28 de fevereiro de 2021

O charme do espírito veneziano

  Distinção, dignidade e frivolidade do Ancien Régime numa praça de Veneza 

✅  Plinio Corrêa de Oliveira 

Em minha sala de trabalho [foto acima] tenho um quadro reproduzindo uma pequena praça de Veneza [foto abaixo]. Ela tem um charme que toca nos sentidos, inclusive por seus defeitos, revelando a ‘alma’ e o espírito veneziano. Esse charme impregna o conjunto da praça, a igreja no fundo, as casas e os personagens ali presentes, cujas atitudes características dão a impressão de estarem saindo de alguma representação teatral. 

A igreja, em estilo que parece do século XVII, irradia alguma paz ao conjunto. É quase o contrário do que transparece nas pessoas, entretanto acaba envolvendo-as. Por uma porta aberta da igreja se percebe algo de meditativo e sério, pela presença do Santíssimo Sacramento no sacrário interno, riquíssimo em graças. É o mesmo imponderável de certas igrejas da Itália. 

Campo Santa Maria Formosa, em Veneza, 1741 – Michele Marieschi, séc. XVIII. Museu Correr, Veneza

Essa Veneza do século XVIII tem algo que lembra remotamente a dignidade e distinção próprias do Ancien Régime. Nas pessoas transparece também a frivolidade social daquela época. São habituadas a morar em Veneza e conviver com casas de aspecto um tanto tristonho, com tracinhos de palácio. Elas gostam do estilo, que as eleva a um nível mais alto. 

Esses vários aspectos, onde se misturam laivos de séculos anteriores com algo do século que viria, influenciam as almas dos que ali estão, ou que moram na praça. 

A mistura de todos esses aspectos lembra certos arranjos de sorvetes, quando a groselha e o creme vão se derretendo, alternando dentro do copo suas cores respectivas. Na praça, os seus vários aspectos formam laivos psicológicos — um ice-cream soda indefinido dentro de um copo, que seria aquela pracinha. 
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 19 de janeiro de 1984. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

26 de fevereiro de 2021

Um amigo não é o adulador, mas um segundo eu

O Rei São Luis IX em Damieta (Egito) protegido por cruzados


A respeito do tema "Amizade" seguem algumas frases para reflexão. Refiro-me à Amizade (com A maiúsculo) autêntica, profunda e duradora e não daquela amizade carregada de sentimentalismo romanesco, e que não passa de um afeto efêmero.

“Querer as mesmas coisas, mas não querer as mesmas coisas, é essa na verdade a sólida amizade”. 

(São Jerônimo) 


“Mais amigo é o censor que corrige nossos erros do que o adulador que perfuma nossa cabeça”. 

(Santo Agostinho) 

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”. 

(São João, 15,13) 

“Se queres ter um amigo, adquire-o durante a provação, e não te apresses a confiar nele”. 

(Livro do Eclesiástico 6, 7) 

“Alter ego est amicus” – Um amigo é um segundo eu. 

(Expressão latina) 

“Se vamos ser verdadeiros amigos, é preciso que gostes de mim, e não da minha fortuna”. 

(Cícero) 

“Quem critica o amigo ausente é mau caráter”. 
(Horácio) 

“Amigo de todos, amigo de ninguém”. 

(Sêneca)

25 de fevereiro de 2021

Se o Brasil não quiser ser China


Publicado em “O Legionário” de 8 de novembro de 1936, o artigo com o título em epígrafe trata de questões políticas daquele ano, mas o trecho que segue pode ser aplicado à posição que devemos tomar atualmente em defesa da Igreja e do Brasil. 

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  Plinio Corrêa de Oliveira 

Nós católicos não podemos admitir um cristianismo diluído, só nos contentamos com o cristianismo total. Isto é, só nos damos por satisfeitos quando nos apresentam propostas claras e positivamente de acordo com o catolicismo. Como cidadãos, é certo que poderemos sentir nossas preferências por um ou por outro candidato; porém, como católicos, só pode obter nossa simpatia o respeito ao nosso direito de consciência. 

Com um olhar de inteira neutralidade, assistimos por enquanto às manobras tendentes a consolidar as diversas candidaturas. Desde já devemos declarar, porém, que todos os brasileiros devem colocar acima dos interesses pessoais e mesquinhos, ligados à sucessão presidencial, questões fundamentais cuja solução não poderá e não deverá ser prejudicada pelas lutas políticas, por mais violentas que venham a ser. 

Não cruzaremos os braços enquanto não aparecer uma candidatura que nos fale em alto e bom tom dos direitos da Igreja Católica, Apostólica, Romana, prometendo respeitá-los e apresentando garantias morais suficientes para nos convencer de que tais promessas serão cumpridas. 

Em primeiro lugar, é necessário os dirigentes de todas as forças políticas anticomunistas não se esquecerem de que a Pátria espera deles um combate sem tréguas aos inimigos da Civilização. Mas se a ambição de politiqueiros vulgares puser em risco a paz nacional, a unidade da pátria ou a estabilidade da propriedade e da família, devemos saber que o Brasil só teria diante de si um único destino — o da China. Mas se os brasileiros souberem manter incólumes os grandes princípios católicos que devem nortear sua atividade política, o Brasil poderá enfrentar a tormenta.

23 de fevereiro de 2021

Igreja gloriosa e Igreja miserabilista


Plinio Maria Solimeo

Em sua liturgia, em seus cânticos, nos paramentos, em seus objetos de culto, enfim, em tudo a Igreja se esmerava em representar algo que remetesse ao divino e ao celeste. Isso representava um intuito dela até o Concílio Vaticano II. Tanto quanto possível o Corpo Místico de Cristo procurava refletir a glória do Céu na Terra. 


Procurava a Santa Igreja de Cristo mostrar ao humilde transeunte neste Vale de Lágrimas, um vislumbre do que o esperava na eterna Pátria celeste. Mas infelizmente ela foi se despojando de tudo o que representava de glória e de esplendor para se tornar uma Igreja miserabilista 
[foto], conformando-se com a decadência geral que se abateu sobre o mundo.

Eis um texto transcrito de reunião feita pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a seus discípulos sobre uma canonização assistida por ele na Basílica de São Pedro. Estou certo, dará uma ideia da grandeza sobrenatural que a Igreja Católica manifestava nos seus momentos de glória: 
“Começa a cerimônia de canonização. Tocam os sinos da Basílica de São Pedro — sinos de bronze, com categoria e majestade. Tocam lentamente, mas deles saem vibrações que criam a impressão de que vão mover as estrelas e o mundo. Em certo momento, todo o carrilhão está tocando. Quando os sinos param, ouve-se de longe o som das trombetas. 


São as duzentas ou trezentas trombetas de prata desenhadas por Michelangelo que anunciam o cortejo do Papa que vem chegando. As portas de bronze da igreja de São Pedro se abrem, e começa a entrar o cortejo. O Papa vinha na Sedia Gestatória 
[foto], toda de marfim, com incrustações de prata. E ao seu lado, dignitários carregando flabelli, os leques de pluma enormes, a Guarda Nobre com couraça, a Guarda Suíça e a Guarda Palatina. 

Um cortejo lindíssimo, mas também longuíssimo pois, pelo protocolo da Igreja, os inferiores vêm na frente, e os superiores atrás. Primeiro, eclesiásticos de uma ordem menor. Depois, os superiores gerais das Ordens religiosas. Em seguida, o famoso papa negro — quer dizer, o superior geral dos jesuítas. Encerrando, os Bispos, Arcebispos e Cardeais. Por fim, entrava na Basílica o Papa sob uma tempestade de aplausos. O povo se ajoelhava. 
Nisto, no alto da cúpula da igreja de São Pedro, onde há uma frisa, ouve-se um coro majestoso que canta: “Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam, et portae inferi non praevalebunt adversus eam” (“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela”). Isto, mais os sinos, mais as trombetas, mais o coro, mais os aplausos do povo, o Papa muito ereto, e dando a bênção de um lado e do outro, formava um espetáculo inesquecível, uma coisa extraordinária. 

Vista da cerimônia de canonização de Santa Joana de Valois assistida pelo Prof. Plinio no Vaticano


Quando o Papa passou pela tribuna do corpo diplomático, ajoelhamo-nos. Os diplomatas não católicos, como o nosso vizinho egípcio, faziam uma profunda vênia como diante de um monarca que passa. O Papa — alto, esguio, com as mãos muito brancas, compridas, pareciam de marfim — desce da Sedia Gestatória, vai de tiara ao seu trono, e senta-se. Começa a Missa, que se desenrola com pompa. 

Chegado o momento da Consagração, o Papa levanta-se do trono, vai até o altar da Confissão debaixo das colunas de Bernini [foto abaixo], depõe a tiara, coloca a mitra, tira-a em seguida, e assiste à Consagração de cabeça descoberta. Nesse momento, da frisa da cúpula de São Pedro, as trombetas de prata tocam. 

A impressão era de um toque de anjos tocando no Céu. Pude notar lágrimas que escorriam dos olhos do embaixador do Egito. Ele não estava chorando, mas lacrimejando abundantemente. Eu desviei o rosto para ele se sentir à vontade, e não observado. No fim da Missa o Papa se volta, e dá a bênção do povo. Nova explosão de alegria e toque de fanfarras”. 


 

Paramos aqui o relato do Prof. Plinio. 

A sedia gestatória do Papa Pio VII, atualmente em exposição no Palácio de Versailles


Voltemos agora os olhos para os tristes dias que correm. O papado, como dissemos, sobretudo depois do Concílio Vaticano II, foi se despojando uma por uma de suas antigas grandezas. Comecemos pela Sedia Gestatória [foto], que tão bem manifestava o alto grau da importância do Doce Cristo na Terra que nela se sentava. Tinha se incorporado tão bem à vida da Igreja, que um cortejo papal ficaria pobre sem ela.

O último Papa a usá-la foi João Paulo I, por ocasião do início de seu pontificado. Posteriormente ele a abandonou, deixando aos seus sucessores o direito de decidir ou não pela sua reintrodução, o que nunca foi feito. Veio depois a vez da Tiara [foto abaixo], essa tríplice coroa que tem como um de seus significados que o Sumo Pontífice é o Pai dos Reis, Pastor do Mundo, e Vigário de Cristo. 





A partir do século VIII ela passou a ser usada pelo Papa em sua coroação e ocasiões solenes. Entretanto, esse altíssimo símbolo do Papado foi simplesmente abolido no dia 3 de novembro de 1964 por Paulo VI, numa demagógica doação de seu ouro e prata aos pobres de Roma. 


Os Flabelli — elegantes leques — [foto] tiveram uma origem muito corriqueira como a de afastar insetos da Hóstia Consagrada, foram depois adicionados ao cortejo pontifício, aumentando seu esplendor. Depois do Vaticano II foram também abolidos, bem como as trombetas de prata praticamente não se ouviram mais tocar. O majestoso coro da Capela Sistina foi reduzido a um mínimo. 

E a Guarda Nobre? [foto abaixo à direita] Formada por Pio VII em 1801, essa guarda pessoal do Papa tinha um recrutamento voluntário entre os membros das famílias nobres italianas. Não tinham soldo, embora recebessem uma compensação pelo uniforme que envergavam. Foi também o Papa Paulo VI que, em 1970, a aboliu, fazendo esse gesto pouco louvável à Igreja. 

Coube também a esse Pontífice suprimir, ao mesmo tempo, a Guarda Palatina [foto abaixo à esquerda], uma das forças de segurança do Vaticano que serviam ao Papa. Sua grande glória ocorreu em 1943, quando a Alemanha nazista ocupava Roma, e a Guarda Palatina foi encarregada de proteger o Vaticano e suas várias propriedades. 


Em mais de uma ocasião este serviço acabou resultando em violentos confrontos com a polícia da Itália fascista, aliada dos alemães. Essa Guarda era formada sobretudo por lojistas romanos e empregados de escritório, e era um dos adornos dos cortejos papais. Resta apenas — por quanto tempo? — a Guarda Suíça [foto no final], formada em 1506, e responsável pela segurança do Papa. Hoje constitui as forças armadas da Cidade do Vaticano. 

Hoje. O Papa Francisco foi quem mais demoliu a Igreja de seus ornamentos, tanto em suas vestes quanto nos inúmeros adornos que a enriqueciam, como a Estola pontifícia, de veludo com bordados a ouro, que os Papas usavam como símbolo supremo do sacerdócio e submissão a Deus. Ele também deixou de lado a moseta — manto curto vermelho de veludo com borlas de arminho, colocado sobre os ombros, simbolizando a autoridade espiritual — assim como o chapéu e os sapatos vermelhos. 




Para a dessacralização da Igreja, o Papa Francisco tem concorrido muito com o seu modo de ser e de agir vulgar, que o levou a não habitar, como todos os Papas anteriores, no Palácio Apostólico, preferindo viver como um bispo comum na residência de Santa Marta, que serve de hospedagem aos eclesiásticos de passagem por Roma. 

Para não falar em toda desfiguração da liturgia, principalmente a da Missa, que foi despojada de todo significado transcendental, para hoje se transformar numa desordem em que cada sacerdote improvisa, a seu bel prazer, segundo sua imaginação ou falta dela. Tudo isso nos leva a ter uma pálida ideia do tombo que houve de Pio XII para cá. 

Uma cerimônia da Igreja de hoje dificilmente será capaz de emocionar um muçulmano, levando-o a lacrimejar, como no cenário descrito acima. Que a Santíssima Virgem, Mãe da Igreja e nossa, tenha pena dela, e a faça ressurgir como nos tempos de seu maior esplendor.




11 de fevereiro de 2021

CURAS INEXPLICÁVEIS, MAS COMPROVADAS


Bureau médico de Lourdes demonstra com todo rigor, exatidão e seriedade quando as curas são consideradas milagrosas


✅ Fonte: Revista Catolicismo, Nº 842, Fevereiro/2021

O médico italiano Alessandro de Franciscis [foto] — membro da Associação Médica Internacional de Lourdes, primeiro presidente não francês desse Bureau, há 11 anos à frente do Laboratório de Constatações Médicas — começou a se interessar aos 17 anos pelos milagres ocorridos em Lourdes, quando se apresentou como voluntário. Numa entrevista para a revista australiana The Record* (6 de fevereiro de 2020), ele descreve o processo no laboratório para julgar os casos apresentados como medicamente inexplicáveis e tidos como milagrosos. 


“Eu gosto de dizer que sou o único médico de que as pessoas realmente não precisam, porque elas só vêm a mim quando estão curadas [...]. Tenho sido muito privilegiado com o que vejo, e a parte mais interessante e emocionalmente impactante do meu trabalho é ouvir relatos muito íntimos e pessoais de vidas e histórias que mudaram completamente por causa de Lourdes. 

“Às vezes alguém me pergunta qual foi a cura mais espetacular que presenciei, ou a coisa mais linda que aconteceu em Lourdes. Mas, na verdade, acho que a coisa mais espetacular aqui é encontrar outros seres humanos de diferentes culturas e continentes, com diferentes línguas, e descobrir que, pela generosidade de Nossa Senhora de Lourdes, suas vidas, independentemente da cura, mudaram radicalmente. Porque foi aqui em Lourdes que descobriram o amor maternal de Maria, a Mãe de Jesus [...]. 

“O Bureau foi fundado com a ideia de recorrer à Medicina, e pedir aos médicos seu julgamento e avaliação antes mesmo de iniciar qualquer análise religiosa e canônica de um possível milagre [...]. 

“Em 2019 recebemos mais de quatro mil médicos, que passaram algum tempo em Lourdes e nos informaram que estavam dispostos a colaborar no estudo, discussão e alteração de expediente de supostas curas. Com este método de estudo colegiado, estudamos cerca de 7.500 casos desde a fundação do Bureau, usando a partir de 1905 o mesmo método da Congregação Romana para as Causas dos Santos. 

“Os sete critérios foram formulados pelo então cardeal Lambertini, arcebispo de Bolonha (posteriormente Papa Bento XIV), em sua importante obra conhecida como De Servorum Dei Beatificatione et Beatorum Canonizatione (Sobre a beatificação dos Servos de Deus e a canonização dos bem-aventurados), que também descreve as maneiras de reconhecer uma cura como potencialmente milagrosa.” 
Os membros do Laboratório de Constatações Médicas entrevistam Catherine Lapeyre, curada milagrosamente de um câncer na língua, em 1889. Quando esteve em Lourdes, ela lavou sua boca com água da fonte.

Exclusivamente provas de curas inequívocas 

A seguir, os sete referidos critérios indispensáveis para se registrar como milagrosa alguma cura em Lourdes:** 
“1 – Primeiro, é preciso saber de que enfermidade padecia o doente. Quer dizer, é obrigatório apresentar um diagnóstico seguro da doença da qual se foi curado. 

2 – Se o prognóstico (evolução que cabia esperar da doença) era grave. Não se analisam casos leves. 

3 – A cura deve ter ocorrido de forma inesperada, sem sinais premonitórios. Quer dizer, não pode ter sido ‘aos poucos’. 

4 – A cura deve ter sido instantânea. 

5 – A cura tem que ter sido completa. 

6 – Ela tem que ter sido duradoura. Passados os anos, não se pode detectar a enfermidade. Por isso é necessário esperar antes de se aprovar o milagre. 

7 – Finalmente, temos um sétimo e último critério. Se tivermos todos os itens acima, precisamos saber se existe alguma explicação médica possível para a cura. 
“Em alguns casos, encontramos uma explicação. Ela ocorre com o enorme número de pessoas que vêm reivindicando a cura do câncer, por exemplo, mas podemos descobrir que elas fizeram algum tipo de tratamento – como imunoterapia, quimioterapia, radioterapia, e assim por diante [...]. 


“Mas existem outros casos raros em que podemos chegar a definir uma cura como inexplicável de acordo com os conhecimentos médicos atuais; é o que basicamente chamamos na medicina acadêmica de regressão espontânea de uma doença grave, onde temos a certeza de que a pessoa adoeceu de uma doença conhecida, e foi curada de uma forma para a qual não temos explicação. Entretanto isso não quer dizer que todas as outras curas que ocorrem não possam ser milagres. Mas para uma cura ser oficialmente declarada milagrosa, absolutamente todas as explicações científicas possíveis devem ser excluídas. 

“Trabalhando com esse método, milhares de casos foram estudados, e mais 63 foram então reconhecidos como milagrosos, junto com os primeiros sete reconhecidos pelo bispo no momento das aparições. O último foi em 11 de fevereiro de 2018, para perfazer um total de 70 casos oficialmente declarados como milagrosos [...]. 

“Considero que temos uma grande necessidade, na comunidade cristã e na Igreja Católica, de redescobrir a relevância da experiência de sofrer doenças, e do conforto e apoio que nossa fé católica pode dar a isso [...]. 

“Na minha experiência, estamos de alguma forma esquecendo a poderosa mediação que Jesus pode dar, e a importância dos Sacramentos como a Unção dos Enfermos. Portanto, creio que Lourdes ainda está aqui para ensinar isso, e continua a ser um lugar onde os peregrinos com alguma doença se sentem bem-vindos como convidados de honra”. 
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* https://therecord.com.au/news/feature/mixing-faith-and-science-behind-the-miracles-at-lourdes/ 
** https://www.religionenlibertad.com/cultura/724885355/lourdes-curacion-milagrosa-exigentes-criterios-responsable.html

8 de fevereiro de 2021

LOURDES — Graças, milagres e a conformidade com o sofrimento


Lugar abençoado com a fonte de milagres suscitada pela Santíssima Virgem, onde Ela estabeleceu seu Trono, revela especialmente sua bondade e mostra que é nossa Mãe 

✅ Fonte: Revista Catolicismo, Nº 842, fevereiro/2021

Difusor incansável da devoção à Santa Mãe de Deus, Plinio Corrêa de Oliveira costumava repetir com São Bernardo a máxima “de Maria nunquam satis” (Nunca nos cansamos de Maria). Podemos afirmar também que ‘de Lourdes nunquam satis’, pois jamais se ficará saciado e nunca se dirá o bastante. 

Não há palavras suficientes para enaltecer os inúmeros milagres operados em Lourdes — cientificamente comprovados, com grande rigor, por equipes médicas que desmentem qualquer incrédulo. Nem palavras suficientes para falar dos relatos de peregrinos que marram as maravilhas que presenciaram quando lá estiveram e voltaram curados ou reconfortados em seus sofrimentos. 

Sendo a festividade de Nossa Senhora de Lourdes a principal celebração marial deste mês, a matéria de capa da edição de Catolicismo [foto acima] expende aspectos diferentes dos já expostos ao longo dos anos na revista. Os leitores encontrarão informações preciosas, convidando-os a percorrer em espírito aqueles benditos lugares às margens do rio Gave, junto aos Pirineus. 

Podemos pedir à Imaculada Conceição — título dogmático com que Ela se apresentou a Santa Bernadette na 16ª aparição (25 de março em 1858) — as graças, ou mesmo milagres, de que mais necessitamos neste ano sombrio, pandêmico e carregado de apreensões; mas também de esperanças na intervenção da Divina Providência. 


Não nos esqueçamos de rezar também pelo restabelecimento da Igreja e do mundo, abalados pela autodemolidora crise atual. Os pedidos podem ser feitos preferencialmente diante de uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes (ou da Imaculada Conceição). Aos que residem na capital paulista, será proveitoso visitar uma imagem muito especial [foto], de acordo com a informação do Prof. Plinio: 
“Na igreja do Sagrado Coração de Jesus há uma gruta com uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes. Não é uma imagem qualquer, é a própria imagem que era venerada na Basílica de Lourdes, na França, antes da imagem atual, segundo documento guardado na igreja. Portanto, essa imagem constitui um elo entre Lourdes e o Brasil”. 
Desejamos a todos uma profícua leitura, com bons frutos para a vida espiritual de cada um. Certamente serão concedidos por intercessão d’Aquela que é fonte de todas as graças, a bondosa medianeira entre Deus e os homens. 
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* Para fazer uma assinatura da revista Catolicismo envie um e-mail para catolicismo@terra.com.br

3 de fevereiro de 2021

O momento atual está mais para violino ou para espada?


H
oje me caiu nas mãos um artigo bem dos tempos de antigamente — redigido há 86 anos! Velha a questão nele abordada, mas, ao mesmo tempo, muito nova, pois trata de um problema com o qual hoje nos deparamos quando falamos de liberdade de expressão, quando defendemos o sagrado direito de propriedade e a instituição familiar.

Por isso, aqui reproduzo tal artigo para apreciação de nossos leitores. Com o título abaixo, o texto é de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira e foi publicado no “O Legionário”, Nº 184, em 10 de novembro de 1935. 


ENTRE A ESPADA E O VIOLINO 

É com pesar que registramos nesta coluna as declarações do líder Henrique Bayma, relativas à liberdade de cátedra. O Sr. João Carlos Fairbanks manifestou sua estranheza por ter a Câmara Estadual aprovado uma subvenção à Escola de Sociologia e Política, uma de cujas cátedras está confiada a um professor que faz em plena aula a mais clara campanha comunista. Em réplica, o líder Henrique Bayma afirmou - transcrevemos textualmente o “Estado de S. Paulo” – que “... a cátedra é livre. A chamada lei de segurança contém um artigo repetindo este princípio indiscutível: que é livre, a quem quer que seja, pregar idéias sejam elas quais forem. Só o que não é possível é fazerem propaganda por meios violentos. De maneira que, em qualquer hipótese, seria uma intolerância restringirmos a liberdade de cátedra”. 

Assim, pois, para o porta-voz do Partido Constitucionalista na Câmara dos Deputados, só a pregação da violência deve ser reprimida. Mas se pregar o amor livre, a supressão da propriedade ou a destruição da Religião por meios pacíficos, a maioria parlamentar estará disposta a cruzar os braços.

Proceder por esta forma é ignorar as condições sociais contemporâneas. Faça-se a pregação de qualquer doutrina como quer o Dr. Henrique Bayma, persuadam-se às massas de que a família é uma instituição burguesa destinada a perecer. E responda-nos S. Exa. o que será da moralidade pública, depois de arraigada esta convicção no espírito do povo. 

Convença-se este de que a Religião é a cocaína com que a burguesia anestesia os padecimentos da massa, e conte-nos, depois, Sr. Henrique Bayma, em que estado de devastação ficarão os nossos bons costumes particulares e públicos, já tão débeis

Persuada-se o povo de que a propriedade é ilegítima, e responsabilize-se o Sr. Henrique Bayma se tiver coragem, pela ordem pública material, de cuja conservação S. Exa. faz a suprema finalidade do Estado. Quem conterá as massas sem moral e sem Fé, para evitar que elas se atirem contra a propriedade privada que durante tantos anos lhes foi apontada como iníqua? Por que esperarão elas pacientemente que se suprima a propriedade individual por via pacífica e legislativa? Merecem porventura as imposturas tamanha consideração? E quando as massas se atirarem sobre os lares e as Igrejas, de que forma se há de lhes levantar barreira? Não se conte com os soldados, que são filhos do povo e estarão ao lado da massa. Com quem conta o Sr. Henrique Bayma para empunhar os fuzis que os soldados não quererão manejar? Com alguma coligação lírica de bacharéis liberais? 

Narra-se que quando Bizâncio foi invadida pelas tropas turcas, em um suntuoso edifício se encontrou um bizantino, cidadão prestante, que em lugar de empunhar a espada na defesa da Pátria, tocava violino enquanto seus compatriotas morriam no cumprimento do dever. Com um golpe de espada foi morto sob o riso sarcástico dos adversários e entrou para a História como símbolo da imprevidência e da inércia. 

Ao Partido Constitucionalista incumbem, no momento, gravíssimas responsabilidades. É nas suas mãos que está depositada a espada cortante e augusta da autoridade pública. Se, neste momento de perigo, ele a deixar de lado para vibrar as cordas líricas do liberalismo bacharelesco, não merecerá ele a celebridade que alcançou o violinista de Bizâncio? 

Parece, em todo o caso, que o violino exerce atrativo maior que a espada. É ao menos o que nos dá a entender a Prefeitura, que mais uma vez prepara o Carnaval Oficial. 

Uma Comissão de Divertimentos Públicos nomeada pela Prefeitura, já está preparando todas as providências para que seja bem completa a devastação dos lares e de honras. (...) 

Em um País em que o governo cruza os braços diante da demagogia e se cinge com a coroa suspeita de Rei Momo; em um País em que a oposição silencia diante deste espetáculo, julgando dignas de sua atenção apenas as cifras orçamentárias, o que há a fazer? 

Católicos: estais com a palavra, respondei.