23 de março de 2025

Restauração de Notre-Dame, prefigura do Reino de Maria

 


Se por um lado crises políticas, guerras, flagelos mortais da natureza e infiltração da “fumaça de Satanás” na Igreja foram insondáveis em 2024, em sentido contrário, a restauração de Notre-Dame de Paris anunciou a glorificação da Igreja.

 

  Luis Dufaur

Fonte; Revista Catolicismo, Nº 890, fevereiro/2025

 

No dia 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição, a catedral de Notre-Dame foi consagrada novamente após a sua restauração, conforme ordena o Direito Canônico, e reabriu suas portas aos fiéis.

No dia anterior, entre 40 e 50 chefes de Estado e de governo, bem como quase 2.000 convidados especiais — bombeiros e agentes públicos que extinguiram o incêndio que quase arruinou a catedral, artistas e artesões que trabalharam na sua restauração — compareceram a um ato de reabertura promovido pelo governo francês.

Notre-Dame, iniciada em 1163, apresenta-se em 2025 renascida com o viço de sua primeira mocidade. Como uma rainha que carregou durante quase mil anos um precioso manto cheio de história e que depois de um assalto do fogo infernal recebeu de Deus um novo manto com adornos e esplendores ainda mais rutilantes do que aquele que ostentou na História na sua mais fiel continuidade.

Efeito espiritual mundial

O mundo ficou maravilhado com a restauração da catedral da Cidade Luz, a capital da França, nação que mereceu o título de “filha primogênita da Igreja”. Uma velha lenda dos marinheiros da Bretanha, no extremo oeste da França, costa batida por mares furiosos e semeada de recifes perigosos, conta que por vezes se ouvem sinos reboar e das agitadas ondas emergir uma catedral arrebatadora de uma cidade mítica de nome Ys, que o oceano havia tragado em tempos remotos.

O escritor radicalmente anticristão Ernest Renan contou, numa nota autobiográfica, que na sua alma por vezes emergia com toda a sua sedução uma “cathédrale engloutie” (“catedral submersa”), em alusão à revivescência da inocência primaveril dos primeiros anos em que fora católico.

Notre-Dame de Paris renasceu das labaredas em seu máximo esplendor como essa mítica catedral de sonho, mas de um modo muito concreto. E, eis o que vem mais ao caso, esse seu ressurgir se deu no fundo de incontáveis almas, inclusive não cristãs, afundadas numa narcose religiosa. Espiritualmente, a imagem da Igreja purificada da “fumaça de Satanás” hodierna e das sujeiras depositadas por séculos de Revolução anticristã se mostrou numa explosão de beleza por obra da exímia restauração.

A Notre-Dame brilhante de sua luz sobrenatural medieval fez ressoar nas almas o anúncio da próxima vinda de uma era histórica esplendorosa que grandes santos anteviram como sendo o Reino de Maria.

Sua restauração em tempo recorde, num padrão artístico inigualável, mais próprio de uma joia incomparável, financiada por doações privadas imediatas e muito generosas, deixou o mundo atônito e, num sentido muito especial, envergonhado por ter tratado tão mal ao longo da História esta obra-prima da Igreja que nos vem desde o mais alto da Idade Média! O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira gostava de repetir, parafraseando o profeta Jeremias aludindo à Jerusalém amada por Deus: “Igreja de uma beleza perfeita, alegria do mundo inteiro”.

“Antena que nos abre a porta do Empíreo, fonte inesgotável de maravilhamento, escada que nos leva ao Céu, beleza da nossa natureza terrena que reflete a beleza da eternidade. Mãe que nos fala profundamente ao coração”, assim tentou descrever a catedral a historiadora de arte Paule Amblard[i].

“Nada te pode dobrar — escreveu um âncora de televisão chileno numa ‘Carta a Notre-Dame’[ii] —, nem revoluções nem a indiferença, nem nossa época relativista e secularizada que está afundando enquanto se aproxima uma nova Idade Média, em que voltaremos a levantar catedrais, a rezar e cantar ao Céu, porque vagamos nas trevas como órfãos sem pai nem mãe. Mas Tu, Mãe de Paris, voltas a abrir teus braços nos dizendo: ‘vinde mais uma vez a mim, filhos perdidos, a encontrar em Mim a luz’”[iii].

Catedral flagelada como Cristo na Paixão

Séculos de Revoluções igualitárias e anticristãs maltrataram de todas as formas a catedral, relegando-a a mero objeto de visita e lucro de turistas estrangeiros. Se ela tivesse voz e fosse prantear esses atentados, como Jó em suas lamentações, teria derramado bramidos de dor pela crise que consome a Santa Igreja Católica Romana nestas últimas seis décadas, atiçada pela “fumaça de Satanás”. Esse fumo satânico progressista rumava para removê-la com o ódio participativo da crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo no alto do Calvário.

O diretor da série “Figaro Hors-Série”, Michel De Jaeghere, registrou em suas páginas a surpreendente contradição: o incêndio, que foi de molde a ser o tiro final na venerável estrutura gótica, “nos fez amá-la como nunca [...] teve um impacto que surpreendeu até mesmo seus admiradores mais fervorosos. A emoção pareceu dominar o mundo inteiro”[iv]. O efeito da sua tragédia foi tal, que um artigo publicado nos Emirados Árabes chegou a confessar entre os vapores tóxicos do Islã que “Notre-Dame representa uma realidade mais profunda além do borrão de nossas vidas”[v].



O mesmo De Jaeghere condensou os atrozes crimes contra Notre-Dame, símbolo acabado da Igreja, e a civilização cristã que ela inspira. Crimes históricos religiosos e temporais praticados na mais vil indiferença daqueles que deveriam custodiá-la. Os governos monárquicos de Luís XV e Luís XVI aprovaram projetos para a demolição da catedral a fim de, na melhor das hipóteses, substituí-la por um templo de estilo grego.

A Revolução — que acabou travando o projeto dos reis — destruiu a Bastilha, continua De Jaeghere, desmantelou igrejas e conventos veneráveis para entronizar uma megera seminua como “deusa Razão” na catedral bendita. Arrasou o palácio do Templo onde Luís XVI, Maria Antonieta e seus filhos se prepararam para o cadafalso ou para o pior dos destinos; Haussmann destruiu a Paris da Idade Média (16 igrejas demolidas só na Île-de-la-Cité) para construir bulevares; a Terceira República arrasou o palácio real das Tulherias.

Ainda hoje, observa ainda De Jaeghere, tudo se faz na França — e, no mundo por imitação — para apagar nossas raízes cristãs, repudiar a moral da Igreja, chegando a incluir o aborto como direito humano na Constituição. Fato, aliás, comemorado pelo presidente Emmanuel Macron em discurso no templo do Grande Oriente da França.

Apenas 6,6% dos fiéis frequentam dominicalmente as cerimônias para que foi feita Notre-Dame, 2% na mais recente enquete. E menos de 25% dos bebês recém-nascidos são batizados, enquanto as ruas se enchem de adeptos do Islã rezando o Corão, que manda massacrar ou escravizar os cristãos. Notre-Dame, símbolo da França cristã, tinha virado o santuário de uma religião abandonada, tolerado como prédio pelo retorno que deixavam os 13 milhões de turistas que a visitavam por ano.

A França oficial agia como se seu passado católico não valesse mais e o culto dos Direitos Humanos fosse a última palavra. A União Europeia lhe garantia viver em função do estômago, satisfazendo apenas volúpias e instintos primitivos. O palácio real de Versalhes virou museu, os castelos dos príncipes foram confiscados para deleite dos passeios turísticos, e os franceses desfrutavam visitando castelos transformados em monumentos nacionais, completa De Jaeghere.



Misteriosa mudança

Entretanto, o colapso de Notre-Dame foi ocasião de uma inversão tendencial profunda. Como numa espécie de Juízo Particular, o incêndio fez aparecer diante da França e do mundo, numa só imagem, a imensidade de todas essas negações revolucionárias e a dureza de coração de séculos de indiferença. Essa imagem “de repente nos horrorizou”, disse De Jaeghere.

Seus restos ainda fumegavam quando se manifestou uma “paixão” pela ressurreição da catedral-mãe, que foi um antídoto contra os venenos que desumanizam as nossas sociedades, escreveu o diretor do “Figaro Hors Série”. A indiferença “foi substituída por um respeito amoroso pelo passado”, choveram as doações de dinheiro, sem que ninguém reclamasse um tostão do Estado. O presidente Macron, no discurso do 7 de dezembro, falou em 340 mil doadores voluntários de 150 países, com destaque para os EUA, desde aquele que contribuiu com uma moeda até os mecenas franceses que ofereceram milhões de euros.

O presidente francês, continuador dos crimes históricos acima mencionados, confessou que o mundo reconheceu que Notre-Dame, prodígio arquitetônico da Santa Igreja, era a alma da França e da civilização ex-cristã. “Ela é maior do que nós”, concluiu. Aplicou-se o dito do famoso e controvertido escritor Antoine de Saint-Exupéry: “Qualquer pessoa cujo coração esteja voltado para a construção de uma catedral já é um vencedor”, a França católica começou ganhando.



Crescente fascínio pela Idade Média

Na mesma oportunidade, Macron disse que na surpreendente restauração, milhares de artistas e artesões “estabeleceram a continuidade com uma corrente que os precedia no tempo havia mais de oito séculos: a que vem da Idade Média com sua paixão pelo belo e pela coisa bem feita”[vi].

E lhes agradeceu por terem ensinado aos contemporâneos a elevarem os olhares para o Céu que a agulha de Notre-Dame aponta, para “redescobrir nossa catedral interior”. O presidente — ou o autor de seu discurso — aludia à lenda bretã da “catedral submersa”, acima mencionada, que o literato anticlerical Ernest Renan dizia emergir de vez em quando na sua alma comparável a um mar tenebroso.

Os sonsemitidos pela “catedral submersa” parecem ter-se feito ouvir por incontáveis almas que assistiram atônitas à queda da flecha de Notre-Dame em chamas, enquanto outras viam o ponto de não retorno de uma era vilipendiada. Emergia nelas “o fascínio e um interminável interesse pela Idade Média”, a qual adquiriu uma atualidade insuperável, ultrapassando por muito a dimensão religiosa da catedral, escreveu Guillermo Altares no jornal socialista espanhol “El País”[vii].

O próprio presidente laicista glorificou a Idade Média no dia da reconsagração ao falar de São Luís IX, que trouxe a Coroa de Espinhos; do voto de Luís XIII de honrar a Virgem Maria se tivesse um filho; da conversão do poeta Paul Claudel, que recuperou a esperança aos pés de um pilar, numa noite de dezembro de 1886; dos jovens que foram rezar aos pés de Notre-Dame quando ardia o incêndio; da providência” que protegeu a Virgem, cuja imagem ficou intocada, próxima em centímetros do amontoado de pedras e carvões ardentes que caíam do teto.



Vitória de Nossa Senhora

O arquiteto-chefe
da restauração,
 Philippe Villeneuve
Sim, a Virgem é intocável e Ela, a Imaculada, foi a grande vencedora sobre o fogo revolucionário e luciferino. “Será que Macron, o homem que fez que o direito ao aborto fosse consagrado na Constituição francesa percebeu a verdade dessas palavras?” —perguntou a jornalista Jeanne Smits, acrescentando que ele descreveu Nossa Senhora tal como Ela é. Qualquer que tenha sido a sua intenção, em mais de uma ocasião o próprio demônio reconheceu o poder e a majestade da Virgem que o esmaga e o força a confessar a verdade, a grandeza d´Ela.

A catedral que demorou dois séculos para ser construída foi refeita como uma joia em pouco mais de cinco anos com tecnologias medievais! “As catedrais góticas, tão diferentes em todos os aspectos das modernas igrejas tipo garagem”[viii], escreveu o Prof. Manuel Alejandro Rodríguez de la Peña, catedrático de História Medieval em Madrid, nesta espécie de ressurreição alimentou a esperança de que talvez a ordem medieval possa inspirar a fórmula para um mundo que desaba catastroficamente.

O lenhador Édouard Cortès vibrou com a ideia de que homens com machados medievais refizessem um teto do século XII em plena época do vazio e do virtual. Precisava-se de “almas antes que robôs”[ix], intuiu, e entrou voluntário para o “projeto louco” da restauração junto com um punhado de mestres carpinteiros vindos até dos EUA e da Argentina.

Esses corações indomáveis, diz ele, preferiam ser “lobos a cachorrinhos civilizados levados pela coleira”. Autointitulavam-se“a horda” e no trabalho insano descobriram que não eram eles que restauravam a catedral, mas era Nossa Senhora que os estava modelando. A tropa de elite Légion Étrangère brada em suas paradas militares “Legio Patria Nostra(“A Legião é nossa Pátria”), enquanto eles sussurravam “Maria Patria Nostra” (“Maria é nossa Pátria”). E quando uma inspetora do trabalho foi lhes perguntar por que faziam isso, a resposta brotou impetuosa: Por Nossa Senhora. Só por Ela”.



Aqueles homens rústicos queimavam suas energias para devolver seu lar à Coroa de Espinhos e para que “a Santa Liturgia lavasse com o Sangue e com a Água consagrados a infame parodia da Última Ceia com que foram abertos os Jogos Olímpicos”. “O verdadeiro milagre de Notre-Dame foi que o incêndio iluminou nossa cegueira, descongelou nossa memória e nos tocou com um fogo sagrado”, completou o lenhador.

Por sua vez, o arquiteto-chefe da restauração, Philippe Villeneuve, revelou: “tenho uma devoção particular à Virgem Maria. Nunca deixei de sentir o apoio d’Ela [...]. Acredito que este projeto não teria sido possível de outra forma”[x].

Mudança no mundo

Eles não foram os únicos que reagiram assim. Essa inesperada conversão moral deu-se em outras nações, como no Chile, com o já citado jornalista sobre a restauração de Notre-Dame representando o toque de finados para uma época que renegou o espírito e a beleza.

O jornalista chileno lembrou que as igrejas no mundo ex-cristão estão cada vez mais abandonadas, porém quando o telhado de Notre-Dame começou a arder, pequenas multidões saíram as ruas, pararam nas esquinas a fim de chorar, rezar, pedir perdão pelos crimes históricos que atraíram tão formidável punição.

Embora tenhamos abandonado e renegado Nossa Senhora mais de três vezes como Pedro a seu Mestre, prosseguiu o jornalista, uma mãe como Ela recolhe seus filhos nas ruas, acoberta esses seduzidos pelos deuses digitais, deslumbrados por uma luz que não é luz, um poder que não é poder, para que voltem a acariciar as velhas colunas que são mais firmes que as promessas do mundo. O Chile, onde se queimaram igrejas que ficam sem restauração, abandonadas à própria sorte, olha envergonhado para a França que restaurou sua principal catedral.

E disse a verdade. Notre-Dame empolga e pede a cada um de nós para cultivar um fundo de alma como a sua fachada: grande, lógica, forte, séria, materna, misericordiosa, estável. Qualidades simbolizadas em sua fachada com uma fidelidade de embevecer, e que devem estar no fundo de cada filho fiel da Igreja Católica Apostólica Romana, como comentou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira[xi].

Furor da Revolução gnóstica e igualitária

Porque é doloroso, mas exigido pela verdade, reconhecer que após dois mil anos de vida, a Santa Igreja Católica se nos apresenta hoje como Nosso Senhor Jesus Cristo na Sua Paixão, quando chegou gotejando sangue e cambaleando sob a Cruz no topo do Calvário. Ao longo de um cambaleio de 20 séculos de glória, de martírio e de perseguição, a Igreja chega em nossos dias ao auge do seu desfiguramento.

Quem teria imaginado essa Instituição divina — que São Luís IX tanto amou, pela qual São Fernando lutou tanto, os cruzados fizeram o que fizeram e os mártires morreram — desfigurada pelo véu ignóbil do progressismo? O incêndio da catedral paradigmática da Cristandade pareceu simbolizar o episódio terminal dessa desfiguração criminosa, senão satânica.

Mas Nossa Senhora patenteou o contrário, fazendo despertar no fundo das almas o amor a Ela e à época “em que o espírito do Evangelho penetrava todas as instituições”, como ensinou o S.S. Leão XIII sobre a Idade Média. A fulgurante restauração soou como uma primeira trombeta que anuncia o Reino de Maria cada vez mais próximo de nós.

“Fumaça de Satanás” ainda presente

Paramentos extravagantes criados pela casa de costura Castelbajac para a missa de reinauguração de Notre-Dame.


O negrume da “fumaça de Satanás” não esteve ausente neste momento de vitória de Nossa Senhora, patenteando que ainda há combates a serem travados. Por exemplo, o Arcebispo de Paris e seus coadjutores se apresentaram na inauguração com vestes litúrgicas confeccionadas por uma casa de modas que se vem notabilizando em dessacralizar as indumentárias sacerdotais e os hábitos religiosos desde o Concílio Vaticano II.

D. Bernard Marie Ulrich,
 Arcebispo de Paris.
A reabertura foi terrivelmente desfigurada pelas vestes usadas por D. Ulrich, arcebispo de Paris, e pelos prelados coparticipantes, registrou a jornalista Jeanne Smits[xii]. A casa de costura Castelbajac vestiu os bispos com uma capa de cores berrantes. Por isso, foram ridicularizados nas redes sociais por sua perturbadora semelhança com o logotipo do Google. As crianças perguntavam aos pais por que bispo estava vestido de palhaço...Sua extravagância contrastava com a delicada renda de pedra de Notre-Dame.

Na noite do trágico incêndio, o presidente Macron falara de um concurso internacional para se restaurar a catedral em estilo contemporâneo. A França se ergueu indignada contra tal proposta, que violava ademais leis e tratados internacionais. O governo, que confiscou o prédio sagrado nas sinistras jornadas da Revolução Francesa, ficou com as mãos amarradas por suas próprias leis. Mas incitado pelo Arcebispo, está tentando novamente substituir os belíssimos vitrais por outros horríveis, “contemporâneos”.

Artefatos feios e inadequados ao gótico
 da catedral. Ficariam deslocados...
O poder eclesiástico teve luz verde para trocar os objetos litúrgicos estragados na tragédia por outros até mais berrantes: altar, púlpito, cátedra em forma de caixão, tabernáculo, pia batismal. Feios artefatos inadequados ao esplendor gótico da catedral que ficariam deslocados em qualquer igreja onde se celebre uma liturgia como deve ser, avaliou Jeanne Smits[xiii].

Da Cidade Eterna, a colunista Cristina Siccardi falou de roupas desenhadas pelo estilista pop e figurinista de séries de televisão americana. Elas deramà maior parte dos fiéis do mundo a impressão de um desfile circense mais próprio de um filme que debocha da Igreja, completada por um báculo arcebispal com aparência de um brinquedo de mau gosto fabricado na China[xiv]. Omitimos, por amor à brevidade, outras peças desagradáveis registradas pela jornalista romana.

 O presidente Macron e sua esposa observam o relicário psicodélico feito para a Coroa de Espinhos

Nossa Senhora triunfante

Poucos dias antes das cerimônias inaugurais, a imagem de Nossa Senhora de Paris, ou Virgem do Pilar, foi levada de retorno à sua casa em comovente procissão iniciada na catedral provisória de St.-Germain l’Auxerrois. A verdadeira dona da catedral vira cair dezenas, senão centenas, de pedras, entulho, chumbo derretido e madeiras em brasa, provenientes do desabamento da agulha e do teto, afundando o piso a poucos centímetros de seus pés e destroçando o altar principal e outros objetos de culto modernos. Ela, porém, ficou milagrosamente intacta, não requerendo mais do que uma simples remoção da poeira.

A imagem em pedra mede 1,8 m e representa Nossa Senhora vestida com roupas de rainha e coroa na cabeça. Na mão direita segura o “lírio” símbolo do reino dos lírios, a França. No braço esquerdo sustenta o Menino Jesus, que detém em suas mãos o globo, representando o mundo inteiro. E o Divino Infante, o Salvador do Mundo, mostra que a Terra toda depende d´Ele, mas manifesta encontrar suas delícias brincando com o véu de sua Mãe[xv].

Poucos dias antes das cerimônias inaugurais, a imagem de Nossa Senhora de Paris, ou Virgem do Pilar, foi levada de retorno à sua casa em comovente procissão iniciada na catedral provisória de St.-Germain l’Auxerrois


A troca de sorrisos entre Nossa Senhora e o Menino Jesus nessa imagem faz ressuscitar em nós formas de ternura, de pureza, que nós poderíamos achar completamente desaparecidas. É a Rainha que pode mobilizar milhões de anjos, mas que vendo-A compreendemos bem a importância da “escravidão de amor” que São Luís Maria Grignion de Montfort nos convida a fazer em suas mãos. Uma escravidão a uma Senhora que nos empolga, fascina e salva.

Ela desperta na nossa alma um mundo de riquezas afogadas pela Revolução gnóstica e igualitária. Ela está tão embebida pela virtude que a enormidade do mal “moderno” fica excluída, pela rejeição, intransigência, integridade e deliberação que resplandecem em seu sorriso num equilíbrio tão requintado, que não há mal nem catástrofe que altere. Nem mesmo a investida progressista dentro da Igreja[xvi].

Ela carrega todas as graças da história da civilização cristã e manifesta um tal poder, que torna evidente o advento de uma era histórica a Ela consagrada após ter sido enxotada toda forma de mal, como Ela mesma prometeu em Fátima.



[iv]) https://www.lefigaro.fr/culture/patrimoine/michel-de-jaeghere-notre-dame-ou-l-appel-de-la-lumiere-20241207

[v]) https://www.khaleejtimes.com/opinion/notre-dame-represents-a-deeper-reality-beyond-the-blur-of-our-lives?_refresh=true

[vi]) https://www.opinion-internationale.com/2024/11/30/emmanuel-macron-vous-avez-rebati-notre-dame-en-cinq-ans-la-france-vous-en-est-infiniment-reconnaissante_130069.html

[ix]) https://www.facebook.com/groups/1328372457208321/posts/8944178072294350/

[x]) https://www.infocatolica.com/?t=noticia&cod=51150

[xi]) Apontamentos de palestra de 7-6-78, não revistos pelo autor.

[xii]) https://www.lifesitenews.com/pt/analise/a-reabertura-de-notre-dame-foi-um-choque-entre-a-beleza-da-tradicao-e-a-estranheza-do-modernismo/

[xiii]) Id.ibid.

[xv]) https://fr.wikipedia.org/wiki/Notre-Dame_de_Paris_(statue)

[xvi]) Apontamentos de palestra de Plinio Corrêa de Oliveira de 13-7-88, sem revisão do autor.

 

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