18 de novembro de 2024

Magnata húngaro — Reluzimento da Ásia com a categoria do Ocidente




  Plinio Corrêa de Oliveira 

O que é um magnata húngaro? A palavra magnata vem de magnus, grande. Equivale mais ou menos ao título de Grande de Espanha. Magnata húngaro seria um Grande da Hungria. 

Qual a característica própria ao magnata húngaro? Coube aos húngaros, devido a circunstâncias históricas, ficarem situados durante muito tempo nos confins entre o Oriente e o Ocidente.

Há na realidade daquele país, nas maneiras húngaras de ser, em seus trajes etc., algo que participa, ao mesmo tempo, do equilibrado, do acertado, do distinto do Ocidente e de algo do fabuloso do Oriente. Existe um reluzimento da Ásia conjugando-se com a categoria do Ocidente. E isso fazia-se notar muito nos trajes com que os magnatas húngaros compareciam a certo tipo de cerimônias na corte da Áustria, em Viena. 

A Áustria e a Hungria constituíam uma monarquia dual. O imperador da Áustria era Rei da Hungria. Em vista disso, na corte de Viena apareciam muitos húngaros, e naturalmente, conforme a cerimônia, com traje regional. 

Eles ostentavam vestes que constituíam um conjunto de indumentária difícil de ser descrita em seus pormenores. Figurava nela um chapéu alto, de pele, com uma aigrette, isto é, uma pena alta, bonita. Depois havia nela uma espécie de capa colocada nas costas, de forma um tanto enviesada, com botões e alamares muito bonitos. Por fim, botas altas, de verniz.

O todo era muito imponente, com um quê de ultra civilizado, mas deixando entrever, pelo meio, alguma coisa do tigre, que pode pular em cima de quem lhe desagradar muito vivamente... 

Tal mescla de alguma coisa de fera com certa característica de gentil-homem, de um toque oriental com uma dosagem ocidental, confere uma força e uma distinção — além de indicar o poder do magnata no feudo onde ele é o senhor — que enchem a alma católica de delícias.  

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP em 1o de junho de 1993. Sem revisão do autor.
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 635, Novembro/2003.

8 de novembro de 2024

SÃO JOÃO DE LATRÃO — Basílica Mater da Cristandade 17 séculos de História

 


No calendário litúrgico da Igreja Católica, a festa da “Dedicação da Basílica de São João de Latrão” é celebrada no dia 9 de novembro de cada ano. Nesse dia, em 324, a Basílica foi dedicada pelo Papa São Silvestre I ao Santíssimo Salvador.

 

  Paulo Roberto Campos

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 887, novembro/2024

 A Arquibasílica do Santíssimo Salvador e dos Santos João Batista e João Evangelista de Latrão simplesmente chamada de Basílica de Latrão — é considerada a Catedral de Roma, e seu nome completo em latim é Archibasilica Sanctissimi Salvatoris et Sanctorum Ioannis Baptistae et Ioannis Evangelistae in Laterano.

Ela é a mais antiga igreja do Ocidente, a mais importante entre as seis basílicas papais do mundo e as quatro basílicas maiores da Cidade Eterna (a de São Pedro, Santa Maria Maior, São Paulo Fora dos Muros e São João de Latrão). Denomina-se Arquibasílica por estar acima de todas as demais, inclusive da Basílica de São Pedro.

Situada perto do Monte Célio (Collis Caelius), uma das Sete Colinas de Roma, a Arquibasílica tem o título de Mater et Caput — Mãe e Cabeça de Todas as Igrejas. É a Sé Episcopal oficial do Bispo de Roma, que é o Papa, também Catedral de todos os Bispos e de toda a Diocese da capital italiana.



Duas lápides, uma de cada lado do seu pórtico principal, registram a mesma inscrição em latim [foto acima] Sacrosancta Lateranensis Ecclesia omnium Urbis et Orbis Eecclesiarum Mater et Caput (“Santíssima Igreja de Latrão, Mãe e Cabeça de todas as Igrejas da Cidade e do Mundo”).

 


Conversão de Constantino I na origem da Arquibasílica

No extremo esquerdo do pórtico,
encontra-se uma estátua do
Imperador Constantino
Flávio Valério Constantino (272-337), conhecido como Constantino, o Grande, foi o primeiro Imperador convertido ao Cristianismo. Episódio histórico que se passou após ele ter vencido o usurpador Imperador Maxêncio em Saxa Rubra na Via Flamínia, na Batalha de Ponte Mílvia (perto de Roma), em 28 de outubro de 312.

Na véspera da batalha, Constantino, então politeísta, viu no céu um milagroso símbolo: um anjo com uma cruz e a inscrição In hoc signo vinces (com este sinal vencerás). Constantino prontamente mandou pintar esse sinal nos escudos de seus soldados. De fato, com o símbolo da cruz, ele saiu vitorioso e convertido ao Cristianismo.

Com sua conversão, o Imperador proclamou o Edito de Milão (313), concedendo liberdade de culto aos cristãos de todo o Império Romano. Logo que ele entrou triunfalmente em Roma, manifestou seu grande desejo de encontrar algum lugar para ser dedicado ao culto cristão da Igreja nascente. O que ele encontrou numa propriedade na região “dos Latrão” e a doou ao Papa Melquíades (311-314). Ali foi construída uma igreja primitiva com muitos traços semelhantes à atual.

A fachada lateral da Basílica, com a Loggia delle Benedizioni, construída em conjunto com o adjacente Palazzo del Laterano por Domenico Fontana [Foto PRC]

Construída sobre as ruínas do antigo quartel da Guarda Imperial de Cavalaria, seu nome deriva do Palácio Laterani, pertencente à família dos Lateranos, funcionários categorizados de vários imperadores. Um deles foi o cônsul Pláuxio Laterano, famoso por ter conspirado contra o imperador Nero (54-68). Condenado à morte, seus bens foram confiscados e passados para o Tesouro Imperial no ano de 65.

Posteriormente, dois séculos e meio depois, passou a ser propriedade de Flávia Máxima Fausta (289-326), filha do ex-imperador Maximiano, segunda esposa do Imperador Constantino. Foi por recomendação de sua mãe, a Imperatriz Santa Helena (246–330), que Constantino doou a propriedade à Igreja.

 

Entre diversos atos históricos, coroações de Papas e Imperadores

Na Basílica de Latrão,
a imagem de São João Batista [Foto PRC]
Em homenagem ao Santíssimo Salvador, a Basílica “constantiniana” foi consagrada e inaugurada pelo Papa São Silvestre I (314-335), na presença do Imperador, em 9 de novembro de 324. Desde então passou a ser residência dos Romanos Pontífices até 1304, quando houve a mudança para Avignon (um feudo papal na França). No retorno a Roma, em 1377, a Basílica encontrava-se muito abandonada e deteriorada, mas, após uma grande reforma e ampliação, voltou a ser residência dos Papas. Assim continuou até o século XIX, quando houve a mudança para o Palácio do Vaticano.

Neste mês, essa histórica Basílica de São João de Latrão — que remonta aos tempos finais da era das grandes perseguições aos cristãos, a “Era dos Mártires”— completa exatamente 1700 anos. Basílica tão provecta que quando o Brasil foi descoberto ela já tinha bem mais de 1000 anos...

Nave central da Basílica de São João Latrão [Foto PRC]


Dentro dos muros dessa Basílica “realizaram-se duzentos e cinquenta Concílios, cinco dos quais ecumênicos [1123, 1139, 1179, 1215, 1512], incluindo o IV de Latrão, em 1215, considerado pelos historiadores como o mais importante de toda a Idade Média, por ter como único objetivo garantir uma sociedade cristã universal”.1

Também entre aqueles sacrossantos muros transcorreram coroações de Papas e Imperadores; ali foi batizado o Imperador Carlos Magno, em 774; audiências com reis e rainhas; assinaturas de históricos documentos, como os Pactos de Latrão, em 11 de fevereiro de 1929, entre o Reino da Itália e a Santa Sé.

 

Claustro medieval anexado à Basílica de Latrão [Foto PRC] 

Homenagem aos Santos João Batista e João Evangelista

Foi somente no século IX, no Pontificado de Sérgio III, que a Basílica foi dedicada a São João Batista (nome do antigo batistério), e, finalmente, no século XII, o Papa Lúcio II incluiu também o nome de São João Evangelista. Donde ser mais conhecida como São João de Latrão — em italiano, San Giovanni in Laterano.



Gravada no alto de sua imponente fachada, lemos a inscrição em latim: “CLEMENS XII PONT MAX ANNO V CHRISTO SALVATORI IN HON SS IOAN BAPT ET EVANG” [foto acima]. O texto, muito abreviado, pode ser traduzido como “Papa Clemente XII, no quinto ano de seu pontificado [1735], dedicou este edifício a Cristo, o Salvador, em homenagem aos Santos João Batista e João Evangelista”.2

Na mesma fachada, na laje entre o primeiro e o segundo pavimento, também está gravada outra inscrição latina:

Parte superior da fachada
“DOGMATE PAPALI DATVR AC SIMVL IMPERIALI QVOD SIM CVNCTARVM MATER CAPVT ECCLESIARUM HINC SALVATORIS CQELESTIA REGNA DATORIS NOMINE SANCXERVNT CVM CVNCTA PERACTA FVERVNT SIC NOS EX TOTO CONVERSI SVPPLICE VOTO NOSTRA QVOD HEC AEDES TIBI XPiCte SIT INCLITA SEDES” (“Por decreto papal e também por decreto imperial é concedido que eu seja a mãe e cabeça de todas as igrejas. Doravante, depois que tudo foi concluído, eles consagraram este reino celestial com o nome do Salvador e Criador. Assim, nós fomos persuadidos totalmente pela humilde oração de que este nosso célebre templo seja seu lar, Cristo.”

 

Relicário com fragmento da Mesa da Última Ceia de Jesus com os Apóstolos [Foto PRC] 

Imenso e precioso relicário de sacrossantas relíquias

[Foto PRC]
A Basílica é também um preciosíssimo escrínio para várias relíquias sagradas, como um pedaço da Mesa da Última Ceia de Jesus com os Apóstolos [foto acima]; os relicários de prata com as cabeças de São Pedro e São Paulo [foto ao lado]; um fragmento do manto de Jesus que fora disputado pelos soldados de Pôncio Pilatos; uma lasca de um altar de madeira no qual São Pedro celebrou, e o copo utilizado por São João Evangelista com o veneno que ele bebeu, mas milagrosamente não lhe causou mal algum. Ela é também o lugar onde 22 Papas foram sepultados.

O altar-mor e o cibório gótico do século XIV.
A relíquia do altar-mor de madeira original
usado por São Pedro [Foto PRC]

Ao longo dos séculos, a Basílica foi algumas vezes saqueada, muitas de suas obras de arte e outros bens preciosos roubados, como fizeram os visigodos de Alarico no saque de Roma (410), e os vândalos de Genserico (455), quando despojaram a Basílica de todos os seus tesouros.

Parcialmente destruída por terremotos, sofreu danos também devido a alguns incêndios. Mas para suas diversas reformas, restaurações e ampliações, recebera tantas doações que foi chamada de “Basílica Dourada”. Foi durante o pontificado do Papa Clemente XII (1730-1740) que se conclui sua última restauração. O que corresponde à esplendorosa Basílica que hoje contemplamos em Roma. Vale uma viagem só para visitá-la...

*   *   *

Com essas semi-destruições e grandes restaurações na Basílica, passando por períodos de abandono e outros de glória, por perseguições e esplendores, ora atravessando os vales da miséria, ora no mais alto das montanhas da glória, essa Basílica constantiniana, sagrada e fabulosa joia da Cristandade, é bem o símbolo do triunfo final da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Bento XIII preside o Sínodo Romano de 1725 na Basílica de São João de Latrão – Pier Leone Ghezzi (1674 - 1755). Museu de Arte de Carolina do Norte, EUA.

Ela nasceu do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, sofreu em seus primórdios terríveis perseguições, mas venceu o mundo pagão. Quando tudo parecia perdido, a Providência converte um Imperador Romano e tudo começa a florescer. A Cristandade atingiu seu apogeu nos esplendores sacrais da Idade Média, com seus grandes santos e magníficos monumentos góticos, mas hoje parece ter voltado aos “vales da miséria”. Entretanto sabemos que, assim como Nosso Senhor foi morto, mas ressuscitou, a Santa Igreja triunfará com o Reinado do Imaculado Coração de Maria!

A basílica numa gravura publicada em 1864

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Notas:

1.https://www.ilmessaggero.it/vaticano/anniversari_2024_news_basilica_laterano_storia_cristianita_occidente_papa_francesco_costantino-7736935.html

2.https://it.wikipedia.org/wiki/Basilica_di_San_Giovanni_in_Laterano

Referências:

·         Guide de Tourisme Michelin, Rome, Le Guide Verd Rome, Michelin et Cie, Propriétaires-Éditeurs, 1984, pp. 133-140.

·         http://www.vatican.va/various/basiliche/san_giovanni/it/basilica/storia.htm

·         https://it.wikipedia.org/wiki/Basilica_di_San_Giovanni_in_Laterano

1 de novembro de 2024

A época e os funerais do Papa Leão XIII

Precedido por um cruciferário e ladeado por membros do clero, da Guarda Nobre Pontifícia e da Guarda Suíça, cortejo solene com o esquife levando o corpo do Papa Leão XIII para a cerimônia dos funerais na Basílica de São Pedro, em 25 de julho de 1903. Gravura da revista  L'Illustration (1903).



Tradições e estilos que apontavam para o Céu; costumes de um mundo que se extinguiu 


Fonte: Editorial da Revista Catolicismo, Nº 887, novembro/2024

Nos dois primeiros dias deste mês a Igreja Católica maternalmente se empenha em trazer à nossa memória duas celebrações de extrema importância: “Todos os Santos” e “Finados”.

Ela celebra primeiro a glória de todos seus filhos que estão no Céu (Igreja Triunfante) e depois se volta com misericórdia para as almas daqueles que morreram mas ainda não foram para o Paraíso, pois antes precisam se purificar no Purgatório (Igreja Padecente). Essas almas necessitam da nossa ajuda, por pertencermos na Terra à Igreja Militante. Com as nossas orações aliviamos suas penas e antecipamos sua entrada na bem-aventurança eterna do Céu. 

Mas a maioria das pessoas deste mundo entregue aos prazeres da vida tem horror em refletir sobre isso e procura nos afastar dessas celebrações católicas. Tais pessoas têm pavor de pensar na morte, apesar de ela ser a única coisa certa na vida. 

Um dos meios empregados para nos afastar das mencionadas celebrações é a comemoração pagã do Halloween — espalhada pelo mundo inteiro pelos filmes de Hollywood —, com evidentes conotações satânicas, com bruxaria, vampirismo, necrofilia, entre outras coisas repugnantes e macabras.     

A fim de nos prepararmos para um dos dias mais importantes da nossa vida — o do nosso trânsito para a eternidade —, a Santa Igreja é pródiga em cerimônias. Uma delas são os funerais católicos como eram realizados antes da crise que A aflige nos presentes dias. 

Para fazermos o contrário deste mundo hedonista, devemos seguir o princípio agere contra (expressão latina que se pode traduzir como “agir contra”) ensinado por Santo Inácio de Loyola. Ou seja, fazermos o oposto a tudo que nos estimula às coisas pecaminosas e aos erros da época. 

Eis por que escolhemos para a matéria de capa desta edição um tema relacionado com as belas cerimônias de funerais. Elas nos colocam na verdadeira perspectiva ante os nossos entes queridos que nos precederam, pelos quais rezamos a fim de que possam ir o quanto antes para o Céu, caso estejam se purificando no Purgatório. Uma concepção da vida nada hollywoodiana que prevaleceu grosso modo até à Belle Époque

É o que expõe a referida matéria, exemplificada por Plinio Corrêa de Oliveira com os funerais de Leão XIII (1878-1903), assinalando os estilos daquela época, na qual o majestoso esplendor da Igreja e da sociedade eram ainda bem visíveis.

31 de outubro de 2024

Comemoração de todos os fiéis defuntos


✅  Paulo Roberto Campos 

Em 2 de novembro a Igreja Católica celebra a festividade litúrgica de Finados. Dia que devemos rezar especialmente pelas almas que estão no Purgatório, sobretudo pelos nossos parentes e conhecidos que faleceram. 

Ocasião também de visitarmos suas sepulturas nos cemitérios.* A respeito desta importante data, o Martyrologium Romanum — uma das variedades históricas de Martirológios com o catálogo dos santos e beatos honrados pela Igreja Católica Apostólica Romana. Não apenas dos mártires, como leva a crer o nome, mas de todos os santos conhecidos — registra: 

“Hoje [2 de novembro], comemoração de todos os fiéis defuntos. Nossa comum e piedosa mãe, a Igreja, depois de celebrar condignamente a memória daqueles seus filhos que já entraram na glória, procura auxiliar pela sua poderosa intercessão junto a Jesus Cristo, seu Esposo e Senhor, todos aqueles que gemem ainda nas penas do Purgatório, para que se lhes abreviem os dias de exílio e para que se reúnam à sociedade dos santos”. 
Hedwig Cemetery. Pintura representando o Dia de Finados,
do artista alemão Franz Skarbina (1849-1910).

 

Neste dia também devemos meditar e nos preparar para o nosso último dia nesta Terra. Com essa finalidade, seguem alguns pensamentos oportunos: 

“A morte assusta os pecadores, que sabem que, da primeira morte, do estado de pecado, passarão à segunda, que é a morte eterna. Ela é, no entanto, um consolo para as almas boas que, confiadas nos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, têm indícios suficientes para estarem moralmente certas de se acharem na graça de Deus”. (Santo Afonso de Ligório) 

“No entardecer desta vida, seremos julgados segundo o amor”. (São João da Cruz)

“Vigiai porque não sabeis nem o dia nem a hora”. (São Mateus, 25, 13). 

“A mais augusta tabeliã que há sobre a Terra é a morte. O que se passa em presença dela raramente é fraude, porque ela avança e desmascara tudo! É o juízo que está atrás dela, ela não faz senão servir de arauto ao juízo. E ao ouvir os passos do grande Juiz que chega, é preciso ser quase satânico para não ter medo e não pedir perdão!” (Plinio Corrêa de Oliveira) 

“O homem é um cadáver adiado”. (Fernando Pessoa)

Cemitério da Santa Cruz, em Gniezno (Polônia), no Dia de Finados


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Notas

*“Aos que visitarem algum cemitério e rezarem, ainda que só mentalmente, pelos defuntos, concede-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos; diariamente, do dia 1º ao dia 8 de novembro, nas condições costumeiras. Isto é: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice; nos restantes dias do ano, Indulgência Parcial (Enchir. Indulgentiarum, nº 13)”. 

**O Martirológio Romano “É um livro litúrgico que constitui a base dos calendários litúrgicos que determinam a data das festas religiosas anuais. O documento está ordenado segundo os dias do calendário, nele se anotando o local e a data de morte, o título canônico (apóstolo, mártir, confessor, virgem, ou outro), o tipo de memória litúrgica e algumas notas sobre a sua espiritualidade e fatos relevantes da vida e obra”.

30 de outubro de 2024

Dia de Todos os Santos e Finados — oposição ao Halloween

 

Finados, pintura de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)

✅  Paulo Roberto Campos 

prccampos@terra.com.br

No primeiro dia de novembro comemoram-se Todos os Santos — todos homens e mulheres que morreram, se salvaram e cujas almas estão no Céu na felicidade eterna. Conforme o Apóstolo São Paulo: “Se morremos com Cristo, temos fé de que também viveremos com Ele” (Rom. 6,8). 

O segundo dia deste mês é dedicado aos fiéis defuntos, ou Dia de Finados. Com o desvelo de Mãe, a Igreja, depois de festejar a glória de todos que se encontram no Céu, volta seu olhar misericordioso para as almas que estão sofrendo no Purgatório (lugar de purificação). 

Santa Catarina de Gênova, em seu “Tratado do Purgatório”, escreve: 

“A alma do justo, ao sair de seu corpo, vendo em si mesma alguma coisa que empana sua inocência primitiva e opõe-se à sua união com Deus, experimenta uma aflição incomparável; e como sabe muito bem que este impedimento não pode ser destruído senão pelo fogo do Purgatório, desce ali de repente e com plena vontade”. 
Isto porque a alma deseja apresentar-se diante de Deus purificada de qualquer mancha, de qualquer pecado. Como filhos de Deus, devemos procurar aliviar as penas, e mesmo obter de nosso Divino Redentor o livramento das almas que padecem no Purgatório, especialmente as de nossos mais próximos, parentes, amigos. 

Como aliviar seus padecimentos? — Rezando e sofrendo por elas, pedindo a intercessão de Maria Santíssima para que leve as almas dos fiéis defuntos o quanto antes para a glória da bem-aventurança eterna. 

Dia de Finados
em Guanajuato (México).
Nessa intenção, devemos rezar todos os dias do ano, mas de modo particular no Dia de Finados. Daí o costume de em 2 de novembro visitar os cemitérios e rezar junto à sepultura de nossos entes queridos. Os que o fizerem de 1º a 8 de novembro podem ganhar uma indulgência plenária, nas condições estabelecidas pela Santa Igreja. 

Infelizmente, em nossos tempos, procura-se desviar a atenção de assuntos relacionados com a morte. Entretanto, quem de nós sabe se viverá até amanhã? A cada passo a morte roça em nós — é um parente, um amigo, um vizinho que é chamado ao Tribunal de Deus —, mas procuramos não pensar nesse tema tão sério, como se não nos dissesse respeito. 

Essa não é uma atitude cristã. “Como? Morreu?”, fingimos surpresa. “Como se pudesse causar surpresa a morte de um mortal” (Bossuet, Le sermon sur la mort). 

Também se procura cada vez mais esquecer esta lembrança de Finados, substituindo-a pelo Halloween (dia das bruxas), festividade evocativa de cultos do antigo paganismo, trazendo à tona recordações hediondas e sinistras — sobretudo quando associam o Halloween com as Marchas dos Zumbis (ou dos mortos vivos, como na foto ao lado), que desfilam pelas cidades seus horrores asquerosos, macabros e infernais. 


As pessoas que amam tais coisas repugnantes deveriam começar a rechaçá-las a fim de não se aplicar a elas a censura do Profeta Oséias (9,10): “tornaram-se tão abomináveis como as coisas que amavam”. Especial cuidado devem ter os pais em não fantasiar seus filhos com esses horrores do inferno. O Padre Gagriel Amorth, que foi o principal exorcista de Roma, advertiu que esses horrores servem ao diabo para dominar as almas. 

No Brasil, Halloween faz parte do programa de descristianização das famílias e da sociedade em geral. Na Europa, berço da Cristandade, a onda impondo artificialmente o Dia das Bruxas deu-se há 20 anos. Esforçava-se então para levar as famílias a festejá-lo, adotando suas imagens repugnantes, conferindo uma importância semelhante à do Natal. Programas de rádio e televisão, artigos de jornais e revistas — de festejos escolares abusando da inocência até papéis de embrulho recomendados pelas associações comerciais — ostentavam morcegos dentuços, esqueletos, cadáveres ambulantes, bruxas e gatos pretos, aranhas negras e serpentes, monstros saídos de cavernas infernais. 

As músicas afins com este horror, tocadas em muitos ambientes, restaurantes, livrarias etc., causam calafrios. Aos poucos trouxeram repulsa. Crianças choravam. Velhos viravam o rosto. Sorriam, de um sorriso amarelo, somente donos das lojas, num esforço de passar imagens das trevas. 

Contou-me um Amigo, que, há uns dez anos, num posto de gasolina, na auto-estrada A-4, que liga Paris à Alemanha, uma jovem mãe hesitava em receber como brinde de um dos empregados um monstro cadavérico, típico de Halloween. O casal de filhos, a quem se destinava o “brinde”, dependurando-se na barra de sua saia, tal náufragos amedrontados pela morte: “Não, mãe. O Natal já vai chegar. Já temos o Menino Jesus”, disse o menino. “E os boizinhos e o burrico. E também os anjos”, acrescentou a menina. 

Enquanto o Halloween e a Marcha dos Zumbis nos impelem para as coisas cadavéricas, para o horrendo próprio ao Inferno e seus precitos e demônios, as celebrações nos dias de Todos os Santos e de Finados elevam nossos olhos para o Céu e seus Anjos e Santos. 
"Sete Santos", pintura de Filippo Lippi (1406-1469)



15 de outubro de 2024

CORPO INCORRUPTO DE SANTA TERESA D’ÁVILA

Túmulo de Santa Teresa na Basílica da Anunciação, em Alba de Tormes


O túmulo e o caixão de prata da grande Santa Teresa de Jesus de Ávila foram reabertos no dia 28 de agosto próximo passado. Na ocasião, o Pe. Marco Chiesa, do mosteiro de Alba de Tormes, Postulador-Geral da Ordem dos Carmelitas Descalços, declarou: “Verificamos que tudo está nas mesmas condições de quando foi aberto pela última vez em 1914.”

O carmelita acrescentou que “as partes descobertas, que são o rosto e o pé, são as mesmas de 1914. Não há cor, nenhuma cor de pele, porque a pele fica como que mumificada, mas se pode ver a santa, especialmente no meio do rosto. Parece bom. Os especialistas médicos quase conseguem ver o rosto de Teresa claramente”

 Relicários contendo o coração, uma mão e um braço da Santa.

Por sua vez, o Prior carmelita de Alba de Tormes e Salamanca, Pe. Miguel Ángel González narrou alguns detalhes: “A comunidade das Madres Carmelitas Descalças junto com o Postulador-Geral da Ordem, membros do tribunal eclesiástico e um pequeno grupo de religiosos transferimos os relicários com austeridade e solenidade para o local designado para estudo. Fizemos isso cantando o Te Deum com o coração cheio de emoção.”

A exumação do corpo de Santa Teresa de Jesus foi realizada para se confirmar se ele havia permanecido incorrupto desde a primeira verificação, em 1585. Após a morte da santa, ocorrida em 4 de outubro de 1582, seu corpo permanece na Basílica da Anunciação, em Alba de Tormes (Noroeste da Espanha), exceto algumas relíquias, que foram enviadas a outras igrejas para veneração. Os restos mortais serão analisados por uma equipe de médicos e de cientistas italianos, que farão fotos e radiografias. 

Retirada da caixa de prata que guarda o corpo de Santa Teresa


Após terem retirado a laje de mármore do túmulo, pelo noticiário do LifeSiteNews (29-8-24), temos conhecimento de uma bela tradição secular, informada pela diocese de Ávila: “Abrir o caixão de Santa Teresa é um processo complicado, envolvendo 10 chaves. Três das chaves são mantidas em Alba de Tormes, três emprestadas pelo Duque de Alba e três mantidas em Roma pelo Padre Geral Carmelita Descalço, junto com a chave do rei. As três primeiras chaves são usadas para abrir a grade externa, as três seguintes para abrir o sepulcro de mármore, e as outras quatro são usadas para abrir o caixão de prata.”

Retirada da caixa de prata
que guarda o corpo de Santa Teresa
Agora -- seguindo instruções do “Dicastério para a Causa dos Santos”, como explicou o Pe. Marco Chiesa -- dar-se-á prosseguimento às pesquisas para “verificar aspectos da vida da santa, como suas doenças, como está o estado de conservação do corpo, para ver como é possível intervir para preservá-lo por séculos”.

Se esse extraordinário milagre de Deus preservou até hoje o corpo da grande santa fundadora da Ordem das Carmelitas Descalças -- 442 anos depois de sua morte --, certamente Deus o preservará para sempre. Por isso, ficaram meio incompreensíveis as palavras do postulador “para ver como é possível intervir para preservá-lo por séculos”. 

Como não foi preciso nenhuma intervenção humana para preservá-lo até hoje, quase cinco séculos depois da morte, parece melhor não intervirem, mas confiarem, deixando tudo nas Mãos de Deus. Neste caso, os cientistas poderão nos confundir e atrapalhar...

Em qualquer caso, esperamos que tudo corra bem e que as relíquias da grande santa espanhola possam ser veneradas por todos os fiéis que desejarem.

Viático de Santa Teresa – Pablo Pardo González (1846-1876).
 Museu do Prado, Madri.


14 de outubro de 2024

Santa Teresa d’Ávila, a grandeza carolíngia


A grande santa carmelita, grandeza perfeita e acabada, expressão da reflexão, da decisão e da perseverança 

✅  Plinio Corrêa de Oliveira 

Já comentei este e outros quadros de Santa Teresa d’Ávila. Este eu considero magnífico, pois exprime bem o que eu imaginava da grande santa espanhola. 

Rosto impassível, olhar com vida própria, por assim dizer, autônomo do rosto. Enquanto o rosto está átono, o olhar está contemplando. Olhar que se compraz em ver longe no horizonte, como de uma águia, o ponto mais esplendoroso. Dir-se-ia que a santa carmelita está olhando um sol que não ofusca. O que ela considera com admiração, com veneração, com uma forma de amor que não é propriamente o carinho, mas a completa entrega de si e o não querer a não ser aquilo que ela está olhando. 

Mas há por detrás dessa impassibilidade do rosto, pela posição da cabeça sobre o pescoço e do pescoço sobre os ombros, muita coerência. A cabeça está para o pescoço como o pescoço está para o corpo. Esta impostação caracteriza o seu élan, sua coragem e a própria expressão da reflexão, da decisão e da perseverança. 

Neste quadro de Santa Teresa notamos uma atitude de altivez que recebe d’Aquele a quem ela contempla. O olhar parece dizer: “Eu só temo Aquele a quem admiro, e a favor d’Ele não temo absolutamente ninguém. Aquele que é tudo e vence tudo; vamos para a frente!” 

É uma alma varonil, com nada do pseudo-feminismo atual. Ela é a figura feminina, mas também a figura da força de um varão com uma grandeza carolíngia. No domínio feminino ela é um Carlos Magno. Uma grandeza perfeita e acabada! Bem se poderia chamá-la de “Teresa de Jesus, a carolíngea” — magnífico elogio também para Carlos Magno!

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 6 de junho de 1980. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

11 de outubro de 2024

APARECIDA

 


“Capital autêntica do Brasil” — eis a real perspectiva de como a cidade de Aparecida deveria ser considerada 

✅  Plinio Corrêa de Oliveira

Nossa Senhora aclamada Rainha do Brasil, o Reino de Maria juridicamente já ficou declarado. E juridicamente, para os efeitos celestes e para os efeitos terrestres, Ela tem direitos ainda maiores sobre o Brasil do que se Ela fosse apenas Rainha nesta Terra.

Devido a isto, temos uma obrigação especial de cultuar Nossa Senhora; de dar glória a Ela; de propagar sua devoção por toda parte; de lutar por esta devoção junto aos outros povos que resistam ao culto a Nossa Senhora; de fazer, portanto, cruzadas em nome d’Ela.

Com isso, é toda uma vocação nacional e mundial que se delineia para o Brasil, a partir precisamente dessa devoção a Ela como nossa Rainha. 

Daí decorre também outro fato: se o Brasil não fosse oficialmente o País agnóstico e interconfessional que é, o verdadeiro seria — para determinados efeitos — a capital autêntica do Brasil ser Aparecida do Norte. 


Após Nossa Senhora ter sido declarada Rainha do Brasil, não concebo a possibilidade de que os grandes atos da vida nacional se realizem em outro lugar que não em Aparecida: a promulgação de leis importantes; declarações de guerra; tratados de paz; grandes solenidades das ilustres famílias do País. E só concebo tais atos sendo realizados em Aparecida, que, pelo ato dessa coroação, ficou sendo o centro espiritual do Brasil.

Quando tanto se discute “Brasília ou Rio”, nós esquecemos o verdadeiro polo: Aparecida, para esses efeitos, ser a verdadeira capital do País! Assim tem-se a perspectiva de como Aparecida deveria ser considerada. 
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 5 de outubro de 1964. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

10 de outubro de 2024

Milhares homenageiam Nossa Senhora Aparecida na capital dos Estados Unidos

Imagem de Nossa Senhora Aparecida entronizada solenemente na Basílica em Washington / [Fotos: Nikolas Scheuren]

 

  Domenick Galatolo

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 886, outubro/2024

 

Seis mil e quinhentos brasileiros se reuniram no dia 14 de setembro passado em Washington D.C., para entronizar uma imagem de Nossa Senhora Aparecida na Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição.

Membros da Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) e alunos da Academia St. Louis de Montfort também se reuniram para prestar homenagem à Padroeira do Brasil.

 


Imagem Milagrosa

A história de Nossa Senhora Aparecida é espetacular. Há mais de 300 anos, três pescadores, ao puxarem suas redes, encontraram uma imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, mas sem sua cabeça. Depois de outro lançamento das redes, eles puxaram e ‘pescaram’ a cabeça. Ao colocarem a cabeça sobre o corpo, ambas as partes se encaixaram perfeitamente.

O lançamento seguinte da rede trouxe uma pesca abundante de peixes, após uma jornada até então estéril. No entanto, a maior ‘pesca’ foi a da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Até hoje, milhões de peregrinos visitam sua milagrosa Imagem na cidade de Aparecida do Norte, onde muitos milagres se operam pela sua intercessão.



Entusiasmo por Nossa Senhora

Brasileiros de todos os Estados Unidos vieram para o evento na capital americana. Grupos de Massachusetts, Flórida, Michigan, e até mesmo da Califórnia, compareceram ao ato para a entronização da imagem.

Antes do ato solene, milhares de pessoas participaram de uma procissão com a imagem de Nossa Senhora Aparecida carregada num andor, desde o Santuário do Sagrado Coração até a Basílica. Cada grupo segurava faixas e estandartes enfeitados com os símbolos de suas paróquias. A atmosfera era piedosa e entusiasmada.

 


Um tributo musical

Quando os peregrinos chegaram aos degraus da Basílica de Washington, a banda da TFP americana e da Academia St. Louis de Montfort os recebeu com hinos emocionantes. Trompetistas, bateristas, pífaros e até gaiteiros em trajes escoceses completos homenagearam Nossa Senhora de maneira especial.

A música favorita da multidão era a bem brasileira “Viva a Mãe de Deus e nossa”. Milhares de vozes se juntaram aos metais e gaitas de fole neste belo hino mariano na língua portuguesa.

No final desta música, um brasileiro bradou: “Viva Nossa Senhora Aparecida!” Milhares de vozes responderam com um retumbante “Viva!”

Os membros da TFP então proclamaram, “O Brasil é: Terra de Santa Cruz!”

 


Padroeira dos dois países

Nossa Senhora da Imaculada Conceição é a Padroeira do Brasil e dos Estados Unidos. Assim, era apropriado que Nossa Senhora Aparecida da Imaculada Conceição fosse entronizada na Basílica da Imaculada Conceição.

A Imaculada Conceição talvez seja o título mais contra-revolucionário da Santa Mãe de Deus, pois proclama a sua virgindade absoluta diante da sensualidade do mundo, e a sua predileção como o auge da criação, em meio à cultura mergulhada no igualitarismo radical.

Nossa Senhora tem um plano especial para esses dois países? Ambos são chamados a serem os campeões de Maria Imaculada?

Uma coisa é certa: a entronização d’Ela na capital dos Estados Unidos trará graças para que nosso país e o Brasil se tornem as nações contra-revolucionárias a que foram suscitadas por Deus.

Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós!