29 de janeiro de 2025

O BRASIL EM 2024 — Instabilidade climática em meio à desorientação e provocações da esquerda


 

Lula e Flávio Dino [ Foto: Ricardo Stuckert/PR ]

  ✅  Paulo Henrique Américo de Araújo

 

Neste olhar em retrospectiva sobre a situação brasileira, serve-nos bem como fundo de quadro a instabilidade climática — sem alarmismo ecologista obviamente — e seus efeitos que perpassaram o ano de 2024. As chuvas, a seca, as queimadas e até o frio provocaram insegurança, destruição e mortes. Tudo isso reflete, de maneira tangível, a falta de rumo das forças anticristãs revolucionárias que teimam em contrariar uma opinião pública cada vez mais infensa aos seus objetivos.

 

Rio Grande do Sul inundado pelas enchentes [Foto: Marinha do Brasil/via Fotos Públicas]

Provocações, chuvas e enchentes

2024 iniciou-se com as repercussões de gosto amargo provenientes do final do ano anterior: Flávio Dino, indicado por Lula como novo Ministro do STF, havia sido aprovado pelo Senado Federal para o cargo. O petista saiu com esta declaração: “Vocês não sabem como eu estou feliz hoje. Pela primeira vez na história deste país, nós conseguimos colocar na Suprema Corte um ministro comunista, um companheiro da qualidade do Flávio Dino.1

Analistas consideraram a frase como “simples provocação”, “nada de muito sério2”. Por quanto tempo a opinião conservadora e cristã suportará afrontas assim? Além do amargor causado em boa parte dos brasileiros, a provocação prenunciava fortes chuvas, incêndios e fumaça que cobririam o horizonte do País. 

Em se tratando de provocação, nada mais eloquente do que o espetáculo blasfemo e pornográfico da cantora “Madonna”, ocorrido no Rio de Janeiro, em 4 de maio. Ao mesmo tempo que transcorria, na Praia de Copacabana, o insulto explícito ao sentimento religioso da maioria dos brasileiros, o Rio Grande do Sul era inundado pelas enchentes. A maior rede de televisão do País lidou mal com a situação: apesar das calamidades no Sul, deu preferência à exibição dos saracoteios insanos e imorais da artista americana3.

Enquanto uns se afundavam no pecado na capital fluminense, 182 pessoas morriam afogadas e outros 2 milhões eram afetados pelos alagamentos. Inúmeras vozes se ergueram para cogitar se teria sido possível evitar ou diminuir a catástrofe gaúcha. Sem entrar em detalhes dessa ampla discussão, um pequeno aspecto aponta para um culpado bem conhecido: o ecologismo radical. Dragagens preventivas nos rios (em especial no Rio Guaíba) teriam garantido mais espaço para a água escoar, mas isso não é executado porque “sempre se justifica propósitos ambientais”, diz o deputado estadual, Marcus Vinícius (PP-RS)4.

 

Queimadas no interior do estado de São Paulo

Estiagem, incêndios e fumaça

A seca de meados do ano foi violenta, batendo recordes de estiagem em várias regiões. Uma boa metáfora para o desprestígio crescente do lulo-petismo. No dia 1º de maio, Lula encabeçou um comício esvaziado em São Paulo, com a participação de menos de 2 mil pessoas. Lula sentiu a “secura” e “pediu água”, reclamando sobre a falta de engajamento da militância5. Ricardo Patah, um dos organizadores, afirmou: “Temos que fazer um mea culpa de nossa incapacidade de levar mais gente”, e acrescentou que há “dificuldade de interlocução com jovens6”.

Com a seca, vieram as queimadas. Cenas de labaredas gigantes à margem das rodovias de todo o País percorreram as redes sociais. Curiosamente, desta vez as tubas da grande mídia nacional e internacional não se lembraram de culpar o atual governo pelas queimadas, como haviam feito durante a gestão Bolsonaro, quando incidentes semelhantes tomaram o noticiário. Pelo contrário, houve quem apontasse como principais responsáveis, pasme-se, os agricultores7.

Um fato estranho, mas revelador da desorientação geral: o Ministro Flávio Dino, ele mesmo, o “queridinho comunista” de Lula no STF, mandou o governo atuar de modo mais eficiente para combater os incêndios8.

Assim, a Corte Suprema do País assume as funções de um Poder Executivo cada vez mais inepto. Alguém duvida que algo vai mal nas instituições da República? Vem bem a propósito o comentário de Eliane Cantanhê de: “Amazônia, Cerrado e Pantanal estão em chamas [...] Sem recuperar o protagonismo nas questões internacionais e ambientais e insistindo em estatismo e aparelhamento na Petrobras, fundos de pensão, agências reguladoras, Lula faz o oposto do que pretendia: não repete os acertos nem deixa os erros no passado9”. Os supostos “acertos” de Lula são por conta da articulista. Sabemos do que se trata: avanço da agenda esquerdista e economia submetida ao socialismo estatal, que conduzem inevitavelmente à bancarrota.

Com a estiagem prolongada, a Capital Federal assemelhava-se a um deserto no início de setembro, e a desolação patenteou-se ainda mais quando do desfile do Dia da Independência. O cenário de 2023 se repete: a Esplanada dos Ministérios praticamente vazia e um punhado irrisório de petistas. Lula achou por bem — quem sabe se para dar um pouco de ânimo à comemoração — colocar no palanque dois Ministros do STF: Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Este último vai assumindo um protagonismo constrangedor10, segundo comenta Carlos Alberto Di Franco: “A destruição da ordem jurídica, que no Brasil de hoje é visível a olho nu, está sendo causada pelo excessivo protagonismo de um ministro do Supremo Tribunal Federal: Alexandre de Moraes11”. Mais adiante, acrescenta o mesmo articulista: “A crise de credibilidade do Judiciário é acelerada e preocupante. Seu desprestígio na sociedade precisa ser revertido”.

Ao mesmo tempo em que as queimadas se alastravam, as eleições municipais de 2024 entravam na “onda de calor”. E as chamas parecem ter invadido todos os quadrantes da esquerda! Não há como esconder sua estrondosa derrota. Os dados antecedentes ao pleito já indicavam a fumaça tóxica nas paragens esquerdistas: 15% dos municípios brasileiros não tiveram qualquer candidato de esquerda12. Em Santa Catarina, esse número foi de 25%.13

A esquerda venceu em apenas duas capitais: Recife e Fortaleza. Neste quesito, é seu pior resultado desde 198514. Quanto aos municípios em geral, partidos de esquerda e centro-esquerda que em 2020 tinham conquistado 852 prefeituras, agora ficaram com 74915.

Em São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) obteve vitória esmagadora sobre Guilherme Boulos (PSOL), com diferença de quase 20 pontos: 59,3% contra 40,6%. Algo bastante sintomático foi o fato de Boulos ter tentado desesperadamente se afastar da “agenda progressista” durante a disputa, encarnando uma nova versão do “Lulinha paz e amor”. Nada funcionou!

A turma do PT e aliados ainda estão tentando juntar os cacos depois do fracasso eleitoral. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que defende uma aliança “mais ao centro”16. Porém, já prevendo que a manobra não surtirá efeito sobre o brasileiro médio, intuitivo e de bom senso, a líder petista emendou em tom de ameaça: a esquerda “vai continuar sendo massacrada” se não regular as redes sociais17.

 


Inverno: “gelo” na máquina estatal

O inverno de 2024 derrubou os marcadores dos termômetros, batendo recordes de baixas temperaturas em certas capitais18. O frio extremo localizado foi um dos fatores (indiretos, é verdade) para a queda do avião da Voepass e a morte de seus 62 passageiros e tripulantes. Não desejo ser irreverente com a memória das vítimas, mas o lastimável acidente traz analogia marcante com o percurso seguido por Lula em seu desastroso 3º mandato.

Há gelo nas engrenagens do avião petista. Tal se vê nos disparates da política externa. As eleições na Venezuela — com sua escancarada ausência de legitimidade — tiveram como resultantes explicitar as incongruências da diplomacia brasileira e acabaram por consolidar a ditadura de Nicolás Maduro. Lula perdeu credibilidade e de seu autoproclamado título de “líder natural” da América Latina só restaram destroços. 19

Durante seu discurso na ONU em setembro, o líder petista repetiu propagandas demagógicas ultrapassadas, insistiu em ações para promover “igualdade de gênero” e políticas “antidiscriminação”; além de criticar as “estruturas da governança mundial”, em sinal claro para a tentativa de dar foco ao seu pretenso protagonismo com o chamado “sul-global”. Falou tanto que estourou o tempo do seu discurso e teve o microfone cortado20. Uma vergonha...

Na reunião do Brics em outubro, Lula tentou emplacar a liderança naquilo que analistas classificam de tendência “antiocidental” do bloco21. Mas no fim, de acordo com um especialista, o mandatário brasileiro acabou perdendo: “A imagem de Lula está manchada por seu apoio a Xi Jinping e a Vladimir Putin, e por sua atuação nos Brics 22.”

A par do esfriamento das suas pretensões no Brics, Lula ainda cometeu gafes pueris na diplomacia com os Estados Unidos. Pouco antes dos resultados das eleições presidenciais norte-americanas, ele saiu com este disparate: uma possível vitória do republicano Donald Trump representaria a volta de um “nazismo e fascismo com outra cara23”.

Para completar a insensatez diplomática com relação aos Estados Unidos, a esposa de Lula, Janja, não achou nada melhor do que atacar, da forma mais baixa, o Elon Musk, indicado por Trump para integrar sua nova equipe de governo. Numa típica “atitude de botequim”, ela referiu-se ao milionário com um palavrão24 — irreproduzível numa publicação como a nossa —, causando mal-estar mesmo entre os aliados petistas e provocando uma moção de repúdio na Câmara dos Deputados25.

Por essas e por muitas outras é explicável que a “frente fria” da insatisfação vá tomando conta do horizonte lulista e provoque a queda nos seus índices de aprovação. Em maio de 2024, a popularidade de Lula, que já vinha despencando, era de 37,4%. Em novembro, esse número tinha descido a 35%.27

Céu nublado, tempestades e raios

O tempo fechado e melancólico de outubro guardava certa analogia com a situação da “esquerda católica” no Brasil. A CNBB — sempre atrelada a um “progressismo” decrépito — parece se encontrar num “céu nublado”, quase totalmente desprezada no cenário nacional. Alguém se lembra de qualquer declaração ou atitude relevante do órgão, durante o ano? Ao menos algo que tenha sido de molde a mover as vontades? Nada!

Nesse sentido, são extremamente significativas essas palavras de Frei Beto, ao observar os participantes de um encontro de “progressistas” em Belo Horizonte: “A maioria de cabelos brancos ou tingidos. Minha geração envelhece. Chego este ano aos 80. É muito preocupante constatar que as forças progressistas não logram renovar seus quadros.” 28

A desconfiança e a indiferença dos brasileiros com relação ao clero progressista só aumentam. Motivos eles têm! Veja-se, por exemplo, a total inação das autoridades eclesiásticas quando “peregrinos” do movimento LGBT exibiram, na própria Basílica de Aparecida, uma cópia da imagem da Padroeira vestida com a bandeira arco-íris [foto ao lado]. Diante da perplexidade dos católicos, saiu a público uma lacônica nota dos responsáveis pelo Santuário Nacional. 29



Do outro lado do espectro político e religioso, a tendência é outra: juventude, dinamismo, esperança. Os quadros da direita se renovam e avançam. As próprias eleições municipais confirmaram isso de maneira eloquente30. Quem há de se surpreender que os progressistas e esquerdistas de todos os vieses estejam desorientados e assumam, como último recurso, o revanchismo meio desesperado? Parece que a gota d’água para o revide veio após a clamorosa vitória de Trump e da direita em geral nas eleições americanas.

As tempestades e os relâmpagos despontaram no horizonte dias depois dos resultados. O estopim de um mal executado “ataque terrorista” em Brasília desencadeou novamente os alaridos da esquerda: o País está sob a ameaça dos “conservadores radicais”! O insano e atrapalhado “terrorista” morreu no ato, os danos materiais causados por ele foram insignificantes, porém o evento serviu bem, novamente, para a hábil propaganda da esquerda demonizar todos os conservadores e direitistas31, mesmo os que desejam ordem e paz para a Nação.

Quase como uma cena saída de um enredo já pronto, outro raio iluminou os céus em novembro: o vazamento de supostos planos de golpe de estado, envolvendo o ex-presidente Bolsonaro, o alto escalão do Executivo de então, bem como oficiais das Forças Armadas. Na sequência das investigações, a tempestade deve continuar nos primeiros meses de 2025, entretanto nada mais apropriado para desviar as atenções da patente derrota e desorientação da esquerda no Brasil no último ano.


Não podemos nos esquecer de um contra-golpe simbólico no meio deste vendaval: no fim de novembro, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal (CCJ), presidida pela Deputada conservadora Caroline de Toni, aprovou o projeto de emenda constitucional que proíbe o aborto no Brasil32. O projeto precisa passar por outros trâmites na Câmara, mas a decisão reflete a força da direita no Legislativo, algo que provocou esperneios histéricos entre petistas e seus aliados. Parabéns aos membros da CCJ pela decisão corajosa.

Diante dos acintes esquerdistas e progressistas contra a tendente pacatez e tranquilidade de nosso povo, vale mencionar essas palavras de Plinio Corrêa de Oliveira: Cuidado com os pacatos que se indignam, senhores da esquerda, do centro e da direita. A hora não é para carrancas, mas para as discussões arejadas, polidas, lógicas e inteligentes. Os pacatos toleram tudo, exceto que se lhes perturbe a pacatez. Pois então facilmente se fazem ferozes...”33

Peçamos a Nossa Senhora Aparecida que conduza as forças conservadores e católicas neste ano de 2025 para, dentro da lei e da ordem, fazerem valer sua voz sobre a esquerda desnorteada, desesperada e derrotada.

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Notas:

1. Valor Econômico, 15-12-23

2. Idem.

3. Tragédia no RS, documentário Brasil Paralelo

4. UOL, 25-5-24.

5. Folha de S. Paulo, 1-5-24.

6. FSP, Fábio Zanini,“Fim da linha”, 3-5-24.

7. FSP, 6-9-24.

8. O Globo, 14-9-24.

9. O Estado de S. Paulo, 9-9-24.

10. Correio do Povo, 7-9-24.

11. OESP, 16-9-24.

12. UOL,18-9-24.

13. UOL,18-9-24.

14. FSP, 28-10-24.

15. Embora o PT tenha conquistado mais prefeituras do que em 2020 (183 para 252), isso pouco representa de tendência geral nos resultados. Cfr. UOL, 27-10-24.

16. Portal de Prefeitura, 28-10-24.

17. Infomoney, 28-10-24.

18. Em São Paulo houve a média mais baixa em 25 anos: Cfr. Isto é, 28-8-24. O Rio de Janeiro teve a madrugada mais fria em 13 anos (8,3ºC): Cfr. O Globo, 13-8-24.

19. FSP, 14-8-24.

20. Gazeta do Povo, 22-9-24.

21. BBC Brasil, 22-10-24.

22. OESP, 30-11-24.

23. Poder 360, 7-11-24.

24. OESP, 17-11-24.

25. OESP, 28-11-24.

26. UOL, 7-5-24.

27. OESP, 12-11-24.

28. UniSinos, 22-4-24.

29. Portal de Prefeitura, 19-11-24.

30. Gazeta do Povo, 10-11-24.

31. Gazeta do Povo, 14-11-24.

32. Agência Brasil, 27-11-24.

33. FSP, “Cuidado com o Pacatos”,4-12-1982.

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