Paulo Roberto Campos
Fazendo um balanço das disputas ideológicas ocorridas neste último pleito eleitoral, em minha modesta opinião, principalmente três fatores afloraram: 1º — Uma boa parcela da opinião pública, que até então parecia anestesiada, saiu de seu letargo. Ela sentiu-se ameaçada naquilo que há de mais nobre e elevado e se levantou em defesa dos valores morais e religiosos — sólidas proteções para impedir a desagregação da família.
Certa mídia e o PT tentaram zombar desta reação — alcunhada de “medieval” ou de “sacristia” —, mas tal parcela pouco se incomodou com a zombaria e triunfou altaneira. Reatividade que surgiu como uma nova força muito potente e que não poderá mais ser desprezada pelos políticos. É uma prova de que, apesar de tudo, a boa causa poderá vencer.
Este fator (despertado sobretudo no eleitorado conservador) obrigou a presidente eleita a se comprometer a não envilecer tais valores. Que segurança tem esse compromisso? O futuro responderá! No momento, o que temos a fazer é estar “de olho”, não podemos baixar a guarda, pois — pelo que já vimos — “La donna è mobile / qual piuma al vento / muta d'accento / e di pensier”... (*)
2º — Como muitos analistas políticos tinham afirmando antes do pleito, realmente essas eleições foram “plebiscitárias”. Caiu por terra “desplumado” a mitológica popularidade de Lula da Silva que voava nas asas da imaginação com os sonhados 83%, que os “Institutos de Pesquisas” — e só eles — atribuíram ao Presidente.
Do total do eleitorado, 58,9% não votou em Dilma Rousseff. Portanto, apenas 41,1% apertou a tecla confirmando o 13, votando no projeto de Lula. Ou seja, sua popularidade gira em torno dos 40%... Uma comprovação? — Click no quadro abaixo.
Concluindo este ponto: A candidata do PT venceu? Sim, claro! Mas não triunfou, evidentemente! Ficou também evidenciado o delírio dos “oráculos” dos “Institutos de Pesquisas”: fracassaram ao prognosticar uma vitória petista já no 1º turno; e, depois, uma esmagadora vitória no 2º turno.
3º — No referido balanço, outro fator entrou no cômputo: uma outra fatia da opinião pública não saiu do letargo próprio à mentalidade comodista, só desejando fruir a vidinha, continuou em seu sono à beira do precipício. Imagino que tal parcela é constituída por muitos daqueles que, indiferentes às conseqüências do resultado eleitoral no dia 31, lotaram as praias de norte a sul do Brasil; somados por muitos daqueles que anularam o voto ou votaram em branco; e também por aqueles que indolentemente votaram na esquerda não querendo considerar o risco que ela representa.
Se essa parcela da opinião pública tivesse se preocupado, um pouquinho ao menos, com o gravíssimo perigo pelo qual passava o País, como poderia ter sido diferente o resultado do último pleito! De quanta culpa poderão ser responsabilizados tais indiferentes?
Resposta a esta pergunta encontrei num artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, escrito num período em que o Brasil, assim como agora, atravessava outro grave perigo: a “Intentona Comunista de 1935”. Há quanto tempo! Mas, a história se repete. O então jovem líder católico e diretor de “O Legionário”, escreve sobre a tentativa do Partido Comunista Brasileiro de tomar o poder a partir do levante articulado por Luis Carlos Prestes — que naquele ano, clandestinamente, tinha retornado da União Soviética, onde esteve conspirando com os chefões comunistas.
1935: Quartel da Salgadeira (Rio Grande de Norte) atacado durante a Intentona Comunista |
Segue a transcrição do memorável artigo — nele intercalo [em letra azul] apenas algumas perguntinhas, talvez incomodas... Notaremos que, assim como nos idos de 1935, essa mentalidade indiferente e comodista (a mentalidade “sanchopancesca”) reapareceu em milhares e milhares de brasileiros.
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(*) “A mulher é móvel / como pluma ao vento / muda de acento / e de pensamento”.
(Um dos atos da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi).
“Sancho Pança revive no comodismo dos imprevidentes, que fecham os olhos às nuvens de hoje, que serão tempestades amanhã” |
O crime de Sancho Pança
Escrevendo a História de Dom Quixote, Cervantes lhe associou um personagem secundário, que nunca abandonou o herói da Mancha. Este homem se chamava Sancho Pança.
Que surpresa sentiria Cervantes [quadro à direita] se um telescópio profético lhe pudesse desvendar os acontecimentos futuros e lhe mostrasse que, enquanto o valente Dom Quixote entraria definitivamente para a galeria dos dementes inofensivos com sua lança, sua couraça e seu esquelético Rossinante, Sancho Pança, o tímido Sancho Pança, o medíocre Sancho Pança, o desprezível Sancho Pança, haveria de acometer dentro de alguns séculos uma grande nação, e atirá-la, ele sozinho, às beiras do mais negro precipício?
[Pergunto: Isto não nos faz lembrar do Brasil pós 31 de outubro/2010?]
Foi, no entanto, o que se deu com o Brasil. Se nosso País não estivesse sob uma proteção especial da Virgem Aparecida, não duvidaríamos muito que, dentro de algum tempo, se lhe pudesse cavar a sepultura em sua terra fecunda. E, como justo epitáfio poder-se-iam escrever no túmulo estes tristes dizeres:
Aqui jaz uma Nação fundada por heróis, civilizada por Santos e destruída pelo comodismo imprevidente de alguns de seus filhos.
Sancho Pança? perguntarão alguns leitores, mas Sancho Pança não morreu? Que tem ele a ver, pois, com a crise brasileira?
Não. Sancho Pança não morreu. Sancho Pança revive em espírito, e inspirando milhares de mentalidades, dita as atitudes de seus filhos espirituais nos Parlamentos, nas cátedras, nos bancos, na alta administração.
[Pergunto: Hoje não poderíamos acrescentar “nas Igrejas”?]
[Pergunto: Não tem semelhança com aqueles que no dia 31 de outubro
agiram como “avestruzes” — metendo a cabeça na areia para não ver o perigo”?]
agiram como “avestruzes” — metendo a cabeça na areia para não ver o perigo”?]
Sancho Pança revive no snobismo míope dos jovens plutocratas inscritos na A.N.L [Aliança Nacional Libertadora — que favoreceu o PCB naquela conjuntura de 1935], que atiçam o incêndio que ameaça sua classe, esquecidos de que o destino de Judas ou de Philippe Égalité será o fruto de sua vaidosa mania de originalidade.
Sancho Pança revive no imediatismo mesquinho e cúpido de certos políticos de oposição, ou de certos literatos vaidosos que não se incomodam de proteger com um liberalismo de mau gosto aqueles que atacam as bases da nação. Na imprevidência de sua ambição só pensam em gozar de momentânea popularidade e... quem sabe assenhorear-se, por alguns minutos, do poder. Por alguns minutos, dizemos, porque a onda imprudentemente levantada seguirá seu rumo. E ela tragará num futuro bem próximo àqueles mesmos que lhe abriram caminho.
[Pergunto: Não nos faz lembrar da “oposição”
que não fez verdadeira oposição?]
que não fez verdadeira oposição?]
Sancho Pança revive na incúria comodista de muitos cidadãos a quem o Brasil havia confiado a missão sagrada de defender a Religião, a Família, a Propriedade, e que não se pejavam em designar para cargos de máxima responsabilidade os mais encarniçados inimigos dos princípios cuja custódia lhes incumbia como dever sagrado.
Sancho Pança revive no terror dos poltrões que, assustados pelas primeiras chamas do incêndio já dominado, exageram as proporções do perigo, alarmando a população laboriosa, e espalhando em torno de si um terror que, longe de conduzir à reação, conduz ao abatimento e à inércia, paralisando todas as iniciativas boas e inutilizando todas as resistências.
[Pergunto: Isto não nos faz lembrar dos exageros
dos “Institutos de Pesquisas” a fim de favorecer o PT?]
dos “Institutos de Pesquisas” a fim de favorecer o PT?]
Ah! Sancho Pança! Tu que, vestindo farda, beca, toga ou casaca [Hoje, não poderíamos inserir: “batina” ou “clergyman”?], brincas com o fogo ou foges diante do adversário, tu que simbolizas a imprevidência, a incúria, o comodismo, a cupidez imediatista, o medo, tu infeccionaste profundamente o Brasil. As chagas que se abriram foi teu sangue morno e impuro que as rasgou. Tu brincas hoje, tu chorarás amanhã. Mas ouve: aqueles mesmos revolucionários cujo caminho preparas porque és imediatista ou porque és poltrão, eles mesmos te dirão agora, pela boca de um grande anarquista, o futuro que te aguarda se te não emendares. Tu não nos queres ouvir, dizes que cheiramos sacristia e que não entendemos de política. Quando apontamos o perigo tu te ris, dizendo que somos medrosos. E quando o perigo ruge tu foges, e tachas de quiméricos nosso esforço para organizar a reação. Mas se te não impressiona a voz dos que lutam por Deus, ouve a voz de alguém que lutou pelo mal, ouve Proudhon:
E, eis aí, Sancho Pança, o futuro que nos preparas. Mas tu não vencerás o Brasil. Não é possível que uma corte de míopes destroce uma grande nação.— Quando a primeira colheita tiver sido pilhada, a primeira casa forçada, a primeira igreja profanada, a primeira tocha incendiada, a primeira mulher violada;— quando o primeiro sangue tiver sido derramado;
— quando a primeira cabeça tiver caído;
— quando a abominação da desolação reinar em toda a França;
— Oh então sabereis o que é uma revolução social: uma multidão desencadeada, armada, ébria de vingança e de furor; espetos, machados; espadas nuas, martelos; a polícia no seio dos lares, as opiniões suspeitas, as palavras delatadas, as lágrimas observadas, os suspiros contados, o silêncio espionado, as denúncias, as requisições inexoráveis, os empréstimos forçados e progressivos, o papel moeda depreciado, a guerra civil e o estrangeiro nas fronteiras, os pro-consulados implacáveis, um "comitê de salut public", um comitê com o coração de aço:
— eis aí os frutos da revolução dita democrática e social.
Não, Sancho Pança, não! Teus dias estão contados. Não vês essas falanges de moços, que por toda aparte se levantam, trazendo uma cruz na lapela e nos lábios o nome de Maria? Eles são a alma do Brasil que luta, que crê, que espera. Eles são a bênção de Maria, na Terra de Santa Cruz. Por intermédio deles, Maria te esmagará como esmagou a cabeça da serpente!
(“O Legionário”, N.º 186, 8 de dezembro de 1935)
[Por fim, pergunto: Isto não nos faz lembrar dos heróicos brasileiros que de Norte a Sul lutaram denodadamente para desmascarar o erro e a mentira? Eles não combateram em vão. Se continuarem a reação, a eles está reservado o futuro de um Brasil fiel a seu grandioso passado cristão!]
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E-mail para o autor: prccampos@terra.com.br
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2 comentários:
Que a reação conservadora se estruture, e que a opinião publica Católica seja incisiva na oposição aos projetos que visem desestruturar a cristandade de nosso povo.
Mas que entendam que o espaço ocupado pela esquerda no momento é um espaço deixado órfão pela política liberal burguesa. Que se apossa dos postos de mando e se esquece do povo sofrido, obreiro, que vive a míngua nos rincões deste imenso e belo território.
É preciso uma reação – mas uma reação majoritária católica, cristã, não uma reação que tenha um apego ao “dos males o menor”.
Qual o partido católico/cristão? Quais os candidatos CATOLICOS, indicados, apontados, divulgados, “militados” pelos católicos?
Penso que seja necessário uma participação política efetiva, não somente uma ação de bastidores, para os próximos pleitos.
Assim não precisaremos optar pelo “mal menor”, mas pelo principio cristão em todos os níveis da sociedade.
Pelo Bem do Brasil,
Cleiton Oliveira.
Goiás - GO.
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