“Se não quiserdes sofrer com alegria, como Jesus Cristo, ou com paciência, como o bom ladrão, tereis, mesmo sem o querer, de sofrer como o mau ladrão”
Neste 14 de setembro a Igreja celebra o dia da “Exaltação da Santa Cruz”. Segundo o Apóstolo São Paulo “Devemos nos orgulhar na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque nela está a nossa salvação, vida e ressurreição, e por ela é que recebemos a libertação” (Gl 6, 14).
Em memória desta grande data, segue trecho extraído do livro de São Luís Maria de Montfort “Carta Circular Aos Amigos da Cruz”:
Olhai, meus queridos Amigos da Cruz [...] tantos Apóstolos e Mártires cobertos com a púrpura de seu sangue; tantas Virgens e Confessores empobrecidos, humilhados, expulsos, desprezados, que com São Paulo, exclamam: “Olhai nosso bom Jesus autor e consumador da fé que temos n´Ele e na sua Cruz; foi preciso que Ele sofresse a fim de, pela Cruz, entrar em sua glória.Vêde, ao lado de Jesus Cristo, um agudo gládio que penetra, até o fundo, no coração terno e inocente de Maria, que nunca tivera qualquer pecado, original ou atual. Como me pesa não poder estender-me falando sobre a Paixão de um e de outro, para mostrar que o que sofremos nada é em comparação do que sofreram!
Depois disto, qual de vós poderá eximir-se de levar sua cruz? Qual de vós não voará depressa para os lugares onde sabe que a cruz o espera? Quem não exclamará, com Santo Inácio Mártir: “Que o fogo, o patíbulo, as feras e todos os tormentos do demônio desabem sobre mim, para que eu possa desfrutar de Jesus Cristo!”
Mas, enfim, se não quereis sofrer pacientemente e, como os predestinados, carregar com resignação a vossa cruz, levá-la-eis com murmurações e impaciência, como os réprobos. Sereis semelhantes aos que arrastavam, gemendo, a Arca da Aliança. Imitareis Simão de Cirene, que pôs, de má vontade, a mão na Cruz de Jesus Cristo e que murmurava enquanto a levava. Acontecer-vos-á, finalmente, o que aconteceu ao mau ladrão, que, do alto da sua cruz, caiu no fundo do abismo.
Não, não, esta Terra maldita em que vivemos não torna ninguém bem-aventurado; não se vê bem neste país de trevas; nunca se está em perfeita tranquilidade neste mar tempestuoso; nunca se vive sem combates neste lugar de tentação e neste campo de batalhas; nunca se vive sem pontadas nesta Terra coberta de espinhos. É preciso que os predestinados e os réprobos levem a sua cruz, quer seja de boa ou má vontade. Guardai este quatro versos:
Escolhe uma só cruz das que vês no Calvário.
Bem saibas escolher! porquanto é necessário
Que sofras como santo, ou como penitente,
Ou como condenado, eterno descontente!
Quer isto dizer que, se não quiserdes sofrer com alegria, como Jesus Cristo, ou com paciência, como o bom ladrão, tereis, mesmo sem o querer, de sofrer como o mau ladrão. Será preciso que bebais, até as fezes, o mais amargo cálice, sem nenhuma consolação da graça, e que carregueis todo o peso da vossa cruz, sem nenhum auxílio poderoso de Jesus Cristo. Será preciso mesmo que leveis o peso fatal que o demônio acrescentará à vossa cruz, pela impaciência em que vos lançará, e que, depois de haverdes sido desgraçado na Terra, como o mau ladrão, vades encontrá-lo nas chamas.
Se, ao contrário, porém, sofreis como o deveis, a cruz se tornará em jugo suavíssimo, que Jesus Cristo carregará convosco; tornar-se-á as duas asas da alma que a levam para o Céu; tornar-se-á o mastro de navio que vos fará chegar ao porto da salvação feliz e facilmente.
Levai vossa cruz com paciência e, por esta cruz bem levada, sereis iluminados em vossas trevas espirituais; pois o que não sofre pela tentação nada sabe.
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