Vítima do Holodomor numa rua da cidade de Carcóvia (no leste da Ucrânia). Foto feita, em 1932, por Alexander Wienerberger. |
“A respiração [de Stalin] fazia-se cada vez mais ofegante. Nas últimas doze horas, tornou-se claro que a fome de oxigênio crescia. A face escurecia e se alterava. Gradualmente, seus traços tomavam- se irreconhecíveis, os lábios negros. Na última hora, ou nas últimas duas, ele simplesmente foi se sufocando. A agonia foi espantosa. Um homem era estrangulado sob os olhares de todos. Já no último minuto, de repente, ele abriu os olhos e os voltou para todos aqueles que estavam em torno. Foi um olhar terrível, talvez louco, talvez furibundo e cheio de terror em face da morte e diante dos rostos desconhecidos dos médicos que se inclinavam sobre ele; e seu olhar passeou sobre todos durante uma certa fração de minuto; e, a essa altura — foi uma coisa incompreensível e horrível, que ainda hoje não entendo, mas não posso esquecer —, ele ergueu improvisadamente para o alto o braço esquerdo e com ele apontou para o alto ou talvez nos ameaçou a todos”.
Após a descrição da morte do tirano, o Prof. Plinio faz o seu comentário. Contudo, como ele não o reviu com a intenção de publicá-lo, adaptamos aqui suas palavras à linguagem escrita
“Imaginemos as vastidões do Kremlin. Misteriosa fortaleza-palácio, inteiramente murada, em Moscou. Dentro dela, mais um drama se desenrola: a morte do ditador Stalin. Um homem devasso, que está expirando.
“A inevitável doença, ou envenenamento, que atinge determinado paroxismo e que produz o estraçalhamento, a dilaceração: a alma está se separando do corpo. Stalin encontra-se impotente, mas seu organismo poderoso luta contra a morte.
“Mas, apesar dessa reação — uma espécie de fúria selvagem e de poder biológico e psicológico —, a morte vai prostrando o ditador. Ele vai sendo estraçalhado e reagindo com uma impetuosidade, uma força de resistência maior à medida que vai notando que os golpes da morte vão se abatendo sobre ele.
“Constata-se, porém, que Stalin morre longe da graça de Deus. Nada há que externe a ideia de religião. A vida dele foi de um ateu e de um propugnador do ateísmo. De um homem que, ainda que se às ocultas acreditasse em Deus, de tal maneira ofendeu o Criador, que é de se presumir que tenha caído no pecado de desespero, ou no pecado da negação da existência de Deus.
“Portanto, morrendo com ódio, desesperado. Sua reação é vã, o ar vai faltando, sua natureza está minada por todos os lados. Em certo momento, o ditador percebe a situação em que se encontra. Ele, que não tinha feito outra coisa na vida a não ser governar pelo terror, impulsionado pela força do ódio, abre os olhos e — talvez sem dar-se bem conta do que estava acontecendo, considerando-se envenenado ou vítima de uma conspiração — fita todos os presentes no local com um olhar terrível; e, sentindo confusamente que estava sendo derrotado, procura ainda reagir.
“A seguir, levanta o braço num gesto de ameaça — a única coisa que ele sabia fazer. Pouco depois, Deus chama sua alma para julgamento. O braço cai, ele não é senão um cadáver.
“O homem que passou a vida inteira odiando, e que havia governado com brutalidade, verga, quebra, rui. Sobrevém a placidez do cadáver.
“Para uma pessoa que sabe interpretar essas cenas com os olhos da fé, uma só coisa constata como epílogo: a vitória de Deus!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário