25 de setembro de 2025

GARCIA MORENO — SESQUICENTENÁRIO DE SEU FALECIMENTO

 
Gabriel García Moreno faleceu em 6 de agosto de 1875, aos pés do altar de Nossa Senhora das Dores, na Catedral Metropolitana de Quito. Foto: Arquivo Nacional de Fotografia do Equador

  Paulo Roberto Campos

Modelo perfeito de Presidente de República, Don Gabriel García Moreno foi o mais católico dos chefes de Estado das Américas. Grande e exemplar estadista, foi líder político — fundador do Partido Conservador (1869) — autenticamente imbuído dos ensinamentos perenes da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Nascido na véspera do Natal de 1821 em Guayaquil, principal cidade portuária do Equador, no seio de família aristocrática, recebeu no Batismo o nome Gabriel Gregorio Fernando José María García y Moreno y Morán de Buitrón. Em 6 de agosto de 1875, após assistir a Santa Missa e comungar na Igreja de Santo Domingo, como fazia todos os dias, ele foi apunhalado e baleado na Plaza de la Independência, junto ao Palácio Presidencial. Os sicários — chefiados por Faustino Rayo e pagos por conspiradores anticlericais que odiavam mortalmente o Catolicismo — desfecharam sobre ele seis ou sete golpes de facão e seis tiros de revolver. Suas últimas palavras, já agonizando, ecoam até os presentes dias: “Dios no muere!”.


O tumulto atraiu uma multidão, soldados perseguiam os criminosos e sacerdotes correram para assistir o agonizante. Levaram-no para a catedral — a poucos passos da cena do crime —, onde recebeu a absolvição, a extrema-unção e expirou aos pés da imagem de Nossa Senhora das Dores, em meio a lágrimas e soluços dos presentes. Era a primeira sexta-feira do mês, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus.

Com a notícia da tragédia, toda a cidade se cobriu espontaneamente de luto. Estandartes fúnebres foram estendidos nas janelas das casas, os sinos dobravam luto, um canhão lançava de hora em hora um fúnebre estampido, as lágrimas cobriam as faces como se cada um tivesse perdido um membro de sua própria família.

Ao ser informado do assassinato de García Moreno, o Papa Pio IX ordenou a celebra ção de uma missa solene de Réquiem na Igreja de Santa Maria in Trastevere. 


Garcia Moreno preparado para se encontrar com Deus

Papa Pio IX

Na véspera do crime, o mártir havia escrito ao seu amigo Juan Aguirre Montúfar: “Vou ser assassinado; sou feliz de morrer pela Fé: nos veremos no Céu”. Neste mesmo dia, discutindo com seu Conselho de Estado essa conspiração para matá-lo, afirmou “Os inimigos de Deus e da Igreja podem me matar, mas Deus não morre!”.

Ainda na véspera desse cruel assassinato, um sacerdote havia dito a Garcia Moreno: “Alertaram-me de que tua morte foi decretada pelos maçons; mas não me disseram quando. Ouvi dizer que os assassinos irão levar o plano deles a cabo logo. Pelo amor de Deus, tome as medidas necessárias!”. O Presidente respondeu que já tinha ouvido algo análogo e que, naquele momento, a melhor medida que poderia tomar era preparar-se para comparecer perante o Juízo de Deus. Assim, ele já havia feito sua última confissão.

Graça de derramar o sangue por Jesus Cristo

Ao ser informado do assassinato desse mártir equatoriano, o Papa Pio IX ordenou a celebração de uma missa solene de Réquiem na Igreja de Santa Maria in Trastevere. Depois afirmou que Garcia Moreno foi um filho sempre submisso da Igreja, cheio de devoção à Santa Sé e de zelo para manter a Religião e a piedade em todo o Equador. O Pontífice concluiu: “Os conselhos das trevas organizados pelas seitas decretaram o assassinato do ilustre Presidente. Ele caiu sob o aço dos assassinos como vítima da fé e da caridade cristã por seu amado país.”

Certamente, motivou esse crime pavoroso o fato de Don Gabriel Garcia Moreno ter seguido à risca seu lema: Liberdade para tudo e para todos, exceto para o mal e os malfeitores”. No sentido desse admirável lema, ele havia enviado uma carta a Pio IX. Eis um profético trecho dela:

“Que riqueza para mim, Santíssimo Padre, ser odiado e caluniado por meu amor ao nosso Divino Redentor! Que felicidade se a sua bênção me obtivesse do Céu a graça de derramar meu sangue por Ele, que sendo Deus, estava disposto a derramar Seu sangue por nós na Cruz!”

De fato, Garcia Moreno derramou seu sangue pelo Divino Redentor e pela civilização católica. Tal foi sua dedicação à Santa Igreja, que no pátio Santa Rosa de Lima do Colégio Pio Latino-Americano, em Roma, por recomendação de Pio IX, foi erigido um monumento. Os dizeres são eloquentes e exaltam bem a heroicidade de virtudes do Presidente-Mártir:

“Gabriel García Moreno, Presidente da República do Equador, com ímpia mão morto por traição no dia 6 de agosto de 1875, cuja virtude e causa de sua gloriosa morte foi admirado, celebrado e lamentado por todos os bons. O Soberano Pontífice Pio IX, com sua generosidade e as ofertas de numerosos católicos, ergueu este monumento ao defensor da Igreja e da República.”

“Religionis integerrimus custos

Auctor studiorum optimorum

Obsequentissimus in Petri sedem

Justitiae cultor; scelerum vindex”.

 

[Tradução: “O mais íntegro guardião da religião, / O autor dos melhores estudos, / O mais obediente à Sé de Pedro, / O adorador da justiça, o vingador dos crimes].

 

Heroicidade de virtudes do Presidente-Mártir


Num dos bolsos do traje que o Presidente usava quando caiu morto foi encontrado o livrinho Imitação de Cristo e, dentro, anotado por ele, os oito itens abaixo. Eles bem revelam virtudes próprias a um santo, e que certamente serão de auxilio no processo de sua canonização. Garcia Moreno será, em toda a história da humanidade, o primeiro Presidente de República elevado à honra dos altares.

1.   Cada manhã, enquanto faço minhas orações, pedirei especialmente a virtude da humildade.

2.   Cada dia assistirei Missa, rezarei o rosário e lerei, além de um capítulo da Imitação, esta regra e as instruções anexas.

3.   Procurarei manter-me, tanto quanto me for possível, na presença de Deus, especialmente na conversação, de modo a não dizer palavras inúteis. Oferecerei constantemente meu coração a Deus, principalmente no início de cada ação.

4.   Em meu quarto, nunca rezar sentado quando puder fazê-lo de joelhos ou de pé. Praticar pequenos atos diários de humildade, como oscular o chão, por exemplo. Desejar toda sorte de humilhações, mas ao mesmo tempo tomar cuidado para não as merecer. Regozijar-me quando minhas ações ou minha pessoa forem insultadas e censuradas.

5.   Nunca falar de mim mesmo, a não ser para reconhecer meus defeitos ou faltas.

6.   Fazer todo esforço, pelo pensamento de Jesus e Maria, para controlar minha impaciência e contradizer minhas inclinações naturais. Ser paciente e amável, mesmo quando quiserem abusar de mim; nunca falar mal de meus inimigos.

7.   Cada manhã, antes de começar meu trabalho, escreverei o que tenho que fazer, sendo muito cuidadoso em distribuir bem meu tempo, entregar-me somente a coisas úteis e necessárias, e continuá-las com zelo e perseverança. Observarei escrupulosamente as leis da justiça e da verdade, e não terei intenção, em todas as minhas ações, senão em buscar a maior glória de Deus.

8.   Farei exame particular duas vezes por dia do meu exercício das diferentes virtudes, e um exame geral cada noite. Confessar-me-ei toda semana.

“Uma das maiores personalidades da história das Américas”

Esse Chefe de Estado providencial proporcionou ao Equador — além do progresso espiritual e moral — a estabilidade política e a gozar de muita prosperidade. Ele retirou o país do caos e da pobreza em que se encontrava devido a várias revoluções internas; conseguiu reorganizar as Forças Armadas; saneou as contas públicas; aumentou muito o comércio, o número de escolas, hospitais e estradas — progressos que são reconhecidos até por adversários. Por isso, o Senado e a Câmara de Deputados do país lhe outorgaram o título de “Regenerador da Pátria e Mártir da Civilização Católica”.

O historiador Calderón García assim deixou registrado: “Infatigável, estoico, justo, enérgico em suas decisões, admiravelmente lógico em sua vida, García Moreno é uma das maiores personalidades da história das Américas. Em 15 anos, transformou completamente seu pequeno país, de acordo com um vasto sistema político que só a morte o impediu de completar. Era um místico do tipo espanhol, não satisfeito com a contemplação estéril, necessitava de ação. Era um organizador e um criador.”

A cerimônia mais bela da “República do Sagrado Coração”


Mas, entre os grandes lances do Presidente-Mártir que marcaram a História, um dos mais belos e destemidos foi a Consagração de todo o Equador ao Sagrado Coração de Jesus, realizada em 25 de março de 1874. Depois de muitos preparativos e celebrações, o ato oficial do Estado — aprovado pela Hierarquia católica e pelo Parlamento, e acolhido com entusiasmo pelo povo — foi realizado na catedral da capital equatoriana, na presença das principais autoridades religiosas, civis e militares. A solene consagração foi lida pelo Arcebispo de Quito, Dom José Ignácio Checa y Barba, em nome da Igreja, e Garcia Moreno a repetiu em nome do Estado. Há relatos registrando a cerimônia como a mais esplendorosa da Igreja já realizada na “República do Sagrado Coração”.

O decreto do Poder Legislativo assim referendou a Consagração: “Considerando que o III Concílio de Quito, por um decreto especial, consagrou a República ao Sagrado Coração de Jesus, colocando-a sob a defesa e proteção d’Ele; que esse ato, o mais eficaz para conservar a Fé, é também o melhor meio de assegurar o progresso e a prosperidade do Estado; o Congresso decreta que a República, doravante consagrada ao Coração de Jesus, O toma como padroeiro e protetor.”


Em ação de graças, e para perpetuar a memória de tão magnífico acontecimento — o primeiro país do mundo consagrado oficialmente ao Sagrado Coração —, organizou-se a construção, no centro histórico quitenho, repleto de belas igrejas, da monumental “Basílica del Voto Nacional” em estilo neogótico [foto abaixo]. Essa iniciativa surgiu em meados de 1883 através do venerável Pe. Julio María Matovelle Maldonado (1852-1929). Em nome de todo o povo equatoriano, a pedra fundamental foi colocada em 1892, mas a basílica só foi inaugurada em 1988.



Considerando a edificante vida de Garcia Moreno, assim como suas numerosas ações pelo bem de seu país, percebemos quanta falta faz atualmente ao Brasil e ao mundo um estadista da altura e categoria desse Chefe de Estado equatoriano do século XIX. Ele era tão querido pelo povo, que foi escolhido com larga maioria em três eleições presidenciais. Infelizmente, neste século XXI, pobre de líderes autênticos e valorosos, a mediocridade toma conta dos postos públicos até das mais importantes nações.

Em homenagem a esse magnânimo Chefe de Estado, herói e mártir da Fé, oferecemos aos nossos leitores dois artigos do provecto colaborador de Catolicismo, Dr. Celso da Costa Carvalho Vidigal, publicados nas edições de abril e de julho de 1964 [brevemente tais artigos serão aqui reproduzidos]. E fechamos a matéria de capa com artigo do Prof. Luis Eduardo Dufaur expondo as recentes manifestações organizadas em cidades do Equador pelos membros da Sociedade Equatoriana Tradição e Ação Pro Cultura Ocidental em honra de Garcia Moreno e do centésimo quinquagésimo aniversário de seu falecimento — de sua entrada no Céu, pode-se afirmar, pois morreu como mártir, uma vez que assassinado “in odium fidei” (por ódio à fé católica).

____________

Obras consultadas:

·         R.P. Augustin Berthe, Gabriel García Moreno, Dios no muere - Ideal de un fervoroso Católico jefe de Estado. Sociedad Equatoriana Tradicíon y Acción. Segunda Edición: Quito, Ecuador, 2025.

·         Macpherson, E. (1909). Gabriel García Moreno. Em The Catholic Encyclopedia. Nova York: Robert Appleton Company. http://www.newadvent.org/cathen/06379b.htm

·         Gary Potter, Garcia Moreno, Stateman and Martyr, http.www.catholicism.org/bookstore/private/Housetops.htm

22 de setembro de 2025

EQUINÓCIO DE PRIMAVERA, VOLTAM AS CHUVAS

 


   Evaristo de Miranda

Chegou o equinócio de primavera, 22 de setembro. É o fim do inverno e da estação seca, tanto aqui, como no Peru, Namíbia, Moçambique ou Timor. O clima em regiões tropicais é um relógio: chove no verão e o auge da seca é sempre no inverno. Ele não é caótico, nem a incerteza apregoada por alguns.

Se nos trópicos, o máximo das chuvas é sempre no verão, em climas temperados é o contrário: chove no inverno. O povoador português trouxe a expressão “inverno”, como sinônimo do tempo das chuvas. No Nordeste e em outras regiões, quando os agricultores falam do “inverno", da estação chuvosa, eles estão falando do verão.

Nos cenários mais catastróficos dos “especialistas” sobre o futuro do clima, ninguém chegou a ponto de sugerir mudanças no regime das chuvas ou nas estações. A dinâmica física da atmosfera é colocada em ação por quantidades colossais de energia solar e sua absorção, sobretudo, pelos oceanos.

A Terra tem quatro estações pelo fato de seu eixo de rotação estar inclinado 23 graus e 27 minutos em relação ao plano eclíptico, o de sua translação em torno do Sol. E o eixo se mantem paralelo a si mesmo ao longo do ano. Se o eixo de rotação fosse perpendicular, não haveria estações. Apenas um gradiente de calor entre o equador e os polos.

Em 22 de setembro, equinócio, faça chuva ou faça sol, o dia durará 12 horas. A noite também. No Brasil, Europa, Austrália, Japão, Canadá e Polo Sul. Em todo o planeta. Equinócio: do latim aequinoctĭu, igualdade de dia e noite.

Todo dia, o sol nasce a Leste e se põe a Oeste. No equinócio, ele nasce no Leste. Ele marca exatamente no horizonte o ponto cardeal Leste. E se põe no ponto cardeal Oeste. Bom para calibrar bússolas! E para observar da janela e marcar esses dois pontos de referência no horizonte: Leste e Oeste.

No equinócio, o sol a pino traça no solo a linha do Equador. Postes não terão sombra ao meio dia na região equatorial, como em Macapá. Ali será possível ver o disco solar no fundo de um poço ao meio dia, algo impossível em Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, onde o sol nunca vai a pino.

Por seis meses, desde o equinócio de outono, ele esteve a pino em localidades da zona tropical do hemisfério Norte. O sol deslocou-se até o Trópico de Câncer e agora retornou ao Equador. Do equinócio de primavera em diante, se deslocará para o Sul até o solstício de verão, em dezembro, perto do Natal.

O dia da árvore, da Polícia Florestal e do fazendeiro antecederam o do equinócio de primavera. Lembram o tempo de plantar árvores, em cidades e fazendas. Em campanhas escolares, municipais e empresariais plantam árvores no Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). Data importada. No hemisfério boreal, lá no Norte, é primavera. Faz sentido plantar. Aqui não. As mudas sofrem com secas e queimadas. Poucas sobrevivem. Pode-se plantar árvores o ano todo. Na primavera, chuvas e luz ajudam.

A beleza dos ciclos celestes está no trabalho rural. Cultivar a terra no ritmo da natureza. Com a primavera, chegam as chuvas. Produtores, como sempre, preparam máquinas, sementes e planejam. Olham para o céu, para as nuvens, semeiam e têm esperança. O Brasil se prepara para plantar, de novo, a maior safra de grãos da história. Deus ajuda, quem cedo madruga.

21 de setembro de 2025

DESABAMENTO DA CIVILIZAÇÃO EUROPÉIA

 

Varsóvia em ruínas após o intenso bombardeio promovido pela Luftwaffe alemã durante a invasão da Polônia.

✅  Plinio Corrêa de Oliveira 

Neste mês completaram-se 80 anos do término de uma das principais catástrofes do século passado: a Segunda Guerra Mundial. 

Entre 1º de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945, envolvendo a maior parte dos países, morreram mais de 45 milhões de pessoas e quase 35 milhões ficaram feridas. 

Em memória desse conflito, teríamos vários artigos de Plinio Corrêa de Oliveira, mas — devido ao limitado espaço desta página — seguem apenas dois trechos redigidos antes do início da guerra, mas prevendo que o apocalíptico perigo já despontava no horizonte. Assim, por exemplo, no “Legionário”, de 22 de novembro de 1936, ele havia alertado: 

O encouraçado USS West Virginia (BB-48) em chamas após ser atingido por um bombardeio japonês durante o Ataque a Pearl Harbor.



“A Europa e os Estados norte-americanos estão a braços com problemas tremendos. Dentro em pouco — e só os cegos podem contestá-lo — virá um dilúvio internacional: a guerra mundial está a bater às portas da civilização do Ocidente. Depois deste dilúvio, o que ficará da velhíssima Ásia, da Europa agonizante, da América do Norte precocemente arrastada a uma crise mortal? Ninguém poderá dizê-lo. Mas o que é certo é que, à margem deste mundo corrompido e destruído, ficará, virginalmente intacta, a América Latina. E é de suas entranhas, que terá de brotar a nova civilização. 

“Se esta civilização for católica, apostólica e romana, estará firmada a humanidade, por muitos séculos, nos caminhos de Deus. Se ela não for católica, quem poderá prever em que erros despenhará a humanidade?” 

E um ano antes da eclosão mundial, no “Legionário” de 18 de setembro de 1938, ele prognostica que os acordos de paz — então em curso — não conseguiriam evitar a guerra: 

“Por mais que se procure impedir que o grande público tenha uma visão direta de todas as consequências das últimas negociações de Berchtesgaden [pequena cidade bávara, refúgio alpino de Hitler, palco de decisões políticas cruciais, por exemplo, neste local ele recebeu, em 1938, o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain], tudo leva a crer que se o espectro da guerra for realmente afastado em virtude do encontro Hitler-Chamberlain, a conflagração não será propriamente ‘evitada’, mas adiada [...]. 

“Que extensão poderá ela tomar? Não o sabemos. Quando poderá ela explodir? Amanhã? Daqui a 6, 10, 12 ou 24 meses? Não o sabemos. Mas enquanto Hitler estiver no poder, ela será inevitável [...]. 

“A guerra significaria necessariamente o desabamento da civilização europeia, e o Velho Continente se transformaria, caso a Alemanha vencesse, em um montão de ruínas policiadas pelos camisas pardas. O nazismo acha que ainda assim vale a pena”.

13 de setembro de 2025

GARCÍA MORENO

 

Quadro de Don Gabriel Garcia Moreno, herói e mártir da fé, grande estadista equatoriano, o mais católico dos Chefes de Estado de nosso Continente, considerado uma das maiores personalidades do século XIX.


No sesquicentenário de seu martírio, considerações da heroicidade das virtudes de um modelo perfeito de um Presidente de República 


Fonte: Editorial da Revista Catolicismo, Nº 897, Setembro/2025 

Antes de ler o parágrafo abaixo, dileto leitor, procure responder à seguinte pergunta: quem foi a pessoa mais influente do século XIX? 

Como nós, acho que muitos ficarão na dúvida. 

O jornal parisiense “Le Figaro” organizou em 1900 uma pesquisa — patrocinada por equatorianos — a fim de se eleger o mais influente homem do século que acabara de expirar. O ex-presidente do Equador, Gabriel Garcia Moreno (1821-1875), foi o escolhido! Superando outros líderes famosos da centúria, como Bismarck, Lincoln, Simón Bolívar etc. Para marcar este fato, afixou-se uma placa comemorativa com os dizeres: “Presidente Gabriel Garcia Moreno, o maior homem do mundo em seu século. Pesquisa feita em Paris. Ano 1900”.

Mesmo sendo uma pesquisa patrocinada por admiradores do ex-presidente equatoriano, não deixa de ser sintomática a alta consideração de que ele foi objeto. 

Em qualquer caso, tratou-se de uma muito justa homenagem, pois Garcia Moreno reergueu seu país, então na pobreza e no caos, a um alto patamar, tanto do ponto de vista moral e dos bons costumes, quanto da prosperidade material. Ele conseguiu realizar a união entre a Igreja e o Estado, num século em que as correntes revolucionárias trabalhavam para a separação. 

Donde o ódio visceral que se abateu sobre ele, em particular da parte de movimentos de seitas anticlericais, culminando com o seu cruel assassinato. 

Num momento crucial de sua vida, sendo caluniado e padecendo pressões quase insuportáveis de seus inimigos, ele escreveu ao Papa Pio IX dizendo que, apesar das pressões, mantinha toda fidelidade à Santa Sé: “Peço a sua bênção, Santíssimo Padre, tendo sido, sem mérito algum, reeleito para governar esta República Católica por mais seis anos... Tenho mais necessidade do que nunca da proteção divina, para viver e morrer em defesa de nossa santa religião e desta amada República que Deus ainda me chama a governar.” 

Quais foram os grandes feitos de Don Gabriel Garcia Moreno que justificam a mencionada homenagem? Mais ainda. Que justificam os títulos de herói e mártir da Fé Católica, de modelo perfeito de um Chefe de Estado e de ter constituído a “República do Sagrado Coração de Jesus”? É o que nossos leitores poderão ver na matéria de capa da edição deste mês da revista Catolicismo, comemorativa do sesquicentenário de seu martírio. 

Peçamos a Deus que faça surgir no Brasil outro Garcia Moreno... Certamente, este também será odiado e receberá igualmente a palma do martírio, mas de seu sangue poderá nascer algo que fará ressurgir um Brasil livre do caos atual, um Brasil verdadeiramente digno do nome “Terra de Santa Cruz”!

8 de setembro de 2025

BRASIL SOB ESPECIAL PROTEÇÃO DE SÃO MIGUEL ARCANJO

 


    ✅ Oscar Vidal

Em sessão solene no Congresso Nacional, um fato simbólico, transcendental e surpreendente: consagração do Brasil a São Miguel Arcanjo. 

No dia 12 de agosto, no plenário da Câmara dos Deputados, na presença de autoridades civis, militares e eclesiásticas, a imagem peregrina oficial do Arcanjo — proveniente do santuário do Monte Gargano, na Itália — foi coroada e aclamada como máximo “Comandante Espiritual da Nação Brasileira”. A coroa foi levada pelo Pe. Reni Nogueira dos Santos, capelão do Comando Militar do Sudeste. 

Dom Devair Araújo Fonseca, Bispo de Piracicaba, dirigiu a consagração e a súplica pedindo a São Miguel que assumisse a defesa do Brasil. 

A deputada Simone Marquetto (MDB-SP), promotora da cerimônia, recordou que o País teve como início a celebração de uma Missa e que precisamos de uma restauração da fé católica nos espaços públicos. Ela ofereceu uma espada à imagem de São Miguel, como símbolo de sua defesa aos brasileiros, afirmando: “Com essa espada, símbolo da autoridade e da justiça, confiamos a vós a guarda do Brasil, para que se erga contra as forças do mal e seja luz entre as nações.” 

A Irmã Maria Raquel, uma das fundadoras do Instituto Hesed, comovida, disse: “Isto não é teatro, mas um gesto concreto que marcará a história do Brasil. É o socorro do Céu que vem em nosso auxílio.” 

Na mesma sessão houve a entrada, com honras militares, de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, como “Rainha, Padroeira e Generalíssima do Brasil”, como também com honras militares foi a entrada triunfal da imagem do Arcanjo. 

Foto: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados



Para aqueles que desejarem se consagrar ao Arcanjo São Miguel, individualmente ou em família, segue uma breve fórmula de consagração escrita pelo seu grande devoto São Francisco de Sales, Doutor da Igreja. 

Esse Arcanjo é o Príncipe da Milícia Celeste. Ele pode nos proteger contra as ações dos espíritos malignos que continuamente agem para perder as almas, sobretudo se rezarmos pedindo a intercessão da Santíssima Virgem, Rainha da Corte Celeste, que recebeu de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça da serpente infernal. 



CONSAGRAÇÃO A SÃO MIGUEL ARCANJO 


Ó grande Príncipe do Céu, fidelíssimo guardião da Igreja, São Miguel Arcanjo, eu, embora muito indigno de aparecer diante de vós, cheio de confiança em vossa bondade e em vossa poderosa proteção, apresento-me e me consagro a vós. 

Coloco-me a mim mesmo, a minha família e tudo o que me pertence sob a vossa proteção poderosa. É pequena a oferta que vos faço, sendo eu miserável pecador, mas vós enalteceis o afeto do meu coração. Lembrai-vos que, doravante, estou debaixo do vosso patrocínio; deveis assistir-me em toda a minha vida e obter-me o perdão dos meus muitos e graves pecados, a graça de amar de todo o coração o meu Deus, o meu dulcíssimo Salvador Jesus Cristo, e a minha Mãe Maria Santíssima. 

Obtende-me aqueles auxílios que me são necessários para alcançar a coroa da eterna glória. Defendei-me dos inimigos da alma, especialmente na hora da morte. Vinde então, ó príncipe gloriosíssimo, assisti-me na última luta, e com a vossa arma poderosa, lançai para longe, precipitando nos abismos do inferno, aquele anjo quebrador de promessas e soberbo que um dia prostrastes no combate no Céu. 

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, para que não pereçamos no dia do juízo. 

Amém!

7 de setembro de 2025

NATIVIDADE DA SANTÍSSIMA VIRGEM

 


   Paulo Roberto Campos 

A grande festa litúrgica do dia 8 de setembro é a celebração da Natividade de Nossa Senhora. Dia solene em que comemoramos seu Aniversário; dia especial para suplicarmos a Ela as mais especiais graças que necessitamos. 

Se temos a alegria de celebrar o aniversário de nossas mães, como não celebrar com maior júbilo o natalício d´Aquela que é a Mãe de todas as mães, a Santa Mãe de Deus? 

A respeito, o grande Santo Ambrósio (340-397), bispo de Milão, escreveu o trecho que reproduzimos abaixo. Extraído de um dos seus três livros consagrados à beleza da virgindade, exaltando sobretudo o esplendor da Pureza de Nossa Senhora, com conselhos à prática da virtude da pureza. Obra de tal importância que o autor ficou conhecido como "doutor da virgindade". 

"Vinde e contemplai a vida e a virgindade de Maria, que será como um espelho, no qual vereis o modelo da castidade e da virtude. O primeiro motivo de imitação é a nobreza do modelo. E o que há de mais nobre que a Mãe de Deus? […]. Era virgem de corpo e de alma, de uma pureza incapaz de simulação, humilde de coração, grave em suas palavras, prudente em suas resoluções. Falava pouco e só dizia o necessário […]. 

“Cifrava sua confiança não nas riquezas perecíveis, mas nas orações dos pobres. Fervorosa sempre, só queria a Deus por testemunha de quanto se passava em Seu coração, e só a Ele encomendava o que fazia e possuía. "Longe de fazer a menor injúria a alguém, todos reconheciam seu caráter benéfico. Honrava seus superiores e não invejava seus iguais. Evitava a vanglória, seguia a razão e amava ardentemente a virtude […]. 

“Toda sua conduta levava o timbre da modéstia. Nada se podia observar em suas ações que não fosse conveniente. Sua alegria não era superficial, nem sua voz anunciava o que procedesse de um fundo de amor próprio. Seu exterior estava ordenado com tanta harmonia, que o movimento de seu corpo era a imagem de sua alma e um completo modelo de todas as virtudes. Sua caridade para com o próximo não conhecia limites […]. 

“Se saía, era apenas para ir ao Templo e sempre em companhia de seus pais".

6 de setembro de 2025

O IPIRANGA E OS PLANOS DE DEUS PARA O BRASIL



Neste dia 7 de setembro completam-se 130 anos da inauguração do Museu do Ipiranga. Também conhecido como Museu Paulista, tem como nome oficial "Museu Paulista da Universidade de São Paulo". 

Oficialmente inaugurado em 7 de setembro de 1895, é o museu mais antigo da cidade de São Paulo, um dos mais visitados e dos mais belos da capital, assim como seu monumental parque. 

Naquele local, em 1822, foi proclamada a Independência do Brasil pelo Imperador Dom Pedro I. 

Em memória dessa efeméride segue um comentário de Plinio Corrêa de Oliveira em 20 de agosto de 1993: 


O prédio do Ipiranga, dentro de certas limitações, em determinados momentos me toca muito, pois representa uma certa grandeza verdadeira, não subjetiva. 

Objetivamente falando, o edifício tem certa forma de grandeza que eu definiria como uma grandeza de poder, por uma espécie de autoafirmação de si mesmo. 

Tendo-se passado no Ipiranga o fato da proclamação da Independência — que pode ser apreciado diversamente —, ali nasceu uma nação. Isso é historicamente incontestável. 

No Ipiranga há uma como que emanação de grandeza que provém de todas as coisas que o compõem. O prédio é grande não apenas fisicamente, mas tem certa grandeza. O parque não é apenas grande, mas tem certa grandeza. 

Isto se deduz por imponderáveis, não por uma análise de ambientes e costumes do Ipiranga. Há ali algo de mais alto que traz consigo uma ressonância, uma grandeza e um futuro que correspondem a um certo anseio de caráter sobrenatural, de uma esperança de algo enorme nas vias de Deus que se realizará. 

Assim, de um plano natural consideramos um plano histórico e discernimos um plano profético que vai muito além do natural e histórico. 

Olhando para os alentours do Ipiranga tem-se a impressão de que o horizonte é grande, o ar é puro e que coisas enormes — dir-se-iam coortes de anjos — aguardam o olhar por toda a parte. 

Minha impressão é de que todo o mundo, ainda que não seja brasileiro, acaba percebendo isto e é levado a dizer: “Você é filho dessa Pátria, mas essa Pátria é mais do que ela mesma. Ela tem em si uma grandeza como que baixada do Céu e em face da qual você tem uma participação e um dever. Viva para isto”. 

Essa participação e esse dever são de caráter fundamentalmente religioso, e com uma nota de Cruzada, de expansão da Fé pelo mundo, de domínio exercido sobre uma grande área da Terra para favorecer e estimular todo o bem, e perseguir e reprimir toda forma de mal.

30 de agosto de 2025

QUANDO A RESPOSTA É O HEROÍSMO

 

À semelhança dos anos 80, a Rússia de Putin coloca de novo o Ocidente diante da falsa alternativa “better red than dead”

Em matéria publicada nesta revista em maio passado, intitulada “Não ceder, resistir e vencer” — diante de uma eventual eclosão da Terceira Guerra Mundial causada pelo ditador comunista Vladimir Putin em resposta à ajuda ocidental aos heroicos ucranianos —, acentuou-se que a capitulação é a pior resposta às chantagens ameaçadoras do uso de armas nucleares pela Rússia. 

Na referida matéria, um texto de Plinio Corrêa de Oliveira denunciou a mentalidade entreguista de muitos que, postos frente à alternativa do famoso slogan “Better red than dead or better dead than red?” (Melhor vermelho do que morto ou melhor morto do que vermelho?), optam por não combater o perigo comunista alegando um suposto risco de perderem suas vidas. 

O Prof. Plinio conclama o oposto, ou seja, resistir e lutar para se alcançar a verdadeira paz — “a paz de Cristo no Reino de Cristo”. 

Continuando esta oportuna temática, segue um trecho de outro artigo dele, exaltando a virtude do heroísmo católico e mostrando que o amor à Fé, à independência da pátria, à dignidade pessoal e à honra, não pode ser menor do que o amor à vida. 

Antes da leitura do referido artigo, convém esclarecer que o autor cognomina de “sapo” ou “saparia” a burguesia endinheirada, nada hostil aos comunistas, porém muito hostil aos anticomunistas. Esse tipo de “sapo” comete suicídio ajudando economicamente o comunismo, que deixará o próprio “sapo” na miséria... 

Lojas de Apple em Moscou.


 OS SAPOS... ATÉ QUANDO OS SAPOS? 


✅ Plinio Corrêa de Oliveira 
“Folha de S. Paulo”, 16 de outubro de 1983 

 Não parece que nossa opinião pública esteja sendo familiarizada com uma alternativa que, entretanto, a publicidade vai impondo cada vez mais a todos os homens.

A divulgação de tal alternativa vem sendo feita em escala universal, por um slogan com aparência de mero jogo de palavras: “better red than dead”. Todos já entenderam: é melhor tornar-se vermelho, aceitar a imposição humilhante do regime comunista, conformar-se com a organização moral, social e econômica anticristã que lhe é inerente, a assumir os riscos do bombardeio atômico. 

Diga-se a verdade. O conteúdo desse slogan consiste em que a vida — sim, a vida terrena — é o bem supremo do homem. De onde se infere que o amor à Fé, à independência pátria, à dignidade pessoal, à honra, tem de ser menor do que o amor à vida. Imbecis todos os mártires e todos os guerreiros que até aqui entenderam o contrário. E em confronto com os quais eram menoscabados como poltrões os que, para salvar a própria pele, renegavam a Fé, fugiam do campo de batalha, ou aquiesciam vilmente a qualquer insulto. 

A velha tábua de valores foi invertida. Os mártires e os heróis de guerra, que figuravam com destaque nas fileiras de escol da humanidade, devem ser vistos daqui por diante como idiotas. Como idiotas, também, os moralistas, os oradores, os poetas que realçavam aos olhos do povo a suposta sublimidade com que aqueles imbecis corriam ao holocausto. Cumpre calar afinal os velhos ditirambos ao heroísmo religioso ou civil. Pois o elogio da imbecilidade arrasta os fracos a segui-la. 

Pelo contrário, viva os poltrões. Chegou para eles a era da glória. A prevalecer o “better red than dead”, eles constituem o creme mais fino da humanidade. Formam a grei securitária e astuta dos endeusadores do egoísmo. 


É a apoteose de Sancho Pança. Para que este século terminasse coerente com o longo processo de decadência no qual ele estava engajado quando despertou para a História, seria mesmo necessário que ele descesse assim tão baixo... 

Vejo alguém a dizer-me: “Se não caminharmos para a apoteose de Sancho Pança, chegaremos forçosamente à de D. Quixote. É isto que o senhor quer, Dr. Plinio?” Ao que eu não hesitaria em responder que, enquanto católico, contesto terminantemente que o gênero humano se reduza a um conjunto de Quixotes e de Sanchos. E que diante dos passos dos homens, só duas vias se abrem: a do esquálido e desvairado “herói” manchego, e a de seu abdominal e vulgar escudeiro. Fala-se tanto, hoje, em terceira via, Terceiro Mundo etc. Nesta matéria, quase ninguém se lembra de uma opção diferente, a qual evite igualmente a morte e sobretudo a capitulação diante do moloch soviético. 

Em um nível supremamente elevado, é óbvio que, para além da alternativa posta por Cervantes, estão as vias sacrossantas do heroísmo cristão. Sim, do heroísmo cristão como a Igreja sempre o ensinou, e ao qual a História deve seus lances mais sábios, mais esplendorosos e mais propícios ao bem espiritual e temporal dos homens. 

Lojas do McDonal’s em Moscou.



Hoje, contudo, não quero situar-me nesse plano, mas em outro muitíssimo menos elevado. Porém digno da mais séria atenção. 

Pergunto: não dispõem os homens de um meio para evitar ao mesmo tempo a destruição atômica e a catástrofe da entrega ao comunismo? 

Tenho em mãos um estudo substancioso sobre o meio, a meu ver altamente conducente a esse feliz resultado. Trata-se de “The grain weapon”, do Sr. Dermot Healy, tese que o autor apresentou para doutoramento na Universidade de Aberdeen, Escócia (Centrepieces, No. 1, 1982, 50 p.p.). 

Em síntese o autor sustenta — e prova — que: 

a) os dirigentes russos sempre se mostraram muito sensíveis à ameaça do embargo feita pelos Estados Unidos. Pois a produção alimentar dos soviéticos é insuficiente, tanto para a população quanto para os próprios animais; 

b) o embargo acarretaria necessariamente um pauperismo generalizado, com suas sequelas de manifestações de descontentamento, greves, agitações etc. 

Se tal embargo se prolongasse, penso que a queda do regime seria inevitável. E... o espectro do bombardeio atômico se afastaria. Em consequência — comento — a alternativa entre capitulação ou morte cairia em frangalhos [...]. 

A tal propósito, comento eu, a causa única do insucesso desse embargo consiste na avidez de lucro de dinossáuricas companhias capitalistas. Ou seja, para aumentar seus lucros, e portanto seu capital, tais companhias não hesitam em fornecer meios de vitória ao inimigo inexorável de todas as formas de graus de capitalismo e de lucro. Em matéria de suicídio, nada de mais insano nem mais rejeitável. 

A par desse exemplo deplorável, Dermot Healy faz, entretanto, menção de um fato realmente luminoso: a única oposição de relevo à venda de cereais foi feita pelo sindicato de estivadores norte-americanos, os quais, durante certo período, se negaram a carregar grãos com destino à Rússia. 

Esses trabalhadores mostraram mais bom-senso, melhor noção de seus deveres e de seus direitos, do que... a “saparia”, isto é, a burguesia endinheirada, nada hostil ao comunismo, porém muito hostil ao anticomunismo. 

Os sapos, sempre os sapos a se destruírem infatigavelmente a si próprios, indiferentes ou até antipáticos aos que, como os estivadores, procuram defender a ordem de coisas sem a qual os sapos... nem sequer seriam sapos!

14 de agosto de 2025

NOSSA SENHORA ASSUNTA AOS CÉUS PRIVILÉGIO ÚNICO NA HISTÓRIA

Assunção de Nossa Senhora – Ambrogio di Stefano da Fossano (1470–1524). The Metropolitan Museum of Art de Nova York


“Com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos S. Pedro e S. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” (Papa Pio XII).

  Paulo Roberto Campos

 

Neste mês celebramos uma das mais sublimes festividades marianas da Igreja: a gloriosa Assunção da Santíssima Virgem aos Céus. Sempre festejada no dia 15 de agosto, neste ano acentua-se-lhe um fator muito especial, que merece destaque, pois completam-se 75 anos da solene proclamação e definição do Dogma da Assunção.

Trata-se da celebração litúrgica mais remota em homenagem a Nossa Senhora, que ocorre desde o século IV. São Gregório de Tours (séc. VI), no Ocidente, foi o primeiro a falar da Assunção d´Ela em corpo e alma aos Céus. No século seguinte, o Papa Sérgio I estabeleceu uma procissão noturna em honra da Assunção. Na França, a procissão do dia 15 de agosto recorda a consagração do país à Santa Mãe de Deus, proferida pelo rei Luís XIII, em 1638. E somente no século XX raiou o tão esperado bendito dia da proclamação do dogma.

 Papa Pio XII

A proclamação de um dogma, uma verdade de fé incontestável, constitui um ato tão sério, tão meticulosamente estudado e tão raro, que este, de 75 anos atrás, é o mais recente na história do Supremo Magistério da Igreja.

O termo Dogma é assim definido pelo Manual de Instrução Religiosa, um clássico da doutrina católica, do Cônego Auguste Boulenger: “É uma verdade revelada por Deus, e proposta pela Igreja, à nossa crença. Infere-se desta definição que duas condições são requeridas para constituir um dogma. É preciso: a) que tal verdade seja revelada por Deus, ou garantida pela autoridade divina; — b) que seja proposta pela Igreja, à nossa crença, quer por sua proclamação solene, quer pelo ensino comum e universal. As verdades que têm estes caracteres são chamadas verdades de fé católica.”1

 

O Papa Pio XII proclama o Dogma da Assunção de Nossa Senhora no dia 1º de novembro de 1950.

À semelhança de Jesus, a glorificação do corpo virginal da Mãe Santíssima

Baseado em intensos estudos exegéticos, históricos e teológicos, após consulta ao episcopado do mundo inteiro e contando com o pedido de 2.505 bispos a Pio XII para que proclamasse do Dogma da Assunção, ele, no exercício da infalibilidade papal, atendeu e mandou dar a público a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus (Generoso Deus) no dia 1º de novembro de 1950. Na ocasião desse ato solene, o Pontífice, contou com a presença de mais de 800 mil fiéis!

Com essa Constituição dogmática foi declarado ex cáthedra um privilégio único na História concedido a um ser humano, mas que já estava consignado na tradição da Igreja; já era preconizado pelos Apóstolos e desde os primeiros séculos da Igreja acreditado pelos fiéis, ou seja, o que assinala o documento do Papa Pio XII:

“Convém sobretudo ter em vista que, já a partir do século II, os santos Padres apresentam a Virgem Maria como nova Eva, sujeita sim, mas intimamente unida ao novo Adão [Jesus Cristo] na luta contra o inimigo infernal. E essa luta, como já se indicava no Protoevangelho, acabaria com a vitória completa sobre o pecado e sobre a morte, que sempre se encontram unidas nos escritos do apóstolo das gentes (cf. Rm 5; 6; l Cor 15,21-26; 54-57). Assim como a ressurreição gloriosa de Cristo constituiu parte essencial e último troféu desta vitória, assim também a vitória de Maria Santíssima, comum com a do seu Filho, devia terminar pela glorificação do seu corpo virginal. Pois, como diz ainda o apóstolo, ‘quando... este corpo mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá o que está escrito: a morte foi absorvida na vitória’” (1Cor 15,14).2

 

“A Mãe de Deus não morreu de doença, por não ter pecado original”

A Dormição da Virgem
Hugo van der Goes (1440 1482).
Museu Groeninge, Bruges, Bélgica.

A Assunção de Nossa Senhora aos Céus transcorreu após uma morte suavíssima — semelhante ao adormecer de um leve sono de uma criança —, qualificada pelos Padres da Igreja, por grandes santos e teólogos como a Dormitio Beatae Mariae Virgine (Dormição da Bem-Aventurada Virgem Maria”).

Alguns autores crêem que Ela não teria morrido propriamente, mas que ocorrera um suave “trânsito” da vida terrena para a vida gloriosa e eterna no Céu. Donde a invocação de Nossa Senhora do Trânsito, celebrada no mesmo dia 15 de agosto. Outros, como o grande São Francisco de Sales, defendem a tese que sim, Ela desejou morrer a fim de assemelhar-se mais ao seu Divino Filho, mas não padeceu as dores próprias à separação da alma do corpo, pois isenta de qualquer falta. Tendo adormecido no sono da morte, Ela foi assunta ao Céu, onde foi de imediato recebida gloriosamente e coroada como Rainha dos anjos e dos homens.3

Mas, tendo morrido, seu imaculado corpo não sofreu a corrupção da sepultura. Que filho, se desejasse e pudesse, não faria isso por sua mãe? Que filho não deseja o melhor para ela? Evidentemente, Nosso Senhor Jesus Cristo desejou isso para sua Santíssima Mãe, e podia, pois detém todos os poderes. Assim, pôde suspender as leis naturais relativas ao corpo humano após a morte d’Aquela que foi concebida sem pecado original, escolhida para ser a obra-prima de toda a Criação. Desse modo, Ela não padeceu a decomposição — própria a todos nós, concebidos com o pecado de nossos primeiros pais —, mas A elevou ao mais alto do Céu em corpo e alma.

A respeito, assim se expressou um Doutor da Igreja — chamado também como “Doctor Assumptionis” (Doutor da Assunção), devido a seus escritos a respeito — São João Damasceno (675-749): “A Mãe de Deus não morreu de doença, porque ela, por não ter pecado original, não tinha porque receber o castigo da doença. Ela não morreu de velhice, porque não tinha por que envelhecer, já que a ela não lhe chegava o castigo do pecado dos primeiros pais: envelhecer e acabar por fraqueza. Ela morreu de amor. Era tanto o desejo de ir para o Céu onde estava o seu Filho, que este amor a fez morrer”.

 

“Para aumento da glória da sua augusta Mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja”

A proclamação do dogma dessa gloriosa Assunção era esperada pelos católicos de todo o mundo há muitos séculos, assim como foi ardentemente desejada pelo povo fiel a proclamação do dogma da Imaculada Conceição, pelo Papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1854, com a Bula dogmática Ineffabilis Deus.

Proclamações esperadas pelos católicos porque Deus concedeu à Virgem das virgens privilégios, dons muito especiais e a plenitude de graças, o que A elevava muito acima de qualquer outro mortal.

Da magistral Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, a parte certamente mais relevante é o final — e que bem expressa a santidade da Igreja e a beleza do poder das chaves concedido por Nosso Senhor Jesus Cristo a São Pedro e a seus sucessores de “ligar e desligar”4 na Terra — com os itens de 44 a 47:

“Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos S. Pedro e S. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial.

“Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.

 “Para que chegue ao conhecimento de toda a Igreja esta nossa definição da assunção corpórea da Virgem Maria ao Céu, queremos que se conservem esta carta para perpétua memória; mandamos também que, aos seus transuntos ou cópias, mesmo impressas, desde que sejam subscritas pela mão de algum notário público, e munidas com o selo de alguma pessoa  constituída em dignidade eclesiástica, se lhes dê o mesmo crédito que à presente, se fosse apresentada e mostrada.

 “A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo.

“Dado em Roma, junto de São Pedro, no ano do jubileu maior, de 1950, no dia 1 ° de novembro, festa de todos os santos, no ano XII do nosso pontificado.

Eu PIO, Bispo da Igreja Católica assim definindo, subscrevi”.5

 

Assunção como antecipação da glorificação de Nossa Senhora no Céu

Dormição e Assunção da Virgem
 (detalhe) Fra Angelico (1434). 
Isabella Stewart Gardner
Museum (Boston).

Suplicando à Santa Mãe de Deus para todos a graça do nosso bom trânsito deste “vale de lágrimas” para a glória celestial e o ressurgimento da Santa Igreja da terrível crise progressista que procura abatê-la em nossos dias, encerramos essas considerações com comentário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (texto abaixo), não sem antes recomendar aos leitores duas coisas: assistir a uma velha filmagem, de 1950, com cenas históricas, na Praça de São Pedro, da solene cerimônia da proclamação do Dogma da Assunção (link abaixo indicado6) e uma atenta leitura do muito evocativo texto do sacerdote francês Thomas de Saint-Laurent, célebre autor de espiritualidade e grande devoto de Nossa Senhora [matéria que postaremos amanhã, 15 de agosto].

“A Assunção representa para a Virgem Santíssima uma verdadeira glorificação aos olhos dos homens e de toda a humanidade até o fim do mundo, bem como proêmio da glorificação que Ela deveria receber no Céu.

“A Igreja triunfante [no Céu] inteira vai recebê-la, com todos os coros de Anjos; Nosso Senhor Jesus Cristo a acolhe; São José assiste à cena; depois Ela é coroada pela Santíssima Trindade. É a glorificação de Nossa Senhora aos olhos de toda a Igreja triunfante e aos olhos de toda a Igreja militante [na Terra].

“Com certeza, nesse dia, a Igreja padecente [no Purgatório] também recebeu uma efusão de graças extraordinárias. E não é temerário pensar que quase todas as almas que estavam no Purgatório foram então libertadas por Nossa Senhora nesse dia, de maneira que ali houve igualmente uma alegria enorme. Assim podemos imaginar como foi a glória de nossa Rainha.

“Algo disso repetir-se-á, creio, quando for instaurado o Reino de Maria, quando virmos o mundo todo transformado e a glória de Nossa Senhora brilhar sobre a Terra”7

__________

Notas:

1. "Manual de Instrução Religiosa" — Doutrina Católica, por Boulenger, Curso Superior, Coleção FTD, Livraria Francisco Alves Paulo de Azevedo & Cia. (1927). Primeira Parte, p. 18.

2. Munificentissimus Deus, § 39. https://www.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html  (acessado em 12 de julho de 2025).

3. Cfr. Obras Selectas de San Francisco de Sales, I, preparadas sobre la edición típica de las “Obras Completas de Annecy”, por el P. Francisco de la Hoz, S.D.B., de la real Academia Sevillana de Buenas Letras, Asuncion de la Santissima Virgen, pp. 471 a 489, B.A.C., Madrid (1953).

4. “Eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus” (Mt 16, 18-19).

5. Munificentissimus Deus, § 44 e 45.

6. https://www.youtube.com/watch?v=S3qnNZ78k3M

7. Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 14 de agosto de 1965. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

 Fonte: Revista Catolicismo, Nº 896, Agosto/2025.

Assunção da Virgem
Matteo di Giovanni (1474).
The National Gallery (Londres)


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA ASSUNTA AO CÉU

[Composta pelo Papa Pio XII]

 

Oh Virgem Imaculada, Mãe de Deus e dos homens. Cremos com todo o fervor de nossa fé em tua triunfante Assunção em alma e corpo ao Céu, onde és aclamada rainha por todo o coro dos Anjos e por todos os Santos, e a eles nos unimos para louvar e bendizer o Senhor que Te exaltou sobre todas as demais criaturas: para oferecer-se a veemência de nossa devoção e de nosso amor. Sabemos que teu olhar, que maternalmente acaricia a humilde e sofredora humanidade de Cristo na Terra, se sacia no Céu na contemplação da gloriosa humanidade da sabedoria incriada, e que o gozo da tua alma, ao contemplar face a face a adorável Trindade faz com que teu coração palpite com beatífica ternura.

 Coroação de Nossa Senhora
Fra Angelico (1395–1455).
 Museu do Louvre, Paris.

E nós, pobres pecadores, nós, a quem o corpo se sobrepõe aos anseios da alma, nós Te imploramos que purifique nossos sentidos, de maneira a que aprendamos, cá embaixo, a deleitar-nos em Deus, tão-somente em Deus, no encanto das criaturas. Estamos certos de que teus olhos misericordiosos fixar-se-ão em nossas misérias e em nossas angústias: em nossas lutas e em nossas fraquezas; que teus lábios sorrirão sobre nossas alegrias e em nossas vitórias; que Tu ouvirás a voz de Jesus dizer-Te de todos nós, como o fez Ele de seu amado discípulo: Aqui está teu filho.

E nós, que Te invocamos, Mãe nossa, nós Te tomamos como o fez João, como guia forte e consolo de nossa mortal vida. Nós temos a vivificante certeza de que teus olhos, que choraram na Terra, banhada pelo sangue de Jesus, voltar-se-ão uma vez mais para este mundo presa da guerra, de perseguições, de opressão dos justos e dos fracos. E, em meio à escuridão deste vale de lágrimas, nós esperamos de tua luz celestial e de tua doce piedade, consolo para as aflições de nossos corações, para atribulações da Igreja e de nosso país.

Cremos finalmente que na glória, na qual Tu reinas, vestida de sol e coroada de estrelas Tu és, depois de Jesus, o gozo de todos os Anjos e todos Santos. E nós, que nesta Terra passamos como peregrinos, animados pela fé na futura ressurreição, olhamos para Ti, nossa vida, nossa doçura, nossa esperança. Atraí-nos para Ti com a mansidão de tua voz, para ensinar-nos um dia, depois de nosso exílio, a Jesus, bendito fruto de teu seio, ó graciosa, ó piedosa, ó doce Virgem Maria!