Duas moças disputando uma partida de futebol nos Estados Unidos.
Pergunta — Fui algum tempo atrás visitar uma amiga que estava doente e a encontrei assistindo a uma partida de futebol feminino entre a seleção brasileira e a seleção inglesa. Nunca tinha visto mulheres jogando futebol e fiquei chocada pela brutalidade do confronto entre as duas equipes, a falta de feminilidade nas posturas das jogadoras e as atitudes que elas eram obrigadas a tomar para ganhar a partida. Padre, o que o senhor acha dessas moças que participam desse tipo de esporte?
Padre David Francisquini
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 868, Maio/2023
Resposta — Infelizmente está virando moda a competição de mulheres
em eventos esportivos reservados outrora somente aos homens, precisamente por requererem a força e a resistência físicas próprias à
compleição masculina e, mais ainda, uma atitude viril de desafio e dominação do
adversário ou concorrente a qual não é condizente com a psicologia feminina,
voltada para o carinho, a compreensão, a concórdia e a compaixão.
Pior ainda. Torna-se cada vez mais frequente ver
competições em que as equipes são “unissex”, ou seja, com jogadores de ambos os
sexos. O resultado é que, como os rapazes com um pouco de cavalheirismo costumam
moderar o uso da força para não agredir as moças, eles com isso se afeminam; e
as moças, por sua vez, devendo desenvolver a agressividade em face dos rapazes,
se masculinizam.
Dessa desordem gradual dos sexos — ainda favorecida
pela confusão da aparência, na medida em que as moças quase não usam mais saias
e cortam o cabelo curto, enquanto os rapazes deixam-no crescer até os ombros — resulta o
aumento assombroso de adolescentes e jovens que sentem atração sexual por
pessoas do mesmo sexo, ou, pior ainda, daqueles que não se sentem bem no
próprio corpo e querem mudar de sexo por meio de tratamentos hormonais ou até mesmo
por amputações.
O mais grave é o aumento vertiginoso de Estados que
reconhecem um suposto “direito” à mudança de sexo nas certidões de nascimento —
alguns até sem precisar de tratamentos ou documentação médica, baseando-se
apenas na subjetividade da pessoa —, assumindo todas as consequências práticas,
tais como homens “trans” usando vestuários e toaletes femininos e concorrendo
com mulheres em esportes nos quais obviamente têm uma vantagem física sobre
elas.
Menciono tudo isso porque, ao analisar uma realidade,
não se deve olhar apenas para a situação do momento, mas prever o que vai
resultar disso para o futuro. Basta pensar nas aberrações que já estão
resultando dessa “confusão dos sexos” — comparável à “confusão das línguas” com
a qual Deus castigou o orgulho dos construtores da Torre de Babel — para
compreender a maldade da participação de moças em esportes inapropriados para
elas, não somente pela brutalidade inerente aos mesmos, mas também pelas
posturas vulgares e por vezes indecentes que esses exercícios requerem.
Ausência da mãe prejudica a educação dos filhos
Na origem de todos esses absurdos está o feminismo e o
movimento da “emancipação da mulher”, que se difundiram a partir da área de
cultura anglo-saxã e recobraram força alhures após a Primeira Guerra Mundial. Sob
o pretexto de igualdade entre homens e mulheres, esse fenômeno social revolucionário
começou por tirar a mulher do lar e do cuidado prioritário dos filhos, para
fazê-la concorrer com o homem na vida pública e nos locais de trabalho,
inclusive em atividades não condizentes com a psicologia feminina, pela
brutalidade das tarefas ou das situações que é preciso confrontar.
Nas sociedades tradicionais, enquanto os homens
animavam a vida econômica e política, as mulheres animavam a vida familiar e
social. Elas eram “donas de casa”, ou seja, as verdadeiras “rainhas do lar”; criavam
o ambiente da casa, organizavam as festas familiares e davam brilho à vida
social e cultural da cidade. A saída da mulher do lar e sua masculinização
psicológica pela concorrência com os homens na esfera pública e nos lugares de
trabalho teve como consequência um empobrecimento da vida familiar e social.Duas propagandas das décadas
dos anos 40 e 50 demonstram
a mudança radical no ideal da mulher.
A mais grave consequência disso foi o impacto sobre a
educação dos filhos, que precisam da proximidade da mãe nos anos da infância e
da adolescência. Se a mãe trabalha fora e chega cansada em casa depois de um
dia de labuta, por mais que esteja animada dos melhores sentimentos em relação aos
filhos, não lhes pode consagrar todo o tempo necessário requerido pela boa
formação, nem cobri-los com o mesmo tipo de carinho delicado dispensado outrora
pelas mães. Daí resultaram muitas das crises que hoje assolam os adolescentes e
os jovens, que acabam procurando uma falsa compensação nos desvarios das
discotecas ou das drogas.
Assim, o feminismo contribuiu para a evolução gradual rumo a uma sociedade “unissex”, em que os papeis masculinos e femininos passaram a ser considerados meros estereótipos culturais impostos pelas estruturas patriarcais e destinados a prolongar a opressão cujas vítimas seriam as mulheres.
O nazifascismo promoveu o esporte feminino
Na área dos esportes, além do feminismo, quem mais
contribuiu para a generalização de sua prática entre moças, inclusive com
competições públicas, foram o fascismo e o nazismo com seu culto pagão ao corpo
e à natureza, e sua proposta de uma imagem forte e moderna da “mulher
esportiva” —
uma das tantas expressões da “mulher nova” do fascismo e do hitlerismo. Il Littorale, jornal de propaganda
esportiva do ditador italiano, escrevia que o ideal do regime era “permitir às moças praticar o esporte, para
ter as futuras mães de uma prole sã para a Itália mussoliniana”.
O Terceiro Reich alemão foi ainda mais radical: a
propaganda hitlerista difundia imagens de ginastas masculinos de torso nu e ginastas
femininas com shorts e camisetas apertadas que acentuavam a sua figura, abria piscinas
comuns para ambos os sexos, ou, pior ainda, fomentava a perversa “cultura do nu”
berlinense de Adolf Koch, assim como a emancipação das moças das Juventudes
Nazistas, incluindo a anarquia sexual — desde que as relações sexuais fossem
praticadas entre arianos puros a fim de oferecer filhos ao Führer.
No período entre-deux-guerres, pela
convergência do movimento feminista de origem anglo-saxã e do movimento nazifascista,
foram se impondo em todo o mundo modas cada vez mais imorais, tornando
realidade a queixa, formulada poucos anos antes, por Santa Jacinta de Fátima: “Hão de vir umas modas que hão de ofender
muito a Nosso Senhor.” De onde a sua advertência: “As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não
tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo.”
Luta constante contra a permissividade dos costumes
Além do cinema e das revistas de moda feminina, os
esportes serviram eficazmente para fazer com que as moças fossem aos poucos perdendo
o pudor em mostrar as linhas de seu corpo, quando não o próprio corpo, ao
usarem roupas que facilitavam a liberdade de movimentos requerida pelos
exercícios.
No começo isso se dava em privado — seja nas escolas,
que ainda eram separadas por sexos, seja na intimidade familiar, em jogos como
o tênis. Mas aos poucos os concursos foram ficando cada vez mais públicos,
chegando-se hoje ao cúmulo do exibicionismo, primeiro com a difusão de
fotografias na seção de esportes dos jornais e, mais tarde, nas transmissões da
televisão, com cenas em ângulo fechado que põem ainda mais em relevo partes do
corpo que deveriam estar cobertas.
Ora, no Compêndio
do Catecismo da Igreja Católica, publicado no pontificado de João Paulo
II, está escrito, a respeito do 9° Mandamento da Lei de Deus: “A pureza exige o pudor, que, preservando a
intimidade da pessoa, exprime a delicadeza da castidade e orienta os olhares e
os gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e da sua comunhão. Ela
liberta do erotismo difuso e afasta de tudo aquilo que favorece a curiosidade mórbida.
Requer uma purificação do ambiente social, mediante uma luta constante contra a
permissividade dos costumes, que assenta numa concepção errônea da liberdade
humana” (questão 530).
Diante do perigoso avanço da impudicícia por ocasião
das competições esportivas femininas, a Igreja e o Vaticano não tardaram outrora
em reagir. Por ocasião de uma exibição pública de ginástica feminina em
Neuburg, em julho de 1927, o Núncio Apostólico e os bispos da Alemanha denunciaram
que os exercícios realizados pelas moças entravam em choque com a moral católica
e com o pudor feminino, bem como com sua constituição física.
Decadência moral própria aos jogos públicos e
competições
Em maio de 1928, o regime fascista organizou em Roma o
Primeiro Concurso Ginástico Atlético Nacional Feminino “Jovens Italianas”.
Em carta ao Vigário de sua diocese, o Papa Pio XI denunciou o evento: “O
Bispo de Roma não pode deixar de deplorar que aqui na santa cidade do
catolicismo, depois de vinte séculos de cristianismo, a sensibilidade e a
atenção às delicadas considerações devidas às jovens se tenham mostrado mais
fracas do que na Roma pagã, a qual, embora rebaixada a tal decadência moral, ao
adotar da Grécia conquistada os jogos públicos e as competições ginásticas e
atléticas, por razões de ordem física e moral de puro bom senso, excluiu delas
as jovens, como haviam sido excluídas também em muitas cidades da mesma Grécia
ainda mais corrupta.”
Nesse mesmo ano, o Cardeal Sbaretti Tazza, Prefeito da
Congregação do Concílio, ordenou uma grande investigação nas escolas e
associações católicas, para coibir a difusão do uso de maiô de banho nas
atividades esportivas e atléticas femininas, tanto em locais públicos quanto
nos privados. O cardeal instruiu os bispos da Europa e da América que as moças
que faziam ginásticas sem usar saia jamais deveriam praticar seus exercícios ao
ar livre, nas ruas ou em eventos desportivos públicos. Mais ainda, os eventos
atléticos para moças deveriam ser evitados ou, pelo menos, sérias precauções deveriam
ser tomadas para proteger a moralidade católica e a decência da juventude.
As advertências das autoridades religiosas tiveram certo
impacto nas famílias católicas, obrigando as associações esportivas a colocar
restrições. Por exemplo, a Sociedade de Ginástica de Turim, o primeiro clube
italiano de ginástica a abrir suas portas para mulheres, só conseguiu “o favor das mães e da opinião pública”
ao garantir a “confidencialidade feminina”,
chegando a proibir a entrada nos treinos das moças, não apenas os homens, mas até
os pais de família.
Jovens desportistas alemãs desfilam de saia na inauguração dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Nas competições o short e a camiseta apertada eram o uniforme de rigor |
Denúncia contra as Competições Juvenis do Reich
Outra preocupação da Igreja era relativa aos esportes
femininos violentos, que poderiam contrariar o natural desenvolvimento da
feminilidade das moças. Nesses mesmos anos, o então Secretário de Estado, o
Cardeal Eugenio Pacelli, ex-núncio em Berlim, denunciou a participação de
mulheres em eventos esportivos públicos como as Reichsjugend Wettkämpfe (Competições Juvenis do Reich), alertando
que a masculinização das mulheres punha em risco o papel futuro delas no
matrimônio e na família.
Essa posição severa do Vaticano em relação aos eventos
esportivos públicos com participação de atletas do sexo feminino — acarretando,
por exemplo, que a equipe italiana nas Olimpíadas de Los Angeles de 1932 não
incluísse mulheres, por causa da oposição do Papa Pio XI — originou uma polêmica,
em fins de 1933, entre L’Osservatore
Romano, órgão oficioso da Santa Sé, e o já mencionado órgão fascista Il Littorale, que na época servia de
porta-voz do Comitê Olímpico Nacional Italiano.
O jornal vaticano havia definido as exibições públicas
de esporte feminino como “irracionais” e “moralmente danosas”, enquanto ensinam
“à mulher, à moça, não só o lançamento do dardo, mas de si própria”, pelo que
se veem “despojadas da sua graça e do seu pudor”. Num artigo posterior, o
jornal reprova que se exija de mocinhas realizar “exercícios não condizentes
com a compostura e a graça femininas”, sobretudo quando eles se “executam em
público”.
Como um jornal esportivo havia perguntado anteriormente “se são mesmo imorais esses tantos centímetros de pele que as modas bizarras do mundo inteiro mostram, a cada esquina, em todas as ruas”, L’Osservatore Romano aproveitou a ocasião para replicar: “No caso, os ‘centímetros’ correspondem à nudez da maior parte do corpo, nas ‘ruas’ e nos estádios públicos.”
O Comitê Olímpico respondeu que, de um lado, o regime fascista
permitia apenas “aqueles exercícios nos quais, nos Jogos Olímpicos modernos,
as mulheres foram admitidas com honra”, ou seja, “florete na esgrima,
patinação artística, ginástica coletiva, algumas provas de natação e tênis”,
e reiterava que “proibiu peremptoriamente apresentações públicas de futebol
feminino, como já havia feito com o boxe no passado”.
A respeito do escândalo moral, o Comitê punha sua
esperança — inteiramente naturalista e desconhecedora do pecado original — na “maturidade”
de um público “composto na sua maioria por esta nova juventude italiana”,
a fascista, “cuja modéstia instintiva e natural é em grande parte o
resultado de uma saúde não falaciosa, adquirida ou restaurada mediante a prática
de educação física”.
As autoridades esportivas do regime reconheciam a
possibilidade de que, nas arquibancadas das competições femininas, alguns
homens “antiesportivos” — os “doentes” e os “viciosos” —
estivessem à espreita para “surpreender algo visto e invisível (e muitas
vezes apenas ‘imaginado’) que saciasse a sua miserável humanidade”; alegava,
porém, que tais homens “infiltram-se por toda a parte”, não só no
estádio, mas também “na Casa de Deus”.
Finalmente, para desacreditar o jornal do Vaticano, Il Littorale publicou uma carta enviada
à direção, supostamente escrita por “algumas moças fascistas e ferventes
católicas de uma cidade da Lombardia”, alegando que depois que começaram a
praticar esportes, não iam mais aos bailes ou ao cinema, nem se interessavam
por frivolidades, um resultado moral muito bom, “mesmo que para nos
movimentarmos melhor ponhamos calções de ginástica; as anáguas, aliás, sempre
faziam cair as varas de salto em altura”.
Adiantando-se um século aos jovens “unissex” de hoje,
essas moças fascistas e pseudo-católicas dos anos 1930 argumentavam também o
seguinte: “É estranho como os homens nos
parecem diferentes quando se trata de esportes. Nunca os vemos como homens e
eles nunca nos veem como mulheres: somos simplesmente camaradas tentando
superar uns aos outros.”
Terminavam a falaciosa missiva dizendo que um
sacerdote escrupuloso do vilarejo havia reprovado sua prática esportiva, a qual
podia servir de ocasião de mal a outrem, mas que “as nossas mães nos aconselharam então a ir a outro padre, mais
moderno, que compreendesse melhor as necessidades dos jovens, e ele não só nos
deu permissão como nos elogiou” — e, provavelmente, foi quem redigiu a carta...
O Brasil não ficou alheio a essa ofensiva a favor do esporte feminino. Nas festas juninas de 1921, houve uma partida entre senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira (na zona norte de São Paulo) noticiada pelos jornais da época como uma atração “curiosa”, quando não “cômica”. Porém, mesmo um grande promotor do futebol, o romancista maranhenese Henrique Maximiliano Coelho Netto — pai do Preguinho, autor do primeiro gol brasileiro em copas do mundo, em 1930 — rejeitava energicamente o futebol feminino: “Certamente ninguém exigirá da mulher que jogue o football ou o rugby, que esmurre antagonistas com o guante de boxe, que arremesse barras de ferro, que se engalfinhe em luta romana. Há exercícios que lhe não são próprios e que lhe seriam prejudiciais, não só à beleza como à saúde e até a sujeitariam ao ridículo”.
Entretanto, no Brasil também havia sacerdotes “mais modernos”, como o respeitado Monsenhor José Severino da Silva, fundador do Orfanato de São José em Campos, que chegou a reunir moças para jogarem nos três maiores clubes de futebol do Norte Fluminense da época, num torneio para arrecadar fundos em benefício de sua obra!
Numa “Cruzada pela pureza”, as palavras do Papa Pio
XII
Infelizmente, a falange dos padres “mais modernos” era
tão numerosa, já naqueles anos, que as advertências do Vaticano não conseguiram
impedir que se difundissem as competições esportivas femininas em público,
tornadas populares pelo regime de Mussolini.
Alguns anos mais tarde, o Papa Pio XII teve de reagir contra
a onda crescente de despudor promovendo, por meio do ramo feminino da Ação
Católica, uma “grande Cruzada da pureza”, cuja guardiã é a modéstia, que
ele definiu como “um respeito religioso
pelo corpo que se expressa em um conjunto de disposições da pessoa, de
maneiras, de porte, de palavras sabiamente reguladas e medidas”. O Papa apresentou
para as moças católicas o exemplo da mártir Vibia Perpétua no anfiteatro de
Cartago, onde ao cair de costas na arena após ser lançada ao ar por uma vaca
muito feroz, seu primeiro gesto foi endireitar a túnica, que havia sido
rasgada, a fim de cobrir seu flanco, mais preocupada que estava com a modéstia do
que com a dor.O Papa Pio XII na
Praça de São Pedro
Após essa introdução, o Papa prosseguia: “A moda e a modéstia devem andar e caminhar juntas
como duas irmãs, porque ambas as palavras têm a mesma etimologia, do latim
modus, ou seja, a medida certa, além e aquém da qual não se encontra o direito
(Oraz. Serm. 1, 1, 106-107).
“Mas a modéstia não está mais na moda! Semelhantes
àqueles pobres alienados que, tendo perdido o instinto de autopreservação e a
noção do perigo, lançam-se ao fogo ou aos rios, não poucas almas femininas,
esquecendo-se do pudor cristão por ambiciosa vaidade, enfrentam miseravelmente
perigos onde a sua pureza pode encontrar a morte.
“Elas sofrem a tirania da moda, mesmo imodesta, de tal maneira que parecem nem mesmo suspeitar de sua inadequação; elas perderam o próprio senso de perigo, o instinto da modéstia. Ajudar estas infelizes a recobrarem a consciência dos seus deveres será o vosso apostolado, a vossa cruzada no meio do mundo. Modestia vestra nota sitomnibus hominibus [Sua modéstia é conhecida por todos os homens] (Fp 4:3)” (Discurso às moças da Ação Católica, em 22 de maio de 1941).
No terceiro aniversário do lançamento dessa Cruzada
pela pureza, o Papa Pacelli voltou a insistir nesse tema em nova audiência (22
de maio de 1944), evocando de passagem a questão das competições esportivas:
“Sobre as
almas tem que operar a Igreja, e a seu serviço a Ação Católica, vossa ação, em
estreita união e sob a direção da hierarquia eclesiástica, entrando na luta
contra os perigos dos maus costumes, combatendo-os em todos os domínios que vos
são abertos: no campo da moda, das roupas e do vestuário, no campo da higiene e
do desporto, no campo das relações sociais e do entretenimento.
“Não é
nossa intenção retraçar aqui o triste e por demais conhecido quadro das
desordens que se apresentam diante de vossos olhos: roupas tão exíguas, ou tais
que parecem feitas para realçar o que deveriam velar; esportes que se praticam
com modos de vestir, exibições, ‘camaradagem’, irreconciliáveis até com a
modéstia mais indulgente; danças, espetáculos, concertos, leituras, impressos,
enfeites, em que a mania da diversão e do prazer acumula os mais graves
perigos.
“Talvez
algumas jovens digam que uma determinada forma de vestir-se é mais confortável
e mais higiênica; mas, se se torna um perigo grave e iminente para a saúde da
alma, certamente não é higiênico para o seu espírito: vós tendes o dever de
abandoná-las. A salvação da alma fez heroínas de mártires como as Inês e as
Cecílias, no meio dos tormentos e das lacerações dos seus corpos virginais:
vós, suas irmãs na fé, no amor de Cristo, na estima da virtude, vós não encontrareis
no fundo de vosso coração a coragem e a força para sacrificar um pouco de
bem-estar, uma vantagem física, se for preciso, para manter segura e pura a
vida de vossas almas? E se, por simples prazer pessoal, não se tem o direito de
pôr em perigo a saúde física dos outros, não será talvez ainda menos lícito
comprometer a saúde, ou melhor, a própria vida das suas almas?
“Oh, com quanto
acerto foi observado que, se algumas mulheres cristãs suspeitassem das
tentações e quedas que nos causam outros por roupas e familiaridades às quais,
em sua leviandade, dão tão pouca importância, ficariam chocadas com sua
responsabilidade!”
Com lucidez profética, Pio XII previu exatamente o que
acabou acontecendo:
“Enquanto
certos trajes provocantes forem triste privilégio de mulheres de reputação
duvidosa e quase o signo que as torna reconhecíveis, ninguém ousará tomá-los
para si; mas no dia em que esses trajes forem adotados por pessoas acima de
qualquer suspeita, ninguém mais hesitará em seguir a corrente, uma corrente que
as levará às piores quedas.”
Em vista do nudismo imperante, não se poderia realmente
ter caído mais baixo. E os trajes esportivos usados pelas moças tiveram um
papel não pequeno em facilitar e precipitar essa queda. Assim o como o Império
Romano decadente acabou sendo derrotado pela pureza das virgens cristãs, do
mesmo modo as moças católicas de nossos dias poderão vencer a corrupção
contemporânea se forem intransigentes em não fazer concessão alguma à imodéstia
e confiarem no auxílio de Nossa Senhora, conforme as palavras finais de Pio XII
nessa mesma alocução:
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