8 de setembro de 2024

VENEZUELA — Eleições descaradamente roubadas. O triste papel da diplomacia brasileira tentando salvar o caudilho venezuelano


Nas recentes eleições na Venezuela, também o governo petista perdeu. Com a atuação de Lula e Amorim, o Brasil saiu apequenado e envergonhado; foi ridicularizado por querer favorecer o governo comuno-chavista e não o povo venezuelano cruelmente perseguido, esmagado pela tirania.


Fonte: Editorial da Revista Catolicismo, Nº 885, setembro/2024


As prisões da Venezuela estão abarrotadas e Nicolás Maduro prometeu construir ainda mais. Ele quer intimidar a população. Quantos venezuelanos a mais serão encarcerados? Quantos terão que morrer ou fugir de seu país antes que o mundo finalmente tome uma atitude eficaz para salvá-los? 

As recentes eleições na Venezuela foram descaradamente roubadas. O ditador foi declarado vencedor por órgãos que lhe obedecem como empregados; se não fizerem o que o patrão manda, são despedidos, mandados para a rua... ou para a cadeia.

Contra a fraude eleitoral, as reações internas e externas foram grandes. Entretanto, pelo menos por enquanto, não suficientes para garantir que o candidato eleito, Edmundo González Urrutia, possa assumir seu mandato em janeiro próximo. Ele obteve uma vitória esmagadora, escolhido pelos eleitores com quase 70% dos votos, conforme comprovado por apurações independentes. 

Se ele não assumir, não haverá mudança no governo; ficará patenteado que a “Revolução Bolivariana” — ou o “Socialismo do século XXI” iniciado por Hugo Chávez — não passa de um regime verdadeiramente comunista. E a Venezuela, como Cuba, na extrema miséria, só sobreviverá vendendo-se à China e a outras ditaduras marxistas, que, em compensação, vão sugando suas fabulosas riquezas. 
Lula com os ditadores Raul Castro
e Nicolás Maduro
Neste trágico panorama, o Brasil — devido ao governo petista, sobretudo por parte de Lula da Silva e Celso Amorim — está sendo ridicularizado. Com suas atuações ideológicas anacrônicas, desprovidas de senso diplomático e de clara visão política, ambos tentaram arranjar uma saída honrosa para o derrotado ditador chavista. A maioria dos venezuelanos ficou percebendo quem é realmente Lula, ou seja, um apoiador incondicional do caudilho que submete seu povo à pior das tiiranias. 

Esta e outras questões conexas são expostas na matéria de capa da edição da revista Catolicismo deste mês [foto no topo]. Lendo-a, talvez venha à lembrança do leitor os versos da canção Triste España, de Juan del Encina, cujo primeiro verso aplica-se a essa grande nação espanhola e poderia ser adaptado à nação vizinha: “Triste Venezuela sin ventura. / Todos te deben llorar. / Despoblada d'alegría, / para nunca en ti tornar”. 

Mas estamos convictos de que tanto a Espanha de São Fernando de Castela, do Cid Campeador — entre outras impressionantes figuras de sua história épica e milenar — ressurgirá da presente crise, quanto a Venezuela. Quem viver, verá!

7 de setembro de 2024

Natividade de Nossa Senhora — data que nos enche de alegria

Afresco “Nascimento da Virgem” (entre 1486 e 1490), na Capela Tornabuoni da Igreja Santa Maria Novella (Florença). Obra o artista florentino Domenico Ghirlandaio (1449 – 1494).


O dia da Natividade de Maria Santíssima consiste para a humanidade em imenso gáudio, prenúncio do nascimento do nosso Redentor 


Ninguém esquece, e com toda razão, o aniversário de sua própria mãe. Porém, infelizmente, há católicos que esquecem o dia natalício da Santíssima Mãe de todas as mães, Mãe de Deus e nossa também. 

A festa do nascimento de Nossa Senhora é comemorada a 8 de setembro. 

A fim de fixarmos bem essa magna data, e não nos esquecermos de a celebrar condignamente todos os anos, apresentamos a seguir admirável comentário de Plinio Corrêa de Oliveira, proferido durante conferência comemorativa desse augusto aniversário, em 1965.

* * * 

“Como Nossa Senhora é a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, tudo quanto se pode dizer do Natal, guardadas as devidas proporções, pode-se dizer da Natividade de Nossa Senhora. Assim, a Natividade da Santíssima Virgem também deve ser ocasião para nós de todas as alegrias, todas as impressões, todas as graças da noite de Natal. 

A salvação veio ao mundo com o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, de algum modo, esta afirmação é também verdadeira em relação à Natividade da Mãe do Salvador.

Porque, se é verdade que o único Salvador é Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, com sua oração onipotente, pediu e apressou a vinda do Messias que já estava prometida. 

Pode-se dizer portanto que, de certo modo, com Ela veio a salvação. 

O Natal representou uma honra incomparável para a humanidade, porque o Verbo Encarnado veio ao mundo na noite de Natal. Mas é também verdade que — repito, guardadas as devidas proporções — representou uma honra enorme para a humanidade o nascimento de Nossa Senhora. 

A criatura mais perfeita nascida em todos os séculos; uma criatura concebida sem pecado original, trazendo em si uma plenitude de graças para todo o mundo. Compreendemos assim como a Natividade da Virgem é parecida com a noite de Natal”. 

(Fonte: Revista Catolicismo, setembro/2003

3 de setembro de 2024

MADURO NOS PASSOS DE FIDEL CASTRO

 

    ✅  Paulo Roberto Campos

Em meio a uma das mais graves crises que atravessa a Venezuela devido às recentes (roubadas) eleições — bem como a um “apagão” que atingiu 80% do território —, o ditador Nicolás Maduro decretou que neste ano o Natal será antecipado... Segundo ele, para manifestar sua gratidão ao povo por tê-lo escolhido para um terceiro mandato. 

"Vou decretar o adiantamento do Natal para o dia 1º de outubro", declarou ele durante seu programa de auditório semanal na televisão, no último dia 2. “No dia 1º de outubro começa o Natal para todos e todas(sic!). Chegou o Natal com paz, felicidade e segurança".

Será uma loucura a mais do ditador para que o povo comece a falar de outra coisa e não mais do “apagão” e, sobretudo, das tão evidentes fraudes eleitorais? Como se sabe ele só obteve aproximadamente 30% dos votos, enquanto que o opositor, Edmundo González Urrutia [foto ao lado], quase 70%. Tudo comprovado por instituições independentes. 

Entretanto, o Supremo da Venezuela, assim como o Conselho Nacional Eleitoral, declararam que Maduro foi o vencedor... e ponto final ! Já vimos esse filme (várias vezes). Assim funcionam das ditaduras marxistas. 

Vitelio Brustolin, pesquisador de Harvard e professor de relações internacionais, resumiu muito bem este decreto tão adoidado, dizendo que se trata de "cortina de fumaça para a fraude eleitoral [...]. É uma distração, enquanto continua a prender opositores.” 

Maduro pediu o encarceramento do candidato eleito González. E ontem a Procuradoria-Geral da Venezuela oficializou o pedido a um tribunal especializado em crimes de terrorismo e, logo em seguida, o Ministério Público emitiu a ordem de prisão. Ou seja, obedeceu exatamente a ordem do sucessor de Hugo Chávez. Tal órgão acusou González de práticas de crimes terroristas relacionados às eleições, “incitação à desobediência às leis e conspiração". 

O bizarro decreto de Natal antecipado me trouxe a lembrança de um artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (“Folha de S. Paulo de 13-12-1970) com o título “Açúcar amargo, Natal sem luzes”. 

Entre outros acontecimentos, o brilhante articulista comenta uma notícia, publicada pela própria “Folha de S. Paulo”, sobre uma declaração de Fidel Castro prorrogando para outra época as festas tradicionais de Natal e Ano Novo. 

“Ao declarar-se ‘respeitador das tradições’ Fidel Castro entretanto assinalou ‘São muito cristãs, muito belas e muito poéticas, porém constituem um fenômeno subjetivo que nos trouxeram da Europa’"

Então o Prof. Plinio escreveu: 
“Assim, para Fidel Castro o Natal não passa de ‘um fenômeno subjetivo que nos trouxeram da Europa’. Este o homem que desceu de Sierra Maestra ostentando um enorme rosário ao pescoço para embair os católicos de seu país. Cuidado, leitor, cuidado. Não dê crédito a alguém só porque se diz católico. Estamos na época da hipocrisia, em que Satanás por vezes se faz sacristão, por vezes padre e... prefiro não continuar. 

*   *   * 

"Leitor amigo, posso pedir-lhe algo para o Natal? Posso pedir-lhe o presente de uma prece? 

“Quando rezar ao pé do presépio, ou quando se sentar feliz para a ceia de Natal, lembre-se do Natal negro, sem festas nem luzes, de um povo irmão que nessa mesma noite, a essa mesma hora, está na escuridão, dormindo exausto para retomar no dia imediato a produção do açúcar amargo, resultante do trabalho escravo. Lembre-se de Cuba [...]. 

“E reze pelo Brasil, caro leitor, para que jamais lhe ocorra desgraça igual”. 

Agora, devido à apocalíptica situação de nossos irmãos venezuelanos, devemos rezar também por eles. Supliquemos a Deus que eles não permitam acontecer na Venezuela o que ocorre com Cuba: Já tendo passado mais de 50 anos pisados pelas botas do barbudo do caribe, os cubanos ainda não conseguiram ficar livres da tirania comunista. Que os venezuelanos não esperem tanto... e já nos próximos dias consigam ficar livres do despótico governo comuno-chavista.

30 de agosto de 2024

CORPO INCORRUPTO DE SANTA TERESA D´ÁVILA


  Paulo Roberto Campos 

"Hoje (28 de agosto) o túmulo de Santa Teresa foi reaberto, e verificamos que ele está nas mesmas condições de quando foi aberto pela última vez em 1914", declarou Marco Chiesa, postulador geral da Ordem dos Carmelitas Descalços. 

Ele acrescentou que “As partes descobertas, que são o rosto e o pé, são as mesmas de 1914. Não há cor, nenhuma cor de pele, porque a pele está como que mumificada, mas se pode vê-la, especialmente no meio do rosto. Parece bom. Os especialistas médicos quase conseguem ver o rosto de Teresa claramente.” 

A exumação do corpo de Santa Teresa foi realizada para se confirmar se ele havia permanecido incorrupto desde a descoberta em 1585. Desde sua morte em 1582, ele permanece na Basílica da Anunciação, em Alba de Tormes (Noroeste da Espanha), exceto algumas relíquias que foram enviadas a outras igrejas para veneração. 

Conforme notícia do LifeSite (29-8-24), "Abrir o caixão de Santa Teresa é um processo complicado, envolvendo 10 chaves. Três das chaves são mantidas em Alba de Tormes, três emprestadas pelo Duque de Alba e três mantidas em Roma pelo Padre Geral Carmelita Descalço, junto com a chave do rei. As três primeiras chaves são usadas para abrir a grade externa, as três segundas para abrir o sepulcro de mármore e as outras quatro são usadas para abrir o caixão de prata" [vídeo abaixo]. 

Agora, como explicou Marco Chiesa, dar-se-á prosseguimento a pesquisas para “verificar aspectos da vida da santa, como suas doenças, como está o estado de conservação do corpo para ver como é possível intervir para preservá-lo por séculos”

Se esse extraordinário milagre de Deus preservou o corpo da grande Santa Teresa até hoje, 442 anos depois de sua morte, certamente Deus o preservará para sempre. Por isso, ficou meio incompreensível as palavras do postulador “para ver como é possível intervir para preservá-lo por séculos”

Como não foi preciso nenhuma intervenção humana para preservá-lo até hoje, parece-me melhor não intervirem, mas confiarem, deixar tudo nas mãos de Deus. Neste caso, os cientistas só podem confundir e atrapalhar...

23 de agosto de 2024

Com a leitura, poderosos efeitos benéficos às crianças



O acadêmico espanhol Miguel Salas alertou contra a procura de lazeres fáceis, como o de ficar paralisado diante a TV ou do celular lesando o futuro de crianças e jovens. 

Para o acadêmico, as crianças que se habituam a ler desde pequenas, colhem benefícios ao longo de toda a vida: superioridade na carreira, melhorias sociais e individuais, habilidades de comunicação, capacidade de se expressar e compreender melhor. 

Também é óbvio o aumento do vocabulário, os bons resultados escolares, a empatia bem direcionada, o esquecimento das preocupações danosas e a concentração até tocar na meditação.

 

20 de agosto de 2024

SÃO PIO X — Fortaleceu a igreja, fulminou a heresia

 


Neste mês a Santa Igreja celebra 110 anos do trânsito de São Pio X ao Céu, ocorrido em 20 de agosto de 1914. O único Papa canonizado no século XX, ele combateu intrepidamente a heresia modernista, reformou o clero, recodificou o Direito Canônico e incrementou admiravelmente a piedade católica.

  Plinio Maria Solimeo

 

Quando faleceu Leão XIII, em 1903, a expectativa geral era quem manobraria o leme de Pedro naqueles tempos já tão conturbados.

O mundo estava febrilmente contagiado pelo liberalismo anticlerical, um dos perniciosos frutos da Revolução Francesa que tornavam tensas as relações entre a Sé Apostólica e várias nações europeias. A revolução industrial, por sua vez, criava situações propícias à propaganda dos princípios marxistas da luta de classes e do anarquismo no meio proletário nascente.

A situação era crítica inclusive nas nações católicas. Na Itália, um governo usurpador e violento privara o Romano Pontífice de seus Estados, confinando-o ao Vaticano, e criava empecilhos à ação da Igreja. Na França, uma oligarquia maçônica –– cujos expoentes eram Briand, Clemenceau, Waldeck-Rousseau e Combes –– impôs a aprovação de diversas leis frontalmente antirreligiosas, preparando terreno para a separação entre a Igreja e o Estado em 1905.

Portugal via-se às voltas com a fermentação revolucionária que culminaria no assassinato do rei Dom Manuel e do Príncipe herdeiro em 1908, e com a proclamação da República dois anos depois. Sem falar de uma série de medidas contra a Igreja, como a expulsão dos jesuítas, a supressão de congregações religiosas e a aprovação do divórcio.

Também na outrora fiel e católica Espanha os ventos liberais e anarquistas sopravam com violência, chegando-se à tentativa de assassinar o rei Afonso XIII no próprio dia de suas bodas. E o império Austro-Húngaro apresentava tantos sintomas de decadência religiosa e moral, que a todo instante se temia sua ruína.

Não menos trágica para Igreja e a civilização cristã era a situação no maior bloco católico do universo, a América Latina, onde as jovens nações emulavam em impiedade com suas maiores europeias.

No Brasil, a célebre “Questão Religiosa” conseguira levar à barra dos tribunais e condenar à prisão perpétua com trabalhos forçados o intrépido bispo de Olinda, Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira. No Equador, líderes católicos são perseguidos e forçados a exilar-se. No México, as nuvens da tormenta revolucionária já se acumulavam no horizonte para pouco depois se desencadearem numa das mais cruéis e implacáveis perseguições religiosas conhecidas pelo mundo moderno.

Sobretudo, no próprio interior da Igreja a situação era grave. Erros filosóficos muito em voga, como o naturalismo, o racionalismo e o cientificismo, ao par de forte liberalismo, influenciavam extensamente a teologia e deturpavam a fé, ao mesmo tempo que esfriavam nas almas o amor de Deus.

Tais erros haviam penetrado a fundo em amplas camadas do Clero, em estabelecimentos de ensino, mesmo em seminários, criando um espírito de novidade e de revolta crescente que ameaçava fazer soçobrar a Barca de Pedro, não tivesse ela a promessa da perenidade.

Para fazer face a esse terrível panorama, tornava-se necessário o advento de um Papa que se colocasse entre os maiores da História da Igreja. Por obra do Divino Espírito Santo, que não abandona a Sua Esposa Mística, e a rogos de Maria, o mundo teve o Pontífice de que necessitava: Giuseppe Sarto, Patriarca de Veneza, eleito com o nome de Pio X.

 

Entrada do Monsenhor Giuseppe Sarto em Veneza como Patriarca (24-11-1894). 

Suave... mas forte

Quem era Pio X, o novo Papa de cuja bondade e doçura tanto se falava em Veneza, de onde viera como Cardeal-Patriarca? Um “conciliador”, pensava o Governo italiano, entendendo por essa designação um homem fraco, pronto a entrar em acordo com a Revolução. Entretanto, a famosa bênção Urbi et Orbi, o primeiro ato do Pontífice, foi dada de um dos balcões internos da Basílica de São Pedro para ratificar o protesto de seus antecessores contra a tomada de Roma pelas tropas revolucionárias.

Um “cura rural”, não habituado às pompas do Vaticano nem ao trato com os grandes, pensavam os embaixadores e enviados de potências estrangeiras. Não foi a impressão que Pio X deixou após a primeira audiência geral, quando o representante da Prússia, exprimindo o pensamento dos demais diplomatas, perguntou a Mons. Merry del Val, Secretário de Estado interino, ao sair da Sala do Trono: “Diga-nos, Monsenhor, o que há nesse homem que tanto atrai? Um Santo –– dirá esse eclesiástico, posteriormente elevado a Cardeal, que teria um papel tão importante nesse Pontificado ––, porque ele é um homem de Deus”.(1)

Para o Abbé de Cigala, capelão do Conclave, “a força dos traços e a doçura do olhar, frutos de uma vida interior e fé” ardentes, faziam crer “numa ressurreição do imortal Pio IX”.(2) Mas, esclarece o Cardeal Mercier, Arcebispo de Malinas, na Bélgica: “A invencível gentileza do Santo Padre nada tinha do sentimentalismo dos fracos: Pio X era um forte”(3)

Isso o reconheceu também o ex-chanceler do Império alemão, o Príncipe Von Bülow, conta ao Cardeal Merry del Val, após uma entrevista: “Eu me encontrei com muitos monarcas e legisladores, mas raramente encontrei em algum deles uma tão remarcável percepção da natureza humana ou um conhecimento como o que Sua Santidade possui das forças que governam o mundo e a sociedade moderna”(4). E, realmente, proclamará muito depois Pio XII que, “com seu olhar de águia mais perspicaz e mais seguro que a curta vista dos míopes raciocinadores, via o mundo tal qual era, via a missão da Igreja no mundo[...] e seu dever no seio de uma sociedade descristianizada [...] contaminada pelos erros do tempo e pela perversidade do século”.(5)

 

“Restaurar tudo em Cristo”

O Pontificado de São Pio X
pode ser sintetizado no roteiro por ele 
traçado em sua Encíclica-Programa:
 “Restaurar tudo em Cristo”.
O historiador R. Aubert afirma que São Pio X foi essencialmente um reformador –– o maior deles depois do Concílio de Trento(6) ––, e que a reforma por ele empreendida era bem exatamente o contrário da desejada hoje por tantos eclesiásticos para os quais reformar significa incorporar à Igreja os erros modernos. Para o Santo, reformar foi extirpar da Igreja as heresias que nela se haviam introduzido. E o já referido Cardeal Mercier se pergunta: “Se houvesse na Igreja, na época de Lutero e Calvino, um Papa da têmpera de Pio X, teria conseguido o protestantismo levar um terço da Europa ao rompimento com Roma?”(7)

O Pontificado de São Pio X pode ser sintetizado no roteiro por ele traçado em sua Encíclica-Programa: “Restaurar tudo em Cristo”. Essa preocupação o Pontífice já a tivera quando era Bispo de Mântua. Depois, como Cardeal de Veneza, sua primeira Carta Pastoral continha, em linhas gerais, o pensamento da Encíclica.

Em síntese, diz São Pio X que a apostasia do mundo, “essa detestável e monstruosa iniquidade [...] pela qual o homem se substitui a Deus”, manifesta uma tal “perversão dos espíritos”, que é de se perguntar se já não se deu o advento do “filho da perversão”. Pois o modo com que “se lança ao ataque da religião, se investe contra os dogmas da fé, se tende obstinadamente a aniquilar toda relação do homem com a Divindade” é uma das características do Anticristo.

Para haver uma restauração, os bons devem “proclamar bem alto as verdades ensinadas pela Igreja sobre a santidade do matrimônio, a educação da infância, a posse e uso dos bens temporais, sobre os deveres dos que administram a coisa pública”. Ora, se não houver verdadeiros sacerdotes, “revestidos de Cristo”, isso não será possível. Portanto, deve-se proceder a uma reforma dos seminários e vigiar para que os novos sacerdotes não se deixem seduzir “pelas manobras insidiosas de uma certa ciência nova”.

“No dia em que, em cada cidade, em cada aldeia, a lei do Senhor for cuidadosamente guardada [...] nada mais faltará para que contemplemos a restauração de todas as coisas em Cristo”. Com isso, mesmo “os interesses temporais e a prosperidade pública” também felizmente se ressentirão.(8) E ter-se-á na terra a “paz de Cristo, no Reino de Cristo”.

Não cabe analisar aqui o pontificado de São Pio X para constatar como ele seguiu à risca este programa. Só o que foi publicado de Cartas Apostólicas, Motu Proprio, Encíclicas, e discursos, ultrapassa a casa dos 350. Se a isso se somam os decretos das Congregações romanas e os diversos documentos emanados da Secretaria de Estado, aos quais o Papa não podia ser estranho, chega-se ao número de 3322(9), o que torna esses onze anos de pontificado um dos mais fecundos da História da Igreja.(10)

Basta pensar no trabalho monumental de recodificação do Direito Canônico, que durou todo o Pontificado de São Pio X, sendo promulgado só no de Bento XV; na fundação do Instituto Bíblico; na reforma da Cúria Romana; na instituição da Acta Apostolicae Sedis, noticiário oficial do Vaticano; na reforma do Breviário Romano; em normas dadas para a disciplina e reforma do Clero, além de todas as medidas para facilitar a comunhão frequente dos fiéis, antecipar a Primeira Comunhão das crianças, regulamentar a comunhão dos enfermos, elaborar adequadamente o catecismo, orientar o cântico litúrgico etc.

 

O modernismo


Ao condenar o movimento Sillon –– em muitos pontos precursor do atual progressismo –– afirma São Pio X que ele “semeia [...] noções erradas e funestas [...] Para ele, toda desigualdade de condição é uma injustiça ou, pelo menos, uma justiça menor! Princípio soberanamente contrário à natureza das coisas, gerador de inveja e de injustiça, subversivo de toda ordem social”.(11)

Entretanto, foi a seita modernista infiltrada na Igreja –– qualificada por ele de “síntese de todas as heresias” –– a que mais o fez sofrer e mais preocupações lhe trouxe, por sua profunda nocividade e subtileza. Além de numerosos atos, três importantes documentos emanaram de São Pio X para condená-la: o Decreto Lamentabili sane exitu, de 4 de julho de 1907, que condena 65 proposições modernistas; a Encíclica Pascendi dominici gregis, de 8 de setembro do mesmo ano, na qual condena diretamente o modernismo –– a mais longa de seu pontificado, devido à delicadeza da matéria; e, finalmente, o Motu Proprio Praestantia Scripturae sacrae, de 18 de novembro do mesmo ano.

São Pio X, elevado à honra dos altares por Pio XII em 1954, seja junto à Virgem Santíssima e a seu Divino Filho o grande intercessor de todos os católicos que lutam em nossos dias para permanecerem fiéis à Santa Igreja e à sua verdadeira doutrina.

O Santo Pontífice, que soube tão bem desmascarar e condenar o modernismo, certamente obterá abundantes graças para os fiéis de nossa época, muito pior do que a época daquela heresia. Sim, a trágica era em que vivemos, na qual, segundo expressões de Paulo VI, tem curso um misterioso processo de “autodemolição da Igreja”, tendo nela penetrado a “fumaça de Satanás”.

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NOTAS:

1. Cardeal Merry del Val, Memories of Pope Pius X, Burns Oates & Washbourne Ltd., Londres, 1939, pp. 9-10.

2. Abbé de Cigala, Vie Intime de Sa Saintité le Pape Pie X, Lethielleux Editeurs, Paris, 1926, p. IX.

3. Lettre Pastorale et Mandement de Câreme de 1915, apud Merry del Val, op. cit, p. 29.

4. Merry del Val, op. cit, p. 12.

5. Breve por ocasião da Beatificação de Pio X, Documentos Pontifícios, n° 83, Vozes, 1958,2ª edição.

6. Documents relatifs au mouvement cathólique italien sous le pontificat de St. Pie X, apud Gianpaolo Romanato, Pio X: Profilo Storico, in Sulle Orme di Pio X, Amministrazione Comunale di Salzano, 1986, p. 19.

7. Doc. cit, apud Merry del Val, op. cit, p. 27.

8. Encíclica E supremi Apostolatus, Vozes, Petrópolis, Documentos Pontifícios, nº 87, 1958,2ª edição.

9. René Bazin, da Academia Francesa, Pie X, Flammarion, Editeur, Paris, 1928, p. 65.

10. D. Benedetto Pierami, apud René Bazin, op. cit, p. 66.

11. Notre Charge Apostolique (Sobre os erros do Sillon), Vozes, Petrópolis, Doc. Pontifícios, nº 53, 1953,2ª edição.

 

Conspiração dos modernistas

Pe. George Tyrrell, excomungado por São Pio X 
Fulminada a heresia modernista com vigor angélico por São Pio X, em 1907, já no ano seguinte o Pe. George Tyrrell, sectário excomungado pelo Papa Santo por sua adesão à heresia, escrevia a um confidente romano: Olhando em torno de mim, sou forçado a reconhecer que a onda de resistência modernista acabou, ela já esgotou todas as suas forças, por ora. Devemos esperar o dia em que, através de um trabalho silencioso e secreto, tenhamos ganho para a causa da liberdade uma proporção muito maior das tropas da Igreja.(1)

Esse "trabalho silencioso e secreto" é cinicamente explicitado, nos seguintes termos, por um dos fautores da heresia, Antonio Fogazzaro, em seu romance Il Santo, posteriormente condenado por São Pio X: "Devemos constituir uma maçonaria católica .... a maçonaria das catacumbas".(2) E quem pertencia a esta "maçonaria católica"? O próprio Fogazzaro responde: "Seu nome é legião. Ela vive, pensa e trabalha na França, na Inglaterra, na Alemanha, nos Estados Unidos, na Itália. Ela usa batina, farda ou casaca. Ela ensina em universidades, ela se esconde nos seminários, ela luta na imprensa, ela reza no silêncio profundo dos claustros.(3)

Romance Il Santo de Antonio Fogazzaro,
 condenado pelo Papa santo
Algum tempo depois da publicação dessa obra, tendo sido acometido por súbita e estranha enfermidade, São Pio X entregou sua alma a Deus em 1914.

A propósito do falecimento do Santo Pontífice escreveu o Pe. Genocchi, sacerdote italiano ligado aos conspiradores modernistas: "Agora estamos respirando mais confortavelmente... Várias vítimas da loucura e do fanatismo estão sendo reabilitadas, e outras ainda o serão.(4)

E um grupelho de neomodernistas levou adiante o "trabalho silencioso e secreto", proposto pelo padre apóstata Tyrrell. Tal corpúsculo lançou os alicerces da corrente que, mais tarde, receberia o nome de Teologia Nova.(5)

Os corifeus dessas novas doutrinas difundiam seus escritos apenas em exemplares datilografados, anônimos, que circulavam de mão em mão em seminários europeus e em conventículos de leigos "engajados", intoxicando assim o futuro clero e o laicato com as novas ideias. Um difusor destes panfletos pôde afirmar que uma "irresistível onda estava a tomar conta das novas gerações do Clero".(6)

De toda essa ampla infiltração, haveriam de surgir ao longo das décadas, no campo religioso, o "Movimento Litúrgico", e no campo sócio-político, o "Progressismo", dito católico.

Hans Küng,(7) um dos próceres dessa nova orientação, em sua obra Veracidade –– O futuro da Igreja, presta, nestes termos, o seu preito de homenagem àqueles neo-reformadores, que considera seus precursores:

Não foi pouco o que tiveram de sofrer esses precursores de uma nova veracidade [dentro da Igreja]... Temos toda razão de inclinar-nos com respeito e gratidão diante do engajamento cristão desses heróis silenciosos de uma luta por uma veracidade renovada, pelo futuro da Igreja, luta que, então, parecia tão pouco promissora. Gemendo sob o jugo da inveracidade eles não abandonaram (a Igreja de Deus)...

"O que uns poucos principiaram, com modéstia e insignificância, desenvolveu-se agora, multiplicado muitas vezes: na renovação da teologia, da liturgia, da vida eclesial em geral, no encontro com o moderno mundo profano. E ficou comprovado que aqueles batedores eram... a tropa de vanguarda de um exército lento, sem dúvida, mas, no fundo, muito disposto a seguir, frente ao qual alguns representantes oficiais da teologia e da direção da Igreja se comprovaram como retaguarda".(8)

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NOTAS:

1. Carta citada em Ernesto Buonaiutti, Le Modernisme Catholique. Apud E. Rivière, Modernisme, Dictionnaire de Théologie Catholique, vol, X, col. 2042.

2. Antonio Fogazzaro, Il Sanlo, Milão. s/e, p. 44.

3. Idem, ibidem.

4. Carta do Pe. Genocchi a Paul Sabatier. Apud Emile Poulat, Integrisme e Catholicisme Intégral. Paris. Casterman, 1969. p. 15.

5. "Reduzido a uma espécie de vida clandestina –– relata o Pe. Albert Besnard –– o modernismo caminhou de modo subterrâneo e inspirou a maioria das revoltas religiosas que hoje agitam a Igreja" (Albert Besnard. OP., Modernisme. In Jean Chevalier, ed. Les Religions. Les Dictionnaires du Savoir Moderne, Paris. Centre d'Étude et de Promotion de Ia lecture. 1972, p. 306. "A mudança tão trágica e penosamente tentada pelo modernismo –– comenta o Pe. Germano Pattaro –– foi assumida e proposta pela Teologia Nova" (Germano Pattaro, Corso di Teologia dell'Ecumenismo, Brescia, Queriniana, 1985, p.344).

6. Citado em Emmanuel Barbier. Histoire du Catholicisme Libéral et du Catholicismo Social en France, Imprimerie Yves Cadoret. Bordeaux, 1924, p. 115.

7. Em 15 de dezembro de 1979. uma declaração da Congregação para a Doutrina da Fé afirmava que o Pe. Hans Küng "em seus escritos, afasta-se da integridade da Fé católica e não pode mais ser considerado como teólogo católico nem enquanto tal, exercer o magistério". Essa declaração foi ratificada por João Paulo II em audiência concedida a uma delegação do Episcopado alemão, em 28 de dezembro de 1979. (Apud Pe. Raymond Winling, La Théologie contemporaine, 1945-1980, Le Centurion. Paris, 1983. pp. 450-451).

8. Veracidade ––- O futuro da Igreja, Herder, São Paulo. 1969, pp. 161-162.