21 de agosto de 2022

Quando arrumar a cama não é simplesmente “arrumar a cama”


✅  Plinio Maria Solimeo 

Um dos mais cruciantes problemas de nossos dias para os pais que querem dar uma boa formação intelectual e sobretudo religiosa a seus filhos, é encontrar boas escolas que os secundem na educação de sua prole. Sobretudo, porque torna-se cada vez mais difícil encontrar alguma que seja solidamente católica, e que se oriente pelas doutrinas tradicionais da Igreja. 

Infelizmente não conhecemos uma assim no Brasil. Contudo, em nossas viagens aos Estados Unidos, encontramos um internato para meninos que preenche todos esses requisitos: é a St. Louis Grignion de Montfort Academy [foto acima], em Herndon, na Pensilvânia, fundada e dirigida por dedicados membros da The American Society for the Defense of the Tradition, Family and Property. Segundo seu web site1

“A Academia São Luís de Montfort procura fornecer uma base acadêmica sólida, onde a cultura e a civilização católicas são enfatizadas. Ela se esforça para fornecer um ambiente que promova tudo o que um cavalheiro católico deve ser. Da prática das boas maneiras à frequente recepção dos Sacramentos, a Academia procura fazer do menino católico um cavalheiro católico. Em última análise, espera fornecer à Igreja, nossa nação e um mundo cada vez mais católico com jovens que crescerão para fazer a diferença”

A educação dada pela Academia [foto ao lado] visa ser assim completa, tanto do ponto de vista religioso quanto cultural. Por isso vai até os mínimos detalhes como ensinar como se portar à mesa, cumprimentar os mais velhos e os colegas; enfim, todas as boas maneiras. 

Desde o despertar, até ao adormecer, os atos dos alunos são orientados nesse sentido. Pelo que me surpreendeu um pormenor que parece supérfluo: a obrigação de arrumar a cama logo ao levantar. Todos devem fazê-lo de um determinado modo padrão, e há uma pequena penitência para quem negligenciar esse ato fazendo-o mal ou displicentemente.

Veio-me então ao espírito uma consideração: Isso, que parece tão pueril, acaba tendo sua importância na formação de crianças. Mas terá a mesma efetividade quando se trata de adultos? 

Foi com essa problemática na cabeça que casualmente me deparei com umas considerações do Almirante William H. McRaven [foto], que trata exatamente do assunto. McRaven, é um herói militar dos “United States Navy SEAL” (SEa – mar; A – ar – e L terra) comumente chamados Navy SEALs, uma das principais Forças de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos, que é um componente do Comando Naval de Operações Especiais e do Comando de Operações Especiais da Marinha

Entre as qualificações desse corpo das Forças Armadas americanas, está a capacidade de realizar operações militares com pequenos efetivos que se infiltram em território hostil através de rios, oceanos, pântanos, deltas ou litorais. 

Os SEALs são, portanto, treinados de modo a estarem aptos para operar em todos os ambientes, seja no ar, na terra e no mar, e se tornaram muito conhecidos por suas operações antiterrorismo. Comandados pelo então capitão McRaven, foram responsáveis pela operação antiterrorista que resultou na morte de Osama Bin Laden.2 

Das virtudes mais requeridas de um militar, seja qual for a arma a que pertença ou o país a que sirva, é a disciplina e o “esprit de corps” (“espírito de equipe”). Se isso é requerido de qualquer militar, muito mais o é dos “Navy SEALs”, cuja formação exige uma força física, mental e psicológica extraordinárias. 

Pela fama que gozam por suas proezas, muitos são os jovens que, levados pela aura que cerca esse corpo de elite, se arriscam a fazer o rigoroso treinamento básico seletivo. Esse treinamento é de grande dificuldade, de modo que, em média, apenas 25% dos candidatos conseguem concluí-lo. 

Só para se ter uma ideia do que é requerido, o candidato deve passar por um teste de triagem física rigoroso, que consiste em: nadar 500 jardas em 12,5 min ou menos; descansar 10 min; fazer 42 flexões em menos de 2 min; descansar 2 min; fazer 50 abdominais em menos de 2 min; descansar 2 min; fazer 6 repetições de barra; descansar 10 min; correr 1,5 milhas de botas e calças compridas em menos de 11,5 min. O que exige um bom preparo físico. 

Como um exemplo do que passam os candidatos até chegarem a ser realmente um Navy SEAL, citamos o Almirante McRaven que descreve esta reminiscência sobre uma das provas pela qual passou quando recruta: “Lembro que na quarta-feira daquela semana nos submergiram na lama por muitas horas. Nossos ossos ficaram dormentes. A umidade e o frio eram terríveis. Eles só permitiam que você enfiasse a cabeça para fora”

McRaven conta que, naquela quarta-feira de 1977, quando os recrutas de sua classe estavam à beira do nocaute afundados na lama, os instrutores lhes gritaram provocativamente que, para acabar com a provação de todos, eles exigiam cinco rendições. Nesse momento um de seus companheiros começou a cantar uma canção. Passo a passo, todos começaram a cantar. "Se alguém resistisse, você não poderia desistir", relembra ele. 

Vindo ao nosso assunto: além de todas as dificuldades físicas e psicológicas a que o candidato a SEAL deve passar, ele deve ser exímio até nos mínimos detalhes e nas coisas mais corriqueiras. 

E isso começa já ao levantar. Um instrutor entra no alojamento em que dormem para checar a ordem nos beliches. Todos devem observar as seguintes normas: Esticar bem os dois lençóis que cobrem o colchão; o cobertor deve também ser esticado com uma precisão cirúrgica, e um segundo de reserva deve ficar perfeitamente dobrado em ângulo ao pé da cama; o travesseiro deve ser colocado em um ângulo de 90 graus em relação ao cobertor. Se isso tudo estiver em ordem, o instrutor joga uma moeda no ar sobre a cama. O recruta deve ser suficientemente ágil para pegá-la antes que caia no colchão. Se consegue, venceu a prova.

Parece pueril que isso seja requerido de militares que depois serão designados para as mais perigosas missões e terão grandes responsabilidades. Entretanto, isso tem sua razão de ser, como explica McRaven, que atualmente é almirante de quatro estrelas aposentado e que, segundo consta, foi cogitado pelo presidente Biden para ser o Secretário de Defesa dos Estados Unidos. 

Em discurso em 2014 na Universidade do Texas no qual discorreu sobre um evangelho de disciplina e culto ao detalhe necessários para se ter uma vida ordenada, o Almirante o fez de maneira tão cogente, que deixou de boca aberta o público que o ouvia física ou virtualmente. O que disse despertou tanto interesse, que seu discurso tem hoje mais de 11 milhões de visualizações no YouTube, e o livro que escreveu sobre suas experiências como Navy SEAL, “Make Your Bed: Little Things That Can Change Your Life... And May bethe World.” (Arrume a cama: pequenas coisas que podem mudar sua vida... e talvez o Mundo) bestseller no Brasil e no mundo, que já vendeu mais de dois milhões de cópias nos Estados Unidos e foi traduzido para várias línguas, inclusive o português. 

Relatando sua experiência quando fez o treinamento para se tornar um Navy SEAL, ele comenta: “No início, a ingenuidade desse ato [de arrumar a cama] de manhã [a que me sujeitei quando fiz meu treinamento] me pareceu ridículo. Mas logo percebi que nele se escondia uma grande sabedoria, porque se você não é capaz de fazer as pequenas coisas corretamente, como vai fazer as coisas grandes?”

Com efeito, explica ele que “Arrumar a cama todas as manhãs significa completar com sucesso a primeira tarefa do dia. Esse simples gesto lhe dará uma pequena razão para se sentir orgulhoso e enfrentar a próxima tarefa do dia, e a próxima... No final do dia, aquela primeira pequena tarefa terá se tornado muitas tarefas concluídas. Arrumar sua cama é uma maneira de se lembrar da importância das pequenas coisas da vida. Se você não pode fazer bem as pequenas coisas, não será capaz de fazer bem as grandes também. Por outro lado, se o seu dia foi horrível, pelo menos quando você voltar para a cama, verá que foi feito com a promessa de que o amanhã poderá ser melhor. Se você quer mudar o mundo, comece arrumando sua cama".3 

Conclusão: pelo que ficou visto, esse ato de “arrumar a cama”, não é simplesmente arrumar a cama, mas algo que vai além. É um pequeno ato de ascese e disciplina, que ajuda enormemente na formação dos meninos. 

Agora, perguntamos: O que se poderia dizer dos Navy SEALs se eles, em toda sua eficiente formação humana, tivessem também uma motivação religiosa, como a que orienta a St. Louis de Montfort Academy? Cremos que se tornariam verdadeiros cruzados e venceriam qualquer obstáculo no mundo! 

____________ 
1. https://montfortacademy.edu/about/who-we-are/ 
2. https://pt.wikipedia.org/wiki/United_States_Navy_SEALs 
3. https://www.elmundo.es/papel/lideres/2018/11/07/5be196b446163fb6828b463e.html 
4. https://www.youtube.com/watch?v=TBuIGBCF9jc]

13 de agosto de 2022

Assunção — Nossa Senhora glorificada por seu Divino Filho


N
o próximo dia 15 celebramos uma magnífica festividade de Nossa Senhora, sua Assunção ao Céu em corpo e alma.

Como escreveu São João Damasceno, “A Mãe de Deus não morreu de doença, por não ter pecado original, não tinha que receber o castigo da doença. Ela não morreu de idosa, porque não tinha que envelhecer, pois, a ela não lhe chegava o castigo do pecado dos primeiros pais: envelhecer e acabar por fraqueza. Ela morreu de amor. Era tanto o desejo de ir para o céu onde estava o seu filho, que esse amor a fez morrer”.

Tendo poderes, que filho não faria isso por sua mãe? Ora Nosso Senhor Jesus Cristo é Todo Poderoso e assim — como narrado acima pelo grande doutor da Igreja — Ele determinou para o santíssimo corpo de Sua Mãe Puríssima. Sua “morte” foi apenas uma “dormição”, como denomina a Santa Igreja; Ela subiu ao Céu levada por uma corte de Anjos.

Para meditarmos neste triunfante acontecimento na festa da Assunção, seguem alguns pensamentos:

“Hoje [15 de agosto] celebramos tríplice festividade: o trânsito da Virgem, mediante o qual Ela deixou a vida; sua ressurreição, pela qual foi revestida da imortalidade; e sua gloriosa assunção, pela qual voou feliz ao Céu em corpo e alma”.

(Santo Tomás de Villanueva)

 

“Desde tempos remotíssimos, pelo decurso dos séculos, aparecem-nos testemunhos, indícios e vestígios desta fé [na Assunção de Nossa Senhora ao Céu] comum da Igreja; fé que se manifesta cada vez mais claramente”.

(Papa Pio XII)

 

“Aquela que deu à luz seu Salvador, e o Salvador de todos, não foi condenada, depois da morte, à humilhação comum da podridão, dos vermes e do pó”.

(Santo Agostinho)

 

“Depois de ter passado por toda espécie de sofrimentos, angústias, dilacerações e humilhações, Nossa Senhora é glorificada por Nosso Senhor aos olhos dos homens, por meio da Assunção. Privilégio único na História, pelo qual uma mera criatura é levada em corpo e alma pelos anjos ao Céu.

(Plinio Corrêa de Oliveira)

4 de agosto de 2022

No Bicentenário da Independência do Brasil, algumas reflexões históricas


Recordações das Proezas de Deus pelos Brasileiros

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 860, Agosto/2022

No próximo dia 7 de Setembro celebramos o Bicentenário da Independência do Brasil, quando o Imperador Dom Pedro I, após passar por Aparecida para rezar à nossa gloriosa Rainha e Padroeira, nas margens do Ipiranga proclamou o Brasil como País soberano. Sem romper os laços afetivos com Portugal, nascia uma nova e imensa nação católica. Grandioso fato que ficou imortalizado no quadro pintado por Pedro Américo.

A propósito dessa efeméride de 200 anos, a revista Catolicismo deste mês oferece a seus leitores uma matéria de capa que patenteia os grandiosos desígnios de Deus para com nossa Pátria. 

Somos herdeiros dos heroicos portugueses, que transpondo mares temidos e desconhecidos, empreenderam uma epopeia evangelizadora de “cristãos atrevimentos” para dilatar a fé e o império. Descobriram novas regiões para a Cristandade, então dilacerada pelo protestantismo, tiraram povos da barbárie e os elevaram às excelências da cultura e do requinte de uma civilização autenticamente católica apostólica romana. 

Um desses povos descobertos sob o signo da Cruz vicejou nesta Terra de Santa Cruz, que teve como primeiro ato oficial a celebração da Santa Missa, no Domingo de Páscoa, 26 de abril de 1500. 

Nesses cinco séculos nem tudo foi límpido como raios do sol, mas apesar da imensa crise com que se debate, o Brasil é o país com a maior população católica do mundo, chamado pela Providência Divina a uma grandeza ímpar, conforme as palavras do Papa Pio XII: “Deus fadou-vos para serdes uma das grandes nações católicas da Igreja, na América e no mundo. Nessa vocação está cifrada a maior glória, a maior grandeza, a verdadeira felicidade do Brasil”. 
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D
olorosa notícia propagou-se pelo mundo no dia 15 de julho, véspera da festa de Nossa Senhora do Carmo: o falecimento de Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil. Da página 5 à 17, a mesma edição de agosto de Catolicismo presta sua homenagem ao nobilíssimo tetraneto do nosso Imperador Dom Pedro I — fato que motivou diversos órgãos da mídia a relacionar o triste passamento do nosso já saudoso Dom Luiz com o Bicentenário da Independência do Brasil.