18 de novembro de 2025

O que os Santos dizem sobre pureza, humildade, e controle da língua

Santa Maria Goretti é venerada como símbolo da pureza. Também conhecida como a "doce mártir da pureza" por sua coragem em defender a castidade mesmo ameaçada de morte. Dela, esta é a única foto conhecida, tirada em 1902 [detalhe abaixo].


  Plinio Maria Solimeo

O maior ornamento que uma mulher pode ter é o de uma pureza ilibada, tanto enquanto solteira como casada. Pois o pudor feminino atrai até mesmo o olhar dos anjos. O que se pode aplicar também aos homens.

O conhecidíssimo Santo Cura d’Ars dizia a esse respeito em um sermão: “Uma alma pura é como uma fina pérola. Enquanto está escondida na concha no fundo do mar, ninguém pensa em admira-la. Mas se a trazeis à luz do sol, essa pérola brilhará e atrairá todos os olhares. Assim, a alma pura que está escondida aos olhos do mundo, um dia brilhará diante dos Anjos no brilho da eternidade”. Fazendo outra comparação ele diz: “A alma pura é uma bela rosa, e as Três Pessoas Divinas descem do Céu para inalar sua fragrância”.

Por sua vez São João Bosco, fundador dos Salesianos, acrescenta: “A Santa Pureza, a rainha das virtudes, a angélica virtude, é uma joia tão preciosa que, quem a possui, torna-se como os anjos de Deus no Céu, mesmo revestido da carne mortal”.

Para São Francisco de Sales, o mestre da vida espiritual, também “A castidade é o lírio das virtudes, e torna os homens quase iguais aos Anjos. Tudo se torna belo de acordo com sua pureza. Assim, a pureza do homem [ou da mulher] é castidade, que é chamada honestidade; e sua observância honra e também integridade. O contrário dela é chamado corrupção. Em uma palavra, a castidade tem essa excelência peculiar sobre todas as outras virtudes: preserva tanto a alma quanto o corpo sãos e sem mancha”.

O pudor, tanto no homem quanto na mulher — mas sobretudo nesta —,tem que se refletir em todo seu semblante, em todos seus atos, em toda sua aparência, e principalmente no seu modo de se portar e até de se vestir. O que muitas vezes supõe um grande sacrifício.

Porque, como dizem muitos santos com São Pedro Julião Eymard, fundador dos Sacramentinos: “Nós temos que ser puros. E não falo meramente da pureza dos sentidos. Temos que observar a pureza em nossa vontade, em nossas intenções, em todas nossas ações”.

O que é corroborado pelo grande Doutor da Igreja e fundador dos Redentoristas, Santo Afonso Maria de Liguori: “Temos que praticar a modéstia não somente em nosso olhar, mas também em todos nossos atos, e particularmente em nossa vestimenta, em nosso caminhar, em nossa conversação e ações similares”.

Essa obrigação de nos vestirmos segundo a modéstia cristã se impõe, como diz São Jerônimo: “Ou falamos como nos vestimos, ou nos vestimos como falamos. [de outro modo, se nos vestimos indecorosamente, por exemplo] A língua fala de castidade, mas todo o corpo revela impureza”.

O fato de nos vestirmos com decoro se torna extremamente penoso nos dias de libertinagem quase total em que vivemos. Pois a moda, essa tirana que quer a todo propósito nos subjugar, está cada vez mais ousadamente caminhando para o nudismo. Basta mencionar as roupas propositadamente rasgadas e os micro-shorts com que andam muitas das mulheres de hoje, independente de idade, não tendo o pejo de ir assim indecorosamente vestidas mesmo à Santa Missa.

         Já Santa Jacinta de Fátima, favorecida por Nossa Senhora com visões proféticas apesar de sua jovem idade — morreu com 11 anos apenas —, alertou que “os pecados que levam mais almas para o inferno são os pecados da carne. Hão de vir umas modas que hão de ofender muito a Nosso Senhor. As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo”.

         Ora, citando outra vez Santo Agostinho, “a luxúria consentida se torna hábito, e hábito não resistido se torna necessidade”. Quer dizer, seguir as modas inconscientemente forma um hábito que se torna necessidade. E essa necessidade muitas vezes se torna como uma droga. que pode levar aos piores excessos.

         Por isso aconselha o grande Santo Inácio de Loyola: “Que a tua modéstia seja um incentivo suficiente, sim, uma exortação para que todos fiquem em paz só de olharem para ti”.

         Isso é muito importante. Porque as mulheres que se vestem de modo indecoroso e andam pelas ruas pavoneando-se, são responsáveis por todos os pecados de mau pensamento e de maus desejos que cometem os homens que as veem. E deverão pagar por isso no inferno ou, quando muito, no Purgatório.

         Sobre como ser pura comenta a mesma Santa Jacinta de Fátima: “Ser pura de corpo é guardar a castidade [segundo o estado de vida]. E ser pura de alma é não cometer pecados, não olhar o que não se deve ver, não roubar, não mentir nunca, dizer sempre a verdade ainda que custe”.

         Isso nos leva a outra ordem de considerações. Santa Jacinta diz que ser pura de alma é não cometer pecados. Ora, um dos pecados mais comuns entre as mulheres e que é muito pouco combatido, é a murmuração sobre a vida alheia; enquanto que entre os homens, é o vício das conversas imorais.

 Sobre isso diz o Santo Cura d’Ars: “O homem de fala impura é uma pessoa cujos lábios são apenas uma abertura e um cano que o inferno usa para vomitar suas impurezas sobre a terra.”

         A consequência disso, como afirmou São Clemente de Alexandria — escritor, teólogo e apologista cristão grego que viveu entre os séculos II e III: “Conversa impura faz-nos sentir confortáveis com ações impuras. Mas aquele que sabe controlar a língua está preparado para resistir aos ataques da luxúria”.

         Esse controle da língua exige muito esforço. São Tiago Apostolo, em sua epístola (3, 7) comenta: “Todo gênero de feras é domável e tem sido domado pela força humana. Mas a língua nenhum homem é capaz de domá-la”. “Vede como um pequeno fogo pode incendiar uma floresta! Assim também a língua é fogo, é um mundo de iniquidade”. (3, 5b) E, “Se alguém não peca por palavra, é varão perfeito” (Id 2).

         A necessidade de controlar nossas palavras é muito importante, pois Nosso Senhor Jesus Cristo já nos alertou: “Eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens falarem terão que dar conta no dia do juízo. Pois, por tuas palavras serás justificado, ou por tuas palavras serás condenado” (Mt 12, 36,37).

         O Real Profeta dizia num de seus Salmos: “Quem poderá Senhor, entrar no teu Santuário? [...] aquele que não usa sua língua com maledicência, que nenhum mal faz a seu semelhante, nem lança calúnias ou afrontas contra seu companheiro” (Sl 15, 3).

         Para isso é necessário que se tenha muita humildade, que se seja puro e humilde de coração. Pois, como diz São Francisco de Sales: A humildade é a salvaguarda da castidade. Em matéria de pureza, não há perigo maior do que não temer o perigo. Quanto a mim, quando encontro um homem seguro de si e sem medo, considero-o perdido. Alarmo-me menos com aquele que é tentado e resiste evitando as ocasiões, do que com aquele que não é tentado e não se preocupa em evitar as ocasiões. Quando uma pessoa se coloca numa situação de tentação, dizendo: ‘Não cairei’, é um sinal quase infalível de que cairá, e com grande prejuízo para a sua alma.”

Isso supõe que a pessoa esteja em estado de graça, pois este estado, segundo São Pedro Julião Eymard, nada mais é do que pureza, e concede o céu àqueles que se revestem dela. A santidade, portanto, é simplesmente o estado de graça purificado, iluminado, embelezado pela pureza mais perfeita, isento não só do pecado mortal, mas também das menores faltas; a pureza fará dos homens santos! Tudo reside nisso!

Essa é a graça que devemos pedir Àquela que foi sempre Imaculada e mansa e humilde de coração: que nos dê uma profunda humildade junto a uma exímia pureza de coração, de corpo e de alma.


8 de novembro de 2025

A VIDA TERRENA NÃO É PARA SEMPRE...



Como uma rosa que hoje floresce e amanhã murcha e seca, tudo na Terra é passageiro. Tudo na eternidade é... eterno... Tudo é para sempre! A Justiça Divina premiará com o Céu, em alegrias e felicidades supremas e eternas, ou castigará com os tormentos sem fim do Inferno — pior que prisão perpétua, pois esta um dia termina: quando o condenado morre. O fogo do Inferno nunca se apaga, queima, mas não mata.

✅  Paulo Roberto Campos

Conta-se que um Conde de Meaux, estando muito doente e praticamente desenganado pelos médicos, despediu-se de seus familiares e entrou para um mosteiro beneditino a fim de melhor se preparar para uma boa morte. 

 Certo dia, recebeu a visita de alguns parentes que insistiram com ele para voltar ao mundo, pois em casa recuperaria sua saúde. O conde lhes respondeu:

— Com gosto atenderia o vosso desejo, mas há quatro guardas na porta do mosteiro que não me permitiriam sair. Portanto, não me é possível voltar ao mundo! Eis os nomes dos guardas: Morte, Juízo, Céu e Inferno...

O que acontece imediatamente após a morte?

         As celebrações litúrgicas do início deste mês (dias 1 e 2) nos levam a meditar sobre esses “guardas”: os “Novíssimos do homem” — as últimas coisas que nos acontecerão no final de nossa existência terrena —, a Morte, o Juízo, o Paraíso ou o Inferno.

Os “Novíssimos” (do latim “novíssima”, últimos acontecimentos) trazem-nos à memória o final de nossa vida na Terra com a morte, a qual ninguém sabe quando se dará, mas que poderá ser ainda hoje com um acidente, um infarto, um derrame, ou uma doença qualquer.

Esses “guardas” lembram-nos também o que nos sucede imediatamente após a morte: o justíssimo Juízo de Deus, que julgará todas as nossas boas e más ações e nos destinará eternamente para o Céu ou para o Inferno.

O grande Santo Agostinho, em seu tratado sobre a origem da alma humana, escreveu: “As almas são julgadas ao sair do corpo [no Juízo Particular], sem esperarem aquele dia em que serão julgadas unidas a seus corpos [no Juízo Final], para serem atormentadas ou glorificadas com aquele mesmo corpo em que habitaram sobre a terra”.

Ou seja, para a glória suprema e felicidade eterna com Deus, com a nossa Mãe Santíssima, com os Anjos e santos e com todos os bem-aventurados. Qualquer alegria terrena não é absolutamente nada se comparada com as alegrias celestiais que nunca cessarão, sendo incomparavelmente a maior delas a alegria de ver a Deus. “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (São Mateus 5,8).

Ou para o sofrimento eterno com os demônios, caso a pessoa morra em pecado mortal. A respeito, há numerosas advertências no Velho e no Novo Testamento, como, por exemplo, esta: “Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos” (Mt 25, 41).

Poderão transcorrer bilhões de séculos, e os tormentos infernais estarão apenas começando. Se ao menos os condenados soubessem que, depois desses quase infinitos séculos, um dia terminariam os suplícios demoníacos, seria um colossal alívio. Mas nem isso eles vão ter. Santo Afonso Maria de Ligório disse que os condenados poderão até perguntar aos demônios quando terminarão seus tormentos, e a resposta será: “Nunca! Nunca!” — Quanto tempo vão durar? — “Sempre! Sempre!”

No Apocalipse, São João adverte: “Há de beber [o réprobo] também o vinho da cólera divina, o vinho puro deitado no cálice da sua ira. Será atormentado pelo fogo e pelo enxofre diante dos seus santos anjos e do Cordeiro. A fumaça do seu tormento subirá pelos séculos dos séculos. Não terão descanso algum, dia e noite” (14, 10-11).

Fachada da Catedral de Notre-Dame de Chartres com o alto relevo do Juízo Final


Passagem pelas chamas purificantes

         Incontáveis pessoas se apegam à vida terrena como se esta fosse para sempre — sempre nas alegrias, sempre nos prazeres e glórias mundanas sem fim —, mas há uma outra vida post mortem. Esta, sim, é para sempre. É eterna juntamente com Deus no Paraíso ou com os demônios na Geena de tormentos sem fim.1 “E assim como se recolhe o joio para jogá-lo no fogo, assim será no fim do mundo. O Filho do Homem enviará seus anjos, que retirarão de seu Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal e os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13, 40-42).

A pessoa julgada e destinada ao Céu, antes de sua entrada no Paraíso, poderá passar pelo Purgatório para um período de terríveis padecimentos em suas chamas — que, segundo diversos teólogos, são as mesmas do Inferno, com a diferença de não serem eternas —, a fim de ser purificada dos pecados veniais e imperfeições, pois no Céu nada de impuro entrará. Ainda que a pessoa morra arrependida de seus pecados e perdoada em suas confissões, no Purgatório ela poderá sofrer a pena temporal devida às transgressões aos Mandamentos da Lei Divina e às suas faltas leves que não foram inteiramente reparadas ao longo de sua vida.2

“Peço-lhes que pensem na eternidade!”

      Estamos preparados para, em nosso último dia nesta Terra, comparecermos perante o Divino Juiz a fim de sermos julgados e entrarmos na glória da vida eterna? Quando e como foi nossa última confissão? Estamos sinceramente arrependidos por termos ofendido a Deus? Tivemos um firme propósito de não mais pecar?

Para refletirmos nestas verdades, por nós muitas vezes esquecidas — até mesmo por eclesiásticos que deveriam pregá-las em seus sermões e não o fazem —, publicamos os textos que seguem. Eles poderão auxiliar-nos a estarmos prontos para comparecer diante de Deus no dia do nosso Juízo.

Para isso, não poderíamos terminar sem mencionar o poderosíssimo auxílio da Santíssima Virgem, a Santa Mãe de Deus e Advogada nossa, diante da qual os demônios tremem. Peçamos a Ela que nos preserve do pecado, que poderá levar-nos ao Inferno, e nos conceda uma santa e boa morte, salvando-nos eternamente.

Madre Maria Letícia
 da Virgem Misericordiosa.
Uma religiosa, entusiasta da revista Catolicismo, a Madre Maria Letícia da Virgem Misericordiosa, OSSR. (1900-1974), Superiora do Mosteiro do Coração Doloroso e Imaculado de Maria, numa carta aos seus irmãos, em 27 de dezembro de 1973, escreveu:

“Peço-lhes que pensem na eternidade! Eu que sempre vivi na vida religiosa afirmo-lhes que é um momento único... Dar contas a Deus! Misericórdia, Senhor! Não fosse a confiança, chegaria ao desespero... Uma eternidade! Inferno ou Céu? Preparemos bem e peçamos a Nossa Senhora sua assistência contínua.”



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Notas:

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 899, Novembro/2025

1. Geena (Vale do Hinom, em Jerusalém) é usada como metáfora do Inferno. Na época de Jesus, era um “lixão” fora da cidade onde lixo, animais mortos e corpos de criminosos, consumidos por vermes, eram queimados continuamente.

2. Cfr. A Enciclopédia Católica, https://www.newadvent.org/cathen/

7 de novembro de 2025

ORAÇÃO À CORREDENTORA DO GÊNERO HUMANO



Prece composta pelo Papa São Pio X — e por ele indulgenciada em 1914* — em reparação à Bem-Aventurada Virgem Maria Corredentora do Gênero Humano 


Virgem bendita, Mãe de Deus, volvei benignamente o vosso olhar desde o Céu, onde estais sentada como Rainha, sobre este mísero pecador, vosso servo. Embora consciente da sua indignidade, ele Vos oferece, em reparação das ofensas feitas contra Vós por línguas ímpias e blasfemas, as bênçãos e louvores que brotam do mais íntimo do seu coração. Ele Vos bendiz e exalta como a mais pura, a mais bela e a mais santa de todas as criaturas.

Bendiz o vosso santo nome, bendiz as vossas sublimes prerrogativas de verdadeira Mãe de Deus, sempre Virgem, concebida sem mancha de pecado, e de Corredentora do Gênero Humano

Bendiz o eterno Pai, que Vos escolheu de modo tão especial para sua Filha; bendiz o Verbo Encarnado, que, revestindo-se da natureza humana em vosso puríssimo seio, Vos fez sua Mãe; bendiz o Espírito Divino, que Vos quis por sua Esposa. 

Bendiz, exalta e agradece à Augusta Trindade, que Vos escolheu e amou de tal modo que Vos elevou acima de todas as criaturas à mais sublime dignidade. 

Ó Virgem santa e misericordiosa, alcançai arrependimento para os vossos ofensores e acolhei este pequeno ato de homenagem do vosso servo; obtende-lhe também, do vosso divino Filho, o perdão dos próprios pecados. 

Amém! 

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* A Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício, em 22 de janeiro de 1914,comunicou que o Santo Papa Pio X, em audiência concedida ao Reverendíssimo Assessor do Santo Ofício, dignou-Se conceder benignamente aos fiéis cristãos que, com o coração ao menos contrito e devoto, recitarem a oração acima transcrita, alcancem indulgência de 100 dias, aplicável também às almas do purgatório, todas as vezes que a recitarem. 

Este presente decreto tem validade perpétua, sem necessidade de emissão de breve apostólico, não obstante quaisquer disposições em contrário. 

D. Cardeal Ferrata, Secretário. 

D. Arcebispo de Seleucia, Assessor do Santo Ofício 

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Fonte: https://www.vatican.va/archive/aas/documents/AAS-06-1914-ocr.pdf


31 de outubro de 2025

Os Novíssimos do Homem — Durante a vida terrena, pensar sempre na vida eterna

 

Juízo Universal – Spranger Bartholomeus (1570-1571). Musei Reali di Torino, Galleria Sabauda (Turim). Representa Nosso Senhor Jesus Cristo no Juízo Final, cercado de anjos e santos, e aqueles que se salvaram sendo levados pelos anjos para o Céu e os condenados sendo empurrados pelos demônios para o Inferno. 


"Creio na ressurreição da carne 
e na vida eterna"


  Fonte: Editorial da Revista Catolicismo, Nº 899, Novembro/2025


“Em todas as tuas obras lembra-te dos teus novíssimos, e nunca pecarás”. Assim nos adverte o Livro do Eclesiástico (7,40) a respeito dos derradeiros acontecimentos de nossas vidas — Morte, Juízo, Inferno ou Paraíso —, a fim de os termos sempre em mente em tudo que fizermos.

Não fosse a contínua lembrança dos Novíssimos, o número de almas que se perderiam seria incomparavelmente maior e não teriam ocorrido inúmeras conversões e recuperações morais de que a História nos dá tantos exemplos. 

Na vida de São Thomas Morus (1478-1535) — quando no prestigioso e mais elevado cargo de Lord High Chancellor of England — lemos que o rei Henrique VIII queria a sua aprovação para anular o casamento com a rainha Catarina de Aragão e casar-se novamente com outra mulher. A esposa de Sir Thomas incentivou-o a ceder ao desejo do infeliz monarca, para gozar assim de toda a glória do reino e favores reais. Então ele perguntou à esposa: “Quanto tempo tu crês que ainda posso viver para gozar de tal glória?”“Uns 20 anos”, foi a resposta dela. E a réplica do marido: “Queres tu que eu troque toda a eternidade de glória, por apenas 20 anos de glória incerta e passageira na Terra? Péssima mercadora és!”

Por não ter aprovado o divórcio do rei, Thomas Morus foi preso na Torre de Londres e depois decapitado. Hoje é venerado como um santo mártir, elevado à glória dos altares. Excepcionalmente mais: brilha na glória indizível e eterna do Reino do Céu, reinando com Deus, Nossa Senhora, os Anjos e os Santos. 

Catolicismo, que já foi caracterizado como “a revista das verdades esquecidas” — o que muito nos honra, pois nosso compromisso é só com Aquele que disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) — atua para trazê-las à tona, difundi-las e denunciar os erros esquecidos, bem como tudo aquilo que os adversários da Santa Igreja querem silenciar. 

Eis por que a principal matéria da edição de novembro destacar certos esquecimentos, sobre os quais hoje se procura não falar: os Novíssimos. Tema tido como “desagradável” e muito silenciado pelo clero comuno-progressista. 

Sendo novembro a ocasião mais propícia para meditarmos nos Novíssimos, uma vez que celebramos o dia de Finados e de Todos os Santos, desejamos a todos uma profícua leitura e meditação sobre eles ao longo do mês. 

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* Para fazer uma assinatura da revista Catolicismo envie um e-mail para: catolicismo@terra.com.br 

19 de outubro de 2025

O ideal da Cruz de Cristo nos conquistadores portugueses


  Plinio Corrêa de Oliveira 

Nesta imagem de azulejos portugueses vemos a Torre de Belém na margem do rio Tejo, em Lisboa. Imaginemos em suas águas uma esquadra de caravelas portuguesas do século XVI. Nas janelas da torre pessoas da corte, tapetes persas adornam os balcões, o estandarte com a Cruz de Cristo tremula no alto da torre e nas caravelas. 

A esquadra zarpa magnífica rumo ao Brasil, ou outros países longínquos, levando homens nos quais a Idade Média ainda palpita, pois partem com a ideia de dilatar a fé e de conquistar povos para Nosso Senhor Jesus Cristo. Na alma deles, a perfeita ideia de Cristo Rei, que morreu na cruz para nos salvar. E, em compensação, vão conquistar para Ele impérios e outros povos. 

Partem também missionários movidos pela adoração a Nosso Senhor, pela dedicação a Nossa Senhora e pelo entusiasmo de salvar esses povos para estabelecerem o Reino de Cristo e de Maria. Essas esperanças reluzem como estrelas e alimentam a coragem a atos de resistência heroica; os altos ideais também cintilam como as estrelas. 

Nas caravelas partem ainda mercadores com o desejo do lucro, mas não como securitários banais de nosso século. Eles querem algo mais alto, querem brilhar nas pompas da Europa renascentista, querem se incluir no rol dos mais altos nobres, mas movidos por uma ideia humana de honra. Sim, são levados por uma ambição terrena, mas em suas almas há apetência de nobreza. 

Eles, no momento do perigo, podem se transformar em homens de virar e romper, capazes de várias habilidades. Alguns podem ser elevados a membros de alguma Ordem de Cavalaria, ou religioso na Ordem, e vão combater maometanos. 

O quadro nos leva a imaginar também que os navegantes, para alcançarem seus objetivos, tomam como patronos grandes heróis como um Godofredo de Bouillon, como Afonso de Albuquerque, ou um Santo Inácio de Loyola, um homem de ferro. 

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 9 de setembro de 1979. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

11 de outubro de 2025

Região de Aparecida do Norte no futuro



✅  Plinio Corrêa de Oliveira 

É bonito imaginar como será a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, quando for instaurado o Reino de Maria, sobre o qual fala São Luís Grignion de Montfort. Que honra, que pompa, que grandeza, que nobreza, que elevação essa basílica deverá ter! 

Podemos imaginar uma grande conjunção de ordens religiosas contemplativas estabelecidas naquela região de Aparecida do Norte, grandes confessores que ali fossem atender confissões para fazer bem às almas, bem como centros especiais de cursos para intensificação da devoção mariana. Enfim, quanta e quanta coisa! 

São desejos que não estão no reino dos sonhos. Estão no reino dos ideais. Nós, que confiamos na Providência Divina, sabemos bem a diferença que há entre um sonho e um ideal. Para o homem que não confia na Providência, todo ideal não é senão um sonho. Para o que confia, muita coisa que parece sonho é um ideal realizável. 

Devemos esperar que Ela realize tais fatos, e fazer tudo para apressar esse dia — dia da constituição naquela localidade de uma ordem de coisas como deve ser, sintoma da remodelação de todas as coisas no Brasil e no mundo, para o cumprimento da promessa de Nossa Senhora em Fátima: ‘Por fim o meu Imaculado Coração triunfará’

É para o triunfo do reinado do Coração Imaculado de Maria — que no Brasil se apresenta sob a devoção a Nossa Senhora Aparecida — que devemos rezar. 
Trecho do rio Paraíba do Sul onde a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada pelos três pescadores, em 1717

5 de outubro de 2025

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

 

Em foto do dia 10 de setembro de 1985, quando o Prof. Plinio concedeu uma entrevista sobre o Direito de Propriedade e a Reforma Agrária ao Programa “Mensagem ao Presidente”, da “TV Capital”, de Brasília.

Há 30 anos de seu falecimento, relembrando-o primordialmente enquanto o Contra-Revolucionário por excelência 


✅  Fonte: Editorial da Revista Catolicismo, Nº 898, Outubro/2025 

Catolicismo teve a honra de ser o primeiro órgão a estampar, em sua edição de abril de 1959, o magistral ensaio Revolução e Contra-Revolução, de Plinio Corrêa de Oliveira, posteriormente publicado em formato de livro em português e diversas línguas.

Na edição deste mês, no trigésimo aniversário de falecimento do saudoso autor, poderíamos evocá-lo a diversos títulos. Por exemplo, enquanto alma propulsora de Catolicismo, fundador da TFP brasileira, escritor, intelectual, orador; ou ainda enquanto Cruzado do Século XX ou Profeta do Reino de Maria, títulos de duas obras do professor universitário e historiador italiano Roberto de Mattei. Mas, para o número deste mês, preferimos tratar dele primordialmente enquanto o contra-revolucionário arquetípico. 

Nele tudo era impregnado pela luta contra a Revolução satânica, gnóstica e igualitária. Seu amor a Deus era contra-revolucionário, como o eram sua devoção a Nossa Senhora, suas orações, sua ação, seus pensamentos, suas palavras, seus escritos, sua cosmovisão. Em todos os aspectos de sua vida percebia-se a luta contra-revolucionária, e sob esse ponto de vista seus inimigos o consideravam e o temiam — alguns deles até o admiravam, apesar de adversários... 

Essa característica primordial ele a incutiu na TFP, que fundou em 1960, e nas demais TFPs e movimentos análogos existentes em todos os continentes. Três décadas depois de seu falecimento, seus discípulos seguem seus passos na mesma luta contra a Revolução. Não apenas eles, mas todos aqueles que o têm como polo de pensamento. Ou seja, os que combatem o plano revolucionário de demolir os restos da civilização cristã e implantar em seu lugar uma civilização anárquica, rebelada, diabólica. 

Assim, para expor sobre a personalidade contra-revolucionária de Plinio Corrêa de Oliveira, pedimos um artigo ao nosso colaborador nos Estados Unidos, Sr. John Horvat, vice-presidente da TFP norte-americana e autor do best-seller Return to Order (Retorno à Ordem). 

Como veremos em sua matéria, o triunfo sobre a satânica Revolução dar-se-á com a vitória de Nossa Senhora sobre os revolucionários, com a implantação do Reinado d’Aquela que “esmagará a cabeça da serpente infernal” (Cf. Gn 3, 15). Este foi o objetivo do Prof. Plinio, este é o nosso objetivo! Esta é a missão que ele nos confiou, a qual, com as bênçãos de Deus e de Sua Santíssima Mãe, desejamos cumprir plenamente!

25 de setembro de 2025

GARCIA MORENO — SESQUICENTENÁRIO DE SEU FALECIMENTO

 
Gabriel García Moreno faleceu em 6 de agosto de 1875, aos pés do altar de Nossa Senhora das Dores, na Catedral Metropolitana de Quito. Foto: Arquivo Nacional de Fotografia do Equador

  Paulo Roberto Campos

Modelo perfeito de Presidente de República, Don Gabriel García Moreno foi o mais católico dos chefes de Estado das Américas. Grande e exemplar estadista, foi líder político — fundador do Partido Conservador (1869) — autenticamente imbuído dos ensinamentos perenes da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Nascido na véspera do Natal de 1821 em Guayaquil, principal cidade portuária do Equador, no seio de família aristocrática, recebeu no Batismo o nome Gabriel Gregorio Fernando José María García y Moreno y Morán de Buitrón. Em 6 de agosto de 1875, após assistir a Santa Missa e comungar na Igreja de Santo Domingo, como fazia todos os dias, ele foi apunhalado e baleado na Plaza de la Independência, junto ao Palácio Presidencial. Os sicários — chefiados por Faustino Rayo e pagos por conspiradores anticlericais que odiavam mortalmente o Catolicismo — desfecharam sobre ele seis ou sete golpes de facão e seis tiros de revolver. Suas últimas palavras, já agonizando, ecoam até os presentes dias: “Dios no muere!”.


O tumulto atraiu uma multidão, soldados perseguiam os criminosos e sacerdotes correram para assistir o agonizante. Levaram-no para a catedral — a poucos passos da cena do crime —, onde recebeu a absolvição, a extrema-unção e expirou aos pés da imagem de Nossa Senhora das Dores, em meio a lágrimas e soluços dos presentes. Era a primeira sexta-feira do mês, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus.

Com a notícia da tragédia, toda a cidade se cobriu espontaneamente de luto. Estandartes fúnebres foram estendidos nas janelas das casas, os sinos dobravam luto, um canhão lançava de hora em hora um fúnebre estampido, as lágrimas cobriam as faces como se cada um tivesse perdido um membro de sua própria família.

Ao ser informado do assassinato de García Moreno, o Papa Pio IX ordenou a celebra ção de uma missa solene de Réquiem na Igreja de Santa Maria in Trastevere. 


Garcia Moreno preparado para se encontrar com Deus

Papa Pio IX

Na véspera do crime, o mártir havia escrito ao seu amigo Juan Aguirre Montúfar: “Vou ser assassinado; sou feliz de morrer pela Fé: nos veremos no Céu”. Neste mesmo dia, discutindo com seu Conselho de Estado essa conspiração para matá-lo, afirmou “Os inimigos de Deus e da Igreja podem me matar, mas Deus não morre!”.

Ainda na véspera desse cruel assassinato, um sacerdote havia dito a Garcia Moreno: “Alertaram-me de que tua morte foi decretada pelos maçons; mas não me disseram quando. Ouvi dizer que os assassinos irão levar o plano deles a cabo logo. Pelo amor de Deus, tome as medidas necessárias!”. O Presidente respondeu que já tinha ouvido algo análogo e que, naquele momento, a melhor medida que poderia tomar era preparar-se para comparecer perante o Juízo de Deus. Assim, ele já havia feito sua última confissão.

Graça de derramar o sangue por Jesus Cristo

Ao ser informado do assassinato desse mártir equatoriano, o Papa Pio IX ordenou a celebração de uma missa solene de Réquiem na Igreja de Santa Maria in Trastevere. Depois afirmou que Garcia Moreno foi um filho sempre submisso da Igreja, cheio de devoção à Santa Sé e de zelo para manter a Religião e a piedade em todo o Equador. O Pontífice concluiu: “Os conselhos das trevas organizados pelas seitas decretaram o assassinato do ilustre Presidente. Ele caiu sob o aço dos assassinos como vítima da fé e da caridade cristã por seu amado país.”

Certamente, motivou esse crime pavoroso o fato de Don Gabriel Garcia Moreno ter seguido à risca seu lema: Liberdade para tudo e para todos, exceto para o mal e os malfeitores”. No sentido desse admirável lema, ele havia enviado uma carta a Pio IX. Eis um profético trecho dela:

“Que riqueza para mim, Santíssimo Padre, ser odiado e caluniado por meu amor ao nosso Divino Redentor! Que felicidade se a sua bênção me obtivesse do Céu a graça de derramar meu sangue por Ele, que sendo Deus, estava disposto a derramar Seu sangue por nós na Cruz!”

De fato, Garcia Moreno derramou seu sangue pelo Divino Redentor e pela civilização católica. Tal foi sua dedicação à Santa Igreja, que no pátio Santa Rosa de Lima do Colégio Pio Latino-Americano, em Roma, por recomendação de Pio IX, foi erigido um monumento. Os dizeres são eloquentes e exaltam bem a heroicidade de virtudes do Presidente-Mártir:

“Gabriel García Moreno, Presidente da República do Equador, com ímpia mão morto por traição no dia 6 de agosto de 1875, cuja virtude e causa de sua gloriosa morte foi admirado, celebrado e lamentado por todos os bons. O Soberano Pontífice Pio IX, com sua generosidade e as ofertas de numerosos católicos, ergueu este monumento ao defensor da Igreja e da República.”

“Religionis integerrimus custos

Auctor studiorum optimorum

Obsequentissimus in Petri sedem

Justitiae cultor; scelerum vindex”.

 

[Tradução: “O mais íntegro guardião da religião, / O autor dos melhores estudos, / O mais obediente à Sé de Pedro, / O adorador da justiça, o vingador dos crimes].

 

Heroicidade de virtudes do Presidente-Mártir


Num dos bolsos do traje que o Presidente usava quando caiu morto foi encontrado o livrinho Imitação de Cristo e, dentro, anotado por ele, os oito itens abaixo. Eles bem revelam virtudes próprias a um santo, e que certamente serão de auxilio no processo de sua canonização. Garcia Moreno será, em toda a história da humanidade, o primeiro Presidente de República elevado à honra dos altares.

1.   Cada manhã, enquanto faço minhas orações, pedirei especialmente a virtude da humildade.

2.   Cada dia assistirei Missa, rezarei o rosário e lerei, além de um capítulo da Imitação, esta regra e as instruções anexas.

3.   Procurarei manter-me, tanto quanto me for possível, na presença de Deus, especialmente na conversação, de modo a não dizer palavras inúteis. Oferecerei constantemente meu coração a Deus, principalmente no início de cada ação.

4.   Em meu quarto, nunca rezar sentado quando puder fazê-lo de joelhos ou de pé. Praticar pequenos atos diários de humildade, como oscular o chão, por exemplo. Desejar toda sorte de humilhações, mas ao mesmo tempo tomar cuidado para não as merecer. Regozijar-me quando minhas ações ou minha pessoa forem insultadas e censuradas.

5.   Nunca falar de mim mesmo, a não ser para reconhecer meus defeitos ou faltas.

6.   Fazer todo esforço, pelo pensamento de Jesus e Maria, para controlar minha impaciência e contradizer minhas inclinações naturais. Ser paciente e amável, mesmo quando quiserem abusar de mim; nunca falar mal de meus inimigos.

7.   Cada manhã, antes de começar meu trabalho, escreverei o que tenho que fazer, sendo muito cuidadoso em distribuir bem meu tempo, entregar-me somente a coisas úteis e necessárias, e continuá-las com zelo e perseverança. Observarei escrupulosamente as leis da justiça e da verdade, e não terei intenção, em todas as minhas ações, senão em buscar a maior glória de Deus.

8.   Farei exame particular duas vezes por dia do meu exercício das diferentes virtudes, e um exame geral cada noite. Confessar-me-ei toda semana.

“Uma das maiores personalidades da história das Américas”

Esse Chefe de Estado providencial proporcionou ao Equador — além do progresso espiritual e moral — a estabilidade política e a gozar de muita prosperidade. Ele retirou o país do caos e da pobreza em que se encontrava devido a várias revoluções internas; conseguiu reorganizar as Forças Armadas; saneou as contas públicas; aumentou muito o comércio, o número de escolas, hospitais e estradas — progressos que são reconhecidos até por adversários. Por isso, o Senado e a Câmara de Deputados do país lhe outorgaram o título de “Regenerador da Pátria e Mártir da Civilização Católica”.

O historiador Calderón García assim deixou registrado: “Infatigável, estoico, justo, enérgico em suas decisões, admiravelmente lógico em sua vida, García Moreno é uma das maiores personalidades da história das Américas. Em 15 anos, transformou completamente seu pequeno país, de acordo com um vasto sistema político que só a morte o impediu de completar. Era um místico do tipo espanhol, não satisfeito com a contemplação estéril, necessitava de ação. Era um organizador e um criador.”

A cerimônia mais bela da “República do Sagrado Coração”


Mas, entre os grandes lances do Presidente-Mártir que marcaram a História, um dos mais belos e destemidos foi a Consagração de todo o Equador ao Sagrado Coração de Jesus, realizada em 25 de março de 1874. Depois de muitos preparativos e celebrações, o ato oficial do Estado — aprovado pela Hierarquia católica e pelo Parlamento, e acolhido com entusiasmo pelo povo — foi realizado na catedral da capital equatoriana, na presença das principais autoridades religiosas, civis e militares. A solene consagração foi lida pelo Arcebispo de Quito, Dom José Ignácio Checa y Barba, em nome da Igreja, e Garcia Moreno a repetiu em nome do Estado. Há relatos registrando a cerimônia como a mais esplendorosa da Igreja já realizada na “República do Sagrado Coração”.

O decreto do Poder Legislativo assim referendou a Consagração: “Considerando que o III Concílio de Quito, por um decreto especial, consagrou a República ao Sagrado Coração de Jesus, colocando-a sob a defesa e proteção d’Ele; que esse ato, o mais eficaz para conservar a Fé, é também o melhor meio de assegurar o progresso e a prosperidade do Estado; o Congresso decreta que a República, doravante consagrada ao Coração de Jesus, O toma como padroeiro e protetor.”


Em ação de graças, e para perpetuar a memória de tão magnífico acontecimento — o primeiro país do mundo consagrado oficialmente ao Sagrado Coração —, organizou-se a construção, no centro histórico quitenho, repleto de belas igrejas, da monumental “Basílica del Voto Nacional” em estilo neogótico [foto abaixo]. Essa iniciativa surgiu em meados de 1883 através do venerável Pe. Julio María Matovelle Maldonado (1852-1929). Em nome de todo o povo equatoriano, a pedra fundamental foi colocada em 1892, mas a basílica só foi inaugurada em 1988.



Considerando a edificante vida de Garcia Moreno, assim como suas numerosas ações pelo bem de seu país, percebemos quanta falta faz atualmente ao Brasil e ao mundo um estadista da altura e categoria desse Chefe de Estado equatoriano do século XIX. Ele era tão querido pelo povo, que foi escolhido com larga maioria em três eleições presidenciais. Infelizmente, neste século XXI, pobre de líderes autênticos e valorosos, a mediocridade toma conta dos postos públicos até das mais importantes nações.

Em homenagem a esse magnânimo Chefe de Estado, herói e mártir da Fé, oferecemos aos nossos leitores dois artigos do provecto colaborador de Catolicismo, Dr. Celso da Costa Carvalho Vidigal, publicados nas edições de abril e de julho de 1964 [brevemente tais artigos serão aqui reproduzidos]. E fechamos a matéria de capa com artigo do Prof. Luis Eduardo Dufaur expondo as recentes manifestações organizadas em cidades do Equador pelos membros da Sociedade Equatoriana Tradição e Ação Pro Cultura Ocidental em honra de Garcia Moreno e do centésimo quinquagésimo aniversário de seu falecimento — de sua entrada no Céu, pode-se afirmar, pois morreu como mártir, uma vez que assassinado “in odium fidei” (por ódio à fé católica).

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Obras consultadas:

·         R.P. Augustin Berthe, Gabriel García Moreno, Dios no muere - Ideal de un fervoroso Católico jefe de Estado. Sociedad Equatoriana Tradicíon y Acción. Segunda Edición: Quito, Ecuador, 2025.

·         Macpherson, E. (1909). Gabriel García Moreno. Em The Catholic Encyclopedia. Nova York: Robert Appleton Company. http://www.newadvent.org/cathen/06379b.htm

·         Gary Potter, Garcia Moreno, Stateman and Martyr, http.www.catholicism.org/bookstore/private/Housetops.htm

22 de setembro de 2025

EQUINÓCIO DE PRIMAVERA, VOLTAM AS CHUVAS

 


   Evaristo de Miranda

Chegou o equinócio de primavera, 22 de setembro. É o fim do inverno e da estação seca, tanto aqui, como no Peru, Namíbia, Moçambique ou Timor. O clima em regiões tropicais é um relógio: chove no verão e o auge da seca é sempre no inverno. Ele não é caótico, nem a incerteza apregoada por alguns.

Se nos trópicos, o máximo das chuvas é sempre no verão, em climas temperados é o contrário: chove no inverno. O povoador português trouxe a expressão “inverno”, como sinônimo do tempo das chuvas. No Nordeste e em outras regiões, quando os agricultores falam do “inverno", da estação chuvosa, eles estão falando do verão.

Nos cenários mais catastróficos dos “especialistas” sobre o futuro do clima, ninguém chegou a ponto de sugerir mudanças no regime das chuvas ou nas estações. A dinâmica física da atmosfera é colocada em ação por quantidades colossais de energia solar e sua absorção, sobretudo, pelos oceanos.

A Terra tem quatro estações pelo fato de seu eixo de rotação estar inclinado 23 graus e 27 minutos em relação ao plano eclíptico, o de sua translação em torno do Sol. E o eixo se mantem paralelo a si mesmo ao longo do ano. Se o eixo de rotação fosse perpendicular, não haveria estações. Apenas um gradiente de calor entre o equador e os polos.

Em 22 de setembro, equinócio, faça chuva ou faça sol, o dia durará 12 horas. A noite também. No Brasil, Europa, Austrália, Japão, Canadá e Polo Sul. Em todo o planeta. Equinócio: do latim aequinoctĭu, igualdade de dia e noite.

Todo dia, o sol nasce a Leste e se põe a Oeste. No equinócio, ele nasce no Leste. Ele marca exatamente no horizonte o ponto cardeal Leste. E se põe no ponto cardeal Oeste. Bom para calibrar bússolas! E para observar da janela e marcar esses dois pontos de referência no horizonte: Leste e Oeste.

No equinócio, o sol a pino traça no solo a linha do Equador. Postes não terão sombra ao meio dia na região equatorial, como em Macapá. Ali será possível ver o disco solar no fundo de um poço ao meio dia, algo impossível em Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, onde o sol nunca vai a pino.

Por seis meses, desde o equinócio de outono, ele esteve a pino em localidades da zona tropical do hemisfério Norte. O sol deslocou-se até o Trópico de Câncer e agora retornou ao Equador. Do equinócio de primavera em diante, se deslocará para o Sul até o solstício de verão, em dezembro, perto do Natal.

O dia da árvore, da Polícia Florestal e do fazendeiro antecederam o do equinócio de primavera. Lembram o tempo de plantar árvores, em cidades e fazendas. Em campanhas escolares, municipais e empresariais plantam árvores no Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). Data importada. No hemisfério boreal, lá no Norte, é primavera. Faz sentido plantar. Aqui não. As mudas sofrem com secas e queimadas. Poucas sobrevivem. Pode-se plantar árvores o ano todo. Na primavera, chuvas e luz ajudam.

A beleza dos ciclos celestes está no trabalho rural. Cultivar a terra no ritmo da natureza. Com a primavera, chegam as chuvas. Produtores, como sempre, preparam máquinas, sementes e planejam. Olham para o céu, para as nuvens, semeiam e têm esperança. O Brasil se prepara para plantar, de novo, a maior safra de grãos da história. Deus ajuda, quem cedo madruga.