27 de dezembro de 2022

SÃO FRANCISCO DE SALES



Nasceu no Castelo de Sales (Ducado de Saboia) no dia 21 de agosto de 1567 e faleceu em Lyon (França) no dia 28 de dezembro de 1622. Em memória dos 400 anos de sua morte, reproduzimos trecho de um artigo de Plinio Corrêa de Oliveira no “Legionário” de 23 de janeiro de 1938. 

  Plinio Corrêa de Oliveira 

A condição social e a ciência são, separadamente, os dois obstáculos que os incrédulos julgam existir para a difusão da Igreja. E a Igreja responde-lhes com a vida de um São Francisco de Sales, que aliava à nobreza de sua família uma ciência invulgar, adquirida com brilhantismo nos melhores colégios de França. 

São Francisco foi enviado pelo pai a Paris para estudar. Sua mãe, no entanto, que temia pela virtude do filho assim abandonado numa grande cidade, despediu-se dele recomendando-lhe insistentemente a frequência aos Sacramentos, afirmando preferir vê-lo morto a saber que um dia tivesse cometido um pecado mortal. 

São Francisco progrediu rapidamente nos estudos, fazendo-se admirado pelos professores e colegas; não só pela sua inteligência, como pela virtude que conseguia manter no meio de tantos perigos, recebendo frequentemente os Sacramentos. 

Terminados os estudos, São Francisco de Sales foi ordenado apesar da oposição do pai, e o Papa nomeou-o Bispo Auxiliar de Genebra, que era o centro da heresia calvinista. Desdobrou-se em atividades, procurando por todas as formas destruir a heresia. Trouxe de volta para o seio da Igreja Católica 72 mil calvinistas. 

Quando a diocese passou para suas mãos, pela morte do Bispo de Genebra, visitou-a inteira a pé, exortando os fiéis à perseverança e procurando mostrar aos hereges os seus erros. Por 20 anos dirigiu-a, apesar das ciladas que armavam os calvinistas para retirar do seu caminho quem, apenas com a palavra, a mansidão e o exemplo, abria tantos claros em suas fileiras.

Aos 55 anos entregou a Deus sua alma, e 23 anos depois o Papa Alexandre VII inseriu o seu nome no catálogo dos santos. Em 1933 foi declarado Doutor da Igreja e Padroeiro da imprensa e dos jornalistas. 

Que São Francisco de Sales interceda junto a Nosso Senhor, conseguindo d’Ele a graça sem a qual nada poderá ser feito, e dando a todos os jornalistas católicos o espírito de sacrifício necessário para sua obra.

26 de dezembro de 2022

Árvore de Natal tem sua origem no paganismo? É símbolo religioso?

Mercado de Natal de Estrasburgo, França.

  Pe. David Francisquini

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 864, dezembro/2022

Pergunta — Já ouvi algumas pessoas dizerem que a árvore de Natal é de origem pagã, e também que teria sido introduzida por Lutero. Seria isso verdade? De qualquer forma, ela é realmente um símbolo religioso comparável ao presépio? 

Resposta — Começo pela segunda pergunta, por ser mais fácil e rápida de ser respondida. Tudo depende da definição que se dê à expressão “símbolo religioso”. Se significa apenas um objeto ou gesto ao qual se possa atribuir um significado religioso, não há dúvida de que se pode atribuí-lo à árvore de Natal. A associação mais apropriada é com a Árvore da Vida colocada por Deus no Éden, a qual é evocada pelos adornos “paradisíacos” de que era revestida. 

O fato de se utilizar o pinheiro como árvore de Natal transmite também a ideia de perenidade, de vida eterna, uma vez que, ao contrário das demais árvores, ele nunca perde as folhas, nem sequer no inverno. Agora, se a expressão “símbolo religioso” de uma festividade litúrgica significa um objeto tangível intrinsecamente ligado a esse feriado, sem o qual o feriado não seria o mesmo, então a árvore de Natal não tem esse significado. Simplesmente porque a celebração da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo não requer árvores de Natal, que durante 15 séculos não foram colocadas como símbolos do período natalino. 

“Nascimento do Invicto” 

Surge, então, a primeira pergunta: qual é a origem desse costume de montar árvores de Natal? É fácil historiar a aparição dos presépios, pois foi São Francisco de Assis que os popularizou em 1223, no vilarejo de Greccio, três anos antes de sua morte. Já a origem da árvore é mais nebulosa. 

Segundo alguns, ela remontaria às religiões pagãs anteriores ao cristianismo. A hipótese é válida, pois, ao que tudo indica, a própria data de 25 de dezembro, destinada a festejar a Natividade de Cristo, teria sido gradualmente recomendada na Roma cristianizada para suplantar as festas pagãs do solstício de inverno, que culminavam com a celebração do Natalis invicti, ou seja, a vitória do sol, quando no hemisfério norte os dias começam a ficar novamente mais longos. 

De fato, a mais antiga aproximação cristã entre a vitória do sol e o nascimento do Salvador é a exclamação de São Cipriano (De pasch. Comp. XIX), no século III: “O quam præclare providentia ut illo die quo natus est Sol... nasceretur Christus” (Oh, quão maravilhosamente agiu a Providência dispondo que naquele dia em que o Sol nasceu... Cristo deveria nascer). 

Um século mais tarde, São João Crisóstomo escreveu: “Mas Nosso Senhor também nasce no mês de dezembro... no oitavo dia antes das calendas de janeiro [ou seja, o 25 de dezembro]... Mas eles [os pagãos] o chamam de 'Nascimento do Invicto'. Quem de fato é tão invicto como Nosso Senhor? ... Ou, então, se dizem que é o nascimento do Sol, Ele é o Sol da Justiça” (Del Solst. Et Æquin, II, p. 118, ed. 1588). 

Tradição desde o século XV 

Local da primeira árvore de Natal em Riga, na Letônia
No norte da Europa, entre certos povos germânicos e na Escandinávia, o período do solstício de inverno era chamado de “Yule”. Na mitologia desses povos, o deus Heimdall vinha visitar à noite todos os lares humanos, deixando presentes para aqueles que tivessem se comportado bem durante o ano. 

Uma constante dessas festividades nórdicas é o uso de árvores perenes como elementos decorativos, pelo motivo já evocado, ou seja, simbolizando que no auge do inverno os pinheiros com folhas sempre verdes prenunciam o retorno dos dias mais longos e da primavera. 

A árvore de Natal, segundo essa hipótese, seria uma apropriação pela Igreja dessa tradição ancestral, depois que São Bonifácio, o evangelizador da Alemanha, derrubara a golpes de machado o “carvalho do trovão” sob o qual os pagãos sacrificavam uma criança ao deus Thor. Outra lenda atribui essa tradição a São Columbano, monge irlandês que viajou extensamente pela Gália. Numa noite de Natal, ele teria levado alguns monges do mosteiro de Luxeuil, fundado por ele no sopé dos montes Vosges, para o topo de uma das montanhas vizinhas. Havia ali um pinheiro muito antigo, objeto de um culto pagão entre os celtas, que o consideravam “a árvore do parto”. São Columbano e seus companheiros teriam então pendurado suas lanternas nos galhos da árvore, desenhando uma cruz luminosa. Mas essa história parece lendária, pois não a atesta nenhum documento da época. 

Na realidade, a associação da árvore com a festa da natividade é atestada somente a partir dos primórdios do século XVI, e, ao que se presume, começou a se tornar comum no século XV — bem antes, portanto, da revolta de Lutero, que nada teve a ver com a introdução desse costume, reivindicada por várias cidades da Europa do Norte. 

Os habitantes de Freiburg, na Alemanha, afirmam que essa tradição se iniciou em 1419 com os padeiros da cidade, que a partir desse Natal teriam passado a decorar anualmente uma árvore com Lebkuchen (os tradicionais biscoitos de gengibre), nozes, maçãs e outras frutas. Mas apenas no dia de Ano Novo as crianças podiam sacudir a árvore para comer suas iguarias. 

Natal em Londres

Belas tradições em outros países 

Por sua vez, a cidade de Riga, capital da Letônia, reivindica oficialmente a paternidade da primeira árvore de Natal, a qual teria sido instalada por uma corporação de mercadores em 1510. Inicialmente destinada a ser queimada no dia do solstício, acabou por ser preservada, decorada e erguida no mercado da cidade para celebrar o Natal. Ainda hoje, uma laje de pedra marca o local. 

A primeira menção escrita desse costume data de 1521, em um livro de contas da cidade de Sélestat (Alsácia, França), que na época pertencia ao Sacro Império Romano Alemão. Este registro indica a seguinte despesa: “Quatro xelins aos guardas florestais para vigiar o mais [do alemão meyen, “árvores festivas”] de São Tomás”, cuja festa era celebrada no dia 21 de dezembro. O município de Sélestat sustenta que, se era preciso proteger a sua floresta, dever-se-ia supor que decorar uma árvore nesta época do ano era relativamente comum e fazia parte dos costumes locais... 

A origem do costume de trazer árvores da floresta e decorá-las provém, por sua vez, dos chamados “mistérios”, ou seja, das representações teatrais com cenas da Bíblia e do Jardim do Éden, que eram feitas durante a Idade Média no átrio das igrejas por ocasião das grandes festas litúrgicas. Como macieiras com seus frutos não fossem encontráveis no início do inverno, colocava-se um pinheiro com decorações que imitavam as maçãs. 

Seja como for, o costume de se erguer nas casas árvores de Natal com bolas coloridas e guirlandas, encimadas por uma estrela de Belém, começou no século XIX no mundo germânico. Foram princesas alemãs, cujas infâncias tinham sido iluminadas pela presença do pinheiro em um salão do palácio, que levaram essa tradição aos demais países da Europa. 

Na França, a inciativa partiu da princesa Helena de Mecklembourg Schwerin, Duquesa de Orléans, que em 1837 pediu ao seu sogro, o rei Luís Filipe, permissão para colocar uma árvore de Natal no palácio das Tulherias. 

Na Inglaterra, foi o marido da rainha Vitória, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo Gotha, também nascido na Alemanha, que importou essa tradição na década de 1840. As ilustrações de jornais da época representam a família real inglesa diante de uma árvore de Natal ricamente decorada, na qual se percebem velinhas acessas. 

Em Portugal, a árvore de Natal foi introduzida por volta de 1844, no Paço Real das Necessidades, por Dom Fernando II, duque de Saxe-Coburgo-Gotha e rei consorte, pelo seu casamento com a rainha Maria II, filha de Dom Pedro I. Uma gravura desenhada pelo próprio rei [foto ao lado] mostra-o vestido de São Nicolau, junto à árvore decorada com velas, bolas e frutos, distribuindo presentes aos sete principezinhos. 

A primeira árvore de Natal nas Américas teria sido instalada em 1781, na cidade canadense Sorel, pela Sra. Friederike Riedesel von Lauterbach, esposa do general comandante das tropas alemãs enviadas pelo Duque Brunswick como auxiliares do exército inglês para tentar impedir a independência dos Estados Unidos. 

Convém destacar que, a partir de 1982, iniciou-se a tradição de erguer na Praça de São Pedro, em Roma, uma enorme árvore de Natal, doada cada ano por um país diferente. 

A cidade de Gramado (RS) no mês de dezembro

Brasil: tradição vinda da Europa 

E como a árvore de Natal chegou ao Brasil? Alguns dizem que foi através de Dona Leopoldina, Arquiduquesa da Áustria e esposa do Imperador Dom Pedro I. Ela teria instalado a primeira árvore de Natal no Palácio da Boa Vista. Embora isso possa ser verdade, não consta que o costume tenha se difundido muito, continuando a predominar entre nós aquele dos países do sul da Europa, de privilegiar o presépio. 

Mais realista é supor duas origens paralelas. De um lado, com a difusão das árvores de Natal a partir dos paços reais, palácios e mansões da aristocracia e da alta burguesia europeias, é possível que durante a segunda metade do século XIX as famílias da aristocracia brasileira — que viajavam muito à Europa e seguiam a moda europeia — importaram o costume para as nossas terras, e provavelmente também as decorações. 

De outro lado, é certo que os imigrantes alemães que se fixaram no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia não somente trouxeram as receitas natalinas e a Coroa de Advento [foto ao lado], mas também as árvores de Natal, difundindo-as nas demais classes sociais. 

O certo é que por mais de um século as crianças brasileiras têm se encantado com as árvores de Natal, nutriente de sua inocência ao ajudá-las, por essa via, a aceitar com simplicidade e alegria as maravilhosas verdades da Fé, especialmente o dogma da Encarnação do Deus que se fez homem e nasceu de uma Virgem numa noite fria na Gruta de Belém.

25 de dezembro de 2022

CONSOADA DA NOITE DE NATAL

Cerimônia de Natal, na Basílica de São Pedro

✅  Luis Dufaur 

A milenar liturgia católica recomendava o jejum aos fiéis antes de todas as grandes festas religiosas. E o Brasil inteiro o praticava com muitos apreciáveis costumes.

Bacalhau português
No período do Advento, prévio ao Natal, o jejum consistia na abstenção de carne vermelha desde o quarto domingo anterior ao dia 25, ou até às 23h59min do dia 24. Na véspera da comemoração do nascimento do Menino Jesus, o jejum era total. Mas os fiéis o compensavam desde o início da noite reunindo-se, rezando e cantando na igreja enquanto aguardavam a Missa de Galo

A igreja era toda iluminada com lâmpadas de azeite e tochas. Muitos círios iluminavam o Santíssimo Sacramento no altar, enquanto as paredes ficavam revestidas com tecidos e tapetes. O templo era perfumado com alecrim, rosmaninho e murta. Em alguns locais mais frios costumava-se deitar palha no chão para aquecer o ambiente. 

Strudels
O jejum da vigília era praticado como forma de mortificação das más inclinações e um convite à contemplação do grande mistério que seria celebrado. A Igreja mitigou o jejum total da noite de 24 de dezembro e entrou o costume de uma ceia especialmente preparada para ser degustada à meia-noite, depois da Missa do Galo

Comia-se então quase que exclusivamente peixe — em Portugal, bacalhau, costume que ainda perdura em muitos lares brasileiros. Na França, o bacalhau era tido como o rei dos peixes. Em outros países entraram outras iguarias “penitenciais”, dependendo dos recursos naturais dos respectivos habitantes. 

Solene Missa do Galo

O nome “consoada” 

O povo chamava aquela ceia de Natal de “consoada” — nome surgido no século XVII que significa pequena refeição —, a qual se tornou mais abundante após o fim do jejum. Até a revolução “pós-conciliar”, depois da Missa do Galo as famílias voltavam para suas casas, colocavam a imagem do Menino Jesus no Presépio, cantavam e rezavam em seu louvor, faziam a consoada e trocavam presentes. 

Pão de Deus

A calma do mundo pré-industrial presidia a consoada: pratos leves, com a alegria do convívio familiar intenso e abençoado pela liturgia católica. Ainda se estava longe da era das velocidades, em que tudo se faz apressadamente, da civilização da imagem, da comida fast food, do disk-pizza

A vida comum, aprazível, amável, da doçura de viver, foi atropelada pela aflição do corre-corre que abriu a era das neuroses e psicoses. 

Naquela Noite Santa, os vitrais pareciam querer transmitir graças especialmente

Bode ao forno

encantadoras da ordem, em um equilíbrio de cores e numa atmosfera feérica de paz e doçura que iluminavam as almas. Os fiéis levavam consigo para a consoada a lembrança indelével e comunicativa haurida na Missa do Galo pelo nascimento do Menino-Deus. 

O nome Missa do Galo usa-se apenas em português e espanhol. Na maior parte do mundo chama-se simplesmente Missa da noite de Natal ou Missa da meia-noite. 

Tradição brasileira 

Bolo de rolo com queijo do reino

No Brasil colonial, a liturgia cristã e a consoada obedeciam ao hábito português, embora com peculiaridades locais. Pois o Natal não era uma reunião íntima com a família fechada, como é hoje. Era, sobretudo, uma celebração aberta a todos, com muitos pratos e doces regionais. Ninguém ficava de fora da comemoração, da senzala à casa grande, dos trabalhadores urbanos aos administradores públicos, todos participavam e se confraternizavam. Havia ainda o costume de indivíduos ou famílias trocarem presentes, aliás com uma generosidade comovedora. Na maioria dos casos, os presentes eram víveres, sendo o chamado “pão de Deus”, coberto com creme e coco ralado, um dos regalos preferidos. 

Empadão goiano

No dia seguinte havia o grande almoço de Natal. O gosto pelo peru veio da América do Norte, enquanto o do foie-gras, das ostras e do salmão vieram do apetitoso cardápio preferido na França. Os hábitos alimentares carregados de significados simbólicos continuaram presentes mesmo após o abandono da liturgia antiga, com destaque para o vinho, que nos remete ao Sangue de Cristo e à Redenção na Terra Santa. 

Frango caipira

“No Nordeste, muitas famílias servem pernil de bode ao forno, cuscuz com manteiga de garrafa, bolo de rolo com queijo do reino. No Centro-Oeste, sobremesas com frutas do cerrado, o empadão goiano, o frango caipira. No Norte, peixes de água doce ao lado das farofas com castanhas, do arroz de tucumã e da salada de folhas de jambu. No Rio, o bacalhau português; em Minas, os suínos pururucados; em São Paulo, o arroz enriquecido dos bandeirantes; no Espírito Santo, a torta capixaba super enfeitada. E, por fim, no Sul, strudels, carnes assadas em fogos de chão e pães recheados, tanto doces como salgados”
, descreveu a especializada Paula Salles.* 


Mas algo essencialíssimo nunca faltava aos que procuravam os imponderáveis do Natal, irradiados há dois milênios de um pobre presépio da Gruta de Belém, convidando as famílias a degustar e participar de tradições penetradas pelo sobrenatural que só a Igreja Católica é capaz de transmitir. 

Consoada de bacalhau

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*http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/reportagens/16993-ceia-de-natal-m%C3%BAltiplas-tradi%C3%A7%C3%B5es-postas-%C3%A0-mesa

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 864, dezembro/2022

24 de dezembro de 2022

ENCONTRO DE OLHARES


  Plinio Corrêa de Oliveira

Na noite de Natal, quando o Menino Jesus olhou pela primeira vez para sua Mãe virginal, o que teria se passado? 

Entre inúmeros outros olhares, podemos considerar o olhar dos dois no encontro no Templo, quando Jesus discutia com os doutores da lei; o olhar após a última Ceia; o olhar, como que de despedida, antes de Nosso Senhor iniciar sua Paixão a caminho do Calvário; o pungente olhar no encontro d´Ela com Jesus com a Cruz às costas. Enfim, tantas outras trocas de olhares da Mãe com seu Divino Filho. 

O primeiro encontro de olhares foi no Natal, o último foi quando Ele estava no alto da Cruz e Ela a seus pés. 

Os encontros desses olhares são fantásticos! Podemos meditar Maria Santíssima olhando para seu Filho dormindo. Meditar no próprio olhar que aparece no Santo Sudário, com os olhos baixos, quando Ele vê mesmo através das pálpebras. Com seus olhos fechados, sentimos o olhar d´Ele ali estampado. 

Imaginar esses olhares nos facilita atos de contrição, propicia um pedido de perdão e cem outras atitudes que nos unem muito a Nossa Senhora. Contemplando os olhares, temos uma devoção especial a Ela. 

Essa devoção, ou a meditação desses olhares, pode trazer consigo o discernimento do Lumen Christi. Compreendemos neste prodigioso tipo de relação como o mundo seria quando considerado em Nosso Senhor Jesus Cristo! A astronomia, que é tão bela, passa a ser apenas do tamanho de um pires em comparação com isso! 

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 4 de janeiro de 1974. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

23 de dezembro de 2022

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz”*


O júbilo do Natal — este gáudio cristão ungido de paz e de caridade que faz com que durante alguns dias todos os homens experimentem um sentimento bem raro neste triste século: a alegria da virtude.

  Plinio Corrêa de Oliveira

Fonte: Catolicismo, Nº 12, Dezembro/1951 

Na festa do Santo Natal há várias noções que por assim dizer se superpõem. Antes de tudo, o nascimento do Menino Deus torna patente a nossos olhos o fato da Encarnação.

É a segunda Pessoa da Santíssima Trindade que assume natureza humana e se faz carne por amor de nós. Ademais, é o início da existência terrena do Senhor. Um início refulgente de claridades, que contém em si um antegosto de todos os episódios admiráveis de Sua vida pública e privada. 

No alto desta perspectiva está sem dúvida a Cruz. Mas nas alegrias do Natal mal divisamos o que ela tem de sombrio. Vemos apenas jorrar do alto dela, sobre nós, a Redenção. 

O Natal é assim o prenúncio da libertação, o sinal de que as portas do Céu vão ser reabertas, a graça de Deus vai novamente se difundir sobre os homens, e a Terra e o Céu constituirão outra vez uma só sociedade sob o cetro de um Deus Pai, e não mais apenas Juiz. 

Se analisarmos detidamente cada uma destas razões de alegria, compreenderemos o que é o júbilo do Natal, este gáudio cristão ungido de paz e de caridade que faz com que durante alguns dias todos os homens experimentem um sentimento bem raro neste triste século: a alegria da virtude. 


Encarnação: gáudio do encontro de Nosso Senhor com os homens 

A primeira impressão que nos vem do fato da Encarnação é a ideia de um Deus presente sensivelmente, e muito junto de nós. Antes da Encarnação, Deus era para nossa sensibilidade de homens o que seria para um filho um pai imensamente bom, mas morando em terras distantes. De todos os lados nos vinham os testemunhos de sua bondade. Porém não tínhamos a ventura de haver experimentado pessoalmente seus afagos, de ter sentido pousar em nós seu olhar divinamente profundo, gravemente compreensivo, nobremente afetuoso. Não conhecíamos a inflexão de sua voz. 

A Encarnação significa para nós o gáudio deste primeiro encontro, a alegria do primeiro olhar, o acolhimento carinhoso do primeiro sorriso, a surpresa e o alento dos primeiros instantes de intimidade. E por isto, no Natal, todos os afetos se tornam mais expansivos, todas as amizades mais generosas, toda a bondade mais presente no mundo. 

A humanidade reabilitada, enobrecida e glorificada 

Na alegria do Natal há, porém, uma grande nota de solenidade. Pode-se dizer que o Natal é de um lado a festa da humildade, mas de outro lado a festa da solenidade. Com efeito, o fato da Encarnação traz ao nosso espírito a noção de um Deus que assumiu a miséria da natureza humana na mais íntima e profunda das uniões que há na criação. 

Se da parte de Deus há a manifestação de uma condescendência quase incalculável, reciprocamente, quanto aos homens há uma promoção quase inexprimível. Nossa natureza foi promovida a uma honra que jamais pudéramos imaginar. Nossa dignidade cresceu. Fomos reabilitados,


enobrecidos, glorificados. 

E por isto, há qualquer coisa de discreta e familiarmente solene nas festas de Natal. Os lares se enfeitam como para os dias mais importantes, cada qual usa seus melhores trajes, a polidez de todos se torna mais requintada. Compreendemos à luz do presépio, a glória e a bem-aventurança de ser pela natureza e pela graça irmãos de Jesus Cristo. 

Jesus veio mostrar que a graça abre para nós as veredas da virtude 

Na alegria do Natal há também um quê do júbilo do prisioneiro indultado, do doente curado. É um júbilo feito de surpresa, de bem-estar e de gratidão. 

Com efeito, não há o que possa exprimir a tristeza desabusada do mundo antigo. O vício havia dominado a Terra, e as duas atitudes possíveis perante ele conduziam igualmente ao desespero. Uma consistia em buscar nele o prazer e a felicidade. Foi a solução de Petrônio, que morreu pelo suicídio. Outra consistia em lutar contra ele. Foi a de Catão, que, depois da derrota de Tarsus, esmagado pela borra do império, pôs fim à vida exclamando: “Virtude, não és senão uma palavra”. O desespero era, pois, o termo final de todos os caminhos. 


Jesus Cristo nos veio mostrar que a graça abre para nós as veredas da virtude, que torna possível na Terra a verdadeira alegria que não nasce dos excessos e das desordens do pecado, mas do equilíbrio, dos rigores, da bem-aventurança, da ascese. O Natal nos faz sentir a alegria de uma virtude que se tornou praticável, e que é na Terra um antegozo da bem-aventurança do Céu. 

Com o Natal começa a derrota do pecado e da morte

Não há Natal sem Anjos. Sentimo-nos unidos a eles, e participantes daquela alegria eterna que os inunda. Nossos cânticos procuram neste dia imitar os seus. 

Vemos o Céu aberto diante de nós, e a graça elevando-nos desde já a uma ordem sobrenatural em que as alegrias transcendem a tudo quanto pode o coração humano excogitar. É que sabemos que com o Natal começa a derrota do pecado e da morte. Sabemos que ele é o início de um caminho que nos levará à Ressurreição e ao Céu. Cantamos no Natal a alegria da inocência redimida, a alegria da ressurreição da carne, a alegria das alegrias que é a eterna contemplação de Deus. 

E por isto é que, quando os sinos anunciarem à Cristandade dentro de alguns dias o Santo Natal, haverá mais uma vez a alegria santa sobre a Terra. 

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* Populus qui habitabat in tenebris vidit lucem magnam; habitantibus in regione umbrae mortis lux orta est eis (“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz” - Isaías 9,1).

22 de dezembro de 2022

Em Belém, durante as trevas, nasceu a Luz do mundo, Sol de eterno fulgor


Resplandeceu uma Luz, é Natal, um sentimento raro neste século: a alegria pela posse da virtude, a alegria da inocência redimida e da contemplação de Deus. 

Fonte: Editorial da Revista Catolicismo, Nº 864, dezembro/2022 


“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz” (Is 9,1). Assim, de modo poético e com mais de 600 anos de antecedência, previu o Profeta Isaías o nascimento de Jesus. 

Outros anúncios da vinda do Filho de Deus que nasceria de uma Virgem foram prognosticados por Isaías e outros Profetas, como estão perpetuados nas Sagradas Escrituras. 

Os justos do Antigo Testamento esperavam que o mundo sairia das trevas quando as profecias sobre a vinda do Messias se realizassem. E se realizaram com o “Sol de Justiça” que surgiu para “iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,79). 

Durante as trevas, numa fria noite, numa gruta nos arredores de Belém, nasceu o prometido Sol, aquele que disse “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). 

Donde os símbolos que usamos na época de Natal para ornamentar nossas casas, como a vela que ilumina, a estrela que guia, o sol que aquece, o galo que canta anunciando o nascer do sol. 

No sentido do citado versículo de São João Evangelista, em dezembro de 1951 escreveu Plinio Corrêa de Oliveira em seu primeiro artigo de Natal para o nosso mensário, cuja íntegra constitui a matéria de capa da revista Catolicismo deste mês: 

“O Natal é o prenúncio da libertação, o sinal de que as portas do Céu vão ser reabertas, a graça de Deus vai novamente se difundir sobre os homens, e a Terra e o Céu constituirão outra vez uma só sociedade sob o cetro de um Deus Pai, e não mais apenas Juiz”. 

Complementando a matéria de capa, publicamos duas outras com temas também natalinos: a Consoada da Noite de Natal e origens da Árvore de Natal. 

Desejamos a todos os nossos leitores e colaboradores um Santo e Feliz Natal, bem como um Ano Novo assistido com graças e benções especiais do Menino Jesus e de sua Mãe Santíssima para derrotarmos assim o “poder das trevas”.

20 de dezembro de 2022

Há 200 anos falecia o “Bandeirante de Cristo”

 

Mosteiro da Luz, na capital paulista [Foto PRC]

✅  Paulo Roberto Campos 

Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, OFM, popularmente conhecido como Frei Galvão, foi o primeiro brasileiro canonizado, embora já em vida fosse considerado santo. Era também conhecido, por sua heroica ousadia, como “Bandeirante de Cristo” — conforme expressão consagrada da Irmã Beatriz do Espírito Santo, freira do Mosteiro da Luz, em seu livro assinado com o pseudônimo Maristela.[1] 

Descendia dos primeiros povoadores da Capitania de São Paulo, correndo em suas veias o sangue de bandeirantes, pois sua muito virtuosa mãe, Da. Isabel Leite de Barros, era bisneta do célebre Fernão Dias Paes Leme, “O caçador de esmeradas”

Nascido em 1739 na cidade paulista de Guaratinguetá, Frei Galvão pertencia a uma família de fazendeiros distintos e abastados, mas renunciou a tudo — brilhante situação social, prazeres e glórias do mundo — para servir inteiramente a Deus. Ingressou na Ordem Franciscana, na qual fez seus votos solenes em 16 de abril de 1761. No ano seguinte foi ordenado sacerdote. Consagrou-se como “filho e perpétuo escravo da Virgem Santíssima Minha Senhora” em 9 de novembro de 1766, consagração assinada com seu próprio sangue. 

Como ele empreendia viagens em missões apostólicas por outras cidades — algumas vezes em dois lugares ao mesmo tempo, devido ao dom de bilocação que recebera de Deus —, o Senado da Câmara de São Paulo, desejando “segurá-lo” na capital, escreveu em 1798 ao Superior dos Franciscanos rogando-lhe que Frei Galvão não fosse mais designado para atividades em outras povoações: “Todos os moradores desta Cidade não poderão suportar um só momento a ausência do dito religioso. […] Este homem tão necessário às religiosas da Luz, é preciosíssimo a toda esta Cidade e Vilas da Capitania de São Paulo, é homem religiosíssimo e de prudente conselho; todos acorrem a pedir-lho; é homem da paz e da caridade”

Patrono dos engenheiros e arquitetos 

Sua obra mais conhecida é o Mosteiro da Luz, das Irmãs Concepcionistas da Imaculada Conceição. Fundado em São Paulo no dia 2 de fevereiro de 1774 com o nome de “Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência”. Fundação cujo estímulo partiu da Irmã Helena Maria do Espírito Santo (1736 - 1775), religiosa privilegiada com revelações de Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe pediu um novo convento na “São Paulinho” de então. 

Se hoje o belíssimo e extremamente aconchegante Mosteiro da Luz é considerado “Patrimônio Cultural da Humanidade” pela UNESCO, devemo-lo a Frei Galvão, que ao longo de quase 50 anos foi seu projetista, engenheiro e mestre de obra. Por isso, ele é considerado o patrono dos engenheiros e arquitetos. 

O edifício abriga, além do convento das concepcionistas, a igreja (inaugurada no dia da Imaculada Conceição de 1802) e o esplêndido e concorrido Museu de Arte Sacra de São Paulo. Há 200 anos que o local é visitado por muitos peregrinos e fiéis que ali vão rezar, pedir ou agradecer graças alcançadas, como também para obter das freiras as muito conhecidas (e milagrosas) “Pílulas do Frei Galvão”, distribuídas por elas. 

O que são as “Pílulas do Frei Galvão”? 

Azulejo de Frei Galvão no Mosteiro da Luz [Foto PRC] 

Essas “pílulas”, em papeizinhos brancos, têm operado verdadeiros milagres — curas inexplicáveis pelas ciências, inclusive de câncer, e até mesmo curas espirituais de pecadores. São particularmente benfazejas às mães com dificuldades na gravidez ou em momentos antes do parto; tomando-as com fé, seus filhos nascem normalmente e saudáveis. Sobre a origem das “pílulas” milagrosas, ver texto abaixo extraído de um folheto disponível no Mosteiro da Luz. 

No Mosteiro estão guardados milhares de relatos de pessoas beneficiadas com graças do primeiro santo brasileiro, de suas “pílulas”, ou mesmo de milagres confirmados, como curas de graves enfermidades. 

Em entrevista exclusiva para Catolicismo (edição de setembro/1998), a Irmã Célia B. Cadorin[2] (1927-2017) explicou-nos o seguinte: 
“Remédios e consultas médicas hoje são caros. Nosso povo tem fé e, por isso, as ‘pílulas’ de Frei Galvão são cada vez mais procuradas no Mosteiro da Luz. Há um boletim que as irmãs concepcionistas dessa casa religiosa publicam mensalmente denominado Celeste Orvalho. Nele, são relatadas as graças recebidas mediante a intercessão do novo Beato, as quais são comunicadas pelos beneficiários, por escrito, ao Mosteiro da Luz. 

Chama a atenção, neste último mês, o fato de que muitas pessoas apresentavam câncer num primeiro exame. Submetidas a um segundo, não denotavam mais nenhum sintoma da doença. 

Eu levei para o Vaticano um registro de tais graças, obtidas desde 1930 até 15 de setembro de 1990: o total era 23.920 graças!” 

A milagrosa cura de Daniela Cristina 

Caso Daniela Cristina 
Nessa mesma entrevista a Catolicismo, a religiosa narra um dos milagres comprovados, necessário para a beatificação de Frei Galvão: 

“Trata-se da cura de uma criança de quatro anos, Daniela Cristina da Silva, filha de Valdecir da Silva e Jacira Francisco da Silva, residentes em Vila Brasilândia, à rua Padre José Materni, 598, na capital paulista. 

Em maio de 1990, devido a complicações bronco-pulmonares, a criança foi internada e tratada com antibióticos e metoclorpramida. 

Obtida a alta hospitalar, Daniela voltou para casa, mas logo depois começou a apresentar sonolência e crises convulsivas, sendo encaminhada por seu pediatra, na noite de 24 de maio de 1990, ao Hospital Emílio Ribas (hoje Instituto de Infectologia Emílio Ribas), em São Paulo. Havia suspeita de que a moléstia fosse meningite ou hepatite. 

Levada para a UTI do hospital, o diagnóstico inicial foi: coma por encefalopatia hepática, causada por hepatite do vírus A, insuficiência hepática grave, insuficiência renal aguda e intoxicação por causa da metoclorpramida. Havia ainda hipertonia intensa nos membros inferiores e superiores. 

Com o diagnóstico posterior de ‘insuficiência hepática fulminante’, a criança sofreu ainda parada cardiorrespiratória. O quadro clínico evoluiu com a ocorrência de epistaxe, sangramento gengival, hematúria, ascite, progressivo aumento da circunferência abdominal, broncopneumonia, parotidite bilateral, faringite, além de dois episódios de infecção hospitalar. A menina permaneceu 13 dias (de 25 de maio a 7 de junho de 1990) na UTI.

A intervenção divina para salvar a criança foi pedida por pais, parentes, amigos, vizinhos e religiosas do Mosteiro da Luz, que, unidos numa só prece, invocaram com muita fé a intercessão de Frei Galvão. 

Da UTI, a criança passou para a Seção de Pediatria do mesmo hospital. A 13 de junho, foi efetuada uma biópsia hepática, cujo resultado foi: ‘Hepatite aguda colestática’.

Em 21 de junho de 1990, Daniela recebeu alta hospitalar, sendo ‘considerada curada’. Acompanhada ambulatorialmente, a menina não apresentou depois mais recaída.

Em 1995, o pediatra, que cuida da saúde de Daniela desde seu nascimento, atestou: ‘A menor foi examinada por mim nesta data (4-8-95), estando a mesma em perfeitas condições de saúde física e mental’. 

O mesmo médico, perante o Tribunal Eclesiástico, afirmou o seguinte a respeito da cura da criança: ‘Eu atribuo à intervenção divina não só a cura da doença, mas a recuperação total dela’. 

Após Daniela receber alta do hospital, seus pais, parentes e amigos levaram-na diretamente ao túmulo de Frei Galvão, na capela do Mosteiro da Luz. E, algum tempo depois, realizaram uma comemoração para agradecer a Deus a cura miraculosa. 

Vários médicos depuseram no processo. Conseguimos todas as provas científicas da cura, tendo sido esta comprovada de maneira límpida. 

Hoje, Daniela, com 12 anos, é uma menina saudável e alegre, cursa a 6ª série e continua a residir com seus familiares em Brasilândia”. 

Santa morte e sepultura no Mosteiro 

Capela do Mosteiro da Luz [Foto PRC]
O grande santo brasileiro entregou sua alma a Deus aos 83 anos, no mesmo mosteiro que havia construído. Sua sepultura, muito visitada por devotos de todo o Brasil, encontra-se hoje diante do altar-mor da igreja do Mosteiro da Luz, sob uma grande lápide com os seguintes dizeres: 
“Hic jacet Fr. Antonius a Sant’Anna Galvão, hujus almae domus inclytus fundator et director qui animam suam in manibus suis semper tenens placide obdormivit in Domino die 23 decembris anno 1822”. (Aqui jaz Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, ínclito fundador e diretor desta casa, que tendo sua alma sempre em suas mãos, placidamente faleceu no Senhor no dia 23 de dezembro de 1822).[3]

Canonização — “honrado entre os santos” 

Depois de meticulosa análise, iniciada em 1938, de toda a vida de Frei Galvão, a Igreja concedeu-lhe a honra e a glória dos altares. É o reconhecimento oficial de que ele praticou em grau heroico as virtudes cristãs, bem como da autenticidade dos milagres por ele operados. Isso foi solenemente confirmado no dia 11 de maio de 2007, na capital paulista, quando — perante mais de um milhão de pessoas reunidas no Campo de Marte (capital paulista) — o Papa Bento XVI proclamou: “Declaramos e definimos como santo o beato Antônio de Sant’Anna Galvão, e o inscrevemos na Lista dos Santos, e estabelecemos que, em toda a Igreja, ele seja devotamente honrado entre os santos”. 

Temos, portanto, um “Bandeirante de Cristo” como excepcional embaixador no Céu. Que ele nos obtenha do Divino Redentor o discernimento e a força de alma necessária para, a exemplo dos francos e de sua gesta por Deus, empreendermos uma “gesta Dei per brasiliensis”; a graça de lutar denodadamente, dentro das leis de Deus e dos homens, a fim de impedir que o regime comunista se instale no Brasil; e de contribuir para que esse regime opressor e seus “companheiros de viagem” sejam definitivamente afastados da América Latina e do mundo. 
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Notas: 
1. Maristela, “Frei Galvão – Bandeirante de Cristo”, Editora Vozes, São Paulo, 1998. A primeira edição é de 1954. 
2. Nascida em Nova Trento (SC), a Irmã Célia B. Cadorin pertencente à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada em 1890, em Santa Catarina, pela Santa Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Entre algumas outras causas, ela foi a postuladora da causa de beatificação de Frei Galvão (o que ocorreu em 1998) e depois da canonização (2007). 
3. A fim de melhor conhecer a vida de Frei Galvão, recomendamos o livro de Armando Alexandre dos Santos, “Frei Galvão, o primeiro Santo brasileiro”, Editora Petrus, São Paulo. 2007. https://livrariapetrus.com.br/ 

“PILULAS DE FREI GALVÃO” 

“Certo dia Frei Galvão foi procurado por um senhor muito aflito, porque sua mulher estava em trabalho de parto e em perigo de perder a vida. Frei Galvão escreveu em três papelinhos o versículo do Ofício da Santíssima Virgem: Post partum Virgo Inviolata permansisti: Dei Genitrix intercede pro nobis (Depois do parto, ó Virgem, permanecestes intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós). Deu-os ao homem, que por sua vez levou-os à esposa. Apenas a mulher ingeriu os papelinhos, que Frei Galvão enrolara como uma pílula, a criança nasceu normalmente. 

Caso idêntico deu-se com um jovem que se estorcia com dores provocadas por cálculos visicais. Frei Galvão fez outras pílulas semelhantes e deu-as ao moço. Após ingerir os papelinhos, o jovem expeliu os cálculos e ficou curado. 

Esta foi a origem dos milagrosos papelinhos, que, desde então, foram muito procurados pelos devotos de Frei Galvão, e até hoje o Mosteiro fornece para as pessoas que têm fé na intercessão do Servo de Deus” (transcrito de folheto distribuído no Mosteiro da Luz). 

*   *   * 
Tornando-se muito conhecidas as curas milagrosas, aumentaram enormemente os pedidos pelas “Pílulas do Frei Galvão”. Assim, até os presentes dias, as freiras concepcionistas do Mosteiro da Luz repetem a “fórmula” ensinada por suas irmãs que viveram nos tempos de Frei Galvão e que com ele aprenderam diretamente. 

Para obter essas prodigiosas “pílulas”, basta se apresentar à portaria do Mosteiro, que fica na Av. Tiradentes, 676 – Luz – São Paulo – SP.

16 de dezembro de 2022

DOM PEDRO II — ARQUÉTIPO DO BRASIL

Dom Pedro II retratado por Mathew Brady (1876)

P
ara a atual e caótica situação política brasileira vem muito a propósito o grande exemplo do Imperador Dom Pedro II, agindo em inteira consonância com a afetividade do brasileiro e representando arquetipicamente nosso povo. 

Esse aspecto foi comentado por Plinio Corrêa de Oliveira em sua conferência, em 17-2-89, para sócios e cooperadores da TFP. 

O Imperador retratado por Delfim da Câmara (1875).


“No tempo de Dom Pedro II, éramos indiscutivelmente um povo em que a organização da família ainda estava viva e pujante, muito de acordo com o modo de ser afetivo do brasileiro. O velho Imperador — respeitável, venerável e bondoso, com cabelos e barbas brancos — foi durante décadas, por assim dizer, “o vovô do Brasil”; e o Brasil se deliciava em ser neto de Dom Pedro II. 

O modo como ele governava e dirigia a política brasileira era inteligente e cheio de jeitinhos, como o brasileiro gosta. O que fosse imposto à força, de acordo com o modelo de Frederico II da Prússia, não era apreciado pelos brasileiros e poderia “azedar” as relações muito desagradavelmente, ou até fatalmente. 

Naqueles tempos, a Constituição brasileira era liberal e reduzia muito os poderes do monarca. Mas ele era muito sagaz e servia-se do prestígio de Imperador para negociar nos bastidores o curso da política, de tal maneira que se tornou o principal político do País. Acomodava os problemas e abafava as revoltas, fazendo reinar a paz com muita prosperidade. Assim o Brasil se tornou uma das maiores nações, com uma esquadra mercante que era a segunda maior do mundo.

Apesar de o Imperador seguir inteiramente a Constituição, os políticos liberais reclamavam muito dele, dizendo que exercia um “poder pessoal” extra-constitucional, porquanto acumulava os dois poderes. A resposta dele era que nada na Constituição o impedia de exercer influência política. Os liberais vociferavam, mas nada podiam contra a força moral do Imperador. Assim ele conduziu a política até o fim de sua vida, quando foi destronado. Deixou nos brasileiros saudades daquela época, pois o Imperador os representava arquetipicamente”.

13 de dezembro de 2022

UM RUMO PARA O BRASIL


C
omo colaborar para que o Brasil escape dessa atual encruzilhada? Qual a solução para escapar desse caos? 

Do “O Legionário”, de 2-9-1934, destaco um trecho de artigo de Plinio Corrêa de Oliveira indicando um rumo para se resolver o problema. 



“Não é de um ou de alguns homens que devemos esperar a salvação do Brasil. 

Um país que se deixa guiar por movimentos meramente personalistas é um país que caminha muito longe de sua salvação. 

O Brasil precisa é de uma idéia. Esta Idéia ou este Ideal, que intencionalmente escrevemos com “I” maiúsculo, não precisamos dizer aos leitores qual seja. Não é propriamente “um ideal”, mas “O Ideal”, o nosso Ideal, o Ideal por excelência: é o Catolicismo, em todo o vigor de sua pujança sobrenatural e no esplendor de sua prática integral”.