“No dia em que tivermos legiões de pessoas verdadeiramente devotas do Coração Imaculado de Maria, o Coração de Jesus reinará sobre o mundo inteiro. Com efeito, essas duas devoções não se podem separar. A devoção a Maria Santíssima é a atmosfera própria da devoção a Nosso Senhor. O verão traz as flores e os frutos. A devoção a Nossa Senhora gera como fruto necessário o amor sem reservas a Nosso Senhor Jesus Cristo.”
✅ Plinio
Corrêa de Oliveira
“Legionário”, 30 de julho de 1944
Imagem da Capela de Nossa Senhora, a Branca – Catedral de Santo Estêvão, Bourges (França) [Foto: Frederico Viotti] |
O Revmo. Sr. Pe. Raimundo Pujol, Provincial dos Missionários do Coração Imaculado de Maria, deu a lume uma obra sobre a devoção básica da gloriosa Congregação a que pertence. Gostaríamos que o belo e prático volume editado pela “Ave Maria” estivesse em mãos de todos os católicos verdadeiramente piedosos, autenticamente interessados nos destinos da Igreja em nossos dias.
“Dos católicos verdadeiramente piedosos”, dizíamos. Com efeito, toda a piedade verdadeira tem por objetivo dar glória a Deus e conduzir o homem à virtude. Para uma e outra coisa, que aliás se confundem, a devoção ao Coração Imaculado de Maria é um verdadeiro dom da Providência a este pobre e dilacerado século.
Nossa Senhora é a Medianeira de todas as graças. Querer rezar sem a intercessão dela é o mesmo que pretender voar sem asas, diz Dante. Se desejamos que nossos atos de amor, de louvor, de ação de graças e de reparação cheguem até o trono de Deus, devemos depositá-los nas mãos de Maria Santíssima.
Seria ridículo imaginar que Nossa Senhora constitui um desvio, e que atingimos mais diretamente a Deus se não nos dirigirmos a Ela. O contrário é que é verdade. Só por meio dela é que chegamos a Deus. Prescindir de Nossa Senhora para chegar a Jesus Cristo, sob o especioso pretexto de que Nossa Senhora constitui um anteparo entre nós e Seu Divino Filho, é tão estulto como pretender analisar os astros sem telescópio, “diretamente”, por imaginar que o cristal das lentes constitui um anteparo entre os astros e nós. Quem quisesse fazer astronomia “diretamente”, a olho nu, não faria astronomia, mas tolice. Pretender ter vida de piedade sem o auxílio de Nossa Senhora, é o mesmo que fazer astronomia a olho nu.
O mesmo se diga quanto ao papel de Nossa Senhora em nossa santificação. Não são poucos os católicos que, verificando a imensa desproporção existente entre a debilidade das forças humanas e a dureza da luta que a preservação da virtude impõe, se deixam arrastar a uma moral latitudinária, minimalista, cheia de transações com o espírito do século. E, para isto, os pretextos, as razões falsas, porém verossímeis, não lhes faltam. Apelam para a fraqueza moral do homem contemporâneo, para as mil dificuldades que a civilização moderna cria para a prática da virtude etc., etc. De uma coisa, entretanto, se esquecem: por mais fraco que seja o homem, a graça de Deus é invencível. Quando a graça de Deus encontra o apoio de uma correspondência generosa no homem ela pode milagres. “Tudo posso n´Aquele que me conforta”, escreveu São Paulo.
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Com o auxílio de Deus as crianças, as donzelas, os anciãos enfrentavam no Coliseu os mais terríveis tormentos. Será possível que o cristão católico de nossos dias não possa enfrentar os perigos da civilização moderna?
A questão, para dilatarmos as fronteiras da Santa Igreja, por todo o universo, não consiste em afrouxarmos a invencível doutrina de Jesus Cristo. Saibamos viver a vida da graça com a plena correspondência de nosso livre arbítrio. Saibamos procurar a graça nas fontes onde realmente ela jorra, e com o auxílio dela tornemo-nos fortes para todas as austeridades que o Espírito Santo de nós exige. Entre essas fontes da graça, está sem dúvida, em lugar relevantíssimo, a devoção ao Coração Imaculado de Maria.
Na Sagrada Escritura encontramos esta frase: “Porque foram fracos, eu lhes abri uma porta que ninguém poderá fechar”. Esta porta aberta para a fraqueza do homem contemporâneo é o Coração Imaculado de Maria.
Com efeito, nada nos pode dar maior confiança, esperança mais fundada, estímulo mais certo, do que a convicção de que em todas as nossas misérias, em todas as nossas quedas, não temos apenas, a nos olhar com o rigor de Juiz, a infinita Santidade de Deus, mas também o coração cheio de ternura, de compaixão, de misericórdia, de nossa Mãe Celeste. Onipotência Suplicante, Ela saberá conseguir para nós tudo quanto nossa fraqueza pede para a grande tarefa de nosso reerguimento moral.
Com este coração, todos os terrores se dissipam, todos os desânimos se esvaem, todas as incertezas se desanuviam. O Coração Imaculado de Maria é a Porta do Céu aberta de par em par aos homens de nosso tempo, tão extremamente fracos. E esta porta “ninguém a poderá fechar”, nem o demônio, nem o mundo, nem a carne.
Fazer apostolado é, essencialmente, salvar almas. Aos que se interessam pelo apostolado nada deve importar mais do que o conhecimento das devoções providenciais com que o Espírito Santo enriquece a Santa Igreja em cada época, para a utilidade das almas. O Sumo Pontífice atualmente reinante [Pio XII] aponta duas devoções: a do Sagrado Coração de Jesus, a do Coração Imaculado de Maria.
Aparecendo em Fátima, Nossa Senhora disse textualmente aos Pastorzinhos que uma intensa devoção ao Coração Imaculado de Maria seria o meio de salvação do mundo contemporâneo. Milagres sem conta têm atestado a autenticidade da mensagem celeste. Não nos resta, senão confortarmo-nos ao ditame que dela decorre.
Se essa é a salvação do mundo, se queremos salvar o mundo, apregoemos o meio providencial para sua salvação. No dia em que tivermos legiões de pessoas verdadeiramente devotas do Coração Imaculado de Maria, o Coração de Jesus reinará sobre o mundo inteiro. Com efeito, essas duas devoções não se podem separar. A devoção a Maria Santíssima é a atmosfera própria da devoção a Nosso Senhor. O verão traz as flores e os frutos. A devoção a Nossa Senhora gera como fruto necessário o amor sem reservas a Nosso Senhor Jesus Cristo. E, no dia em que o mundo inteiro voltar a Jesus por Maria, o mundo estará salvo. Para todas as almas apostólicas é, portanto, de primordial importância o culto ao Imaculado Coração de Maria.
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Temos falado constantemente em “verdadeira” devoção. Com efeito, não nos bastam as devoções externas, formais, convencionais. É preciso que a devoção seja esclarecida, inteligente, sensata, fecunda. Ela deve resultar de persuasões firmes, gerar resoluções duráveis.
O livro do Revmo. Sr. Pe. Raimundo Pujol, em linguagem atraente e edificante, chega precisamente a este resultado. Escrito com muita suavidade de estilo, ele é, entretanto, altamente substancioso, e contém todos os elementos de um estudo lógico, claro, rico, a respeito da devoção ao Coração de Maria.
Este livro não é apenas uma série de ditirambos, mas uma doutrina substanciosa, que se pode compreender, assimilar, admirar. Lendo-o, estudando-o adquirem-se os conhecimentos necessários para que a devoção ao Coração de Maria deite em nosso espírito as raízes sólidas de que carece. Quer quanto ao histórico dessa devoção, quer quanto aos seus fundamentos dogmáticos e sua importância em nossos dias, o Revmo. Pe. Raimundo Pujol dá a conhecer ao público tudo quanto é desejável [“O Coração de Maria e a hora presente”, Editora Ave Maria, 1944, 91 páginas].
Para a propagação do culto ao Coração Imaculado da Santa Mãe de Deus, os filhos do Beato Claret [canonizado por Pio XII a 7 de maio de 1950] acabam de dar, portanto, mais um grande tributo pela pena de seu ilustrado e douto Provincial.
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