22 de dezembro de 2013
São Boaventura: Prodígios ocorridos no dia do nascimento do Menino Jesus(*)
Deus libertou sua cidade no dia de hoje, manifestando sua majestade ao povo pecador, não só fazendo nascer o Filho, mas também decorando e adornando com seus milagres o dia, a hora e o tempo da Natividade. Estes são, segundo diversas descrições, os milagres manifestados ao povo pecador no dia do nascimento de Cristo:
1º) Uma estrela brilhantíssima apareceu no céu, do lado do oriente, na qual se via a figura de um belíssimo menino, em cuja cabeça refulgia uma cruz, para manifestar que nascia Aquele que vinha iluminar o mundo com sua doutrina, sua vida e sua morte.
2º) Em Roma, ao meio-dia, apareceu sobre o Capitólio, junto ao sol, um círculo dourado — visto pelo Imperador e pela Sibila —, tendo ao centro uma virgem belíssima, portando um menino, a fim de manifestar que Aquele que nascia era o rei do mundo, que se dava a conhecer como o esplendor da glória do Pai e exteriorização de sua própria substância. Vendo esse sinal, o prudente imperador ofereceu incenso ao menino, e recusou desde então ser chamado deus.
3º) Em Roma desmoronou o templo da paz, a respeito do qual, ao ser construído, os demônios se perguntavam quanto tempo duraria; tendo-lhes sido respondido: até o momento em que uma virgem dê à luz, como sinal de que nascia Aquele que haveria de destruir os templos e as obras pagãs.
4º) Em Roma uma fonte de azeite de oliveira irrompeu e fluiu abundantemente, por muito tempo, até o Tibre, para ficar patente haver nascido a fonte da piedade e da misericórdia.
5º) Na noite da Natividade, as vinhas de Engadda, que produzem bálsamo, floresceram, cobriram-se de folhas e produziram licor, para significar que nascia Aquele que faria o mundo florescer, reverdecer e frutificar espiritualmente, e atrair com seus odores o mundo inteiro.
6º) Cerca de trinta mil rebeldes foram mortos pelo imperador, a fim de manifestar o nascimento d’Aquele que sujeitaria o mundo inteiro à sua fé e arremessaria os rebeldes no inferno.
7º) Todos os sodomitas, homens e mulheres, morreram por toda a Terra, conforme disse Jerônimo, comentando aquele Salmo: “A luz nasceu para o justo”, para evidenciar que Aquele que nascia vinha reformar a natureza e promover a castidade.
8º) Na Judéia um animal emitiu palavras, para que se compreendesse que nascia Aquele que aos bestiais transformaria em racionais.
9º) No momento em que a Virgem deu à luz, todos os ídolos do Egito se espatifaram, segundo o sinal que Jeremias dera aos egípcios quando esteve entre eles, para que se entendesse que nascia Aquele que era verdadeiro Deus, único a ser adorado com o Pai e o Espírito Santo.
10º) Logo que o Menino nasceu e foi reclinado no presépio, um boi e um asno ajoelharam-se e, como se fossem dotados de razão, O adoraram, para que se compreendesse que nascia Aquele que a seu culto chamava o povo judeu e os gentios.
11º) Todo o mundo gozou da paz e se ordenou, para que ficasse manifesto que nascia Aquele que amaria e promoveria a paz universal e os seus eleitos marcaria para a eternidade.
12º) No oriente três sóis apareceram, e aos poucos se transformaram em um só corpo solar, pelo que se mostrava que se aproximava do mundo o conhecimento da unidade e trindade de Deus, e também que a Divindade, a Alma e a Carne em uma só Pessoa convergiram.
Por todos esses milagres nossa alma deve bendizer a Deus e venerá-Lo, porque nos libertou, e sua majestade — com tão grandes milagres — se manifestou a nós, povo pecador.
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(*) Sermão pronunciado por São Boaventura (pintura ao lado), século XIII, em Santa Maria de Porciúncula (Itália). Obras Completas, in Natividade Domini, Sermão XXI. Tradução portuguesa do original latino da edição dos Padres do Colégio São Boaventura, 1901.
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