29 de maio de 2021

75 anos da solene Consagração do Brasil ao Coração Imaculado de Maria


Paulo Roberto Campos

Em recordação desta importante efeméride, reproduzimos artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, no jornal “Legionário”, em 2 de junho de 1946 (Nº 721, pag. 1 – fac-símile abaixo). 

O grandioso evento realizou-se na presença de 40 Arcebispos e Bispos, além dos dois Cardeais brasileiros daquela época, na festa de Nossa Senhora Rainha (31 de maio de 1946) — conforme noticia o mesmo jornal no dia 9 de junho. 

Em nossos dias, mais do que nunca — devido à crise moral que atinge todos os povos, e inclusive para suplicar pelo fim da atual pandemia — temos necessidade da renovação dessa Consagração de nossa Pátria ao Imaculado Coração. 

Por que hoje, na comemoração dos 75 anos da Consagração, nossos atuais prelados não promovem em todo território nacional uma grande, pública e solene renovação daquele compromisso de entrega e dedicação à Santíssima Virgem? — Certamente, porque estamos em pleno processo de “autodemolição da Igreja” (expressão de Paulo VI), levado a cabo, infelizmente, por mãos de pastores que em vez de guiar os católicos, deixam-nos abandonados, entregues aos “lobos” vorazes em corromper as almas, em debilitar a fé católica. 

Consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria 


✅  Plinio Corrêa de Oliveira
Legionário, 2 de junho de 1946, Nº. 721 pág. 1 


N
a sexta-feira pp. (31 de maio) realizou-se um dos atos de piedade mariana de maior significação na vida religiosa do Brasil. Na presença de Sua Emcia. D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e de considerável número de Arcebispos e Bispos do Brasil, do Exmo. Sr. Presidente da República, e dignatários do Estado, S. Emcia. o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro D. Jaime de Barros Câmara consagrou a nossa pátria ao Coração Imaculado de Maria

Esse ato foi precedido de numerosas consagrações locais, em que Bispos Diocesanos consagraram suas circunscrições ao Coração de Maria. 

Como se sabe, manifestando-se em Fátima aos pequenos pastores, Nossa Senhora exprimiu o desejo de que todo o orbe cristão se consagrasse ao seu Puríssimo Coração, como meio de evitar as catástrofes contemporâneas. 

Atendendo a este apelo, os Exmos. e Revmos. Srs. Bispos do Brasil resolveram efetuar, no dia consagrado à Medianeira de todas as graças, a consagração do Brasil

É supérfluo declarar com quanta devoção o Brasil católico se associou a este belíssimo gesto. É da proteção de Nossa Senhora que todos aguardamos a salvação do Brasil, dos inumeráveis males que nos ameaçam no momento e, particularmente, do perigo do fascismo vermelho de Moscou

*   *   * 

Legionário, 9 de junho de 1946, N. 722, pag. 1-2 
Semana de A.C. (Ação Católica) no Rio de Janeiro 

O Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra e o Cardeal 

do Rio de Janeiro, D. Jaime de Barros Câmara


E
ncerram-se com grande brilho as comemorações da Semana de A.C., do Rio de Janeiro, convocada pela Comissão Episcopal da A.C. e organizada pela Junta Nacional da A. C., cujo presidente é o sr. Hildebrando Leal. 

Esta “Semana” coincidiu com a gratíssima cerimônia da consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria e, durante ela, notava-se a presença, no Rio de Janeiro, de 40 Arcebispos e Bispos, além dos dois Eminentíssimos srs. Cardeais brasileiros. 

Finda a “Semana”, o Venerando Episcopado esteve em visita ao Exmo. Sr. Presidente da República, General Eurico G. Dutra. Sua Eminência, sr. cardeal Arcebispo D. C. Carmelo de V. Motta [foto ao lado], dias antes almoçou no Palácio Guanabara em companhia do chefe de Estado. 


É esta a belíssima fórmula de consagração, lida por ocasião da tocante cerimônia do Rio de Janeiro: 


“Ó
Maria, Virgem amorosíssima e nossa Mãe, lançai um olhar benigno sobre o povo desta Nação, humilde parte da vossa grande família, que (n.d.c.: erro tipográfico no jornal – é de se supor que as palavras que faltam sejam na linha de: hoje se consagra ao Vosso Coração Imaculado). A isto nos move não só o nosso filial afeto para convosco, mas também a necessidade que sentimos de uma assistência vossa mais especial, nestes calamitosos tempos. 

Vede, ó Maria, como se procura extinguir a fé em nossos corações com o gelo do indiferentismo e da incredulidade. Vós, que sois a Sede da Sabedoria, preservai-nos a todos da vã ciência do século, e conservai-nos inabaláveis na fé santíssima de Vosso Filho. 

Vede as ciladas que em toda parte se armam aos bons costumes, contaminando todas as coisas com o mais desenfreado sensualismo. Purificai, ó Virgem Imaculada, de tantas impurezas a Terra; ou ao menos, conservai limpas as nossas famílias. 

Vede como se tenta convulsionar a sociedade e lançá-la no torvelinho da rebelião contra toda a lei e autoridade. 

Conservai, portanto, ó augusta Rainha nossa, entre as classes do vosso povo a ordem por Deus estabelecida, e não permitais que os conselhos dos ímpios prevaleçam. Finalmente, tende misericórdia da Igreja, ó Auxílio dos Cristãos; tende piedade do seu venerando Chefe; e apressai o momento em que a humanidade inteira seja um só rebanho sob um só Pastor. 

Aceitai, pois, ó boa Mãe, a consagração que este povo faz hoje de si mesmo ao Vosso Coração materno; e, como prova de vosso benigno acolhimento, fazei que todos sintam a vossa proteção na vida e na morte. Assim seja”.
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26 de maio de 2021

ROMA — MARCHA CONTRA O ABORTO


Paulo Roberto Campos

Com enorme participação popular, transcorreu na Cidade Eterna no último sábado, 22 de maio, a “10ª Marcha pela Vida”. Superando a expectativa, surpreendeu a mídia e aos organizadores observar a Via dei Fori Imperiali repleta de famílias inteiras com suas crianças e diversas associações que lutam contra a prática abortiva na Itália. 

Eduard Habsburg, Janusz Kotanski
e Virginia Coda Nunziante
Segundo o Corriere della Sera, o maior diário de Milão, mais de cinco mil pessoas estiveram presentes, apesar dos receios próprios à pandemia do coronavírus. O evento, cuja primeira edição foi realizada em 2011, teve início com a recitação do Santo Rosário presidido pelo Cardeal Raymond Burke e diversos outros prelados e personalidades, como os embaixadores da Polônia e da Hungria junto à Santa Sé, Janusz Kotanski e Eduard Habsburg [foto ao lado].



A presidente da “Marcha pela Vida”, Virginia Coda Nunziante [foto ao lado e abaixo], agradeceu a presença das eminentes personalidades. "Precisamos de nossos políticos, para revogar o 194 e mudar essas leis de nosso país, que se opõem ao direito natural". Ela afirmou também que todos precisavam denunciar essa lei 194, tão injusta que legalizou o assassinato de bebês e que “já executou, em 43 anos, mais de seis milhões de inocentes”

A seguir, transcrevemos as palavras pronunciadas no evento pelo embaixador da Hungria, o Arquiduque da Casa d´Áustria Eduard Habsburg. Trata-se da tradução, que gentilmente nos foi concedida pelo site Dies Irae (Portugal), do texto publicado originalmente em italiano no portal Corrispondenza Romana


“Urge uma mudança de atitude” 


S
ou Eduard Habsburg, Embaixador da Hungria junto da Santa Sé. Mas, acima de tudo, sou um homem, pai de família com uma belíssima esposa e seis lindos filhos (alguns deles estão aqui hoje). Antes do cargo diplomático, trabalhei, durante cinco anos, em questões relativas à família para a Conferência Episcopal Austríaca. Podeis acreditar que os temas de família e da vida, aborto, eutanásia, são-me muito caros. Parabéns a todos que, apesar dos tempos difíceis em que vivemos, viestes dar testemunho pela vida. Porque o compromisso com a vida e com a família faz a diferença em todas as sociedades do mundo. 

Quero contar-vos uma pequena história. Estou em Roma há cinco anos. Já conheço muitos caminhos porque gosto imenso de andar a pé e de carro. Bem, há dois anos, depois de três anos em Roma, paro num sinal vermelho e vejo uma senhora, que estava visivelmente grávida, a atravessar a rua. Que lindo! — pensava eu. Uma mulher grávida! Depois, pensei um pouco mais e apercebi-me que, nesses três anos, era a primeira vez que via uma mulher grávida na rua. E pensei: esta é a Itália! A Itália deveria ser o país das crianças! E era até há poucos anos atrás — de fato, vendo o filme La Strada, de Fellini, podemos ter uma última visão de aldeias cheias de crianças. Mas, posteriormente, aconteceu algo que, de forma semelhante, também aconteceu em muitos países europeus. E, hoje, as aldeias, as ruas estão vazias e vêem-se poucas mulheres grávidas. Mas não deve ser assim! 

Trago-vos uma bela mensagem da Hungria. A mensagem central é esta: é possível encorajar as famílias a dizerem sim à vida! O governo húngaro trabalha, desde há nove anos, com uma política familiar ativa para esse fim e temos alcançado resultados belíssimos. Aconteceram: um aumento dos matrimônios de 40%, uma queda nos divórcios de 25%, uma diminuição dos abortos de 30%. Só em 2019 tivemos um crescimento de 9,4% nos nascimentos e um crescimento de 100% nos matrimônios. 

O que é necessário para tal mudança? A vontade do governo de trabalhar pela família. Para ajudar as famílias e transmitir a mensagem de que muitas crianças são um presente para a sociedade, é preciso ajudar economicamente as famílias: com empréstimos a fundo perdido, com redução ou abolição de impostos, com auxílios financeiros para o lar ou para um novo family van

Mas as medidas não param por aqui. Urge uma mudança de atitude. Precisamos da visibilidade da família no cenário público. Políticos, celebridades, atores com famílias e filhos que também se apresentam ao vivo. 

E, para concluir, é sempre uma grande ajuda se os principais membros do governo não são apenas Cristãos, mas se falam e agem como Cristãos. Porque a fé cristã e a família caminham juntas! Coragem para as vossas famílias! Obrigado pelo vosso testemunho pela vida! Rezemos por uma Itália novamente cheia de crianças!


24 de maio de 2021

Agitação insana das ‘lives’ contraposta à paz no convívio medieval


✅ 
Luis Dufaur

Quando videoconferências, teletrabalho e sistemas semelhantes de home office substituem o relacionamento humano, as pessoas sofrem de exaustão e até de esquizofrenia. Sobretudo com o uso intensivo e cotidiano de tais sistemas, como acontece nesses dias de confinamento, segundo se deduz do artigo da psicóloga e pesquisadora da PUC-SP, Katty Zúñiga, publicado numa reportagem da “Folha de Pernambuco”: “Cada vez mais as pessoas se queixam de se sentirem cansadas ou esgotadas nessa nova realidade em que a casa se tornou o local para se fazer tudo”. 

A fadiga do ‘zoom’ 

‘Zoom fatigue’ é a denominação atribuída recentemente à fadiga causada pelo Zoom, uma plataforma muito usada nos encontros virtuais ou ‘lives’. O mosaico de muitas caras de pessoas conectadas sobrecarrega o cérebro. Explica a psicóloga: “Presencialmente, as reuniões de trabalho, ou mesmo as salas de aula, são permeadas por momentos de distração, descontração. Já no online, não há isso, e a parte cognitiva fica em constante estado de atenção”. O fato de não seguir os padrões humanos da convivência exige uma hipervigilância, que no fim do dia se revela devastadora. 

O atraso entre a fala e a escuta na transmissão de dados, e a falta de liberdade de movimentos que a câmera ligada induz, aumentam o desgaste, afirma Marcos Oreste Colpo, psicólogo e professor da PUC-SP: “Quando você está conversando presencialmente, o corpo também fala, mostra inquietações. Nesses sinais, você aprende sobre o outro, percebe aprovação ou reprovação”. 

Quando ele ministra aulas remotas, os alunos desligam as câmeras, morrendo o relacionamento no grupo, que fica sem reações afetivas. Isto é devastador para a psique humana, que não funciona como circuitos eletrônicos, mas é um espírito vivo. 

Problemas na visão 


Danilo Soriano, doutor em oftalmologia da USP, explica que a longa exposição à luz da tela do computador tem efeitos oculares que acentuam a exaustão: “Prestar atenção nas telas por horas seguidas faz que a gente fique muito tempo sem piscar”, aumentando a chance de ressecamento ocular e de presbiopia, ou ‘vista cansada’. Soriano recomenda soluções paliativas: uma pausa caso os olhos fiquem irritados, ardendo ou lacrimejando; lubrificá-los para evitar um cansaço excessivo; ou usar um protetor de tela. 

“Os smartphones já tinham nos colocado numa tensão constante”, afirma Zúñiga. Mas não se revelou verdadeira a ideia de que permanecer no lar é melhor: “Ao contrário, as pessoas estão ainda mais sobrecarregadas nas suas casas”. A psicóloga recomenda conferir se é o caso de deixar a conversa para depois, ou então marcar um horário: “A melhor coisa é ser sincero e dizer que não pode falar naquele momento, sem rodeios”. 

Fim do relacionamento 

O especialista em comportamento André Spicer afirma que as videochamadas tornam irreais os contatos. Diante da tela perdemos muitos sinais indispensáveis na vida real, como o cheiro da sala ou detalhes em nossa visão periférica. Esses dados adicionais nos ajudam a entender o que se passa. Quando eles inexistem, nosso cérebro multiplica o trabalho para entender, e às vezes chega a uma conclusão errada. Por exemplo, um estudo do desempenho virtual de candidatos em entrevistas de emprego mostrou resultados piores que quando entrevistados presencialmente.

Outro estudo descobriu que num seminário virtual os médicos se concentravam no apresentador, e só no comparecimento presencial focavam a razão de ser do encontro. Os juízes que deviam julgar casos de refugiados por asilo mostravam-se inseguros nas entrevistas por vídeo, além de seu entendimento ser pior. Descobertas as fraquezas do método, as partes são propensas a enganar os juízes, que ficam menos capazes de detectar as falsidades. 

Na conversa online se perde o contato com a personalidade, porque “não há espaço para um papinho paralelo, um comentário baixinho para um amigo que está no bar com você, ou um olhar atravessado para um colega de trabalho que vai lhe entender do outro lado da mesa. Quando você chega numa reunião no escritório, tem aquele papo no café, tem um tititi antes. Esse tititi, em geral, nós perdemos [no online]. Não tem um social que envolve o trabalho, não tem como olhar na expressão das pessoas se aquilo causou algum incômodo ou tédio. Com tanta gente, você perde a individualidade”. É o que explica a psicóloga Maluh Duprat, pesquisadora do Laboratório de Estudos de Psicologia e Tecnologias da Informação e Comunicação da PUC-SP. Também diminui nossa capacidade de ‘medir a temperatura’ do ambiente da conversa. Sem uma leitura corporal, é difícil saber se a fala é bem-vinda, quando encerrá-la ou outras decisões ditadas pela percepção das atitudes psicológicas. 

No contato virtual, os colegas de trabalho ou os alunos de um curso perdem a sensação de pertencerem a um grupo. Estudos observaram que assim os mestres não podem ‘ler’ a sala de aula ou a equipe de estudo; isso é danoso para a interação aluno-professor; e gera piores desempenhos. Para os chefes o dano é maior, pois não podem julgar a acolhida dos empregados ou dependentes, não conseguem encontrar expressões de concordância, desacordo ou tédio. 

Quem modera uma ‘live’ fica facilmente perdido, diz Duprat. Pode ser que o outro desligue a câmera porque tinha uma necessidade, ou foi embora por desgosto: “Você não tem como saber se o sujeito foi fazer outra coisa, ou o quanto dele está ali”. 

Funcionária do Capitólio da Virgínia, nos EUA, monitora uma reunião de Zoom entre membros da Casa.

Presença, papel e caneta levam a melhor 

Os intérpretes da ONU e da União Europeia sentem-se escravizados pelo sistema. E os terapeutas dizem que “perdem a conexão” com seus pacientes nas consultas por vídeo (telemedicina). Outra análise verificou que os funcionários remotos padecem uma forma de exílio, pois se sentem esquecidos. Spicer recomenda arranjar outras atividades durante uma ‘live’: fazer pausas; afastar-se da tela para refletir e se recuperar; desligar a câmera; considerar que há formas de comunicação mais eficientes que as videoconferências. 

Há momentos em que funciona melhor não ter comunicação e permanecer em silêncio. Até papel e caneta levam vantagem, pois constatou-se que um agradecimento escrito manualmente deixa os destinatários muito mais felizes. 

Sedentarismo danoso 

Longas horas em ‘lives’ levam a um nível prejudicial de sedentarismo. Mesmo as pessoas não ativas sofrem agora com a falta de pausas para alongamentos, beber água, até para ir ao banheiro. Os intervalos para o cafezinho são escassos, e o tempo para fazer algum exercício é quase nulo. Por isso o Prof. Jeremy Bailenson, que liderou estudo da Universidade Stanford, julga necessário fazer pausas periódicas para refrescar o corpo e a mente. Segundo a neurocientista Thaís Gameiro, doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), enquanto funcionarem plataformas como Zoom, Google Meet e Microsoft Teams, alertas de exaustão estarão sendo enviados para o seu cérebro. 

De todas as empresas procuradas pela reportagem do caderno LINK do jornal “Estado de S. Paulo” (abaixo citada), apenas o Google não se pronunciou. A Zoom acolheu conselhos para moderar o uso de sua plataforma. A Microsoft pesquisa desde o ano passado os danos das ‘lives’ aos usuários. Mas parece pouco. Pelo jeito, a única saída é adotar pausas para caminhar, ir ao banheiro e beber água periodicamente; e, sempre que possível, ficar com a câmera desligada. Reservar um local de trabalho para as chamadas virtuais também pode ajudar o corpo a entender quando é hora de descanso e quando é hora de trabalho. 

A memória rateando 

Ronald Fischer, psicólogo e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) da Victoria University de Wellington, Nova Zelândia, afirma: “No Zoom, Teams, Skype ou outro, muita informação visual é cognitivamente cansativa. [...] Estudos demonstram que a memória funciona melhor quando se liga a ambientes específicos. Quando voltamos àquele ambiente, ele nos ajuda a recordar a experiência. Sem ambiente fica mais difícil para o nosso cérebro guardar todas essas reuniões”. 

Pequenos atrasos na conexão afetam negativamente a forma como vemos uns aos outros. Um delay de 1,2 segundos traz ao nosso subconsciente a impressão enganosa de que a outra pessoa é menos amigável. Afinal, o outro pode montar um ambiente artificial, ou introduzir um fundo de tela que não tem nada a ver com o local em que está, e mudá-lo como preferir. Outro estudo mostrou que o distanciamento reduz a empatia pelo próximo. “A esquisitice aumenta se as pessoas não estão familiarizadas umas com as outras. Elas não têm conhecimento prévio da personalidade do outro ou como ele fala”, afirma a pesquisadora Katrin Schoenenberg. 

Por que é cansativa a tela virtual 

Quando videoconferências, teletrabalho e sistemas semelhantes de
home office substituem o relacionamento humano,
as pessoas sofrem de exaustão e até de esquizofrenia



No site TAB Reporteres na rua, Luiza Pollo chegou a uma conclusão mais direta: “Todo mundo está exausto de conversar por vídeo”. Já para Fischer, sentir-se extenuado depois de uma longa conversa por vídeo é normal, sendo o estresse diretamente proporcional ao número de participantes da ‘live’. Nosso cérebro fica atento principalmente a pessoas e animais, a seus movimentos ou gesticulações. Nós prestamos sempre atenção às expressões faciais e aos movimentos dos colegas, e até dos pets. Isso é muito “diferente de olhar para uma única pessoa falando por vez; no computador ou no celular, todos estão te encarando” - ou, pelo menos, essa é a sensação. 

Elisa Brietzke, psiquiatra e professora da Escola Paulista de Medicina, explica que o cérebro precisa reconhecer sinais corporais que complementam a fala. Mas as ‘lives’ eliminam tudo o que caracteriza uma conversa presencial: falar, gesticular, fazer caretas etc., são coisas que compõem a sobrevivência do relacionamento humano. 

O caderno LINK, do “Estado de S. Paulo”, apresenta conclusões análogas. Por exemplo, Gabriela Costa, 25, professora de inglês e mestranda em Geografia, sofreu utilizando o sistema Zoom nas suas salas de aula. “A gente fica muito mais cansada. Quando termina a aula, só me jogo na cama”. A Dra. Thaís Gameiro explica que a sensação de estar sendo monitorada por muito tempo tira o conforto do contato presencial. “Diante da tela, ficamos olhando o tempo todo para o nosso rosto como se a gente estivesse olhando para um espelho. O usuário pode correr o risco de se desconectar mentalmente do que está fazendo para se analisar”. Assim o explica Sylvia van Enck, especialista em dependência de Tecnologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Segundo ela, a nossa própria imagem transmitida na tela joga contra. A Dra. Thaís completa, dizendo que ficar a maior parte do tempo se olhando pode entrar na conta da fraqueza extrema. 

Conselho dos especialistas: evitar o vídeo 

No final de fevereiro de 2020, uma pesquisa da Universidade Stanford mostrou que a exposição excessiva às videochamadas é prejudicial a curto e longo prazo. Entre os sintomas estão dores de cabeça, depressão e crises de ansiedade. Por isso, o conselho dos especialistas é evitar o vídeo. 

O Prof. Bailenson liderou a pesquisa e detectou vários fatores degradantes da percepção. O primeiro é uma espécie de estresse, por tornar-se o “centro das atenções”. Cada participante recebe o tempo inteiro os olhares do grupo postos sobre ele, e um painel de teleconferência pode ter dezenas de olhares diferentes e/ou desconhecidos. 

A pesquisa de Stanford vai além da recomendação, e é categórica: desligue a própria imagem. Bailenson afirma: “No mundo real, se alguém estivesse seguindo você constantemente com um espelho, de forma que enquanto estivesse falando com as pessoas você estivesse se vendo num espelho, isso seria loucura”. 

O equilíbrio necessário 

No seu conjunto, as conclusões dos autores citados são válidas e úteis como advertências, pois abordam as consequências negativas do uso intensivo, muitas vezes abusivo, de instrumentos desenvolvidos na esteira de uma mentalidade moderna, superconectada, revolucionária. Evidentemente, tudo isso pode trazer consigo consequências indesejáveis como as que foram apontadas. No entanto, considerados em si mesmos, esses instrumentos podem se prestar ao uso útil, sério, necessário, quando feito moderadamente e sem os abusos aos quais também se prestam. 

Entre os muitos efeitos de uma guerra, como um exemplo analógico, pode ser destacado o conjunto de ruídos ensurdecedores produzidos por bombas, aeronaves, canhões, tanques de guerra e toda a parafernália, que no entanto é indispensável para enfrentar e derrotar o inimigo. Além das mortes, destruições e outros prejuízos conhecidos, constam também no campo médico as neuroses de guerra e outros males como endemias, epidemias e pandemias, muitas das quais surgiram depois das guerras, como suas consequências diretas ou indiretas. E grandíssima parte dos atingidos nem sequer participou do esforço de guerra. 

O mesmo se pode dizer sobre outros utensílios aceitos e de uso generalizado, como computadores, celulares, televisões, rádios, automóveis. A decisão de utilizar ou não tais instrumentos úteis, mas potencialmente perigosos para os incautos, cabe portanto a cada um.

O sossego, a estabilidade, a tranquilidade e o gosto de viver, caraterísticas da sociedade em geral durante a Idade Média

Lucidez e coerência em usar e não usar 

Sobre este assunto, transcrevemos a seguir um comentário esclarecedor do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Como se verá, ele sempre foi adepto incondicional da calma, de períodos de silêncio, da reclusão voluntária para pensar tranquilamente. Mas nunca deixou de utilizar - sempre que necessário para combater a Revolução - instrumentos que também são úteis à Revolução. E o fazia recomendando a mesma atitude aos seus seguidores, como também o fez no seu livro “Revolução e Contra-Revolução”: 


“Tender para os grandes meios de ação - Em princípio, é claro, a ação contra-revolucionária merece ter à sua disposição os melhores meios de televisão, rádio, imprensa de grande porte, propaganda racional, eficiente e brilhante. O verdadeiro contra-revolucionário deve tender sempre à utilização de tais meios, vencendo o estado de espírito derrotista de alguns de seus companheiros que, de antemão, abandonam a esperança de dispor deles porque os veem sempre na posse dos filhos das trevas” (parte II, cap. VI, 1). 

Estas diretrizes, que Plinio Corrêa de Oliveira praticou eximiamente ao longo de toda a vida e recomendou aos seus seguidores em sua obra-prima, não contradizem em nada a vida plácida, pacífica, estável e tranquila que também levou e recomendou aos seus seguidores em conferência de 28-2-1991: 

“Em geral, as iluminuras da Idade Média representam o operário trabalhando no seu métier, a dona de casa cozinhando ou costurando, ou o calígrafo desenhando uma letra, com algo que eu não me farto de admirar: o sossego, a estabilidade, a tranquilidade e o gosto de viver; fazendo o mesmo trabalho que leva dias, meses, às vezes anos; sem pressa, contanto que saia perfeito. 

“Sem esse estilo de vida, o mundo enlouqueceria. O pequeno burguês, o operário qualificado ou não, o pedreiro medieval podiam passar anos cinzelando uma coluna, sem pressa, sem aflição. Paravam o trabalho na hora de rezar o Ângelus, iam para casa, encontravam a mulher preparando o jantar. Sentavam-se, os filhos se punham em torno deles, calçavam uns chinelões e contavam histórias da família, dos antepassados, da região; liam um trecho da Escritura, da vida dos Santos. 

“Essa estabilidade eu ainda peguei muito, porque em frente de minha casa, na Rua Barão de Limeira, havia um renque de casas operárias misturadas com as casas das melhores famílias de São Paulo. Eu achava a vida deles muito mais sossegada do que a nossa. E eu, que sou amigo do sossego, suspirava: ‘Afinal, eles lá ficaram com o melhor da vida’. 

“O medieval compreendia o nexo do mais alto e sobrenatural com o menor, com coisas sem importância. Uma dona de casa preparava as malas para ir passar uma temporada na casa de uma prima, lembrando de Nossa Senhora indo visitar Santa Isabel, num ambiente densamente impregnado de aroma sobrenatural”. 



Quando concluí a leitura deste texto de Dr. Plinio, perguntei-me se não estou num mundo insano de teletrabalho, videoconferências, comunicação digital, pandemias, lockdowns, políticos corruptos, crises econômicas etc. E pensei: Como seria bom estar junto a um camponês, um burguês ou um castelão, imerso naquela imensa paz e perfume sobrenatural da vida medieval. Mas para chegarmos a algo pelo menos parecido com isso, temos de empreender esforços gigantescos a fim de derrotar a Revolução gnóstica e igualitária. Sem menosprezar os recursos que a própria técnica revolucionária coloca ao nosso alcance.

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Notas: 

1. https://www.folhape.com.br/noticias/videoconferencias-e-excesso-de-chamadas- -causam-exaustao-na-pandemia/143760/ 

2. https://epocanegocios.globo.com/Carreira/ noticia/2020/06/como-videochama das-podem-te-deixar-emocionalmente- -exausto.html 

3. https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/08/por-que-todo-mundo-esta-exausto-de-conversar-por-video.htm 

4. https://link.estadao.com.br/noticias/cultura-digital,videochamadas-sao-uma-usina- -de-exaustao-e-estudo-mostra-os-motivos,70003646089 

5. Plinio Corrêa de Oliveira, conferência em 28-2-91. Sem revisão do autor.

23 de maio de 2021

Auxílio dos Cristãos no combate aos inimigos da Santa Igreja


Neste dia 24 de maio, em que comemoramos a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, em homenagem à augusta Auxiliadora dos Cristãos transcrevemos um belo trecho do livro do sacerdote jesuíta Pe. José de Oliveira Dias.* 


Hoje vamos recordar que o título de Auxilio dos Cristãos com que São Pio V enriqueceu as Ladainhas Lauretanas, são o devido tributo de ação de graças rendido a Maria pela grande vitória de 1571, alcançada sobre os inimigos do nome cristão. 

Nada mais bem fundado do que este título de Maria. Maria é a Mãe da Igreja e a Igreja Sua filha predileta. Ela foi a obra-prima do Salvador, que na Sua Inteligência, arquitetou e do Seu Coração fez nascer esse novo mundo de almas associadas na luz e no amor [...]. 

Começa a época das perseguições: a Igreja põe toda a sua confiança no culto que consagra a Maria. Esse culto lê-se ainda hoje vivo e imortal nas paredes das catacumbas, onde o desenho e a pintura o perpetuaram. A imagem de Maria, colocada nas absides principais dessas criptas, onde a fé dos primeiros cristãos ia consolidar-se e defender-se, mostra como desde o berço o cristianismo compreendeu onde estava o seu refúgio contra qualquer perseguição dum inimigo sanguinário. 

Auxilio dos Cristãos tem-no sido também sempre que os inimigos da Igreja a assaltam à mão armada para afogarem em sangue os seus defensores. É a imortal epopeia de Maria que no seio da Igreja se ergue como a torre inexpugnável de David, da qual pendem mil escudos de guerra, toda a armadura dos bravos. Temerosa como um exército em ordem de batalha. 

Ela foi a fortaleza dos cristãos no século das Cruzadas, Ela desbaratou os inimigos do nome cristão numa série interminável de batalhas, desfez o poder dos Albigenses no Ocidente, foi o terror do Islão no Oriente. 

Lepanto, Viena, Malta, Corfú são monumentos imorredouros que perpetuam a memória dos triunfos de Maria [...]. 

Há ainda e haverá sempre heresias no mundo. Mas a Igreja não deixará nunca de cantar aos pés de Maria: Só Tu, ó Virgem, no universo inteiro tens dado morte a todas as heresias. E é matando as heresias que Ela se mostra verdadeiramente o Auxílio dos Cristãos

No passado a nação brasileira, desde que recebeu o baptismo da ortodoxia católica, foi, por especial protecção da Providência, preservada de adulterações heréticas. Debalde tentou o Calvinismo holandês levar à apostasia o Norte do país. Os nossos antepassados, na sua perseverante resistência à invasão da heresia já então mostravam de que fibra era tecida a nobre e sempre fiel alma brasileira da qual não é fácil desarraigar a verdadeira fé. 

As hodiernas heresias, o desacreditado positivismo, o grosseiro e fraudulento espiritismo, o traiçoeiro comunismo e o nefasto protestantismo, já esfacelado nas suas mil seitas, insistem nas suas pérfidas investidas contra a ortodoxia católica do Brasil. Mas a esperança dos brasileiros está posta em Maria, Auxílio dos cristãos.
____________ 
* Pe. José de Oliveira Dias, S.J., Florilégio Ilustrado da Fátima, Oficias Gráficas PAX, Braga, Portugal, Edição da Sociedade Brasileira de Educação, 3ª. edição, 1952, pp. 279-282.

21 de maio de 2021

HOMESCHOOLING


Ensino doméstico ou domiciliar, também conhecido como homeschooling, é "aquele que é leccionado, no domicílio do aluno, por um familiar ou por pessoa que com ele habite" 


✅ Angela Vidal Gandra da Silva Martins
Transcrito da "Folha de S. Paulo", 14 de maio de 2021 

Quando comecei a escrever este artigo, desejei acrescentar ao título: “acredita?” Pois desde o início deste governo estabelecemos como meta dos cem dias regulamentar o legítimo direito dos pais de conferir a devida educação a seus filhos a partir do próprio lar.

Desde então, após apresentar projeto legislativo ao Congresso Nacional e acompanhar intensamente os diálogos sobre a aprovação do sistema, abertos também a outras tantas propostas e urgidos pela agravante da pandemia, que tornou essa modalidade quase que uma necessidade para algumas famílias, lamentamos profundamente não termos obtido ainda a segurança jurídica para o exercício pleno desta faculdade. 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos destaca em seu artigo 26, 3, que os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de educação a ser ministrada aos filhos. Por outro lado, vivemos em um Estado democrático de Direito, instituído pela Constituição Federal e sustentado pela forma do direito — em especial a Carta Magna —; pelo seu conteúdo humano, principalmente no que tange à defesa da liberdade; pela separação e harmonia de Poderes e por um governo representativo, exercido com o povo e para o povo. 

Nesse sentido, a medida em que o próprio Supremo Tribunal Federal declara constitucional a prática, e o Executivo a apoia fundamentadamente, é preciso que o Legislativo cumpra seu papel com prontidão — ainda que haja deputados trabalhando denodadamente para tal! —, já que justiça fora do tempo é injustiça, envolvendo consequências nefastas para as famílias. 


Se analisarmos a questão sob o prisma antropológico, a família precede a sociedade e o Estado, que a protege também tendo em vista a continuidade do cuidado e da educação após a geração, sendo os pais os protagonistas naturais da tarefa, e, em geral, os mais empenhados no superior interesse da criança. Nesse sentido, é importante destacar que não se pode legislar para o todo, com base em exceções, que devem ser objeto de medidas apropriadas. Se em algum lugar identificou-se um abuso no que tange à modalidade, não se pode generalizar o fato, negando o direito. 

Ressaltamos ainda que, para um real exercício da liberdade, em termos filosóficos e jurídicos, parte-se da premissa de que ninguém pode ser impedido de fazer o bem. Ora, assumir a educação dos filhos com esforço e responsabilidade, não parece, prima facie, um mal. Por outro lado, só se poderá saber se realmente a educação domiciliar é nociva se dermos a oportunidade para que se comprove.
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* Angela Vidal Gandra da Silva Martins é uma jurista e advogada brasileira, atualmente secretária nacional da Família no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e professora da Universidade Mackenzie. É membro da Academia Brasileira de Filosofia e da Academia Paulista de Letras Jurídicas.

19 de maio de 2021

AUTODEMOLIÇÃO DA IGREJA

 

Dom Pedro Casaldáliga,
na foto ainda Bispo de São Félix do Araguaia (MT).
 Durante décadas foi um dos principais expoentes
 da esquerda católica no Brasil.
Tão radical nas suas posições igualitárias,
que até chinelo ele considerava causa de sujeição

✅ Plinio Corrêa de Oliveira


Atingir os objetivos do modo mais completo, rápido e direto possível, eis a preocupação de todo homem sério e sensato. Assim convencidos, os comunistas visaram extirpar a Religião pelos métodos mais violentos e diretos, pondo sua seriedade e sensatez operacionais ao inteiro serviço de seus objetivos errôneos e iníquos.

Alguns passos dados nessa direção, no entanto, os convenceram rapidamente de que desta forma chegariam a um resultado oposto, pois as convicções religiosas da esmagadora maioria dos russos, traumatizados pela violência dos sem-Deus, se transformaram desde logo num formidável potencial de descontentamento. Para os soviéticos, importava no mais alto grau evitar que tal acontecesse, e assim o objetivo da política por eles seguida tomou um matiz peculiar, que se acentuaria cada vez mais no curso dos acontecimentos.







Para arrancar a fé da alma popular, a mão brutal e estúpida do sem-Deus é incomparavelmente menos eficiente do que a mão ungida, macia e jeitosa do mau bispo, do mau padre, da freira degradada. Paralelamente, ninguém é mais eficiente para a propaganda do comunismo do que as pessoas consagradas a Cristo, quando se entregam à prevaricação. Se a Passionária e Ana Pauker [fotos ao lado] tivessem tido a esperteza de se fazerem freiras, por exemplo, teriam sido incomparavelmente mais úteis ao comunismo do que no papel de viragos vermelhas. 

Uma vez assentado que o futuro do ateísmo estaria na autodemolição da Igreja, os supremos senhores do comunismo só tinham diante de si um problema: como detectar ou ‘fabricar’ os bispos, os padres, os monges e as freiras que se incumbissem do sinistro mister de matar a Jesus Cristo nas almas. Daí as investigações policiais jeitosas e contatos discretos com poltrões ou ambiciosos, com que detectaram e prepararam logo os agentes da autodemolição. 
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Excertos do artigo de Plinio Corrêa de Oliveira publicado na “Folha de S. Paulo” em 26-9-1971.

13 de maio de 2021

Milagres operados com as águas da Fonte de Fátima

Em continuação da matéria postada ontem, seguem alguns relatos de curas comprovadas e reconhecidas como inexplicáveis pela medicina, extraídos do livro “Florilégio Ilustrado da Fátima”, do sacerdote jesuíta Pe. José de Oliveira Dias. Mantivemos da grafia portuguesa original alguns detalhes com ‘sabor’ especial. 


Cura do alcoolismo e cura espiritual 

Em Câmara de Lobos, ilha da Madeira, existia um alcoólico inveterado, escravo do terrível vício da aguardente, que depressa lhe arruinou o organismo. Na sua última doença, apesar de todas as proibições médicas, não podia conter-se que não se propinasse o mortífero veneno.

Uma vizinha sugeriu à sua amargurada esposa que, sem ele dar por isso, lhe misturasse na poncha algumas gotas de água da Fátima. Assim o fez a mulher. Da primeira vez ainda a tomou, mas a segunda, quando ela lha trazia, manda o doente que lhe desapareça com a bebida para longe da vista, pedindo-lhe e recomendando-lhe que nunca mais lha tornasse a apresentar, ainda que ele teimasse em pedi-la. Dias depois, era o filho quem lhe levava para casa uma garrafa da malfadada aguardente. Logo que o enfermo a viu sobre a mesa, mandou arrojá-la pela janela fora. 

Mas a intervenção de Nossa Senhora foi ainda mais além. O infeliz, havia dez anos pelo menos, não frequentava a Igreja, parecendo decidido a morrer impenitente; pois, a quem quer que lhe falasse de sacramentos, só respondia com evasivas. Mas logo que bebeu a poncha com água da Fátima, mandou chamar o pároco, e por várias vezes se confessou e comungou, até que morreu na paz do Senhor (Voz de Fátima, nº 28).[1] 

Anestesiante celestial 

Na praia de Ancora (Minho) encontrava-se Alexandrina Cutelo gravemente enferma de reumatismo gotoso num pé. Retida no leito durante dois meses, era indescritível a atrocidade das dores que teve de suportar, a ponto de um dia chamar o médico assistente, Dr. Jaime de Magalhães, para lhe pedir, no meio do seu desespero, remédio que a aliviasse, custasse ele o que custasse. 

“Não há mais remédio que lhe possa dar, o reumatismo é gotoso, tem muito que sofrer” — foi a resposta do médico. 

Lembrou-se finalmente de Na. Sra. da Fátima, e a Ela recorreu cheia de confiança. Lavou o pé, que estava muito inchado, com água do local das aparições. E qual não foi o seu espanto e o seu agradecimento, ao ver-se no dia seguinte completamente curada, sem nunca mais sentir uma dor! O pé, que estava muito inchado, ficou imediatamente como o outro que estava são. Cura admirável, sobretudo pelo seu carácter instantâneo! (Voz de Fátima, nº 45).[2]

Curado, convertido e feito apóstolo 

João Ramos, de 58 anos, residente em Lisboa na Rua Castelo Branco Saraiva, 70 r/c. D., esteve 5 anos entrevado, consequência da queda de um andaime, sem poder fazer o mais leve movimento. Consultou 16 dos melhores especialistas, sem conseguir sequer minorar os seus padecimentos. 

Depois de 40 dias de hospital, recolheu a casa, sem mais esperança de cura. Não tinha fé, vivia na mais completa apatia religiosa, não tendo recebido os sacramentos desde que se casara, trabalhando sempre sem respeitar domingos nem dias santos, como diz há cerca de 30 anos. 

O desastre veio reduzi-lo a uma lastimosa imobilidade, a ponto de nem sequer poder levar a mão à testa para fazer o sinal da cruz, e criou nele um estado permanente de revolta contra a doença. 

Em julho de 1925, só para comprazer a algumas pessoas, começou a tomar água da Fátima. Depressa desistiu. Em março do ano seguinte, porém, voltou a tomá-la, e logo à primeira colher sentiu que podia mover-se na cama. Dias depois pediu o fato, vestiu-se e conseguiu dar alguns passos. A pouco e pouco, apoiado na bengala, foi-se mexendo cada vez mais. 

À medida que melhorava, aumentava a sua gratidão a Nossa Senhora. Começou logo a preparar-se para receber os sacramentos, aprendendo o catecismo e buscando as disposições salutares a que a graça divina o ia estimulando. Foi progressivamente melhorando, e acabou por andar sem auxílio de bengala e com a maior ligeireza. Recebeu os sacramentos na sua freguesia (de Santa Engrácia) com a maior devoção, continuando depois a recebê-los com certa frequência. Comove-se sempre que fala de Nossa Senhora, e entrou na Congregação do Imaculado Coração de Maria (para a conversão dos pecadores), de que é Diretor o bem conhecido Pe. Cruz, que na prática desse dia fez uma comovedora alusão à cura miraculosa do novo associado. 

Para tornar conhecida a sua cura, apresentou-se na Voz do Operário, de que fora sócio fundador, para declarar que a sua saúde fora recuperada por intervenção de Na. Sra. da Fátima. Recusaram publicar-lhe a declaração. Convocou então uma assembleia de sócios, que votaram pela publicação; mas o jornal manteve a recusa. Recorreu ao Século, que lhe aceitou, sim, a publicação, mas suprimindo o que podia comprometer os princípios da sua ortodoxia laica. 

O empenho do neo-convertido, em que a sua cura fosse de preferência narrada nesses jornais, era para dá-la a conhecer no meio em que eles têm mais fácil entrada. O simpático operário tornou-se verdadeiro apóstolo depois da sua conversão, fazendo quanto pode para desviar as almas do caminho das trevas que ele trilhou, exortando os seus colegas a não trabalharem ao domingo e exercendo com os infelizes toda a sua caridade.[3]

Curando o incurável — “Os surdos ouvem” 

Surdez inveterada era a de João Marques de Carvalho, de Escalos de Baixo, concelho de Castelo Branco, que desde os 17 anos até os 66 fora a sua principal cruz. A intervenção de vários médicos durante a sua atribulada vida não conseguira minorar o mal.

Em 1926 põe-se a caminho da Fátima, para aí, aos pés de Nossa Senhora, pedir com viva fé, no fim da sua vida, o que durante ela a terapêutica humana não pudera dar-lhe. Queria ao menos morrer, com bons ouvidos, quem sem eles tivera de viver. E prometeu logo voltar à Fátima no ano seguinte, se já pudesse levar os ouvidos abertos. 

Ao voltar da peregrinação, disse para sua mulher que Nossa Senhora não queria ouvir a sua prece. Ela, porém, que o acompanhara à Fátima, recomendou-lhe que não desanimasse. E começaram ambos uma novena a Nossa Senhora, deitando cada um dos nove dias nos ouvidos algumas gotas da Sua água. 

“No fim dos nove dias – escreve ele – ainda me encontrava no mesmo estado; mas no décimo dia senti um estalo no ouvido direito, e no dia seguinte o mesmo aconteceu no esquerdo, e fiquei a ouvir distintamente até agora”

O atestado médico de 15 de Junho de 1927, devidamente reconhecido, confirma a realidade da doença e da cura (Voz de Fátima, nº 61).[4] 

Curando o incurável — “Os cegos vêem” 

Dª. Maria Augusta Dias, de 50 anos, moradora em Alter do Chão, começou em junho de 1928 a perder lentamente a vista, acabando por ficar totalmente cega no dia 16 de janeiro de 1929. Levaram-na a Lisboa, onde foi sucessivamente examinada pelas quatro principais competências médicas da capital. Cada um dos especialistas declarou irremediável a doença, depois de exame demorado e escrupuloso. 

A Voz da Fátima Nº 78 publicou o parecer escrito de cada um dos quatro oculistas, e descreveu pormenorizadamente a gênese e a evolução da doença, com o feliz desenlace da cura inesperada. 

Escreve o genro da doente, Sr. Manuel Maia, que a acompanhou a Lisboa: “Pode calcular o desapontamento em que fiquei depois de ouvir as opiniões de quatro médicos, reputados os mais hábeis e inteligentes, os quais eram unânimes em afirmar que a doença não tinha cura, demonstrando além disso conhecê-la a fundo, porque eles próprios descreviam os seus sintomas mais insignificantes com uma precisão matemática”

Mas a doente tinha uma fé inabalável em Na. Sra. da Fátima. Por isso o genro mandou vir uma vasilha de água da Fátima, que no dia 30 de janeiro chegava ao seu destino. Logo no dia 31 à noite a ceguinha lavou os olhos com essa água maravilhosa. Nos 3 dias seguintes repetiu a operação; à quarta loção encontrou-se repentinamente curada! Foi indescritível a alegria que se apoderou de toda a família e a admiração de toda a vila, que logo teve conhecimento do prodígio.[5]  

Inanimado e com a eternidade à vista 

Na cidade de Aveiro, em março de 1928, adoecia gravemente com enterocolite e bronquite Gumerzindo Henriques da Silva, de 18 meses, reconhecido pelo notário e publicado também na Voz da Fátima. Apesar de todos os cuidados e carinhos do médico, piorava de dia para dia. Depois de 15 dias de doença, declarou-se-lhe uma bronco-pneumonia, que tirou ao médico todas as esperanças de o salvar, dando aos pais a certeza da sua morte. 

Quando o médico se retirou, já a criança agonizava, perdendo a respiração e a temperatura. O frio da morte apossara-se dele, estava gelado, não dava sinal de vida. Nessa hora tétrica em que a mãe vê diante de si, quase inanimado, o seu filhinho, no campanário ressoam compassadas Ave-Marias. Essas badaladas lembram-lhe alguma coisa que não é da terra, e convidam-na a uma ardorosa prece pela vida do filhinho, se a vida ainda palpitava nele. 

E repentinamente foge-lhe o pensamento para Na. Sra. da Fátima. Tomando uma garrafa de água da fonte bendita das Aparições, começa logo ali, com o marido e a madrinha do menino, uma novena à Virgem da Fátima, prometendo levar o filhinho moribundo à Cova da Iria, se ele fosse restituído à vida. E no mesmo instante passa pelos lábios inanimados da criança uma gota da água prodigiosa. Maravilha da graça e da intervenção bondosa de Maria! Ao contacto dessa água bendita, a criança, que se julgaria morta, abre os olhos! A mãe, redobrando de confiança, passa-lhe ainda pela testa e pelas faces os dedos umedecidos na água da Fátima. E nesse instante sente o filhinho recobrar lentamente o calor vital, readquirindo passados poucos minutos todas as suas faculdades e começando a falar, como se nada se tivesse passado. 

O médico, como que desorientado, não sabe explicar o que vê; e auscultando na manhã seguinte a criança, que de véspera deixara a expirar, acha-a completamente curada da bronco-pneumonia (Voz de Fátima, nº 80).[6] 

Contra-veneno salvador 

No Brasil – conta o Pe. Manuel de Azevedo Mendes à Voz da Fátima de 13 de novembro de 1932, nº 122 – uma pobre senhora, levada pelo desespero, lembra-se de ingerir certa dose de veneno para se suicidar. 

Uma sua amiga, zelosa propagandista da devoção a Nossa Senhora da Fátima, ao saber que o médico dera por irremediavelmente perdida a desditosa criatura, ficou profundamente consternada. 

Veio-lhe logo à ideia acudir a essa infeliz com umas gotas de água da Fátima. Mas, receando com isso dar mau exemplo, ficou pedindo a Nossa Senhora que, ou frustrasse com a sua intervenção de Mãe o efeito mortífero do veneno, ou inspirasse à suicida um sincero arrependimento do seu pecado, que ao mesmo tempo fosse uma salutar reparação do escândalo. 

Enquanto assim orava, sente que lhe batem à porta, a pedir por misericórdia um pouco de água da Fátima. A infeliz, já quase a expirar, bebeu essa água. Bebeu, e o veneno suspendeu a sua acção mortífera no organismo, salvando-se uma vida. E Deus queira também que uma alma.[7]

A chave do enigma 

De Cochim, Índia, escrevia em 1932 à Voz da Fátima nº 127, o distinto médico Dr. P. George para relatar o seguinte facto: Fora chamado a um rapaz atacado de febre tifoide, com tão graves complicações, que sentiu faltar-lhe a coragem para tomar a responsabilidade da sua cura. Com esse receio, sugeriu ao pai que acudisse a qualquer outro médico. A família, porém, insistiu para que ele, e não outro, tomasse o cuidado do doente. 

O piedoso médico teve de se resignar, mas experimentou a necessidade de confiar o delicadíssimo caso a Na. Sra. Saúde dos Enfermos. Começou pois a tratá-lo, cuidadosa e conscienciosamente, espantando-se desde o princípio ao ver a rapidez e a facilidade extraordinária com que o rapaz ia melhorando, verdadeiro prodígio clínico, porque os sintomas eram dos piores. E não pôde deixar de manifestar aos pais o seu assombro. 

A chave do enigma, não tardou ele a descobri-la. Revelou-lhe a mãe que havia administrado ao filho água de Na. Sra. da Fátima, enquanto fazia uma novena a essa boa Mãe para que os medicamentos do Dr. George surtissem efeito. E conclui o médico a sua narração com estas admiráveis palavras: “Estou convencido de que houve aqui uma intervenção especial de Na. Sra. da Fátima, sem a qual, estou plenamente convencido, o meu trabalho teria sido completamente inútil. Agora sinto-me feliz por poder apregoar como médico, a todos os meus amigos, a valiosa protecção da Mãe de Jesus”.[8] 

Cura de um menino quase moribundo 

Joãozinho é um simpático menino de Lisboa, filho de Maximiano Correia da Costa Ferreira e de Belmira Pereira, que aos quatro anos foi acometido de grave enfermidade. Em novembro de 1924 manifestaram-se os mais alarmantes sintomas: Joãozinho perdeu a fala e a vista. Letárgico e imóvel, dava a ideia de um cadáver estendido no seu leito. O diagnóstico da medicina foi o de uma gravíssima meningite cérebro-espinal, de carácter fulminante. O desenlace não se faria esperar. 

Enquanto os pais se lastimavam e preparavam para receber o golpe fatal, entra-lhes em casa uma piedosa senhora com um frasquinho de água da Fátima, que logo foi aplicada ao moribundo. Vinte e quatro horas depois o doentinho dá sinais de vida; e o médico, surpreendido, declara-o salvo e sem lesão alguma.[9] 

Lavagem prodigiosa 

Mário Alves Dinis é um menino de 11 anos, lisboeta. Um dia tem a infelicidade de ser atropelado por uma caminheta. Crânio fraturado e órgão visual esquerdo horrivelmente saído da órbita, eis o espetáculo que oferece a pobre criança. Levado para o hospital, observam-no vários clínicos, entre eles um catedrático, e todos são concordes em afirmar que o pequeno, na melhor das hipóteses, ficará defeituoso da vista. 

Intervém uma bondosa senhora, amiga da família, e entrega à mãe aflita, Dª. Hermínia Mendes Dinis, um pouco de água da Fátima para lavar com ela o órgão visual do filho. Assim o fez. E foi tanta a fé e confiança dessa mãe, que o filho, sem qualquer outro tratamento mais do que a água da Fátima, aplicada duas vezes ao dia, ficou completamente curado e sem defeito (Voz de Fátima, nº 226).[10] 

Uma cura extraordinária, rápida e completa 

Aldina dos Prazeres Santos, residente em Mondim da Beira, diocese de Lamego, matriculada aos 19 anos no curso de puericultura da Maternidade Júlio Dinis do Porto, em fins de janeiro de 1948 foi acometida de terrível e desconhecida enfermidade: grave inflamação nos lábios, com abundante supuração. Uma pestilenta e nauseabunda chaga lhe cobria os lábios. Vários e competentes clínicos a examinaram cuidadosamente: Dra. Lucinda Gouveia, médica do curso de puericultura, Dr. Augusto Barata e Dr. Aureliano da Fonseca. Intervieram ainda nos estudos deste caso os seguintes clínicos: Dr. Gonçalves de Azevedo, Dr. Oscar Ribeiro e Dr. Rodrigues Goines, todos professores no referido curso de puericultura na Maternidade Júlio Dinis, e muitos outros competentes. 

Como os sintomas extrínsecos indicaram o escorbuto, foi tratada desta enfermidade, sem resultado algum. Supuseram ser difteria, mas a análise deu resultado negativo. Aplicaram à enferma um milhar de unidades de penicilina, com passageiras melhoras. Como era impossível servir-se do garfo e da colher, sua alimentação era exclusivamente líquida, tendo enfraquecido extraordinariamente. Em abril as melhoras desvaneceram-se totalmente, volvendo ao estado primitivo. Aldina soube levar resignadamente tão grave desilusão. Recorre-se novamente à penicilina, mas desta vez a enferma piorou de maneira extraordinária. 

Desenganada da terapêutica humana, a pobre enferma pôs em Deus toda a sua esperança. Dª. Maria Emília Teixeira, peregrina da Cova da Iria, trouxe dali um garrafão com água. No dia 21 de junho de 1948, às 11 horas, pela primeira vez Aldina umedeceu os lábios com água da Fátima, repetindo durante o dia a mesma operação. No mesmo dia, pela tarde, Aldina estava completamente curada. A cura operou-se em poucas horas. Foi rápida e completa![11] 
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Notas: 
1. Pe. José de Oliveira Dias, S.J., Florilégio Ilustrado da Fátima, Oficinas Gráficas PAX, Braga, Portugal, Edição da Sociedade Brasileira de Educação, 3ª. edição, 1952, p. 406. 
2. Id. ib., p. 407. 
3. Id. ib., p. 410. 
4. Id. ib., p. 413. 
5. Id. ib., p. 416. 
6. Id. ib., p. 421. 
7. Id. ib., p. 425. 
8. Id. ib., p. 426. 
9. Id. ib., p. 434. 
10. Id. ib., p. 439. 
11. Id. ib., p. 459.

12 de maio de 2021

Nas fontes de Fátima, uma Lourdes portuguesa

 

A fonte milagrosa em 1922

Na Cova da Iria, a fonte de águas operou curas espirituais e corporais extraordinárias. Os milagres em Lourdes são principalmente físicos, mas em Fátima Nossa Senhora distribui também abundantemente graças espirituais e conversões. 


✅  Paulo Roberto Campos

A conversão dos pecadores foi pedida com veemência pela Santíssima Virgem em Fátima, em 1917. Insistiu no recurso à oração e penitência, a fim de que a humanidade se convertesse e retomasse o reto caminho do qual tinha se desviado. Se tal não acontecesse, Deus mandaria terríveis castigos para punir a humanidade. Em 13 de julho de 1917, Ela revelou aos três pastorinhos que, se os homens não se convertessem, “várias nações seriam aniquiladas”.[1]

Transcorreram 104 anos, e o mundo não se converteu, continua sua corrida louca de ofensas a Deus. Apenas alguns exemplos: modas e costumes imorais, drogas, aborto, eutanásia, divórcio, ideologia de gênero, ‘casamento’ homossexual. E a avassaladora crise religiosa, que levou Paulo VI a declarar que a Igreja estava sendo vítima de um misterioso “processo de autodemolição” (alocução de 7-12-68). Hoje ninguém ousaria dizer que os pedidos de Nossa Senhora foram atendidos. 

Pandemia – um flagelo nas mãos de Deus? 

Há mais de um ano padecemos males físicos, psicológicos e espirituais decorrentes da atual pandemia, que a partir da China vermelha assola todas as nações. Não seria essa tragédia universal um prenúncio dos passos de Deus que se aproximam? A Santíssima Virgem exortou pela conversão; como não foi atendida, poderá punir com o ‘aniquilamento das nações’. Ficaremos surdos e indiferentes a tudo isso? 

Deus bem pode fazer uso de um flagelo oriundo dos próprios homens, para punir o gênero humano descristianizado, como parece ser o caso da presente pandemia. Em certo sentido, pode-se dizer que estamos dentro de uma ‘grande guerra mundial’ — não com armas de fogo, mas com armas biológicas, bacteriológicas e psicológicas. Nessa guerra, governos e tribunais despóticos decretam a seu bel-prazer o que nos proíbem ou autorizam: confinam famílias, fecham escolas e o comércio, produzem o desemprego e a fome; e num cúmulo de autoritarismo incontido, fecham igrejas e cerceiam a liberdade de praticarmos livremente a Religião. 

Nesse quadro dantesco estão imersas todas as nações, confirmando a suma importância da Mensagem de Fátima — uma mensagem de tragédias e esperanças, como temos ressaltado em nossas páginas. Ver por exemplo, em nossa edição de maio de 2017, o artigo “Na Cova da Iria, a Rainha do Céu adverte a humanidade e anuncia o seu Reinado na Terra”

Às tragédias, já nos referimos acima. Quanto às esperanças, repetimos que após os terríveis castigos anunciados em 1917 triunfará o Imaculado Coração de Maria, como Ela prometeu. Será a restauração da Civilização Cristã em seu maior esplendor.

Em 1918, Hospital militar, em Camp Funston, Kansas (EUA), atende soldados contagiados pela ‘gripe espanhola'

Na ‘gripe espanhola’, aproximadamente 50 milhões de mortos 

De passagem, lembremo-nos de que no ano seguinte às aparições de Nossa Senhora — no final da Primeira Guerra Mundial, cujo término Ela previra — houve uma virulenta pandemia: a ‘gripe espanhola’. Esta devastou várias nações, provocando mais mortes do que a própria guerra. Nos anos 1918 e 1919, dizimou aproximadamente 50 milhões de pessoas e infectou mais de um terço da população mundial. Incluem-se entre suas vítimas Francisco e Jacinta, dois dos videntes de Fátima, hoje canonizados, que faleceram em 4 de abril de 1919 e 20 de fevereiro de 1920, respectivamente. 

Fátima, magnífica e milagrosa fonte de salvação 

Este mês, em que celebramos a primeira aparição da “Senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o sol”, ocorrida em 13 de maio de 1917, é uma ocasião especial para nos voltarmos a Ela, suplicando seu socorro em meio aos incontáveis sofrimentos dos presentes dias pandêmicos. Assim, trataremos de um aspecto de Fátima propício para o atual momento, mas pouquíssimo conhecido até mesmo por estudiosos do tema, pois tem sido muito silenciado e boicotado. 

Por várias razões, pode-se afirmar que Fátima é a Lourdes de Portugal. Uma delas é que, assim como na Gruta de Massabielle surgiu milagrosamente uma fonte, na Cova da Iria o mesmo ocorreu; e as fontes foram várias. Quase não se fala delas, por isso apresentaremos a seguir um pequeno histórico. 

Com a expansão da devoção a Nossa Senhora de Fátima, nos anos que se seguiram às aparições, aumentou muito o afluxo de peregrinos à Cova da Iria. Sobretudo no dia 13 dos meses de maio a outubro, romarias provinham de muito longe para suplicar graças, recordar e agradecer as aparições da Santíssima Virgem, em número até maior que o dos peregrinos de Lourdes. Temos notícia de que, num só dia de 1926, o local foi visitado por aproximadamente 400 mil fiéis, como está registrado na “Documentação crítica de Fátima – Seleção de documentos (1917-1930)”: 

“As peregrinações de Fátima são mais imponentes e significativas que as de Lourdes. Em Fátima juntam-se num só dia muito mais pessoas do que habitualmente se juntam em Lourdes, apesar de todo o conforto e comodidades que a pequena cidade dos Pirineus oferece aos peregrinos. Nunca em Lourdes se viu tanta gente reunida, como se vê em Fátima, principalmente no dia 13 de maio. Dizem que no ano passado [1926] deviam estar lá cerca de 400.000 pessoas” (p. 331).[2] 

A mesma documentação registra: “Se o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes é, por antonomásia, o santuário dos milagres físicos, das curas das doenças de toda a espécie, de que se enferma a pobre humanidade, pode dizer-se com verdade que o Santuário de Nossa Senhora de Fátima é, por excelência, o Santuário das conversões e das graças espirituais. Apesar do segredo que envolve estas ressurreições mais belas e mais admiráveis do que a de Lázaro, quando saiu do sepulcro à voz portentosa do Senhor, que o chamava de novo à vida, não há quem não conheça o movimento consolador de confissões, incessante e intenso, que se realiza em Fátima, principalmente no dia 13 de cada mês” (pp. 471 e 472).[3] 

Brotaram águas a poucos passos da azinheira 

Fontanário de Fátima, em 1928

Devido a esse exponencial afluxo de peregrinos, tornou-se urgente e absolutamente indispensável dispor de água em abundância para atender à sede de tanta gente. Mas Fátima está localizada num terreno desértico, calcário, nada propício às fontes de água, e o local era distante de residências, tornando muito difícil essa tarefa. Como dessedentar, portanto, centenas de milhares de peregrinos? 




Precisava-se de água também para outras atividades correlatas: para necessidades higiênicas dos peregrinos; para construção e ampliação de hospedarias a fim de recebê-los dignamente; para construir albergues para os enfermos; para os animais que conduziam os peregrinos etc. 

Os próprios habitantes daquela região agreste — Cova da Iria, Aljustrel e proximidades — se debatiam havia muito tempo com a dificuldade de obter água. Tão crônica era a carência do precioso líquido, que se viam obrigados a recolhê-lo dos telhados e guardá-lo em cisternas, quando chovia. 

Mas a Virgem de Fátima já havia pensado nessa dificuldade, a julgar pelo que registra Thomas Walsh em seu extraordinário livro sobre Fátima: “Em novembro do mesmo ano [1921], mandou ele [o bispo] abrir um poço nas proximidades da Capela [das aparições] a fim de recolher as águas da chuva para o serviço dos peregrinos. Ficou profundamente impressionado quando jorrou do solo pedregoso uma água cristalina, tão abundante que chegou a encher trinta e seis barris. Continua até hoje a abastecer os camponeses das redondezas, e é fonte de saúde para inúmeros doentes”.[4]

Tal prodígio aconteceu no dia 9 de novembro de 1921, após uma missa celebrada na “Capelinha das Aparições” por D. José Alves Correia da Silva, Bispo de Leiria. Por uma inspiração providencial, ele mandou explorar o solo do local das aparições e abrir um poço. Os técnicos e operários eram céticos, pois conheciam bem o terreno. Mas, por obediência ao Senhor Bispo, começaram a cavar o solo. E a surpresa não demorou: as águas brotaram abundantemente a poucos passos da azinheira sobre a qual a Santíssima Virgem aparecera a Lúcia, Jacinta e Francisco. 

Alguns, chorando de alegria, exclamaram: “É um milagre! Isso não tem explicação natural!”. Os que ainda duvidavam das aparições na Cova da Iria, depois disso ficaram convencidos da sua veracidade. Acreditaram por causa da fonte de água, mas Aquela que fizera surgir essa água já havia operado um milagre ainda maior, naquele mesmo lugar, no dia 13 de outubro de 1917: “O sol ziguezagueou pelo céu”, diante de aproximadamente 60 mil fiéis. “O sol bailou em Fátima”, diziam os camponeses. E o “Milagre do Sol” foi noticiado pelo jornalista Avelino de Almeida no jornal “O Século” (15 de outubro de 1917) com o título “Coisas espantosas! Como o sol bailou ao meio dia em Fátima”.[5]

A água jorrou milagrosamente no dia 9 de novembro de 1921, após a missa celebrada na “Capelinha das Aparições” pelo Bispo de Leiria. Na foto, à esquerda, o fontanário (encimado pela coluna com a imagem do Sagrado Coração de Jesus) com as bicas de água perto da antiga capelinha.

O ‘antídoto celestial’ do ‘cantinho do Céu’ 

Em 1922, com o incremento das multidões de peregrinos, D. José Alves ordenou cavar mais dois poços, um de cada lado da fonte primitiva; e, uma vez mais, a água cristalina jorrou copiosamente, enchendo rapidamente um grande reservatório construído de concreto. Alguns habitantes que assistiram ao evento atestam que aquilo não aconteceria sem uma ação sobrenatural. Com esse renovado milagre, a dificuldade hídrica estava sanada, tanto para os peregrinos quanto para as construções projetadas. 

Sem nenhuma propaganda, no entanto, começou-se a perceber que aquelas águas estavam produzindo curas corporais e espirituais. Assim, os peregrinos levavam para suas casas garrafas com aquele ‘antídoto celestial’ colhido nas fontes benditas, a fim de o ministrarem aos enfermos que não tinham condições físicas ou econômicas de se deslocarem até aquele lugar sacrossanto. Garrafinhas daquela água eram expedidas por correio para outros recantos de Portugal, e até para o Brasil. Na época, pensou-se em construir tanques com aquelas abençoadas águas — como as célebres piscinas existentes em Lourdes — para os enfermos se banharem individualmente. Mas nunca isso foi concretizado... Por quê? Não se tem conhecimento de explicação para essa manifestação de evidente incredulidade, mas voltaremos ao assunto. 

O que se construiu no local das fontes foi um monumento ao Sagrado Coração de Jesus, cuja coluna está no cento de um grande reservatório dotado de 15 torneiras em honra dos 15 mistérios do Santo Rosário. O precioso líquido era distribuído gratuitamente por voluntários, que não podiam receber gorjetas. 

“A água da fonte miraculosa é levada pelos romeiros ou expedida pelo correio para todos os recantos do país. O concurso de peregrinos ao Santuário das aparições intensifica-se de ano para ano, e todos aqueles que vão a Fátima uma vez anseiam por lá voltar mais vezes, sendo aquela viagem a única que não cansa o espírito, e que produz sempre sensações novas e inolvidáveis. Fátima, a Lourdes portuguesa, é verdadeiramente um cantinho do Céu, que fascina todas as almas e prende e cativa todos os corações”.[6]

Alguns golinhos da água de Fátima 

A título de exemplo, reproduzimos o relato de um dos inúmeros milagres comprovados, operados pelas águas das fontes de Fátima em pessoas que se encontravam entre a vida e a morte. O leitor encontrará outros relatos nas páginas finais desta matéria.

“Teresa de Jesus Martins, de 19 anos, casada, residente em Lisboa na Avenida das Cortes, contraíra uma tuberculose pulmonar, com fortes hemoptises, que deixaram alarmada a família. Os médicos prescreveram-lhe os tratamentos de praxe, inclusive a saída de Lisboa, e tentaram até interná-la no Sanatório de Portalegre. 

“Por fim, internada no pavilhão de tuberculosos nº 5 do Hospital do Rego, no Campo Grande, impossível foi acomodar-se ali à vida de hospitalizada. Tinha chegado a um estado de extrema fraqueza e de palidez cadavérica. 

“Entretanto, tendo-lhe sido dado um frasquinho com água da Fátima, ao mesmo tempo que lhe davam a conhecer as curas extraordinárias operadas por Nossa Senhora, sentiu tão grande confiança n’Ela, que, debulhada em lágrimas, se pôs a invocá-La, fazendo-Lhe várias promessas para o caso em que se curasse. 

“Todos os dias, e cada vez com mais fervor, renovava as suas súplicas, recitando o terço e tomando desde o primeiro dia algumas gotas da água. À medida que bebia um golinho e fazia as costumadas orações, as pontadas desapareciam quase por encanto, sentia-se aliviada e bem disposta. Nunca deixou de rezar o terço, o que alguns dias fez duas e três vezes. 

“Pouco depois haviam passado as hemoptises. Ao cabo de três semanas desapareceram as pontadas, e no fim de um mês estava completamente curada. O médico, ao vê-la pouco depois tão transformada, forte, gorda, corada e aparentando uma saúde esplêndida, não pôde dissimular sua surpresa. Observou-a com toda a atenção e declarou-lhe que, tendo-a julgado perdida, achava-a agora completamente curada. O que reputava inexplicável, quer se considerasse o estado desesperado em que a vira, quer a rapidez com que se efetuara a cura. 

“Eis o atestado assinado pelo distinto clínico de Lisboa, a 15 de janeiro de 1923, e devidamente reconhecido: 

‘Atesto que a Sra. Dª. Teresa de Jesus Martins, de 19 anos de idade, natural de A-dos-Cunhados, concelho de Torres Vedras, foi por mim tratada em junho e julho de 1922, de tuberculose pulmonar com hemoptises, febre vesperal, emagrecimento, suores noturnos; hoje não subsistem sinais clínicos dessa doença. E por ser verdade, passo o presente que assino e juro pela minha honra’” (Voz de Fátima, nº 8).[7]

Maledicências, boatos e perseguição anticatólica 

Como não poderia deixar de ocorrer, os inimigos da Igreja não conseguiam presenciar tal
Na frente o Fontanário, e no fundo o início
da construção da futura basílica

prova do amor de Deus, de fé e devoção à sua Santa Mãe, sem se organizarem para espalhar boatos e promover perseguições aos católicos. 

A título de exemplo, eis um caso: certo dia, o administrador de Vila Nova de Ourém, Antônio de Sá Pavilom, acompanhado de um subdelegado de saúde, apareceu na casa do Pe. Agostinho Marques Ferreira, Pároco de Fátima, a fim de examinarem nas fontes as “águas barrentas com pedaços de algodão ensopados em sangue, porque ali iam vários peregrinos cobertos de chagas, lavar as suas feridas”

Após o ‘exame’, o administrador mandou fechar aquelas fontes, dizendo que “era prejudicial à saúde pública”. Ao que o Pe. Agostinho respondeu que, apesar do que diziam das águas, “não constava que ninguém tivesse morrido, nem tampouco adoecido, por a ter ingerido. Mas, ao contrário, muita gente dizia ter-se curado de várias enfermidades depois de beber tal água”.[8]

Mesmo com os milagres, continuava o murmúrio dos ateus 

Noutra ocasião, como os fiéis continuavam a fazer uso daquelas águas milagrosas, o administrador e o médico voltaram à porta do Pároco de Fátima, alegando terem ouvido falar que “as águas do fontanário estavam envenenadas”. O Pe. Agostinho os acompanhou até lá e retirou um balde cheio daquela água. Viram que era puríssima, e o médico foi obrigado a confessar que era potável. 

Com o tempo, o administrador passou de perseguidor a ajudante dos romeiros que chegavam a Fátima. Ele pôde constatar a falsidade de tudo quanto seus ‘amigos’ ateus e anticlericais espalhavam contra os prodígios operados pelas águas da Cova da Iria. “Isto já parece ser realmente um milagre, pois que hei-de dizer duma água em tal estado que não faz mal a quem a bebe, mas até cura tantas e tão grandes enfermidades?”.[9] 

Mesmo com milagres evidentes e curas inexplicáveis para a ciência, comprovadas por diversos médicos, o complô anticlerical continuou espalhando pela imprensa liberal da época que aquelas águas estavam contaminadas de micróbios. O ódio anticatólico era tal que, no dia 6 de março de 1922, a Capelinha localizada ao lado da bendita azinheira foi destruída por quatro bombas. 

Por que tanto ódio contra Nossa Senhora, se Ela só fazia o bem aos enfermos de alma e de corpo? Seus adversários a odiavam porque Ela distribuía ali abundantes graças para Portugal e o mundo, operava inúmeras curas, convertia muita gente que vivia fora da Igreja e/ou atolada na vida pecaminosa, além de reconfortar numerosos sofredores. 

A água maravilhosa levada para terras distantes 

Com o título “As fontes miraculosas de Fátima”, o site www.pliniocorreadeoliveira.info transcreve um precioso documento e uma bela oração, relativos às águas do abençoado fontanário da Cova da Iria: 

A leitura da obra Novos esplendores de Fátima, de autoria do Padre Valentim Armas C.M.F. (Editora Ave Maria, 1944, São Paulo, págs. 209-212) foi recomendada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em artigo de 8 de abril de 1945 no Legionário, como sendo da mais absoluta necessidade para o mundo contemporâneo: 

“Nos dias de grande romaria, logo depois da primeira missa campal, uma multidão inumerável fervilha desde manhã cedo e estaciona no local da fonte miraculosa, na ansiedade irreprimível de fazer provisão da água benéfica e salutar. 

“A forma circular da fonte prodigiosa facilita bastante a aquisição do precioso líquido que jorra copiosamente por 15 grandes torneiras de metal amarelo, que simbolizam pelo seu número os 15 mistérios do Santíssimo Rosário. 

“Algumas torneiras, porém, só podiam ser utilizadas por aqueles fiéis que se limitam a beber água no próprio local onde ela é fornecida. A ligeira impaciência dos mais apressados é facilmente contida pelos servitas, que regulam, ao mesmo tempo com prudência e firmeza, o difícil acesso às torneiras. 

“O aprovisionamento da linfa maravilhosa dura horas compridas, intermináveis, desde as primeiras da manhã até as últimas da tarde. Os peregrinos enchem recipientes de todos os tamanhos e de todos os feitios, que levam consigo para as suas terras distantes, com a fagueira esperança de provocar, mediante a aplicação da água, a cura de alguma pessoa da família ou de amizade, ou ao menos proporcionar um pouco de lenitivo aos seus sofrimentos. 

“Não têm conta os casos de curas maravilhosas atribuídas à água da fonte miraculosa de Fátima. Correndo os olhos pela seção de graças, registradas no último número da ‘Voz de Fátima’ que temos em mão, é fácil constatar que, em quase todas elas, a intervenção sobrenatural opera-se, as mais das vezes, mediante a aplicação ou uso da água miraculosa”.[10]

Em continuação da matéria acima, o leitor poderá ler no referido site alguns outros exemplos comprovados de milagres operados em Fátima. Transcrevemos desse mesmo excelente site a oração reproduzida no final deste artigo. 

Prosseguem as graças abundantes da ‘Lourdes portuguesa’ 

Apesar de todas essas maravilhas operadas pelas águas brotadas nas fontes milagrosas, e sob o pretexto de uma terraplanagem e outras construções na Cova da Iria, por algum mistério inexplicável o manancial com as 15 torneiras ficou soterrado. Restam hoje apenas vestígios, e nem isso se divulga. O peregrino que ali chega não o percebe, apesar de o manancial não ter secado nem mesmo em tempos de severa estiagem na região.

Por que essa sabotagem? Fato incompreensível, pois os milagres ocorreram como nas milagrosas águas de Lourdes. Deveriam ser divulgados ao máximo, no entanto são sabotados. Procura-se assim ‘sepultar’ uma imensa graça concedida pela Senhora de Fátima a Portugal e a todas as nações. Estes e muitos outros ‘boicotes’ inexplicáveis parecem fazer parte do processo de autodemolição da Santa Igreja, que se intensificou muito a partir do Concílio Vaticano II. 

Por mais empedernidos e radicais que sejam os sabotadores, e por mais trágica e grave que seja a crise na Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima estão infinitamente acima de todos esses desmandos. Aconteça o que acontecer, continuará a ‘Lourdes portuguesa’ a derramar abundantemente suas graças; a nos incentivar à fidelidade e à conversão; a operar curas espirituais e corporais; a confortar aqueles que sofrem perseguição dos inimigos velados ou declarados d’Aquela que a Tradição católica venera como corredentora do gênero humano, e que instaurará seu Reinado sobre toda a face da Terra.

OBS.: Amanhã, 13 de maio, publicaremos a segunda parte desta matéria com relatos de curas comprovadas e reconhecidas como inexplicáveis pela medicina.
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Notas: 
1. Um caminho sob o olhar de Maria - Biografia da Irmã Lúcia Maria de Jesus e do Coração Imaculado, Carmelo de Coimbra, Edições Carmelo, Coimbra, 2013, p. 64. 
2.https://www.fatima.pt/files/upload/fontes/F001_DCF_selecao.pdf
3. Id. Ib. 
4. William Thomas Walsh, Nossa Senhora de Fátima, Edições Melhoramentos, 1947, São Paulo, SP, 1949, p. 182. 
5. Catolicismo, Nº 802, outubro/2017. 
6. Documentação crítica de Fátima - Seleção de documentos (1917-1930), p. 470. 
7. Pe. José de Oliveira Dias, S.J., Florilégio Ilustrado da Fátima, Oficinas Gráficas PAX, Braga, Portugal, Edição da Sociedade Brasileira de Educação, 3ª. edição, 1952, p. 12-13. 
8. Pe. António Maria Martins, S.J., Novos Documentos de Fátima, Edições Loyola, São Paulo (SP), 1984, pp. 134-135. 
9. Id. Ib. p. 138. 
10. https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Fatima_fontes_milagrosas.htm#.YG4_1ehKiUk 

Da fonte das águas milagrosas de Fátima,
 pode-se apreciar uma das torneiras que restaram
[Foto: Miguel Angel Gutiérrez]

ORAÇÃO 

Ó amada Rainha e excelsa Senhora do Rosário de Fátima! 

Esta fonte milagrosa, que Vós fizestes brotar um dia ao pé da azinheira sagrada, é símbolo expressivo do vosso Coração materno manifestado ali, em Fátima, como penhor seguro de paz e salvação para a humanidade. 

Fonte de vida é o vosso Coração Imaculado, ó Senhora, porque dele nasceu para nós Aquele que é nosso caminho, verdade e vida, Jesus Cristo. 

Fonte aberta sois Vós, ó benditíssima Virgem, da qual fluem os rios de vossas graças e liberalidades. 

Fonte sempre aberta para os justos, pelos eflúvios da vossa caridade; e para os pecadores arrependidos, pelas águas de vossa compaixão e misericórdia. 

Vós sois aquela fonte de que nos fala o Gênesis (2, 6), pois assim como aquela era abismo de muitas águas, da qual nasciam outras fontes, assim Vós sois abismo de muitas graças para todos os que vos invocam. 

Sois ainda, ó Virgem benigna, a fonte selada apregoada no Cântico dos Cânticos (4, 12), onde esteve por nove meses oculta a Humanidade santíssima do Filho de Deus. 

Vós sois aquela fonte de Siloé, cujas águas correm silenciosas e por intervalos, à maneira como correm vossos favores, consoante a vossa vontade. 

Salve, Maria, fonte de graça, piedade e misericórdia; manancial inexaurível de doçura e clemência. 

Fazei-nos ouvir aquelas doces palavras que um dia proferiu vosso Filho: Vinde a mim, todos os que tendes sede. Eu sou a fonte de águas vivas que jorram para a vida eterna. 

Afastai-nos dessas águas lodosas do pecado, que se precipitam no abismo, e guiai-nos para essas outras que desalteram e acalmam, que curam e ressuscitam. 

E regai com as águas puras e cristalinas de vossa graça a terra seca e árida de nossos corações; lavai as manchas de nossa alma, a fim de sermos dignos de seguir nessa nossa peregrinação, e depois possuir por toda a eternidade o vosso amado Filho, fonte viva e indefectível de todo bem. 

Deixai-nos proclamar com vosso amado servo São Metódio: “Fonte de propiciação de Jesus Cristo para com o gênero humano, rogai por nós” – Fons propiciationis Filii erga genus humanum, ora pro nobis.* 
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*https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Fatima_fontes_milagrosas.htm#.YG4_1ehKiUk