A consideração simbólica é uma verdadeira antevisão do Céu, onde somos chamados a contemplar Deus face a face. Nesta Terra somos chamados a vê-Lo nas coisas criadas, através dos símbolos chegamos a Ele.
✅ Plinio Corrêa de Oliveira
O cerimonial tem valor moral e está vinculado à questão do simbolismo. De modo geral, os cerimoniais marcaram a Idade Média, por exemplo, com as belas cerimônias de armar um cavaleiro, como também aquelas que eram feitas para degradá-lo, no caso de ele ter praticado algo contrário à honra.
Para ilustrar a questão do simbolismo, dou outro exemplo: uma pessoa contempla a caça com falcão. A ave voa, pega uma presa e desce. É bonito considerar o falcão na sua altivez, na sua dignidade, no ímpeto de sua força. Consideramos a sua agudeza de vista, seu élan, sua coragem, e fazemos analogias com qualidades humanas. O ardor belicoso do falcão é símbolo, pois reflete o homem que luta, e esta é sua mais alta ação, abaixo da oração.
Deus proveu a natureza em abundância de exemplos nesse sentido. Isto a fim de que o homem se compenetre bem das verdades e dos princípios abstratos ao considerar os símbolos palpáveis. Se ele não olha, analisa e medita, não há possibilidade de se compenetrar inteiramente.
Esta consideração simbólica é uma verdadeira antevisão do Céu, tem algo da visão beatífica. Porque o homem é chamado a ver Deus face a face no Céu, mas nesta Terra ele O vê nos símbolos. Estes alimentam a inteligência e dão uma espécie de proporção humana, de estatura humana à ideia abstrata.
Por esta razão, toda a vida da Idade Média era feita de cerimoniais e símbolos, pois o homem não é composto só de alma, mas também de corpo. Ele seria uma espécie de esqueleto sem carne se tivesse só a doutrina sem os símbolos.
Isto explica a simbologia medieval e seus cerimoniais. Mais ainda, explica algo do feitio de alma que deve ter um autêntico católico contra-revolucionário.
Quando vemos algo que nos fala à alma e nos entusiasma, devemos aprofundar nesta linha de transcender do concreto para o abstrato, como no exemplo da coragem do falcão ilustrando a ideia de coragem e a virtude da coragem. O que se liga metafisicamente a Deus.
Se quisermos considerar a presença de Deus em todas as coisas, devemos procurar os símbolos criados por Ele. Num falcão observamos a sua coragem, e disso passamos para o abstrato, deduzindo um princípio moral: a virtude da coragem. Daí vemos essa virtude em Deus de um modo absoluto.
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Miniatura da investidura de
um cavaleiro, dos estatutos da “Ordem do Nó”, fundada em 1352 por Luís de Nápoles |
Alguém poderia dizer que não tem tempo de pensar nisso. Respondo que não é falta de tempo, é falta de pensar no tempo que temos. Mas adquirindo o hábito de pensar, será agradável. A pessoa passa a se deleitar com as coisas que levam a Deus e passa a execrar as coisas que nos afastam d’Ele. A pessoa passa a viver noutra dimensão, num mundo do maravilhoso.
Lembro-me de uma cidadezinha do interior de São Paulo, Amparo, onde fizemos um exercício de transcendência desses. Certa vez, fiz por suas ruazinhas um passeio a pé junto com alguns amigos de uma fazenda das proximidades. Comentamos as bonitas portas das casas e daí passamos a relacioná-las com as portas no estilo Império francês e com os faustos da Europa.
Este encontro do bom gosto dentro das cinzas apagadas do interior é deleitável, nos eleva a Deus, e forma as almas altamente simbólicas dos varões verdadeiramente católicos. ____________
Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 10 de agosto de 1973. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.
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