Milhares de pessoas dos movimentos antiaborto no dia da votação |
A recusa do aborto pelo Senado argentino revelou a dimensão de um dos maiores conflitos religiosos de nossa época
➤ Luis Dufaur *
Adolfo Rodríguez Saá, senador pela Província de São Luís, foi também enfático: “Ouvi durante o debate uma permanente condenação à Igreja Católica; e os que pensamos como católicos não somos respeitados. [...] Eu vim aqui defender minhas convicções de católico apostólico e romano”.
Não foram estes os únicos. A mesma queixa era frequente até mesmo em partidos políticos conflitantes entre si, e a voz das ruas não cessava de repetir: “Dizem que não temos direito a falar porque somos católicos”.
Católicos e abortistas se enfrentam nas ruas
Nas fileiras abortistas: agressividade, vulgaridade e injúrias |
A maioria da população argentina é católica e contrária a esse crime, que viola um dos mais sacrossantos Mandamentos da Lei de Deus: Não matarás. Porém a mais eficiente e mais desconcertante contribuição em favor do aborto não provinha dos exaltados de sempre, anticatólicos promotores da matança dos inocentes, e sim dos microfones de igrejas e catedrais. Como que ecoando alguma ordem vinda de Roma, essa mídia religiosa silenciou sobre a doutrina católica que proíbe a matança dos inocentes.
Mais ainda. Durante uma maciça manifestação contra o aborto ao longo das grandes avenidas centrais de Buenos Aires, dois sacerdotes confidenciaram a velhos amigos a norma baixada pela Conferência Episcopal: o clero não deveria participar da campanha antiabortista, ir às manifestações, rezar publicamente ou abençoar. E assim os religiosos, enviados por Jesus Cristo para pregar o Evangelho, teriam de se calar para abafá-lo, enquanto dialogam com os seus piores inimigos! Tal norma é sem dúvida um reflexo da mudança de paradigma, hoje presente na Santa Sé. Apesar de abandonados no auge da tempestade, cerca de dois milhões de católicos argentinos se manifestaram naquele dia em mais de duzentas cidades do País!
O cartaz confirma que
o aborto
anda de mãos dadas
com a esquerda
e com a
homossexualidade (diversidade)
|
Seu procedimento só não foi mais doloroso, e em distonia com os fiéis, porque ainda mais assombroso foi o silêncio do Papa Francisco sobre essa estrepitosa vitória da moral e da religião católica. Sobretudo por ser a Argentina o país onde ele nasceu! Sites católicos brasileiros também se manifestaram espantados com a incompreensível e persistente omissão do Pontífice argentino diante do massacre dos inocentes.
Sentindo que se descolavam do povo, os bispos resolveram fazer uma mudança de 180º. Começaram a criticar o aborto, e até chegaram a convocar passeatas de protesto em homilias e atos oficiais. Pressionados pela exigência dos leigos, convocaram uma grande missa campal no santuário nacional da Padroeira da Argentina, Nossa Senhora de Luján, que congregou por volta de 40 mil pessoas sob a chuva e o frio. O cardeal Mario Aurelio Poli, Arcebispo de Buenos Aires, agendou uma missa na catedral para a hora em que a matéria estivesse sendo votada no Senado.
Repercussões da derrota abortista
Resultado da votação no painel do Senado. Em vermelho: RECHAZADO (recusado |
É difícil medir, mas fácil compreender, a frustração das esquerdas leigas ou religiosas com a recusa plena desse projeto. Abortistas, comunistas e piqueteiros peronistas protagonizaram nas ruas, em torno do Congresso, badernas próprias do derrotado que não sabe perder, as quais foram logo dissolvidas pela polícia. Atitude análoga foi assumida por grandes jornais, que vituperam as fake news das redes sociais apenas quando elas não servem às esquerdas. O grande quotidiano socialista “El País”, de Madri, deblaterou contra a Argentina, que teria retrocedido um século ao recusar um projeto generoso — na verdade, criminoso — que liberalizava o aborto até os níveis espantosos existentes em países da União Europeia. O jornal pró-socialista “Le Monde”, de Paris, bateu todos os recordes de fake news, ao afirmar que diante do Congresso argentino havia dois milhões de pessoas pró-aborto. Fato materialmente impossível, aliás, mas que servia para desabafar a sua “democrática” antipatia a uma decisão que se reveste de características democráticas.
Um engenheiro argentino, de férias com a família na China, escreveu num foro virtual que, ao sair de uma igreja católica no centro histórico de Xi’an — cidade que foi capital imperial —, foi abordado por um grupo de freiras que havia acompanhado de perto a polêmica sobre o aborto na Argentina e o seu auspicioso desfecho. Emocionadas, elas o felicitaram, acrescentando que os argentinos não podiam imaginar o efeito universal da sua recusa à morte de inocentes.
Perspectivas para o futuro
Consequência da derrota: baderna dos abortistas, com a participação de comunistas e piqueteiros peronistas |
Em 2020 os inimigos de Cristo, da Igreja e da vida voltarão sem dúvida a agir. Contarão para isso com o silêncio do Papa, dos bispos e dos maus sacerdotes a respeito da moral e da doutrina católica?
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Notas:(*) Fonte: Revista Catolicismo, Nº 813, setembro/2018.
1. Cfr. Sandro Magister, “‘Amoris laetitia’ tiene un autor a la sombra. Se llama Víctor Manuel Fernández’. http://chiesa.espresso.repubblica.it/articolo/1351303ffae.html?sp=y
2. Infocatólica, “El Arzobispo de La Plata no quiere festejar el «No» al aborto en Argentina”, 10/08/18 – http://www.infocatolica.com/?t=noticia&cod=32867
3. Cfr. por exemplo: Rainha Maria, “Argentina aprova lei do aborto, com o silêncio do papa argentino”. http://www.rainhamaria.com.br/Pagina/22626/Argentina-aprova-lei-do-aborto-com-o-silencio-do-papa-argentino
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