5 de abril de 2025

UMA BOMBA, UMA HONRA PARA A TFP

 


UMA EXPLOSÃO,

UM ORATÓRIO A NOSSA SENHORA,

UMA FONTE DE GRAÇAS.

 

✅  Paulo Roberto Campos


Já ia alta a fria madrugada. Uma fortíssima explosão acontece. Era uma bomba de dinamite detonada às três horas do dia 20 de junho de 1969. Certamente, a maioria dos moradores dos bairros próximos dormia, sobretudo de Higienópolis e Santa Cecília, mas despertou com o estampido.

A noite do atentado terrorista
O alvo foi uma sede da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade). Situada na Rua Martim Francisco, 665, a casa ficou em parte desmoronada. No meio dos escombros, um fato prodigioso: uma pequena imagem barroca da Imaculada Conceição ficou inteira, apesar de um pouco danificada.

No lugar onde os comunistas explodiram a bomba, nasceu o Oratório Nossa Senhora da Conceição Vítima dos Terroristas [como será detalhado em outro artigo desta matéria].

Inaugurado em 11 de novembro de 1969, as vigílias de orações no local tiveram início no dia 1º de maio de 1970. A partir do Oratório, “explodiu” uma ação sobrenatural irradiada para toda a capital paulista; nasceu uma “fonte de graças” para sua população, especialmente para os moradores do bairro e transeuntes que ali paravam para dizer algo à Santíssima Virgem. Eles rezavam, pediam favores, espirituais ou materiais, correções de vícios, arrependimento de pecados. Também muitos lá iam — inclusive de outras partes do Brasil — para fazer promessas ou agradecer favores recebidos. Do alto do Céu, Ela sempre intercedia como advogada deles junto a Deus e os abençoava.

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no Oratório.


O ato terrorista não intimidou a TFP

         “Só se jogam pedras em árvores que dão frutos”... Se a ação da TFP não produzisse bons frutos, ninguém se incomodaria, ninguém jogaria uma pedrinha sequer. A detonação dessa bomba foi uma grande honra para a TFP. É uma honra ser perseguido por amor de Deus, e Ele ampara os perseguidos por amor à Justiça. O atentado terrorista não intimidou a entidade, principal baluarte contra o comunismo no País. Ela continuou altaneira a levantar seus estandartes rubros, marcados pelo rompante leão dourado, nas praças públicas em suas memoráveis e brilhantes campanhas contra o terror da doutrina e dos regimes comunistas, inclusive quando infiltrados sorrateiramente dentro da Igreja.

         Cumpre notar que as mãos terroristas lançaram a bomba bem nas vésperas do início de uma grande campanha da TFP contra o chamado “progressismo”. Ela denunciava a infiltração esquerdista nos meios católicos, que pretendia uma nova Igreja que abonasse o comunismo. Imaginaram que, aterrorizando, os membros da TFP se acovardariam? Ledo engano! Eles se lançaram às ruas de 514 cidades numa muito eficaz campanha que marcou época*.

         Devido à eficácia da ação anticomunista da TFP, jogaram a bomba; da bomba nasceu o Oratório; do Oratório nasceram as vigílias noturnas. Nele nasceu um ato pioneiro no Brasil: a prática de se rezar em público o Santo Rosário. Essas vigílias eram iniciadas às 18 horas e terminavam às sete horas da manhã.

         Durante toda a noite até o amanhecer, sempre dois membros da TFP (sócios, cooperadores ou correspondentes), alternados de hora em hora, eram vistos revestidos com as capas rubras da entidade, ajoelhados em genuflexórios colocados diretamente na calçada, de costas para a rua, algumas vezes no frio ou na chuva, rezando o Rosário diante da imagem danificada pela bomba comuno-terrorista.

Ladeando o Oratório, dois imponentes tocheiros eram acesos no início da vigília. Suas chamas simbolizavam as orações que subiam aos céus. Frequentemente, os membros da TFP eram acompanhados nas orações por pessoas do público de todas as classes sociais.

Muitas vezes, automóveis paravam em frente, seus ocupantes rezavam brevemente e partiam, mas algumas vezes (estes sempre em alta velocidade e na calada da noite) passavam com indivíduos gritando insultos. As vigílias nunca eram interrompidas, continuavam as orações subindo aos céus. Um lugar com essas características talvez seja o único no mundo!

 

“Flashes” de algumas das cerimônias feitas em honra de Nossa Senhora da Conceição Vítima dos Terroristas

Nossa Senhora das Flores, da Calçada ou da Rua

         Tal a proximidade do Oratório com a rua, e daqueles que sobem e descem por ela, que o poeta Guilherme de Almeida escreveu: Procure-a nas horas de tristeza e procure-a nas horas de alegria, pois ela, Nossa Senhora da Rua, sendo da Rua, há de entender-nos melhor.

Explorando essa mesma ideia, com o título NOSSA SENHORA DA RUA, uma devota, vizinha do Oratório, Semiramis do Amaral Vieira de Morais, compôs uma bela poesia, transcrita no final. 


O Oratório sempre era visto muito florido pelos populares, ganhou até algumas rosas de prata, permanentemente expostas ladeando a imagem. Com frequência, era tal a quantidade de flores ofertadas, que elas eram dispostas em vasos na calçada. Um devoto ofereceu-lhe uma coroa de ouro, que lhe cinge a fronte; outro um tercinho de prata; outro uma rosa de ouro. Nenhuma das flores eram compradas pela TFP, mas oferecidas por pessoas do público que ali acorriam a fim de dirigir suas súplicas à Senhora da Imaculada Conceição.

A Ela o fundador da TFP nutria tal confiança e tal certeza no seu poder junto a Deus para interceder pelos que rezam, que certa vez ele disse: “Se alguém pedir algo a Nossa Senhora lá no Oratório e não for atendido, venha cobrar de mim.”

Nesse sentido, entre milhares de comentários do público, reproduzo apenas um: “Eu vivo da proteção que Nossa Senhora me dá aqui no Oratório. Tudo que pedi, Ela me deu — o senhor preste atenção: TUDO. Aqui Nossa Senhora dá tudo o que a gente pede.” Declarou, comovida, uma senhora a um membro da TFP em frente à sede da Rua Martim Francisco. Aliás, nesta sede por alguns anos esteve estabelecida a redação de Catolicismo, assim como do Serviço de Imprensa da TFP e da Agência Boa Imprensa.

 

Retomada das vigílias de orações no Oratório (13-12-2024)

Reconquista do Oratório

Por razões judiciais que não vem ao caso expor aqui, para não alongar demasiadamente esta matéria, as vigílias de orações no Oratório foram interrompidas em 2004, sendo restabelecidas no dia 13 de dezembro de 2024 pelos membros do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. Durante o tempo em que ficaram privados do imóvel, as vigílias prosseguiram em suas respectivas sedes, bem como nas sedes das TFPs e associações-irmãs de diversos países.

         Eis um comentário recente, feito por outra senhora: “Fico muito contente com a reabertura das vigílias de orações no Oratório da Martim Francisco, eu ia frequentemente rezar a Nossa Senhora juntamente com os jovens da TFP de joelhos puxando o Rosário. Guardo comigo uma bonita foto daquela época. Agora vou voltar ao antigo costume de rezar lá.”

Convidamos nossos leitores a irem rezar naquele local abençoado, mas os que não puderem, basta enviar suas intenções e pedidos para serem incluídos nas vigílias para o seguinte link: https://vigiliadooratorio.ipco.info/

 

Novo e recente atentado do ódio

Provavelmente filho espiritual dos terroristas que lançaram a bomba em 1969, no último dia 8 de fevereiro, alguém desferiu, com um objeto metálico (tipo pé-de-cabra), um forte golpe para quebrar o vidro que protege a imagem de Nossa Senhora. Com certeza, seu intento diabólico era quebrar a própria imagenzinha sagrada. Entretanto, como é super resistente o vidro blindado, não quebrou, mas chegou a trincar de alto a baixo [foto ao lado].

         Tal atentado do ódio, assim como há 56 anos não intimidou a TFP, não intimida os membros do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, pois eles continuam destemidamente realizando suas campanhas em prol da Santa Igreja e do Brasil.

 


Com a palavra, Plinio Corrêa de Oliveira

         Ainda a respeito do Oratório Nossa Senhora da Conceição Vítima dos Terroristas, passemos a palavra ao seu mentor, o Prof. Plinio, quem estabeleceu aquele local de orações nas intenções compostas por ele (reproduzidas no artigo mais abaixo). Estas sempre são lidas no início de cada terço do Rosário.

Cerimônia de incineração dos bilhetes que os devotos depositavam aos pés da imagem, com pedidos de graças e outras intenções


         Numa conferência em 19 de novembro de 1971, ele fez a seguinte consideração:

“É bonito fazer vigílias no Oratório durante as noites. Parece que Nossa Senhora deseja ser mais adornada durante a noite para ser vista pelos sócios e pelos militantes da TFP exatamente nesta glória noturna. A cidade toda está na noite, na noite atmosférica e na noite do pecado. Nossa Senhora está toda cheia de rosas oferecendo sua beleza à consideração daqueles que ali rezam. Também é muito interessante no Oratório notar a tendência das rosas, levadas por pessoas diferentes, chegarem lá à noite. É que é bonito crer na luz durante a noite.”

         No dia 2 de junho de 1970, por ocasião de uma cerimônia de incineração dos bilhetes com pedidos e de graças e outras intenções que os devotos depositavam aos pés da imagem, Plinio Corrêa de Oliveira pronunciou um discurso (segue abaixo um breve trecho) para uma multidão de quase 1000 fiéis que ali se aglomeraram juntamente com os cooperadores da TFP portando suas capas rubras e muitos estandartes da entidade.

“No momento em que se procede à incineração dos pedidos endereçados por tantos fiéis a Nossa Senhora da Conceição, neste momento em que simbolicamente sobem aos Céus sob a forma de labaredas e de fumaça os anelos de tantas almas fiéis, neste momento a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, pela voz do Presidente do seu Conselho Nacional, não poderia deixar de dizer uma palavra. Esta palavra é sugerida pela natureza mesma do quadro que vemos diante de nós.

“Uma imagem coroada de espinhos, uma imagem mutilada, uma imagem trazendo em si todos os sinais da devastação — uma imagem coroada de ouro, uma imagem com resplendor de prata, uma imagem cercada de flores, uma imagem tendo aos pés flores de prata e uma flor áurea, uma imagem adornada com tudo aquilo que a piedade dos fiéis costuma usar para exprimir sua veneração, seu amor e sua gratidão.

Esta antítese entre a devastação de um lado e a glorificação de outro lado, é bem a história deste Oratório que aqui está diante de vossos olhos. Uma bomba o inaugurou, porém mais possante do que a bomba que destrói — que representa o ódio que arrasa, que nega, que procura calcar aos pés tudo quanto há de mais sagrado — é a fé e o poder da construção.

Onde espinhos fizeram sangrar o Coração Imaculado de Maria, onde o ódio danificou a sagrada imagem que aqui está, onde o estampido derrubou uma pequena coroa de prata que cingia a fronte desta imagem e que não se encontrou mais no meio dos escombros e das ruínas, aí mesmo se abriu um rio de graças.”

*   *  *

Complementando com chave de ouro esta matéria, segue uma oração/meditação feita por Plinio Corrêa de Oliveira em 31 de junho de 1979. Seguem também três de artigos escritos por ele para a “Folha de S. Paulo”, nos quais trata magistralmente desse histórico acontecimento.

____________

Nota:

* Campanha da TFP contra o IDO-C (Centro Internacional de Informação e Documentação sobre a Igreja Conciliar) e “grupos proféticos”. Movimentos ocultos que trabalharam para implantar uma Igreja nova, dessacralizada e miserabilista, cuja moral nova favorecia o comunismo. O mesmo objetivo comuno-progressista perseguido hoje pela “esquerda católica”. Catolicismo analisou e denunciou esse nefasto e sinistro complô em ampla matéria publicada em número duplo (nº 220-221, abril-maio de 1969), o qual foi largamente difundido por centenas de jovens da TFP. Em 70 dias, eles percorreram 514 cidades de quase todos os estados da Federação e difundiram 165 mil exemplares do citado número de Catolicismo. Conferir em nosso site: https://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0220-221/P01.html

 



NOSSA SENHORA DA RUA

Nossa Senhora da Rua

sobe e desce transeunte...

Assim, devoção — poesia

recitada em prosa e verso,

na alma de cada um.

Nossa Senhora da Rua,

Nossa Senhora Formosa,

Nossa Senhora Sorriso,

Nossa Senhora Piedosa!

Chora pranto,

Seca pranto.

 

Nossa Senhora entendendo,

Nossa Senhora atendendo

entre luzes e perfumes —

Nossa Senhora das velas,

Nossa Senhora das flores...

em meio às rosas vermelhas

recolhendo as nossas dores.

Vai-e-vem o dia inteiro,

Passam passos,

vêm e vão...

e Nossa Senhora linda

com sua ternura infinda,

com seu Menino na mão,

vai desvendando o segredo

de alegrias, ou de medo,

das gentes, no coração.

 

Ela é muito pequenina,

só cabe mesmo entre as flores

no altar daquela esquina

que é uma esquina de louvores!

Ali, na Martim Francisco,

pertinho da Martinico

é onde Ela fica, e eu fico

de alma tão deslumbrada

que nem digo mesmo nada.

Mas Ela me conhece

e sabe até onde moro.

 

— Apareça lá em casa

minha formosa vizinha

com sua bondade azul!

Nem que seja de passagem

Nossa Senhora mensagem!

Ou por um só minutinho

Nossa Senhora Caminho,

porque lá fora, na rua,

o transeunte que passa

espera por uma graça!

 

Passam passos,

voltam passos,

todos eles vêm e vão

e aquela esquina florida

é a síntese colorida

de uma pura devoção.

Alguns vão mais apressados —

outros param descansados

entre a cidade e o altar.

É a ingênua festa de rua —

e o povo já se habitua

à pausa para rezar!

(Transcrito do "City News", de 5-1-1975).


 


SÚPLICA A NOSSA SENHORA

VÍTIMA DOS TERRORISTAS

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Considero esplêndida esta fotografia, muito bem enquadrada! A fisionomia da imagem de Nossa Senhora do Oratório, atingida pela bomba terrorista, está muito bem apresentada e há nela algo de majestoso, uma segurança de grande Dame.

 A coroa de espinhos em torno dela está magnífica, indicando bem um simbolismo, como veremos.

Sempre saio de casa acompanhado de uma guarda. Ficamos sem saber se retornarei íntegro à minha casa, nem se os rapazes que estão constituindo a guarda vão voltar íntegros. Apesar desse perigo, todos vão dormir tão tranquilos como se estivessem, por exemplo, no ano de 1955, absolutamente tranquilo.

É exatamente a surdez à voz de Deus que nos fala pelos acontecimentos. Vamos ver em que sentido isto é voz de Deus anunciando acontecimentos maiores.

Quem moveu os terroristas que jogaram uma bomba de dinamite em nossa sede da Rua Martim Francisco? Foram comunistas.

É o mesmo perigo em vários países. Perigo que sobe como uma maré que ninguém consegue segurar. Temos a previsão de Fátima: o comunismo espalhará seus erros por toda parte. Está previsto desde 1917. E o castigo prometido em Fátima vai ser também um auge da ferocidade que incendiará tudo, dizimará o mundo. O incêndio já começou, as labaredas tocam em nossa pele. Mas é apenas um prenúncio do castigo profetizado por Nossa Senhora.

Devemos tirar a seguinte conclusão: Vem aproximando o castigo e a Providência permite que essas labaredas nos toquem para nos chamar a atenção, para que nos preparemos e nos compenetremos.

A vidinha que levamos todos os dias, com suas preocupações e suas pequenas ambições, não são nada. Vivemos como que enfeitando uma cabine de navio do qual nós vamos descer. Esta cabine é a condição individual de nossa vida. Com as mil preocupações tolas; questões de amor-próprio, de vaidade.

Essas preocupaçõezinhas não nos permitem ouvir a voz de Deus, grandiosa, magnífica, que vai acendendo uma das melhores e maiores manifestações da história.

Seria mais ou menos como se um dos membros da família de Noé, ao pé da Arca, vendo cair as primeiras gotas do dilúvio, estivesse preocupado com o seguinte problema: eu tenho que ver na minha casa um problema de uma coluna que deixei lá e que de repente se abala. Mas, como?! Vai ser destruído tudo pelo castigo do dilúvio! Você vai entrar na arca, mas o que incomoda é a coluna de sua casa?! Vai ser tudo aniquilado!

Eu não teria surpresa de que um ou outro deixou de entrar na Arca porque foi tratar de negócio de última hora. E por quê? Porque não acreditava na chuva que começava a cair. Este é o estado de espírito do homem hodierno.

Então, o que devemos fazer?

— Pedir a Nossa Senhora junto à coroa de espinhos, como Ela está no Oratório, a graça que eu reputo uma das graças mais específicas para se pedir:

Ó Senhora e Mãe, concebida sem pecado original, vós permitistes que uma explosão criminosa tisnasse em vossa imagem a face, arrancasse as mãos e enegrecesse de fuligem o virginal e régio vestuário.

Quisestes assim, que ficasse presente aos meus olhos o prenúncio do castigo anunciado em 1917. Ou seja, que vossa imagem ficasse marcada com o sinal dos primeiros incêndios e das explosões que o comunismo — segundo prenunciastes em Fátima — produzirá por toda parte.

A imagem danificada de Nossa Senhora
da Imaculada Conceição
 é resgatada do meio dos escombros
deixados pela explosão da bomba.
Nessa explosão terrorista, quanto há de simbólico, quanto de profético nesse aspecto trágico de vossa imagem danificada? Quanto deveria comover a um filho ver nesse estado a sua mãe! Como eu quisera que vós vos comovêsseis se assim me visse!

Se nós estivéssemos com as mãos arrancadas pela bomba, todo cheio de marcas do incêndio, com o rosto todo desfigurado, nós suplicaríamos: Tende pena de mim! Com essa disposição, é natural, Ela vai ter pena de mim. Mas sem essa disposição...

Contudo, devemos implorar a Ela: olhai minha frieza, minha indolência, meu otimismo irracional. Tende pena de mim, tão egoísta, tão insensato, tão imprevidente. Tende pena de mim, tão duro para ouvir a voz do vosso profetismo.

O sofrimento, do qual essa imagem é símbolo, Vós o sentísseis em vossa alma durante a vida terrena, quando conhecestes por revelação a ignomínia que hoje impera no mundo, conhecestes o martírio da Igreja, a derrocada da civilização cristã, a fermentação das heresias até no lugar sagrado.

Comunicai-me esta fé no que nos fala a graça dentro da alma, fazei-me inteiramente outro, em uma palavra, convertei-me.

Vós quisestes que fossem mãos de pessoas da TFP que reerguessem vossa Imagem e a tirasse dos escombros da explosão. Fazei de nós aqueles apóstolos dos últimos tempos capazes de, pela graça, reerguer de sua derrota e aflição a Santa Igreja, e assentar sobre o mundo, do qual a Revolução satânica tenha sido derrubada e varrida, o reino de vosso Imaculado Coração.

Cor Sapientiale et Immaculatum Mariae, opus tuum fac (Coração Sapiencial e Imaculado de Maria, realizai vossa obra).

*   *   *

Aí está uma meditação sob forma de oração a ser feita diante do Oratório de Nossa Senhora Vítima dos Terroristas, para pedir a Ela que nos mova. Acho que é a oração mais própria para se rezar diante do Oratório.



A BOMBA, A ESTRELA E O SAPO

Plinio Corrêa de Oliveira

Folha de S. Paulo, 25 de junho de 1969

 

Estas três coisas te sucederam nestes últimos dias, meu caro leitor.

Uma bomba foi atirada contra ti.

Uma estrela luziu com redobrada força em teu firmamento.

Ao alcance de teu ouvido, pudestes notar as rãs que do fundo de seu lamaçal coaxavam mais forte.

*   *   *

Vamos antes de tudo à bomba. Ela não arrebentou em tua pessoa, leitor, nem em teus haveres. Mas ela te feriu em algo ainda mais precioso. Sim, a bomba de dinamite, que em horas calmas da noite, um braço anônimo depositou em uma das sedes da TFP, estourou em tua dignidade. O estampido enorme que alcançou vários bairros, anunciou a toda a cidade este fato lúgubre: procura-se algemar o Brasil, procura-se algemar-te a ti leitor. Intenta-se fazer de ti, brasileiro independente e cristão, um pobre servo da pior das tiranias, a do terrorismo.

Eis porque o digo: o que valeu à TFP — pergunto — a honra daquela bomba? A convicção, o denodo e a eficácia com que ela se afirmou em 1961-1963 contra a reforma agrária de Jango, com que ela se opôs em seguida ao divórcio, e clamou depois contra a infiltração comunista na Igreja. Pois nenhum outro fato há que possa explicar tal ódio contra nossa entidade.


Ora, se qualquer destas atitudes merece como pena um atentado a bomba, decretado por personagens embuçados no anonimato, igual "castigo" se estende, em rigor de lógica, aos 27 mil agricultores que — fundados em sua consciência cristã — protestaram conosco contra a reforma de Goulart. Ela cabe também aos 1.042.359 brasileiros que, fiéis ao mandamento de Cristo, assinaram nossas listas em favor da indissolubilidade do matrimônio. Ela alcança, por fim, aos 1.600.368 brasileiros que conosco exprimiram a firme e inabalável vontade de ver a Igreja livre da infiltração comunista.

Se estás entre estes sentenciados, não é verdade que os que jogaram esta bomba contra nós quiseram acovardar-te a ti? E, supondo-te capaz de um acovardamento de tua consciência, não é verdade que feriram tua dignidade cristã... à espera do momento em que te firam, nos bens e na vida?

E ainda que não concordaste com nossas várias campanhas, ó leitor, não é bem verdade que teu senso de dignidade protesta inconformado ao ver que conspiradores sem entranhas querem, por esta forma, oprimir milhões de teus irmãos.

*   *   *

E agora a estrela.

A TFP está difundindo um número especial de Catolicismo, publicado sob os auspícios do ilustre bispo D. Antônio de Castro Mayer. Nesse mensário de cultura é publicado um impressionante conjunto de documentos e comentários, que põem a nu uma vasta trama, instalada na própria Igreja, para levar todos os católicos ao ateísmo. É a conjuração do IDO-C e dos “grupos proféticos”, sobre os quais já escrevemos neste jornal. O tema é, como se vê, essencialmente religioso. A difusão de Catolicismo se funda, pois, do ponto de vista do direito positivo, na liberdade de religião, assegurada pela Constituição. A receptividade do público para esse número de Catolicismo se vem mostrando enorme em várias capitais do Brasil. Só em São Paulo já foram vendidos por nossos jovens, em dois dias, 3.469 exemplares do jornal. E de um jornal que não trata de matéria sensacionalista, e, portanto, interessa, por sua natureza, a um público menos amplo, afeito à reflexão.

Ora, na segunda-feira, centenas de jovens, sócios, militantes ou cooperadores da TFP — universitários, comerciários e operários — vendiam o jornal no Triângulo central da Capital paulista. A certa altura, uma garotada, que nada entendia de assuntos religiosos, se pôs a vaiar e insultar os jovens da TFP. Era visível que obedeciam a uma palavra de ordem bem estudada, e seguiam os métodos clássicos de agitação.

Por que comunistas queriam interromper a difusão de um jornal que fala contra a Igreja Nova? Sem analisar aqui o fato, digamos somente que a vaia parecia prestes a contagiar outros magotes de desordeiros esparsos pela praça, como a intimidar o público simpático, mas indefeso.

Entretanto, os jovens da TFP reagiram com um élan admirável. Depois de revidar sumária e moderadamente algumas agressões físicas dos arruaceiros, foram os da TFP avançando aos brados compassados de “agressores, agressores – liberdade, liberdade”. E diante desta pacífica investida dos arautos da Tradição Família e Propriedade, que com seus grandes estandartes rubros e suas capas da mesma cor davam uma nota épica ao lance, a baderna recuou. Esse o episódio central de uma luta que a firmeza e a paciência da TFP impediram de ser cruenta.

Nesta hora, uma estrela brilhou com força maior em teu horizonte, ó leitor. Era a afirmação de um Brasil jovem, heroico e ordeiro, a pôr em retirada um anti-Brasil arruaceiro, odiento, implacável. De um Brasil inautêntico made in Havana, Pequim ou Moscou.

*   *   *

E, por fim, coaxaram mais forte os sapos. Em meio a um público invariavelmente simpático à TFP, foi desta vez maior do que de costume o número de carros — vários de luxo — que passaram domingo, a toda velocidade, pelas nossas bancas, a gritar insultos de inspiração comunista.

 



DOIS JOVENS REZAM POR VOCÊ

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Folha de S. Paulo, 26 de abril de 1970

 

Quando, na madrugada de 20 de junho de 1969 os terroristas estouraram uma bomba na sede da Presidência do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, imaginavam estar vibrando um rude golpe nessa entidade. Na realidade, era precisamente o contrário que sucedia: a Providência se serviria do fato para abrir pouco depois — precisamente naquele local — um rio de graças.

Com efeito, entre os objetos mais danificados pelo atentado criminoso, estava uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Guardamo-la carinhosamente. E, concluída a restauração do edifício, nosso dedicado porteiro Manuel nos deu esta linda sugestão: fazer um oratório dando para a rua, no local preciso onde a bomba explodira, a fim de ali expor à veneração pública a imagem danificada. Com isto se repararia a ofensa feita à Virgem Mãe de Deus.

Atendendo ao apelo, decidi que a imagem fosse transportada em um desfile solene, de nossa sede da rua Pará para a da rua Martim Francisco, 669.



Só quem frequenta assiduamente a rua Martim Francisco 669 pode formar uma ideia global do efeito benfazejo que a presença dessa imagem e desse oratório produz sobre a população.

Desde o ato inaugural do oratório — no dia 18 de novembro do ano passado — até hoje, a imagem tem estado continuamente florida. São rosas esplêndidas, são orquídeas de qualidade, são flores comuns, são até as modestas florinhas populares, a se acumularem dentro do oratório, e — o mais das vezes — a transbordarem fora dele, marcando a rua com uma nota festiva. Nem uma só vez foram estas flores compradas pela TFP: são ofertas espontâneas de devotos da Senhora da Conceição.

Procedem tais ofertas, na maioria dos casos, de pessoas das redondezas. Mas algumas delas chegam de bem longe. Pois os devotos da imagem começam a estender-se pela enorme cidade. Um bilhete pedindo graças foi deixado junto ao oratório por uma senhora que informava residir na Liberdade. Lindas flores chegaram há dias, enviadas por uma floricultura do Paraíso. Um objeto perdido no local trazia o endereço de uma pessoa do Jardim América...

Nas horas mais diversas do dia e da noite, há pessoas que rezam diante do oratório. Assim, nas primeiras horas da manhã, passam rápidos os empregados de todo tipo, à demanda de seus locais de trabalho. Em frente ao oratório, alguns se detêm para uma rápida prece. Outros, que não têm tempo de parar, se persignam e continuam seu caminho. Logo depois começam a passar, menos apressadas, as donas de casa, que vão para a missa ou para compras. Diante do oratório, numerosas são as que, por sua vez, se persignam, ou param e rezam. Aos poucos, a rua vai começando a se atravancar de automóveis. Passam carros particulares, táxis, caminhões e ônibus. É frequente notar que, dentro deles há gente que faz o sinal da cruz: homens e mulheres, crianças, jovens e velhos, passageiros e chauffeurs.

Pela calçada, a quantidade de pedestres cresce também, e se vai tornando heterogênea. Continuam numerosos os que se persignam de passagem. Mas vários outros se detêm, às vezes demoradamente. Não raras vezes, fazem uma genuflexão até o chão. Ou mesmo se ajoelham, pura e simplesmente, em plena calçada, como se estivessem em uma igreja... Entre estes, não poucos jovens. E até algum play-boy. De quando em quando, alguma pessoa entrega flores para agradecer ou pedir favores.

Com a entrada da noite, o movimento decresce. O oratório vai ficando isolado. Vão chegando suas horas mais belas e mais pungentes.

Se, durante o dia, a Virgem favoreceu os que passaram na luta pela vida, à noite Ela recebe com amor o triste desfile, que começa, das almas agoniadas, das almas solitárias... dos pecadores.

São pessoas que, às horas mais tardias, saltam de um Volks ou de um Gordini, de um Karman-Ghia ou de um Impala, se recolhem um instante, e saem. Para onde vão? Para um repouso honesto? Talvez. Mas, muitas vezes, as circunstâncias não permitem duvidar: saem do pecado, ou vão para ele. Algumas soluçam, como um jovem melenudo, que de mãos postas e joelhos em terra exclamava: "Nossa Senhora, acertai minha vida". A Providência conduz esses noctâmbulos para junto daquela que sabe corrigir todos os vícios, perdoar todos os arrependidos, tocar todos os empedernidos, e consolar todos os aflitos. No meio desses lances de dor as ações de graças continuam. São carros em que vêm, muitas vezes, o esposo e a esposa, com algum filho, trazendo em ação de graças — mesmo tarde da noite — braçadas de flores. Ou até corbeilles. E assim corre o tempo, até que a manhã traz novo desfile de outras esperanças, outras alegrias e outras aflições. Como, por exemplo, o de uma septuagenária, que em pleno dia e sem se incomodar com o bulício do trânsito, chorava junto ao oratório pedindo que Nossa Senhora a livrasse — não se chegou a ouvir bem — se de um desemprego ou um despejo...

*   *   *

Blasfêmias, insultos? Também os há, mas raros.

Uma vez, por exemplo, um jovem enfurecido escarrou na parede em que está encaixado o oratório.

Outra vez, umas moças "proféticas" passaram protestando contra o desperdício de flores. — Judas fez análogo comentário quando viu Santa Maria Madalena a ungir os pés divinos.

Certa pessoa acercou-se, uma feita, do oratório onde tantos fiéis encontram as graças da Rainha do Céu, e perguntou sarcasticamente: “Que é isto? É macumba?” — Era uma freira...

*   *   *

De todos estes "flashes", a imagem que se desprende é a de uma grande cidade em que a graça esparge favores insignes, no qual a virtude resiste e vence as situações mais adversas... mas onde, também, tanto o pecado quanto a dor, em todas as suas formas, rondam campeiam, devastam.

Isto levou os admiráveis jovens da TFP a me fazerem um pedido. Estou certo de que tal pedido comoverá até o fundo da alma todos os leitores que ainda tenham na alma alguma profundidade.

Ocupados embora o dia inteiro com seus estudos, seus empregos, suas atividades em prol da Tradição, Família e Propriedade, sugeriram-me eles de se revezarem durante a noite uns aos outros, ao longo de todo o mês marial que se aproxima, rezando continuamente o rosário junto à imagem que os terroristas danificaram.

Por que intenções queriam eles fazer essas preces em horas tão heroicas?

— Por todos os que sofrem na imensa urbe, para que Nossa Senhora os console e ajude.

— Por todos os que lutam, vacilando entre a virtude e o pecado, por todos os que perseveram na virtude, para que Nossa Senhora lhes aumente a perseverança.

— Por todos os que pecam, para que Nossa Senhora os preserve do desespero e os reconduza ao bem.

Por todos os que agonizam, para que Nossa Senhora lhes sorria na hora extrema.

Aquiesci. — E como não haveria de aquiescer?

Entretanto, acrescentei a essas esplêndidas intenções algumas outras:

— Pela Igreja, para que Nossa Senhora A livre do progressismo

— Pelo Brasil, para que Nossa Senhora o livre do comunismo

— Pelas pessoas visadas pelos terroristas, para que Nossa Senhora as ajude fortaleça e preserve

— E pelos terroristas, para que Nossa Senhora lhes toque o coração e os converta.

Por fim, recomendei: rezem particularmente pelos terroristas que danificaram a sede e a imagem. Se nós, de todo o coração, os perdoamos, quanto mais os perdoa a Mãe de todas as misericórdias!

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Saibam, pois, todos os que lerem este artigo, que, se em alguma noite, sentirem necessidade do auxílio de uma prece cristãmente fraterna, naquela hora exata dois jovens — universitários, estudantes secundários, comerciários ou operários — estarão rezando para que tal auxílio lhes seja concedido.




E NOSSA SENHORA SORRIRÁ AO BRASIL

Plinio Corrêa de Oliveira

Folha de S. Paulo, 14 de junho de 1970

 

Começo por apresentar alguns "flashes" do ocorrido diante do Oratório de Nossa Senhora da Conceição, ao longo do mês de vigília noturna ali realizado pelos sócios e militantes da TFP.

A prece dos transeuntes.

Tornou-se ela naturalmente mais intensa ao longo do mês. Foi comum ver famílias inteiras de rosário em punho, acompanhando as preces dos encarregados da vigília. Nos dias de semana, o afluxo era especialmente intenso das 18 às 21h30. Aos sábados e domingos, nas mais variadas horas, chegavam famílias inteiras caminhando a pé ou ocupando automóveis. Tinham algo a dizer, a pedir ou a agradecer a Nossa Senhora.

A prece do lixeiro.

Passa um carro de lixo. Dele salta um jovem coletor, recolhe o lixo e se dirige de volta ao carro. Em frente ao oratório, olha e se detém enlevado, com a lata cheia em uma das mãos. Reza. O carro de lixo, enquanto isto, vai descendo. De longe, os companheiros o chamam aos brados. Ele interrompe a prece, cumprimenta com afeto os jovens da TFP, e desata na corrida, até alcançar o carro. Do alto do Céu, a Rainha Imaculada sorri enternecida.

A vez dos encanadores.

Produziu-se uma ruptura da canalização de água, próximo ao oratório. É noite alta. Dois encanadores terminam o conserto e vão rezar junto à imagem. Um militante lhes oferece rosas do oratório. Ambos as recebem com respeito, osculam e guardam. Depois se retiram. Nossa Senhora também sorri.

Também o engraxate.

É um menino. Traz às costas sua caixa de trabalho. Recolhe-se em silêncio, oferece à Virgem o que lhe vai na alma. Ao sair, oscula uma das flores do Oratório. E Ela do alto do Céu, também sorri...

O entregadorzinho se recolhe.

Chega com o carrinho trazendo mercadoria a distribuir. Para e reza. Tão recolhido está que uma senhora, a qual também rezava diante do Oratório, comovida, lhe afaga a cabeça. Ele abre um instante os olhos, e os fecha de novo. O recolhimento continua. Nossa Senhora, do alto do Céu, sorri...

Passa a radiopatrulha, dois guardas se descobrem dentro do carro, rezam rapidamente, e continuam em sua arriscada e nobre faina. E Nossa Senhora sorri.

Reza a TV.

Atores de uma TV fazem uma novena. Todos os dias trazem dois botões de rosas. E Nossa Senhora também sorri.

De Diadema chega uma senhora: veio para rezar. Flores há que vêm de bem mais longe, de Fortaleza, por exemplo, e mesmo de Buenos Aires. E a Mãe de todo o carinho sorri.

Uma Rolls Royce imponente também para. Dela desce uma senhora distinta e coloca um botão de rosa no vaso de flores. Depois desfia com piedade as contas de seu terço. Nossa Senhora sorri.

Galaxies, Impalas, outros carros de categoria também param, e deles descem os abastados ou os ricos. Vêm dizer à Virgem as aflições que não faltam nem a pobres nem a ricos. Rezam. E a Mãe de Deus sorri...

Os aflitos, sim, os especialmente aflitos fazem preces que são, mais do que gemidos, verdadeiros gritos de dor. Menciono apenas o de uma mãe: “Nossa Senhora, que veja meu filho!” Quanta aflição estas simples palavras exprimem! Outra senhora chora. Depois volta-se para os militantes e lhes diz: “Como é bom ver rapazes rezando assim. Isso reforça minha Fé.”

Seria intérmino narrar todos os fatos congêneres ali ocorridos. O certo, pois a Fé no-lo ensina, é que, para cada uma destas lágrimas, Nossa Senhora tem um maternal sorriso de compaixão.

Ouro, incenso e mirra, foi o que trouxeram os Reis Magos para o Menino Deus. Também os dons não faltaram junto ao Oratório. Uma coroa de ouro em filigrana. Uma auréola em metal prateado. Três flores de prata. Mais um ramo de prata com duas flores do mesmo metal. Dois anéis. Uma pena de ouro. Um terço de prata. Tudo exprimindo amor, reverência, esperança e contrição: isto é, as disposições de alma que o ouro, o incenso e a mirra simbolizam. Como não haveria de sorrir a isto a Virgem?

O comentário do Iscariotes.

Judas rosnou. Como na ocasião em que protestou contra a Madalena, que derramava perfumes sobre os pés divinos: “O dinheiro gasto com isto não seria preferível que fosse dado em esmolas?” Mas ninguém, junto ao Oratório, deu atenção ao murmúrio soez.

Os Anjos cantam.

Sim. Os anjos cantaram e a Virgem sorriu com ternura particular quando Sacerdotes e Religiosas se acercaram do oratório para rezar. E especialmente quando uma Religiosa ofereceu uma rosa dourada para reparar o insulto que fizera outra freira, esta do gênero “prá frente” e “no vento”. Ou quando outra Religiosa ofereceu o resplendor de que falei. E quando, enfim, em um delicado gesto de Mãe, uma Religiosa nos ofereceu dois genuflexórios bem estofados para mitigar o cansaço dos militantes durante a vigília. Quem será capaz de exprimir o sorriso especialíssimo da Virgem para as almas eleitas que se consagram a seu Divino Filho, e se mantêm fiéis à sua consagração?

Rosários no hospital.

O padre Afonso Rodrigues, S.J., deu à TFP 240 terços. Foram eles distribuídos no hospital do pênfigo foliáceo por militantes da TFP. Nossa Senhora sorri.

Os “corajosos”.

A coragem do ímpio é fanfarrônica e covarde. Por vezes passavam pessoas de automóvel, acelerando o motor justamente diante do Oratório, a fim de produzir barulho. Uma delas estourou junto ao povo um projétil junino de grande estampido. Outra atirou no meio do povo uma bomba junina, das de maior potência, que felizmente não atingiu o alvo e explodiu uns metros adiante. Algumas davam em coro gargalhadas estrepitosas. Outras gritavam blasfêmias ou ultrajes. É fácil ter coragem assim quando se passa em alta velocidade. O povo chama este tipo de "coragem", de covardia. Mas ninguém — nem povo, nem sócios ou militantes da TFP — dava atenção. Continuavam todos a rezar. E Nossa Senhora sorria a este sobranceiro e cavalheiresco desdém.

O sorriso da Virgem Imaculada se fez sentir com particular intensidade na festa do encerramento. Os estandartes rubros, as capas e as flâmulas dos da TFP, as harmonias do nosso Coro São Pio X, as flores incontáveis — mandadas todas pelo povo, e que transbordavam do Oratório para a rua — a massa de famílias que enchia as imediações, o louvor que se desprendia dessa oração em conjunto, de religiosos e fiéis, a primorosa alocução do grande bispo de Campos, dom Mayer, sobre a Mediação Universal de Nossa Senhora, tudo isto constituiu em seu conjunto, uma festa ao mesmo tempo recolhida e pública, nobre e popular, que impressionou a fundo. Terminado o ato, ninguém queria sair. É que, no fundo das almas, Nossa Senhora sorria.

“Falando de público em nome dos demais militantes da TFP, o jovem acadêmico de Direito Valdir Trivelato pediu [ao Prof. Plinio] que por todo o sempre as vigílias continuassem”


Haveria temeridade em afirmar que a Virgem sorriu especialmente quando, falando de público em nome dos demais militantes, o jovem acadêmico de Direito Valdir Trivelatto me pediu que por todo o sempre as vigílias continuassem? Não creio. Pedido tão generoso não pode ter deixado de comprazer à Virgem.

Pedido generoso, sim. Generoso demais. Como conciliá-lo com a faina dos estudos, do trabalho, da atuação na TFP? Aceitei a proposta só em parte. As vigílias continuarão, mas só até a noite de 6 para 7 de setembro.*

Nessa noite, a imagem de Nossa Senhora da Conceição será levada ao Monumento do Ipiranga, e na vigília da festa da Independência ali passaremos à noite a orar pelo Brasil.

Estou certo de que logo que Dom Pedro I proclamou a Independência e o Brasil surgiu como nação soberana, Nossa Senhora deu a nosso País sua primeira bênção e seu primeiro sorriso.

Estou certo de que Nossa Senhora da Conceição sorrirá em 7 de setembro para nós e todos os que conosco ali rezarem.

Pois lhe pediremos que o Brasil saiba corresponder aos mil sorrisos de sua maternal dadivosidade, e que Ela jamais, e jamais, deixe de rezar pelo Brasil.

E creio que Ela atenderá nossa prece e continuará a sorrir para o Brasil...

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* Após esta data, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira resolveu estabelecer para sempre as vigílias frente ao Oratório. Estas só foram interrompidas em 2004, e agora (no dia 13 de dezembro passado) restabelecidas com o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, o novo responsável pela casa da Rua Martim Francisco.