencial ex frade apóstata, desequilibrado, genocida, nesse item se comparando a varios marxistas carniceiros da humanidade!
Se analisarmos a questão sob o acima, porque não compararmos o déspota Lutero a outro conquistador como Maomé, querendo se impor à força?
Tirar proveito do insensato e sumamente condenável doutrinario protestante se pareceria com a doutrina marxista que do “caos se poderia tirar um bem”!
O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal Gerhard Müller, disse que os católicos “não têm nenhum motivo para celebrar”.
O começo da Reforma.
O cardeal alemão disse numa extensa entrevista publicada em forma de livro: “Estritamente falando, nós, católicos, não temos nenhum motivo para celebrar o dia 31 de outubro de 1517, data que se considera o início da Reforma que conduz à ruptura da cristandade ocidental”.
Os varios santos que duramente reprovaram Lutero, do lado de lá contemplam a que ponto deixam-se tantos cristãos se subverterem e crerem no satanismo protestante travestido de bons propósitos!
Com respeito, lamentando - ao acaso daria para compartilhar com as ideias e posições pessoais do papa Francisco em favor do revolucionario protestantismo?

nessamiceli disse...

Enquanto existir esse tipo de posicionamento "hate speach" de fato será difícil falar em união entre nós Luteranos e os senhores Católicos.

Anônimo disse...

Esqueceram de cita que foi Lutero que traduziu as escrituras e mostrou a verdade que a igreja católica escondia a sete-chaves,e acabou com a farra que a Roma fazia com o dinheiro de altos impostos cobrados aos pobres pela igreja católica.

Alemanhaeamusica disse...

Muito triste. Como poderíamos voltar ao catolucismo se Lutero teve que se manter escondido para salvaguardar sua vida. Ameaçado e perseguido por quem?
Somos uma igreja solidária, cujos membros tem acesso à Bíblia sim. Não existe nenhum luterano que sa ordens a Deus, como pôr exemplo a Assunção de Maria.

Geraldo disse...

Anon. das 09:37
Lutero foi o çalvador do mundo, ele foi S Jerônimo que traduziu a biblia, foi ele quem compôs a verdeira igreja das mais de 10 000 seitinhas e que atualmente estão camufladas na religião dos globalistas!
V tem toda razaum, "seu" relativista protestante!

Luiz disse...

Falsa doutrina da Justificação???
Leia mais a Bíblia cara...Leia Habacuque 2.4; Rom 1.17; Rom 3.21-28; Rom 5; Ef 2.8-9.....

Rafael S. disse...

Bom cada um puxa a bandeira pro lado que julgar melhor. Por isso temos diferenças culturais, diferenças religiosas, querendo ou não o ser humano não consegue viver em unidade, algumas vezes se quebra essa unidade para se derrubar uma tirania, outras vezes para defender nossos próprios interesses e por ai se segue. Pra quem leu a história de Lutero e da reforma protestante sabe que a ideia original não erra uma separação mais a unificação, mas devido a ideias de Lutero romperem contra a ideologia de poder da Igreja Católica da época (tanto que houve a "contra-reforma que aboliu alguns pontos que erram considerados "verdades divinas" da época) houve perseguição ao invés de união.
Outro ponto e erro comum que se usa muito é generalizar para confundir. Uma coisa é as ideias de Lutero, que acredito ser o tema do texto acima, outra coisa ideias de Calvino ideias de Maomé e outra ainda maior é uma ideia de um Pentecostalismo ou Neopentecostalismo chamados de "protestantes" generalizando as ideias de Lutero . "O ATAQUE É A MELHOR DEFESA" ?!

comentário do Isac.

Quanto ao fato de querer comparar Martinho Lutero com Maomé... mostra muito bem onde quero chegar, as vezes a história que nos é passada é o retrato da ilusão de quem as conta e não o que de fato ocorreu, moldando caráter pessoal e fatos que agridem ou enaltecem o personagem da história. (Imparcialidade)

Por isso o Senhor da História é Somente DEUS, que ele tenha misericórdia de nós e nos de a Sabedoria que provem DEle e não conhecimento de contos deste mundo movido a bel prazer de que os conta.

Existem muitos mais temas que poderiam ser explanados, no intuito de mostrar o quão
pré-conceituoso e desmunidos de conhecimento especifico sobre o tema abordado são tanto o texto do blog quanto seus comentários.